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Com uma nova roupagem ao canto de Whitman e ao seu próprio, Hélio Flanders (Vanguart) traz de volta Folhas da Relva, onde une música e poesia

Hélio Flanders (Vanguart) traz de volta Folhas da Relva, onde une música e poesia

Algo que fizemos muito nestes últimos períodos, é nos agarrar aquilo que possa nos dar um pouquinho de sossego e que nossa cabeça possa, de certa forma, descansar. A arte, com certeza, tem sido a maior salvadora das nossas mentes nesses momentos. Seja ela em forma de literatura, cinema, música ou poesia, ela entrou de vez em nossa vida como remédio para o que se precisa enfrentar todos os dias.

E se a gente consegue juntar tudo isso em um só espetáculo, fica perfeito, não é mesmo? 

Muito conhecido por suas letras fortes e cheias de poesia, Hélio Flanders apresenta desde o fim de março, o show Folhas da Relva. As apresentações, que têm sido em formatos de live, trazem músicas de seu trabalho solo (Uma Temporada Fora de Mim) e também com a Vanguart, junto à poesia de Walt Whitman


Hélio Flanders realiza série de lives na pandemia – Foto Por: Nina Bruno

Salvo pelo canto de Whitman

O contato com a escrita do autor, conhecido como poeta da democracia e pai do verso livre, veio em 2010 e as palavras do Whitman grudaram em sua cabeça. Isso fez com que Hélio Flanders começasse a traduzir a obra do escritor, já que a maioria das traduções costumavam ser muito engessadas. “O canto de Whitiman me salvou., conta.

Questionado se existe um Hélio antes/pós Whitiman, ele diz: “Eu acho que ele é a maior influência literária em meu trabalho, sem dúvida, mas esse “pós” deve ser estendido a vários e várias poetas que me transformaram profundamente.

Além de Whitman, eu destacaria Jorge Luis Borges, Alejandra Pizarnik, Adrienne Rich, Audre Lorde, Pier Paolo Pasolini, Marta Chaves, Saffo, Drummond, Waly Salomão, Antonia Pozzi, Leonard Cohen, Brecht, Alberto Moravia, Patrizia Cavalli, Cesare Pavese, Augusto dos Anjos, Allen Ginsberg, Júlio Custódio, Lorca, Blake, Ana Martins Marques, Ana Cristina Cesar, Hilda Hilst, Adélia Prado, Michelangelo… a lista é grande pois estou na frente da minha estante então passei os olhos e elencando os que mais mexeram comigo (risos). Não é exagero dizer que todos eles, e tantos outros mais, me influenciaram e fizeram a minha poesia existir do jeito que ela é hoje.”

É inegável classificar Hélio como um amante da literatura e poesia. E claro, isso teve influência na escolha de se tornar músico: “Eu comecei a ler poesia e escrever um pouco antes mesmo de compor canções, e fui atrás do violão na adolescência para poder musicá-las. Me lembro de ver o filme The Doors e entender a força da poesia quando musicada, então sim, eu me tornei músico e compositor por conta da uma necessidade de uma experiência poética potencializada.

As Folhas da Relva

O show, que antes já passou por diversas cidades, agora tem sua forma mais intimista, em formatos de lives, que acontecem até o final de abril. Hélio Flanders conta que tudo começou com um convite do Sesc Campinas em 2015, para um projeto onde artistas liam poesias e falavam sobre elas. Naquela época, a escolha pelo autor norte americano foi natural:

Eu li traduções de diversos tradutores, mas me lembro de, ao voltar para casa, ter a sensação de que ficou algo faltando. Ao refletir percebi que era a Música, e depois em 2016 fui à Porto Alegre participar do Sarau Elétrico, um sarau clássico que ocorre lá, e também sugeri Whitman, mas desta vez toquei algumas canções ao fim.

Ficou clara a total influência da poesia dele nas minhas letras, e comecei a formatar, sem muita pretensão, o que viria a ser o show que passou a existir depois. A partir de 2019, após algumas apresentações, eu já estava usando traduções minhas para aqueles poemas.

As Lives e a Saudade do contato com o Público

O cantor acredita que a única diferença entre as apresentações ao vivo e as lives é a presença do público mesmo, comentando que é algo que o poeta homenageado fala muito: “Eu e os meus não convencemos por rimas / Nós convencemos pela nossa presença.” E comenta a saudade:

“O que eu mais sinto falta é de abraçar as pessoas após o show. O Vanguart e essas apresentações do Whitman sempre geraram uma comunhão, um encontro muito especial entre nós e o público… então não vejo a hora de estarmos todos vacinados para tornar essa troca real de novo.”

Com uma carreira extensa e cheia de sucessos, tanto por sua parte como por parte de Whitman, Hélio Flanders nos conta um pouco sobre o processo de curadoria e escolha do que entraria nos shows:

Eu acabei escolhendo blocos existentes dentro do Folhas de Relva, a exceção vai ser o episódio que será  “Poemas Escolhidos”, com alguns favoritos esparsos. A curadoria da poesia veio através de pilares importantes na obra do Whitman, na minha opinião: a busca do eu, a sensualidade e o amor entre homens e mulheres, posteriormente o amor gay, ainda passando por odes à natureza e reflexões sobre vida e morte, e ainda assim muita coisa ficou de fora. A curadoria das canções foi a partir de canções que gosto mais de cantar, como “Olha Pra Mim”  e “Romeo”, por exemplo, e também algumas obscuras que achei interessante revisitar de maneira inédita e desconstruída, como “Pancada Dura”.

O auxílio da Lei Aldir Blanc

O projeto foi financiado graças a lei Aldir Blanc, que garantiu um certo apoio ao setor cultural do país, muito afetado pela pandemia do coronavírus. Sobre o impacto desta ajuda para o trabalho, Hélio diz:

Estamos em um momento muito duro, e isso inclui uma cadeia de trabalhadores que é imensa, desde os artistas, até os produtores, roadies, cenógrafos, técnicos de som, luz, seguranças, funcionários… e a lei vem trazer uma pequena luz de sobrevivência para nós. Para mim foi muito importante, tanto para sobrevivência básica como para poder conseguir produzindo.


Hélio Flanders (Vanguart) – Foto Por: Nina Bruno

A Arte como Transformação Social

À época da aprovação da lei, houveram comentários sobre a cultura não ser um setor essencial ou que não precisava dos recursos de ajuda. Isso nos mostrou que ainda há um pensamento sobre uma certa glamourização e banalização da cultura enquanto um agente transformador da sociedade. 

As pessoas que pensam assim não devem nem ser consideradas, tamanho o absurdo desse raciocínio. A arte é um pilar fundamental da educação básica, ela ensina o ser humano a ver a vida para além de objetivos e vitórias, exercita a sensibilidade social e emocional das pessoas, tanto para si mas também para os outros.” comenta o cantor.

“Eu considero a arte a carícia mais profunda, o abraço invisível nos dias mais duros da nossa existência, e nos mais felizes também.”

Um dos versos mais famosos da Vanguart é “tem dias que a vida é um ato de coragem”. Perguntado como a arte o salva nesses dias, Hélio Flanders traz uma reflexão profunda: “Eu considero a arte a carícia mais profunda, o abraço invisível nos dias mais duros da nossa existência, e nos mais felizes também. Não há memória, passada ou futura, sem uma trilha sonora, uma cena de filme, uma paisagem de algum pintor, um verso… ela serve para que a realidade não nos destrua.

O Livro: Manual para sonhar de olhos abertos

Sendo um artista versátil, o cantor anunciou recentemente o lançamento de um livro. A obra de ficção “Manual para sonhar de olhos abertos” será lançada pela editora Letramento e traz como personagem principal Pitico, em uma jornada para encontrar a si mesmo. “Eu sempre escrevi, tinha um blog, lá pelos idos de 2005, depois acabei me dedicando apenas às canções mesmo. Em 2018 eu voltei na tentativa de compilar alguns poemas, mas acabei abraçando a ficção como uma forma prazerosa de visitar lugares novos dentro da minha cabeça.” comenta.

Com tantos projetos ocorrendo, Hélio Flanders nos abastece com mais informações sobre os planos para 2021: “O Vanguart lança coisa nova esse ano ainda e até 27 de abril tem essas apresentações do Whitman que estão irrigando meu coração de alegria. Que possamos seguir produzindo enquanto nos cuidamos até a chegada da vacina. E finaliza com um recado importante: “Fiquem em casa! Viva a ciência!

This post was published on 27 de abril de 2021 12:07 am

Sarah Azevedo

Publicitária, mas com alma de jornalista. Sempre gostei de umas bandas com nomes esquisitos, mas sempre gostei muito mais de falar sobre elas.

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