Com nome artístico cheio de espiritualidade e fazendo referência a tão brasileira Vitória-Régia (em inglês Victoria Amazonica), Victoria Harrison, aka. Amazonica, começou cedo no mundo da música e aos 14 anos já estava em grandes festivais de música entregando suas fitinhas demo.
Apaixonada pelo rock, e mais tarde pela música eletrônica, trap e hip hop, ela teve uma fase gótica muito forte e com o tempo também acabou se descobrindo como DJ. Viveu no auge do indie rock em Londres, onde era amiga dos Libertines, teve mentoria de Jon Klien, do Siouxie & the Banshees, gravou seu debut com produção de um dos seus heróis Youth do Killing Joke e já teve a oportunidade de explorar o mundo antes de voltar ao UK. Viveu na Austrália e em Los Angeles onde pode conhecer nomes como Tommy Lee e Marilyn Manson.
Versátil ela diz amar música de diversos gêneros e até mesmo ter sido pouco compreendida pela gravadora quando insistiu que queria gravar um disco com um mix de referências distintas, algo que ela brinca que acabou virando o “novo normal” da indústria em nossos dias atuais.
Com a alcunha de uma das promessas da música inglesas em 2021, sua carreira completa 10 anos, e agora hoje lança seu segundo single “Sweet Sound Of Rock And Roll”, faixa que conta com a produção de Luke Ebbin (Bon Jovi, Richie Sambora, Rival Schools).
Conseguindo transitar pela cena de música eletrônica, por ser DJ, rock (em parcerias com Tommy Lee do Motley Crue e a banda Cradle Of Filth), ela chegou a ser DJ de festa do Oscar e já abriu turnês de nomes como Marilyn Manson, Scarlxrd e Machine Gun Kelly.
Amazonica “Sweet Sound of Rock’n’Roll”
Sua versatilidade faz com que ela se sinta à vontade em se aventurar por diferentes caminhos como é a levada de “Sweet Sound of Rock’n’Roll” onde traz referências do grunge e do punk rock com uma energia ensolarada de Los Angeles, inclusive, a cidade acaba servindo de cenário para o videoclipe da faixa. Sua produção conta com influências de Nirvana, L7 e Jane ‘s Addiction.
A estética do videoclipe te transporta justamente para o começo dos anos 90 para os subúrbios onde grupos como Rancid, Hole, The Muffs, No Doubt, Sublime, The Distillers, NOFX entre tantos outros despontavam. Entre o visual, os carros antigos e sua aura rockeira / punk.
Entrevista: Amazonica
Conte para nós como foi o seu primeiro contato com a música? Qual seu background musical e o que foi incorporando como referências ao longo do tempo?
Victoria Harrrison (Amazonica): “Honestamente, eu me lembro de ser uma criança pequena antes de poder andar ou falar, ouvir música ou dançar, em uma escola cristão na igreja pensando: ‘Isso é quem eu sou, isso é o que eu faço, música, eu me lembro’.
Eu expliquei essa história para meus pais quando eu cresci, descrevi toda a cena e eles ficaram chocados porque eles se lembram daquele dia também e me viram balançando ao som da música dizendo ‘ela tem música nela’.
Eu gostava muito de rock quando era jovem, tipo 9/10 anos fumando Marlborough Reds pensando que era a reencarnação de Jim Morrison (risos).
Meu amor pelo rock clássico dos anos 60/70 se transformou em um amor pelo grunge dos anos 90 e pela música eletrônica e industrial e pelo Hip Hop. Eu era uma gótico de carteirinha aos 14, o que acho que ainda sou. Eu realmente amo discotecar sets ecléticos, mesmo que todas as músicas sejam de gêneros diferentes, elas têm a mesma ligação…elas são eternamente legais.
Quando eu assinei ainda como uma adolescente no Reino Unido, eu realmente queria incorporar tantos gêneros diferentes em meu primeiro álbum, mas o pessoal da gravadora não entendeu, até a Q Magazine escreveu minha primeira crítica dizendo que eu deveria me limitar a um gênero, Eu estava à frente do meu tempo… mas agora é algo comum. Estou muito animada com meu novo álbum, onde misturo trap e hip hop, música eletrônica, cordas e rock. É lindo. Isso será lançado após este álbum.”
No Reading Festival aos 14 já estava com sua fitinha demo em mãos e logo após fechou contrato com uma gravadora que fez o material demorar para ser lançado…qual foi o “turning point” para o projeto?
Victoria Harrrison (Amazonica): “Meu primeiro álbum, que vou relançar mais tarde neste ano, realmente aconteceu quando o Youth do Killing Joke começou a trabalhar comigo.
Ele era praticamente o maior produtor de discos no Reino Unido naquela época, tinha acabado de produzir o álbum Urban Hymns do The Verve. Eu tive muita sorte em aprender com ele e mal posso esperar até que vocês possam ouvir esse álbum. Ainda parece legal para caramba.”
Você já viveu na Inglaterra onde dava rolê com os Libertines, se mudou para Austrália, viveu em L.A. e mais recentemente retornou a Londres como a vivência e o contato com excelentes produtores e artistas desde cedo acabou de certa forma influenciando na música que você produz? Para você quais os destaques e diferenças entre as cenas dos três países?
Victoria Harrrison (Amazonica): “Tenho a sorte de aprender com as lendas que tenho ao longo da minha carreira. A primeira pessoa que me ensinou tanto e me ajudou desde o início do meu som foi Jon Klien, do Siouxie & the Banshees.
Escrevemos muitas músicas juntos no meu primeiro álbum. Então Youth (Killing Joke) realmente me ajudou a me tornar a produtora que sou hoje. Estar perto de Tommy Lee e gravar com ele me ensinou muito sobre o negócio, lembro que ele me disse quando estávamos sentados no estúdio: ‘construa e eles virão’ e vivo disso todos os dias agora. Marilyn Manson provavelmente teve a maior influência sobre mim como Artista, nós nos conhecemos há muito tempo e ele é literalmente mágico.
A mudança de cena em Londres é muito rápida, as bandas vêm e vão muito rápido, assim como as cenas. A maioria nem sai do Reino Unido, principalmente com base no “cool” e no hype. Considerando que em LA a cena é baseada em grande sucesso comercial, então você tem mais lendas estabelecidas fazendo coisas legais. Austrália, eu não saía muito quando morava lá, mas quando saí, fui a alguns festivais legais, eles amam rock e cerveja, enquanto em Londres todo mundo é coca até os olhos (risos).”
Como foi se descobrir como DJ e também poder participar de turnês como músicos como Marilyn Manson, tocar ao lado de Courtney Love, Machine Gun Kelly e de tantos outros artistas?
Victoria Harrrison (Amazonica): “Tem sido tão emocionante e libertador, eu amo ser DJ, é tão punk rock apenas aparecendo e balançando uma arena com um usb e muita energia. As turnês do Machine Gun Kelly e do Manson foram ELETRIFICANTES.”
Você vê a espiritualidade do Budismo somada a sobriedade como um novo momento dentro da sua carreira? Como foi esse processo de autoconhecimento? Isso de certa forma se reflete em suas novas composições?
Victoria Harrrison (Amazonica): “Sim, 100% sobriedade e budismo mudaram minha música e quem eu sou. Quando eu era mais jovem e fazia shows com minha banda, era muito egocêntrica, todos olhavam para mim, ouviam meu tipo de dor, mas quando eu lidei com todos os meus problemas e vícios e comecei a cantar, me vi mais como um xamã musical tomando pessoas em uma jornada musical através do meu “djing”. É sobre o público, não sobre mim, é sobre nós e o momento compartilhado. Energia. Mal posso esperar para tocar novamente.”
De certa forma o nome que escolheu para o projeto é bastante místico e com uma carga espiritual forte, como observa que a escolha do nome se relaciona com a sua carreira?
Victoria Harrrison (Amazonica): “É totalmente auspicioso, é perfeito em todos os sentidos, mágico e místico. AMAZONICA ESTÁ VINDO!”
Além da música, podemos dizer que a moda também é algo importante para você? Quais ícones da cultura pop acabam te influenciando neste campo?
Victoria Harrrison (Amazonica): “Sim, adoro moda. Minha heroína no campo da moda é minha amiga Pam Hogg que é uma LENDA aqui no Reino Unido. Uma vez ela me sentou ao lado de Siouxsie Sioux em seu desfile e nós nos demos muito bem e então eu discotequei em sua Afterparty. Suas roupas são realmente Rock’n’Roll.
Meu estilo pessoal é gótico, glam rock, grunge híbrido com um lado do glamour de Hollywood.”
Como você observa o momento da cena alternativa de Londres? Das festas passando pelos grupos e quais bandas recomendaria para os leitores brasileiros? Podemos esperar uma vinda ao Brasil após este momento em que estamos vivendo?
Victoria Harrrison (Amazonica): “Está fragmentada nos últimos 15 anos ou mais, a ascensão das mídias sociais, sinto que acabou com a cena do rock. Quando eu comecei a discotecar no DeathDisco na época em que o The Libertines começou, aquele tempo em Londres era épico, The Strokes, Interpol, todo mundo simplesmente curtindo. Era tão divertido, uma vibração total.
Recomendo a Bad Nerves, melhor banda da Grã-Bretanha. Confira o primeiro álbum que acabou de sair, é muito legal (clique e ouça!).
1000000000% É a primeira coisa que quero fazer !!!!!!!”