Lori se liberta das amarras em cintilante EP de estreia

 Lori se liberta das amarras em cintilante EP de estreia

Capa do EP

Vênus representa a nossa forma de amar e ser amado, Virgem traz a figura de uma mulher que observa o mundo com uma lupa e sua ingenuidade. Seria uma boa maneira de traduzir o momento de Clarissa Celori, a Lori, ítalo-brasileira nascida na pequena Anzio, cidade litorânea localizada nas imediações de Roma.

Atualmente vive no Brasil e seu background acaba, claro, somando no resultado do seu trabalho que dialoga com a música pop mundial. Não é por acaso que Carly Rae Jepsen, Kimbra, Lorde, Jorja Smith, Tove Lo e Robyn acabam entrando em seu caldeirão de referências.

O amor, o lado humano, o amadurecimento, as transformações e transições dão o tom da dança que o EP propõe. De maneira leve, confessional e revelando o poder da entrega, Lori expõe suas cicatrizes e se emancipa das chagas do passado.


Lori Capa
Capa do EP

Rito de Passagem

A passagem para seus 20 anos e reflexões acabam entrando como elementos vitais da obra e influenciam em sua identidade artística. A dualidade, os medos, as falhas e as voltas que a vida dá traduzem um pouco sobre nosso poder de reconstrução.

O EP de Lori contou com produção musical, de Gabriel Nascimento, e teve a participação de Lucas Carrasco nas guitarras. O pop, a EDM e o R&B acabam entrando no campo das referências estéticas e sonoras do disco.

“Esse é o EP que mostra minha identidade artística e sonora, que me apresenta ao mundo com minhas diversas facetas.

Vênus em Virgem é o meu nascimento como artista, mas também como ser humano.

Um processo muito pessoal de descoberta, crítica e amadurecimento”, revela Lori.

Vênus em Virgem

“Quem tem Vênus em Virgem pode ser muito crítico com quem se relaciona. Porém, isso não quer dizer que seja necessário obrigar todos ao seu redor a alcançarem a perfeição.

Alguns têm uma necessidade grande de encontrar o “parceiro perfeito”.

Por conta disso podem adiar compromissos mais sérios, como morar junto ou se casar, e mesmo após se juntarem, podem querer aprimorar as coisas constantemente.

O problema é que ninguém é perfeito e talvez seja bom se conscientizar disso o mais rápido possível!

Geralmente os nativos com esta posição são bastante práticos e autosuficientes. Porém, ficam muito felizes quando têm alguém para amar, pois curtem a integração com as outras pessoas.” – Via Astrolink

A força da Virgem acaba entrando na simbologia e conceito do disco que carrega este “jeito de amar” com toda sua intensidade, ingenuidade e cadência. A artista mostra através da simplicidade: sua forma de enxergar o mundo.

Faixa a Faixa

Através de suas 5 faixas os conflitos transparecem e dialogam com seus medos, receios, traumas e vontades. Se liberta de sentimentos aprisionados para encontrar sua paz interior. Transformando dores em passos dignos de pista de dança, até mesmo o groove dos acordes reverberantes do Daft Punk transparecem.



Em “Do Que Você tem Medo” Lori expõe suas fragilidades e deixa claro quão superficiais podem ser os relacionamentos modernos. Pop, com texturas oitentistas e uma angústia capaz de dar nós na garganta. É praticamente uma sessão de terapia musificada.

Os ciclos vão e voltam para o mesmo lugar em “Entregue”, faixa onde deixa clara sua capacidade servil – uma das características mais fortes da Vênus em Virgem. Os sintetizadores, backin vocals sobrepostos e as guitarras dão todo o tom dramático e confessional da canção.

Em sua segunda parte, mais lenta, os vocais de Lori brilham em versos delicados que deixam claro suas falhas e arrependimentos juvenis. Se você gosta de Kimbra e Lorde, esse momento é teu. Deixe-se levar.

“Interlagos” que irá agradar a fãs de 1975 , Daft Punk e M83, como ela mesmo nos diz, é sobre um amor que nasceu durante um edição do Lollapalooza.

Em entrevista para o Hits Perdidos ela deixará mais claro os impactos deste amor que o tempo tratou de levar para bem longe. Do conhecer, passando pela quebra do encanto e as inevitáveis cicatrizes que insistem em demorar para fechar.

A Pista de Dança & a Ressaca

A faixa título, “Vênus em Virgem”, tem um tom de discoteca dark, evoca Deus e o brilho das luzes da noite de São Paulo. Suas confissões invadem a pista de dança e a vontade de se libertar acaba ganhando passos ritmados. Entre sentimentos aflorados e desculpas para fugir para bem longe da sobriedade.

Já “Voltando Para Casa” é lunar. Com frequências mais baixas, as águas e a gravidade tratam de buscá-la de volta para a segurança do lar. Se o provérbio diz “Home Is Where Your Heart Is“, ela se recompõe e mostra como é possível encontrar a paz dentro de si.

Entrevista

Conversamos com Clarissa, a Lori, para saber mais sobre este começo de carreira, seus aprendizados e o que podemos esperar de seus próximos passos. Confira!

O papo é astrologia! Vênus em Virgem não seria um dos aspectos mais favoráveis de uma vênus, conte mais sobre as motivações para o álbum e até mesmo o momento escolhido para o lançamento? Tem a ver com alguma fase de lua ou configuração do céu?

Clarissa: “Vênus em Virgem é a pior posição, justamente por serem energias contrárias e criarem uma tensão. Vênus é o signo do amor, da abertura e da entrega. Virgem, é virgem (risos). É ingênuo, sistemático e busca uma perfeição que não existe. Isso acaba complicando as coisas dentro de mim às vezes, e fala muito sobre minhas próprias contradições.

A pretensão era sim lançar quando a Vênus estava em Virgem, em setembro, mas as músicas ainda estavam sendo trabalhadas e eu queria fugir do meu imediatismo e ansiedade. Porém, mais importante do que datas, ela é uma posição fixa do meu mapa astral. E o próprio EP é cíclico, está em constante mutação até chegar seu fim. Assim como eu.”


Lori Gabriel Monteiro
Lori Foto Por: Gabriel Monteiro

O romance e as descobertas acabam como plano central que conecta as faixas, são a respeito de traumas e transformações vividas?

Como enxerga que sintetizam o momento e como foi para você o exercício de “exorcizar” estas memórias?

Clarissa: “Sim! Meu processo de aprender a me relacionar e como eu fiz isso até hoje é a temática central; Até porque tudo na nossa vida gira ao redor do outro. Aprendi que o outro é tudo, e ao mesmo tempo, nós mesmos. Eu projetei e idealizei algumas coisas na minha vida, e não entendia ainda o que era meu e o que não era. Não entendia a hora certa de sair de uma relação, porque achava que a tentativa da insistência era sempre válida.

Ainda sou uma menina (PT 2 de Entregue), é justamente isso. A música que mais fala sobre projeção é “Do Que Você Tem Medo?”, porque é um espelho entre mim e a pessoa com quem estou vivendo uma relação efêmera. Interlagos é pro meu primeiro amor, que conheci na estação de trem indo pro LollaPalooza, em 2015.

É a forma como vejo o que foi a nossa relação depois de tantos anos. Foi dolorido exorcizar tudo isso, justamente por perceber tantas falhas minhas. Mas tenho praticado o auto-perdão ao invés do julgamento.”

Como tem sido para você explorar diferentes possibilidades sonoras? Como enxerga o cenário pop atual e sua constante evolução?

Clarissa: “Pra mim é absurdamente difícil fazer uma coisa só, acho que por isso escolhi ser atriz. Bom, eu ainda estou me explorando e criando. Já trouxe essa dualidade desde o começo para que as pessoas saibam que eu gosto de ter possibilidades. Eu sou absurdamente fã orgulhosa do cenário pop brasileiro atual! Tem muitos nomes bons e originais por aí, tanto no mainstream quanto nas cenas alternativas.

Fico TÃO feliz quando vejo a gente sendo reconhecido lá fora, isso me anima e me faz ter 1929484 ideias. Cito como exemplos a Liniker, no Tiny Desk; E a música da Tove Lo com o Mc Zaac.

Cara, eu chorei quando assisti o programa com ela, justamente por ver alguém ter o reconhecimento que merece. Já o feat, que maravilhoso ver o eletropop europeu com o funk brasileiro. Chega de síndrome de vira-lata Brasil, vamos mostrar o que é nosso com orgulho!

Quais foram os desafios e aprendizados que teve durante as gravações? E como projeta seus próximos passos?

Clarissa: “Olha, muita coisa eu aprendo errando, mas fiquei feliz de ver o quanto aprendi com a experiência de outras pessoas. Meu maior desafio foi ter paciência pras coisas se desenvolverem e para admitir o que eu não sabia. Mas minha maior conquista foi meu aprendizado.

Tenho pessoas brilhantes e sábias do meu lado e sem elas nada disso teria existido. Cresci como compositora, cantora e também no âmbito profissional.

Agora meu desejo é continuar fazendo música e trabalhar com mais gente boa no que faz! Tornar minha dualidade, a minha identidade. Explorar meu lado italiano, e também minhas influências norte americanas. É muita coisa pra uma vida só!”

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