Juliano Gauche

Meu Nome Não É Portugas flerta com o hip hop em novo single

Meu Nome Não É Portugas, projeto solo de Rubens Adati, nos últimos tempos vem passado por uma série de experimentos e transformações sonoras. Entre referências, estudos sobre mixagem, busca por timbres, colagens, samples e texturas, o músico paulista tem experimentado e ficado bastante satisfeito com o resultado.

No álbum de estreia ele experimentou parcerias e pôde trabalhar com nomes como YMAFelipe VellozoGabriel VenturaPAPISA entre tantos outros destaques.

Desta nova fase, pós Fraga e Sombra (Cavaca Records, 2019), ele já apresentou a belíssima parceria com Apeles, “Eterno Azul” e agora ganha a luz do dia em Premiere no Hits Perdidos a faixa mais fora da curva da sua carreira.


Meu Nome Não É Portugas Foto Por: Yasmin Kalaf

Meu Nome Não É Portugas “Deuses Das Telas”

Rubens Adati é músico multi-instrumentista, compositor e produtor o que abre um leque de oportunidades para explorar dentro do conceito aberto do Meu Nome Não É Portugas. Esse brincar com as sensações para tentar conduzir o ouvinte a uma viagem particular acaba fascinando e a cada vez mais tem sido objeto de experimentação para o músico.

No novo single, “Deuses Das Telas”, Rubens foi atrás de aprender mais sobre mixagem e buscou em samples de discos que vão da MPB ao Hip Hop para criar texturas e universos particulares.

Colagens, Samples e Mixagem

De Mano Brown a Clube da Esquina as frequêncas, e nuances, ganharam contornos e scratches posteriormente realizados por Dj Gigo (Swings&Batidas / Coletivo 1 2 4 0). Para ganham ainda mais personalidade ele contou com a participação de trombonista Fernando Mumu (Trio Tabarana), para dar o tom bucólico, e empoeirado, que ele tanto almejava para a canção.

Como referências se espelhou também em artistas como Gorillaz, Sade, Milton Nascimento e Bill Evans. Alguns como diria Austin Kleon em seu famoso livro, soube Roubar como um Artista. O que é um senhor elogio, diga-se de passagem.

“Ser um deus da tela significa que tudo que acontece ali é por escolha sua, entendo que dentro das telas (de celulares e computadores) existe um mundo à parte.

Cada um é seu próprio deus nesse universo digital. Seguindo um fluxograma, o último momento antes da tela é o dedo. É ele que comando, escreve, deleta, grava, da match, faz stories…”, contextualiza Rubens Adati.

O Videoclipe

Para acompanhar, o single gravado em seu estúdio (Inhamestúdio) ganhou um videoclipe. Aliás Rubens também assina a mixagem e masterização da faixa que discorre sobre nosso comportamento e alienação em relação as telas. Sejam elas dos computadores, celulares ou tablets.

O clipe conta com imagens produzidas por Yasmin Kalaf e fará parte de uma espécie de “quebra-cabeça” como revela o músico.

“É sobre uma pessoa que foge de avião e outra que está tentando matá-la. Existe um roteiro e provavelmente os próximos clipes vão completando o quebra-cabeça.

A ideia surgiu depois que eu, a Yasmin Kalaf e o Cainan Willy (Cavaca Records) fizemos uns takes aqui perto de casa com um carro antigo. Tudo compilado, comecei a editar e ver que meio que surgiu uma história.”



Entrevista: Meu Nome Não É Portugas

Queria que contasse um pouco mais sobre esse novo ciclo pós lançamento do “Fraga e Sombra” repleto de novas experimentações, texturas e feats. Como tem absorvido e enxergado esse processo e suas inúmeras possibilidades criativas?

Meu Nome Não É Portugas: “Estou aproveitando esse momento pra me aprofundar em mixagem, masterização e afins, e acabo assistindo muitos vídeos de produtores que gosto muito.

Sylvia Massy é minha favorita, por trabalhar muito com a ideia do não-convencional. Indo para esse lado, tenho a mentalidade de que se surgir uma ideia, é melhor eu gravá-la para não esquecer. Mas tento sempre gravar da melhor maneira possível, e para achar a melhor maneira tenho que realizar vários testes.

Tem sido um grande período de testes – uns que obtive um resultado mais interessante que outros – e parte desses testes viram as músicas que lancei e irei lançar. Fraga e Sombra é a confirmação de tudo que fiz nos trabalhos anteriores a ele. “Eterno Azul” começou com outra cabeça, e Deuses das Telas é continuação dessas experimentações que realizo.”

Quando vi a temática das telas só consegui pensar em como neste momento por conta da situação toda essa outra realidade de multitelas entrou ainda mais na rotina. Como vê isso?

Meu Nome Não É Portugas: “Concordo com você. Estamos nos relacionando com o exterior através das telas porque é a única maneira sensata de se relacionar há pelo menos 5 meses. Importante também mencionar que falo mais da Internet e redes sociais quando digo das Telas.”

De certa forma numa realidade pré-carnaval ela ganharia outro sentido e a verve de crítica sobre as relações e distanciamento. Como enxerga a beleza da interpretação em meio a situação e momento de quem ouve?

Meu Nome Não É Portugas: “Pois é. Acho que é um sentimento que cabe em vários momentos da nossa vida. Procuro encontrar essas coisas que nos são comuns, quase instintos. Amor, raiva, medo, culpa, saudade, e por aí vai. Peguei muito do Milton e das letras dele pra tentar escrever de uma maneira mais genérica, mas ao mesmo tempo bem exata na minha cabeça, porque eu sei – e imagino – as cenas que me inspirei pra essa música, mas pode ser que gere outras imagens para outras pessoas. Espero que sim.”

Aliás estendendo um pouco a conversa sobre as telas sinto que é cada vez mais raro escrevermos com os próprios punhos em um mundo cada vez mais repleto de softwares, telas e recursos.

As telas também fazem com que nos sintamos cada vez mais viciados em tecnologias e em eventos presenciais tenhamos que competir a atenção com elas, o que causa um desconforto e faz com que boas conversas sejam cada vez mais raras. Como observa essa realidade e o que faz para tentar driblar isso? Ou já aceitou e segue?

Meu Nome Não É Portugas: “Com certeza valorizo muito mais as interações cara a cara hoje em dia. O que tento propor no single é uma virada de jogo. Não ser dominado pela tecnologia mas sim comandá-la. Acho que é uma questão de consciência.

Lembro sempre de uma observação interessante: através das telas, é impossível trocar olhares. Olho para a câmera ou para o olho da pessoa? Isso talvez seja a verdadeira troca que já estava escassa em momentos pré-pandemia. Sobre a atenção dada às telas, tem muito a ver com o vício.

Da minha vivência, quando estou mexendo em qualquer eletrônico, tento ficar prestando atenção nas coisas reais que estão a minha volta. Detesto falar com alguém que está usando o celular e perceber que a pessoa nem se quer ouviu o que eu falei, sem esboçar reação. Acho que isso é ser dominado, quase sugado, pela tela.

E quanto a escrever, sempre faço minhas letras no papel. Tenho blocos e blocos no estúdio. É muito mais fácil trabalhar com caneta e papel, fazer rascunhos, é muito mais expressivo. Também acredito que quando escrito a mão, é mais difícil de esquecer. Vira quase memória muscular.”

O que achei muito legal deste novo single foram os samples e colagens, como foi que isso rolou? De onde extraíram?

Meu Nome Não É Portugas: “As colagens geram texturas diferentes. Os samples rolaram bem despretensiosamente. Achei trechos de músicas que gosto muito e fui colocando e vendo no que dava.

Tentei samplear tudo dos vinis que tenho aqui, entre eles, Boogie Naipe, Clube da Esquina, Sade, um disco bem legal do Dorival Caymmi com Vinícius de Moraes acompanhados pelo Quarteto em Cy e Bill Evans. Pra completar a sonoridade, chamei o Dj Gigo pra colocar uns scratches quase como solos na música.

Em contraponto a isso, chamei o Fernando Mumu, trombonista, pra gravar linhas na música também. Acredito que ganhou uma aura de bar de Jazz à noite, bem esfumaçado e um copo de whisky.”

Aliás o vídeo vai na direção oposta e mostra vida fora das telas, como foi a sua concepção? A ideia era essa mesmo?

Meu Nome Não É Portugas: “O vídeo é uma outra narrativa. É sobre uma pessoa que foge de avião e outra que está tentando matá-la. Existe um roteiro e provavelmente os próximos clipes vão completando o quebra-cabeça.

A ideia surgiu depois que eu, a Yasmin Kalaf e o Cainan Willy (Cavaca Records) fizemos uns takes aqui perto de casa com um carro antigo. Tudo compilado, comecei a editar e ver que meio que surgiu uma história.”

This post was published on 22 de julho de 2020 11:49 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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