Clássicos Perdidos: “Fluent In Stroll”, o álbum que reinventou o som do Big D & the Kids Table

Parece que foi ontem mas lá se vão 12 anos desde que o Big D & the Kids Table, de Boston, reinventou seu som com o álbum Fluent In Stroll (Side One Dummy).

Um álbum que trouxe uma série de inovações para uma banda que até então podia ser classificada como Skacore/Ska Punk. O momento era ótimo e eles já estavam excursionando ao lado de grandes nomes do cenário estadounidense – como The Mighty Mighty Bostoness, Dropkick Murphys, Rancid entre outros.

Foi justamente com um “empurrãozinho” do músico, e produtor, Joe Glitterman (baixista e fundador do The Mighty Mighty Bosstones) que eles se aventuraram em um projeto fora da curva. O resultado impressiona justamente pela riqueza de detalhes, referências e misturas que eles trouxeram para “salada ska” do grupo de New England.

Há espaço para letras mais sérias, romance, clima burlesco, bebedeiras, leveza, contemplação e festa. Chegando a ser definido por alguns como um registro otimista; e sejamos honestos: em tempos como os nossos é o que o mundo precisa.


Big D & the Kids Table e Doped Up DolliesFoto Por: Jolle Andres

Clássicos Perdidos: Big D & the Kids Table Fluent In Stroll

O álbum Fluent In Stroll traz consigo uma grata surpresa: a participação do coletivo Doped Up Dollies que participam da maioria dos backin vocals da canções, naquele melhor estilo música dos anos 50. Aliás as referências passeiam por vários lugares, do soul, pela música energética de salão cubana, blues, ska, jazz, dub, reggae e “double-dutch”.

Até mesmo os sopros variam em questão de estilo, do smooth jazz, passando pelo mesto, chegando ao ska e chamando as guitarras do blues para acompanhar. Em muitos momentos se conectando diretamente com o Caribe sem perder a verve roqueira da costa leste americana.

Por esta razão escolhi esse disco que apesar de uma boa repercussão dentro do seu nicho, chegou a menos ouvidos do que merecia. Sendo perfeito para estrear a coluna Clássicos Perdidos (pessoal do Pequenos Clássicos Perdidos, considerem uma homenagem – adoramos o trabalho de vocês).

São ao todo 14 canções que te lavam para vários lugares diferentes, da contemplação a fúria, algo ainda mais presente no disco seguinte For the Damned, the Dumb & the Delirious (2011).

O Clima de Romance embala o álbum

A esperança por dias melhores aparecem em “We Can Live Anywhere”, mostrando como podemos enfrentar todos os problemas estando ao lado das pessoas que amamos. O clima de casal, em forma de declaração romântica, abre alas na segunda faixa do disco, “Describing the Sky”, com direito a sopros leves e recheada de planos para o futuro.



Quem abre o disco é “Doped Up Dollies On A One Way Ticket To Blood” para introduzir as fantásticas Sirae Richardson, Hayley Jane, Nicole e Simone Olivia. Seu instrumental tem upbeat, flerta com o surf rock, e conta com rimas e backin vocals em sintonia com os metais.

Com o espírito “marching band”, “Not Fucking Around” te leva para as memórias da adolescência e mostra como com o passar do tempo inevitavelmente o mundo irá dar voltas – e provavelmente isso te surpreenderá.

Como toda história de amor tem que ter um começo “A Kiss A Week” brinca com as situações que parecem apenas um flerte mas que acabam se desenvolvendo para um romance. Parecendo até uma história particular de Big D, já que cita a camiseta de um clipe antigo (“Riot”) e sua paixão pelo Hip Hop. Elementos da música latina, e até mesmo versos em espanhol, acabam aparecendo ao longo das rimas que se somam aos scratches.



“Been Wishing On” continua a história de amor e como as peças aos poucos acabam se encaixando feito um quebra-cabeças. Os backin vocals mais melódicos, e a aproximação com o reggae/dub, deixam a canção mais lenta para contemplar o céu azul no horizonte.

Ska, Blues, Soul, Hip Hop e muito mais!

Quebrando um pouco o ritmo, “Fluent In Stroll” eleva o batida, combina rimas e o soul com bateria ritmada fazendo dela uma das mais dançantes, bluseiras e desconcertantes do disco.

Com o espírito da costa Leste, “Down Around Here”, traz referências do drum & bass na batida, sopros do jazz, rimas e o clima da noite de uma grande cidade como Boston para cima do tablado.

“Chin Up, Boy!” eleva o espírito para aqueles dias quando você está desacreditado em encontrar sua cara metade. Brincando com os esteriótipos e as chances que deixamos passar todos os dias de começar novas histórias. Deixando clara a mensagem de que o tempo irá revelar o caminho para encontrar “a tampa da sua panela”.

O Cupido Acerta o Alvo em Cheio

Os ritmos latinos ganham terreno em “Where Did All the Women Go”, com referências das bandas de mariachis, o clima de “fiesta” e revelando ter somente olhos para sua amada.

Uma das mais ímpares do disco é a jazzy “Known To Be Blue”, onde o Big D & the Kids Table se transforma em uma banda de bar de jazz para admitir que “a paixão pegou de vez”.

Lembro que na época “I, I, I” foi um dos singles a serem trabalhados do disco e sintetizam o clima doce, upbeat, confessional e romântico do disco. O verso “No More Rain On a Sunny Day” revela que nosso amigo está completamente cego de amor.



“Stop, Look & Listen (Shake Life Up)”, é daquelas que você ouve mais de uma vez tranquilamente. O piano é um grande cartão de visitas que se soma ao joguete de vocais entre Big D e as Doped Up Dollies que brincam sobre o período de decisão de juntar as escovas de dentes.

“My Thoughts Take Me Way” é agridoce num reggae com direito a teclas e confissões sobre entrar de cabeça na história e não conseguir mais sustentar o personagem de “gangster”, sendo vencido pela flechada do cupido.

Em 2019 o álbum ganhou uma re-prensagem do vinil com as 14 faixas originais para comemorar os 10 anos do disco.


This post was published on 22 de julho de 2021 12:18 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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