Sentimentos à flor da pele, tensão, introspecção, baixas frequências e o coração aberto. As cores do espectro do som de Ella from the sea vão do gelo, passando pelos tons pastéis ao acinzentado mas com bastante plasticidade e camadas que nos levam diretamente para clássicos do fim dos anos 80 e começo dos 90.
Nomes como Cocteau Twins, PJ Harvey, Björk, Bat for Lashes, Massive Attack, Portishead, Radiohead acabam se juntando a outras influências citadas pela artista. Como, por exemplo, Joy Division, Sígur rós, Olóf Arnals, Grouper que estão entre suas principais referências mas seu background também contribui muito para o resultado que podemos ouvir.
A paulistana teve oportunidade de viver em cidades como Berlim e Londres, frequentar shows e participar de alguns projetos onde bandas experimentais acabaram a inspirando direta e indiretamente a encontrar a sua sonoridade.
Sonoridade esta que em seu primeiro EP, nunca divulgado publicamente, não conseguiu captar. Mas agora durante a pandemia, período onde sofreu com oscilações dentro do campo emocional, ela encontrou um período fértil na criatividade que possibilitou o surgimento de The Moon.
Uma curiosidade fica por conta da inspiração para a música ter vindo desde cedo. Ella é sobrinha da lendária Cherry Taketani, conhecida internacionalmente por seus trabalhos ao lado do NervoChaos Hats e o HellSakura, e como vocalista da entidade Okotô; onde Jair Naves no ano de 2000 pôde gravar o baixo em algumas faixas do disco Cobaia.
Do Tarot veio a carta da Lua que rege o EP de certa forma, Ella costuma tirar cartas e essa em específico abraçou a alma do trabalho.
“A lua pra mim sempre foi um mistério, representando o inexplicável e ao mesmo tempo o obscuro e o inalcançável. A madrugada é o momento em que me conecto com meus pensamentos e idéias criativas”, explica Ella
“No tarot a carta da lua representa o oculto, a sombra de cada um. Especialmente nesse momento tão delicado que estamos vivendo, a ansiedade e a depressão chega a ser algo inevitável. Tento expressar em minhas composições sentimentos dentro de mim.
É sobre a sensação de estar no escuro e não conseguir achar um caminho, o desespero de estar preso numa crise de ansiedade que te paralisa, é sobre se encontrar e aprofundar na sua própria sombra, afinal sem sombra não existe luz. A mensagem que quero passar é a possibilidade de tirar algo positivo desses sentimentos obscuros que o mundo nos proporciona”, revela a artista.
Com quase 10 minutos de duração, o EP conta com três canções, sendo duas inéditas já que o single “Side by Side” já havia sido revelado nas últimas semanas. A densidade das suas camadas, e elementos, trazem o choque entre o experimental e a tormenta de sentimentos que crescem a cada verso que Ella entoa.
O coração destroçado em mil pedaços por amores não correspondidos ganha terreno na intensa e magnética “I’ll Wait” que cria toda uma atmosfera, assim como o Sigur Rós faz, para trazer o ouvinte para perto no momento de catarse. Seus arranjos, com direito a elementos do post-punk e dream pop, criam uma tensão quase plástica que dão o contraste e profundidade para que seus vocais brilhem no horizonte.
Quando decide soltar a voz no segundo refrão chega até mesmo a lembrar a potência vocálica de artistas como Kate Bush. Já os elementos que compõe a ambientação trazem as experimentações de grupos como Sonic Youth e Mogwai, entre outros grupos onde arcos e violinos servem como elementos para criar uma atmosfera gélida e impactante.
Com a atmosfera lo-fi, os vocais mais introspectivos, que lembram a fase mais indie de Björk, em “To The Stars”, ganham terreno feito uma tristeza profunda que não parece ter fim; através de elementos de guitarras que bebem das sutilezas do post-rock.
Quem fecha é justamente “Side By Side” com muita sensibilidade à flor da pele, melodias densas e uma força que tenta despertar em meio a escuridão. Uma explosão de sentimentos libertos feito um respiro. O EP se encerra ao som de um piano e feito uma peça de teatro as cortinas se fecham.
Conversamos com a Ella from the sea para saber mais detalhes dos bastidores do EP The Moon.
Ella from the sea: “Sim, com certeza. Eu tinha um acesso muito constante com bandas experimentais lá em Berlim e Londres com isso fui modificando meu som aos poucos, junto também os músicos que tocavam comigo tinham essa pegada mais introspectiva do ruído sonoro.
O meu primeiro EP é totalmente diferente do que este segundo, assim que comecei a compreender mais o som que eu queria fazer tudo foi ficando mais claro para mim.”
Ella from the sea: “O processo criativo foi simplesmente a tristeza que eu estava sentindo, eu sempre me imagino a deriva no meio do oceano e junto o que eu poderia fazer quanto a isso, decidi usar a música e as minhas composições como uma forma terapêutica e tentar entender, me entender.
Eu só queria ter um propósito de vida. As gravações foram feitas em casa, cada um na sua casa, a gente se comunicava por mensagens e áudios e cada um ia mandando algumas ideias para as músicas. No início eu gravava tudo que saía dentro de mim no gravador do celular e depois ficava o dia inteiro afunilando aos poucos as músicas.”
Ella from the sea: “Era incrível, desde pequena eu admirava o trabalho dela, para uma criança poder tocar em uma bateria de verdade era animal. Sempre irei lembrar dela como uma inspiração para mim mesma.
Às vezes ela vinha almoçar em casa e era tão rápido porque ela sempre tinha um ensaio, ou uma gravação enquanto eu fazia lição de casa, e pensava “gente, eu quero ser ela quando crescer”.
Com o meu primeiro EP em processo eu contava pra ela que não tava indo como eu esperava, que não estava contente com aquilo, e ela me falava que a vida de músico era essa vida louca mesmo, pra eu ter força e nunca desistir.Minha voz era muito tímida no começo, eu era toda retraída e ela me dava algumas dicas de formas de utilizar a minha voz, depois de um ano fazendo aula de canto consegui ter mais expressão e confiança em mim mesma.”
Ella from the sea: “O minimalismo é uma característica bem forte nos meus sons, eu gosto muito dessa coisa orgânica dos instrumentos sozinhos, crus.
No EP the moon a primeira música com a intro do baixo em evidência é proposital criando uma atmosfera sóbria e meio suspensa com um toque de tensão no ar. Sobre a dinâmica de tocar com a banda ao vivo, a gente já se apresentou em alguns lugares ano passado, fazendo tudo manualmente mesmo os ruídos, pedais e muito eco.”
* Ao vivo ela se apresenta ao lado de Welder Rodrigues no baixo, e synth, e Lucas Lippaus na guitarra.
This post was published on 28 de agosto de 2020 2:14 am
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