“Representatividade é ATIVIDADE, é ação, é coletivo, é horizontal!” reflete Rap Plus Size

 “Representatividade é ATIVIDADE, é ação, é coletivo, é horizontal!” reflete Rap Plus Size

Rap Plus Size – Foto Por: por Georgia Nyara

Conceitual, intenso, agregador e levando para o público discussões pontuais. Seria uma ótima maneira de incentivar a audição do ótimo A Grandiosa Imersão em Busca do Novo Mundo do duo Rap Plus Size.

Mas mais do que isso, sua narrativa traz no seu enredo diversas chagas, problemas sociais e ativismo. Dando atenção a temas como a opressão do Estado, a gordofobia e as questões de gênero. O álbum também é plural em ritmos, texturas e experimentações.

Reggae, soul, surf music, MPB e maracatu acabam entrando no caldeirão do registro que chega para agregar a todos. Em um momento político de muita indefinição, medo e opressão, nada como ouvir um disco que em muitas vezes durante sua audição recaí como um abraço coletivo.


Rap Plus Size
Rap Plus SizeFoto Por: por Georgia Nyara

Participações

Entre as participações o álbum conta com um time bastante diverso que agrega de diversas formas. Contando com o rapper Djonga, Monna Brutal, KamauCris SNJ, da banda Mulamba, Danna Lisboa e das slammers Ingrid Martins e Luz Ribeiro.

Os beats foram produzidos pelo criador do selo TEIAinc.: Vibox (Victor Machado). O produtor também assina a mixagem do disco, já masterização foi realizada pela produtora musical Malka, travesti dona do selo TravaBizness.

“Por isso falamos de gênero no álbum de uma forma que nunca falamos antes.

Falamos em um sentido total de desconstrução de gênero e não apenas de uma masculinidade ou feminilidade tóxicas.

É uma percepção além disso, é sobre os papéis de gênero, as suposições de gênero que são feitas desde o começo para todos e desconstruir isso”, explica Jupi77er.

“E a gente traz essas questões sociais contemporâneas que precisam ser descolonizadas.

Buscamos respiro em afetos e em coletivos para que a gente possa chegar de fato nesse novo mundo, que vai ser construído por nós: pelo diverso, pelo o que não é a norma”, conta Sara Donato

Entrevista

Conversamos com Sara Donato e Jupi77er sobre diversos assuntos que englobam desde o Rap Plus Size aos nossos dias. Um papo sem papas na língua e revelando diversas informações dos bastidores das gravações. 

Ouça o álbum enquanto lê!



O álbum aborda as águas e os oceanos, e que momento de lançar em meio a um grande vazamento de petróleo no nordeste.

Aliás o lado político, social e o mundo contemporâneo acabam entrando ao longo do disco, como foi o processo de construção de seu conceito, motivações e como observam a importância em não abaixar a cabeça?

Rap Plus Size: “O álbum foi construído com o intuito de tirar as pessoas dessa realidade projetada na qual vivemos, para descobrir novas possibilidades. Construímos o conceito em meio às vivências que temos na sociedade e como MCs, trabalhando com o Rap Plus Size.

Pensamos em produzir um álbum conceitual fazendo uma analogia a um mergulho nas profundezas do oceano. Pesquisamos muito sobre, achamos livros que falavam sobre o mar, conversamos com oceanografistas, assistimos documentários de freediving (mergulho livre) e sobre lugares muito profundos, começamos a nos conectar com o mundo submerso e construir uma narrativa a partir disso.

A Produção

Então levamos essa história ao nosso produtor Vibox, que foi musicalizando nos beats a atmosfera que queríamos para cada som. E assim passamos a escrever as ideias que tínhamos em mente para atribuir ao conceito do disco.

Desde sempre o Rap Plus Size traz na essência a atitude de manter a cabeça erguida, isso consta também no trabalho solo de ambes MCs e continuamos trazendo isso, pois sabemos que é essa atitude que rompe com ciclos de violência. Não se deixar abater e continuar lutando.”

Achei muito interessante o modo que trouxeram para “Baleia” trechos de fãs falando sobre a importância da identificação com as letras e postura de vocês.

Vejo muitos artistas falando sobre a falta de representatividade dentro da música pop em diversas frentes, principalmente durante a infância. Como vocês observam isso em um mundo cheio de preconceitos e hipocrisia?

Rap Plus Size: “A gente recebe essas mensagens todos os dias e sabemos da importância que temos com o nosso trabalho.

Colocar as falas de nosso público nessa faixa é, além de tudo, tornar o álbum algo construído coletivamente, no pré e no pós lançamento, pois a última faixa também permite a participação das pessoas.

Fazer com que elas participem do álbum é mostrar que juntes temos muito mais força. E dar o local de fala e ação a todes e não apenas a nós, pois representatividade é ATIVIDADE, é ação, é coletivo, é horizontal!

Aliás o disco conta com uma série de participações passando por Djonga, Mulamba, Danna Lisboa, grupo de maracatu e uma pluralidade de estilos (e samples).

Como surgiram as oportunidades? Como funciona para vocês o processo de pesquisa? Como acreditam que isso contribuiu para o resultado final do disco?

Rap Plus Size: “Cada participação especial do disco foi pensada com carinho para atribuir ao conceito do álbum algo que queríamos passar.

Ter a presença de Danna e Monna nesse álbum, e Malka na Masterização, sintetiza a necessidade de corpas transvestigeneres atuantes na construção coletiva de um Novo Mundo, quebrando padrões heterocisnormativos e mostrando a direção que o futuro é não binário, é trans, é diverso e plural.

Pluralidade

Ter Mulamba na faixa “Cardume” é proposital, elas são muitas no palco, mostram a força da organização coletiva, e o quanto pode ser conquistado a partir disso.

Queríamos também nomes de grande influência no Hip Hop para construir a faixa “Nascente”, pois é através dos ensinamentos de Cris e Kamau que construímos a nossa realidade.

Djonga veio com a força que “Pipeline” precisava, para bater de frente com legitimidade perante a cena, que ainda reproduz misoginia e invalida nosso discurso. Então, foram processos naturais, convidamos os artistas, as poetas, e todos deram o melhor de si nas músicas, acreditando no resultado final de qualidade do álbum.”



A invisibilidade social, a sexualidade, doenças mentais e batalhas diárias acabam entrando no contexto.

Quais histórias acabaram entrando no background das rimas que gostariam de ressaltar?

Rap Plus Size: “Cada música traz um pouco das nossas vivências reais, principalmente em “Abissal” e “Baleia”, mas em todas temos colocado nossa realidade para poder abordar os temas com propriedade dentro do nosso local de fala.

Aprofundamos em nós mesmos para construir esse álbum do mais íntimo da nossa vivência. Jupi77er, em um processo de transição, falando sobre gênero;

Sara contando sobre seus sonhos e experiências na periferia, tipo em “Pipeline”: eu com 14 frequentei mais velório do que festa de 15 anos. Isso é uma realidade, mostramos o que vivemos para construir a narrativa do álbum a partir disso.

Como veem o papel do Rap no momento atual do país?

Rap Plus Size: “Necessário, mas também está se tornando cada vez mais plural, e não apenas denunciando as injustiças sociais que vivemos.

É importante nosso posicionamento, ainda mais nesse ano que temos um presidente de extrema direita no poder, mas é importante também que esse discurso se transforme em ações reais.


Rap Plus Size
Rap Plus SizeFoto Por: Georgia Nyara

Os beats, samples e colagens também chamam a atenção justamente por irem de encontro com diversas referências externas. Como foi o processo de construção?

Rap Plus Size: “Levamos ao nosso produtor Vibox a narrativa sobre um mergulho profundo, então pensamos em uma ambiência que simbolizasse a água e o ato de estar na superfície e submerso.

Histórias

Em “Aquário”, por exemplo, é um ambiente submerso porém falso, queríamos que tivesse essa sonoridade. “Quebra Mental” é quando a onda quebra e tomamos um “caldo”, então é turbulenta e há momentos no beat que ele se torna denso como se estivéssemos realmente em baixo d’água, perdendo consciência, em analogia à uma crise de pânico, depressão ou ansiedade.

“Pipeline” é a onda, então Vibox sampleou surf music para dar o ar que precisamos nesse som. Em “Baleia” tem o canto da Baleia 52, uma baleia que canta em uma frequência diferente das demais baleias de sua espécie e portanto navegava sozinha no oceano, sem que as outras baleias pudessem ouvi-la.

Cada som conta uma história e Vibox, como sendo um dos produtores mais incríveis da nossa geração, conseguiu sintetizar tudo isso em uma musicalidade excelente.”

A sequência do álbum me chamou a atenção por justamente mostrar as trevas, os preconceitos, o pânico mas já chegando em sua parte final também mostra uma luz no fim do túnel. Uma força e ânsia por reconstrução.

Como têm sido a resposta dos fãs? E qual mensagem gostariam de deixar para quem se identificou com o trabalho?

Rap Plus Size: “É muito receptivo como as pessoas estão absorvendo esse álbum, ele é grandioso e complexo, e ainda estamos vendo nosso público compreendendo aos poucos todos os detalhes e referências que deixamos nesse trabalho. Mesmo assim, as pessoas estão se emocionando muito com o disco e o propósito que ele tem.

Queremos que as pessoas saibam que esse disco é interativo, queremos que as pessoas que absorveram essas ideias possam criar esse Novo Mundo.

Na última faixa, deixamos apenas o beat, criado por Vibox e Malka, para que as pessoas rimem, dancem e enfim criem em cima qualquer que seja seu desejo para esse Novo Mundo que estamos construindo. Esperamos que enviem para gente o seu resultado, assim vamos postar no nosso Instagram e construir isso juntes!”

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