Em 2018 estávamos finalizando os últimos detalhes para a coletânea A 300 KM Por Hora – Um tributo aos Autoramas quando recebo um e-mail do Nevilton entregando sua versão diretamente do aeroporto. Seu destino era Roma onde desde então vive.
A Itália recentemente assustou o mundo e nos principais noticiários ao invés de ser vista a bela Itália dos cartões postais e da excelente culinário, vinham as manchetes de Epicentro global do Coronavírus.
E lá realmente, não teve conversa ou Quarentena para gado curtir uma festinha secreta, e sim, existiu um lockdown de fato. Por lá as pessoas que saiam de casa sem uma documentação específica eram realmente multadas.
Fato é que todo esse momento acabou inspirando Nevilton, que também costuma ser músico residente em um Pub de Roma, a compor e gravar durante o mês de junho uma nova canção. “Irradiar” foi gravada diretamente de casa e contou com a ajuda de André Dea que gravou bateria acústica em seu home studio diretamente de Curitiba (PR).
“No início de Junho tive as primeiras ideias da letra e acordes. Escrevi e, empolgado, já comecei a gravar. Quando apresentei para os companheiros de banda lá no Brasil, André Dea se ofereceu para gravar a bateria acústica em seu home studio em Curitiba. Todo o resto eu gravei em casa, aqui em Roma.
Conversamos com Nevilton para saber mais sobre como foi enfrentar a pandemia e conviver com o lockdown em um dos grandes epicentros da COVID-19, sobre o novo single e a vida distante dos amigos e da família.
Nevilton: “Nunca imaginei uma situação assim no mundo. Quando os números aqui começaram a assustar e rolou o decreto para o “lockdown”, me senti mais ou menos dentro de um filme.
Sai de casa poucas vezes para ir ao mercado e uma vez ao veterinário (outra história de quarentena que rolou aqui em casa), cada vez que saia, devia imprimir uma “auto-certificação” declarando o motivo para isso, pois havia controles da polícia pelas ruas, multando quem não tinha reais motivos e averiguando os outros.”
Nevilton: “Vi stories de vários amigos e conhecidos, mas pessoalmente não vi nada disso, moro em uma área bastante afastada do centro da cidade. Durante alguns dias chegou a rolar algo tipo “as 18h todos colocam a música X para tocar da sua casa e assim a gente se ‘sintoniza'”, daqui de casa ouvia isso rolando, mas foram por poucos dias… pois em um certo momento, o número de pessoas morrendo e se infectando não animavam muita mobilização assim, por bom senso/respeito. Cheguei a tocar aqui no jardim de casa… mas do outro lado da rua tem só um galinheiro… a turma ali não demonstrou muita satisfação! (risos).
Sobre a reabertura eu ainda não tenho muito o que dizer. A circulação está liberada, muito comércio está funcionando novamente, mas ao mesmo tempo, pouca gente está com grana pra sair “às compras” ou pra ficar “comendo fora”, eu sou um desses e acredito que vai levar um tempo pras coisas voltarem a ter um ritmo e os trabalhadores poderem voltar a consumir normalmente… enfim, é uma situação bem complexa, não vou conseguir te dar um panorama 360 graus da coisa…
Como estou vendo isso no Brasil? Muito triste em saber que tanta gente não está levando a sério. Indignado com os “filhos de procuradores”, “engenheiros civis formados” e etc. que aparecem na timeline “cagando” com os processos de prevenção ou qualquer bom senso, ou o inaceitável e péssimo presidente irresponsável, que até agora só tentou confundir, enganar, jogar a responsabilidade para os outros e que agora diz que está contaminado, cavando alguma compaixão do povo. Lamentável.”
Nevilton: “Isso. Gravei uma base aqui em casa, o André Dea (Supercombo, Sugar Kane, Violet Soda) gravou a bateria em Curitiba no home studio dele, e o resto eu fiz daqui do home studio em Roma. Uma colaboração ao estilo Ítalo-brasileira! =D
Aqui eu sou músico residente em um pub no centro de Roma, semanalmente lidando com muitos turistas, italianos e gente do mundo todo. Por lá a ênfase do repertório não é minha música autoral, porém eu sempre coloco no meio, levo meus discos, apresento a coisa toda, e vejo muito positiva a recepção geral… a ideia Italiana sobre a música do Brasil é muito “binária”, ou a bossa nova dos 60s e herança do que trouxeram Chico Buarque, Toquinho e Vinícius… ou essa nova música muito-popular brasileira da última década tipo Michel Teló/GusTTavo? Lima e etc.
Além da residência no pub, eu tenho tocado em alguns eventos, festivais e concursos e aos pouquinhos tenho mostrado pra turma daqui que existem uma ou outra coisa além daquelas opções de música brasileira.”
Nevilton:
“Não foi algo específico que motivou fazer essa canção, mas sim algo constantemente presente: a saudade da família, de amigos, de outras fases da vida e etc.”
Coisa que é até natural sentir saudade e que por tanta distância e intervalo de tempo seriam coisas quase impossíveis de se repetir/retomar. E sim, essa fase de pandemia no mundo, lockdown, reeducação sobre higiene, saúde, socialização e profilaxia, sim, me afetaram sobre como vejo a vida. Se já via como algo muito frágil e passageiro, hoje ainda sinto mais urgência sobre fazer algo bem, de bom e belo para o próximo, para quem fica por aqui enquanto a gente logo passa.”
Nevilton: “A publicação de “Irradiar” veio com afetada por esta urgência que falei ali, mas, sim, tem um repertório se formando para o próximo disco. Menos saltitante e super contente como costumo soar, mas ainda preocupado em soar positivo, trazer alguma luz, algum conforto apesar de toda essa merda que a gente tá vivendo.
Ao mesmo tempo tenho algumas versões na manga, que talvez me faça revisitar algumas do repertório antes de lançar um próximo disco “de verdade”. Vamos ver como será o mundo, e por consequência esse repertório nos próximos meses. ;)”
This post was published on 10 de julho de 2020 12:30 am
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