Um universo psicodélico e mil deixas para refletir sobre as experiências espirituais que temos ao longo da vida. De encontros na estrada, debates acalorados na rua a trocas de cinco minutos. Entre xamãs e mantras, o segundo álbum do capixaba André Prando, Voador, foi um dos grandes destaques do ano passado.
Ele faz uma boa viagem que passa pelo magia da psicodelia brasileira dos anos 70, que tanto inspira bandas como Bike, Boogarins e My Magical Glowing Lens, e os portais de referências que Beatles, Pink Floyd, The 13th Floor Elevators e The Doors trataram de abrir para o mundo.
Conexão espiritual e pensamentos progressistas tratando de nos forçar a pensar de maneira crítica e contextualizada. Voador provoca, instiga e tem um ar de empoeirado. Muito disso porque André foi atrás das referências deste tempo e buscou criar parcerias significativas para que a experiência fosse ainda mais imersiva.
O sucessor de Estranho Sutil, 2015, tem produção musical assinada por Henrique Paoli e o lendário JR Tostoi. Além disso o álbum que nasceu com a ajuda dos fãs através de um bem sucedido processo de crowdfunding, conta com distribuição da Sony Music Brasil. Com 12 canções, 10 são de sua autoria, e duas de seu amigo Santiago Emanuel.
O disco ainda reúne nomes interessantes do independente brasileiro como do Gabriel Ventura (Ventre), a talentosíssima Duda Brack, o multi-instrumentista Mário Wamser, Luiz Gabriel Lopes (Graveola), Lucas Estrela e o cellista italiano Federico Puppi.
A maioria deles segundo André conhecidos durante suas andanças pelo país, entre turnês e festivais que teve a oportunidade de comparecer após o lançamento de seu primeiro full-length.
André Prando continua a trabalhar Voador e nesta terça-feira em Premiere no Hits Perdidos lança seu novo clipe. Este que já corre o sério risco de entrar na lista de Melhores do Ano (Confira as de 2018).
O músico capixaba continua a trilhar seus caminhos e viajar pelo país; mas agora pega carona na sétima arte para apresentar sua nova produção audiovisual.
Para ela, convocou a dupla, Diego Locatelli e Felipe Amarelo – Locatelli que inclusive já dirigiu outra produção de Prando, o vídeo de “Ode à Nudez”, para discorrer sobre fantasmas.
Temática por sua vez cheia de mistérios. Entre traumas, medos, frustrações; e a profundidade da morte. Me lembrando até mesmo o livro As Intermitências da Morte – do escritor português José Saramago (baixe aqui).
“A música e o clipe partem de uma ideia de que devemos enfrentar nossos fantasmas, saber identificar e lidar com eles. E o que eles são? Escolhas que fizemos, perdas, vitórias, traumas, superações, ausências, presenças, morte e vida“, reflete Prando
A produção audiovisual também celebra a produção artística capixaba. E não apenas a “videoclíptica”.
“A performance butô com argila do Felipe Murad e seu grupo foi algo que eu queria muito apresentar. O retratista Nicolas Soares também, acho os retratos dele muito expressivos. Tê-lo ali fazendo um auto-retrato foi intenso. São artistas com visões incríveis e que, dentro da atmosfera da música, tiveram suas perspectivas fantasmas para contribuir”, detalha o músico.
A poesia da canção de André Prando também contagiou os diretores. Locatelli se viu com a missão de retratar todas as faces – e silhuetas – dos fantasmas.
A própria definição do termo “fantasma”; e sua subjetividade, contribuiu para a abstração de seu conceito na peça audiovisual.
“Cada um possui seu fantasma e por isso não tivemos a intenção de demonstrar todos, seria muita pretensão. Após muitas conversas com toda a equipe, elencamos alguns tipos.” – conta Locatelli
“O roteiro foi então muitas vezes foi criado a partir do acaso dos atores, das escolhas da equipe e da interação de performances dos artistas convidados com a câmera e direção”, revela o cineasta.
A gama de referências da sétima arte contribuem também para a riqueza da produção. Eles citam diferentes filmes e cineastas que serviram como ponto de partida para que eles alcançassem este belo resultado.
“O núcleo da família na mesa eu parti de duas referências: a clássica canção ‘Na hora do almoço’ de Belchior e a dramática cena do jantar no filme Hook (1991), de Steven Spielberg”, entrega Prando.
Já Locatelli, por sua vez, cita os longas A Ghost Story (2017), de David Lowery e Magnólia (1999); de Paul Thomas Anderson.
“São referências que nos fizeram pensar nesse não-lugar que era um hotel abandonado e como marcar esse espaço com memórias que transpassam o tempo”, reflete o diretor.
Conversamos com André Prando para saber ainda mais detalhes sobre a composição; e produção audiovisual. Um papo leve e de muita reflexão. Confira!
“Fantasmas talvez” foi uma música que comecei a escrever 6 anos atrás, a cada verso que eu revisitei e avaliei como concluído, eu senti um melhor entendimento sobre o assunto e, consequentemente, sobe a vida.
Quando finalmente finalizei ela pro Voador, percebi o quanto a música representa o passar do tempo e a maturidade pra mim. Quando penso no tempo que precisei para concluir a composição, acabo achando que compor é um dos meus fantasmas e acho isso lindo. É um fantasma que gosto de lidar, um fantasma que me desafia e me alimenta a fazer o que eu preciso fazer.”
“Gosto do amplo sentido do fantasma. Acredito que cada pessoa pode levar a reflexão pra um universo muito particular. Pois afinal, o que são fantasmas?
Escolhas que fizemos, perdas, vitórias, traumas, superações, ausências, presenças, morte, vida. Gosto de pensar que a cada escolha que fazemos, uma infinidade de não escolhas ganham vida… são os famosos “e se…”. A música sugere que procuremos tomar ciência disso. Respeitar o efeito borboleta da vida.”
“Quando começamos a pensar o videoclipe, uma das referências que eu trouxe foi o filme Magnólia (1999), além da temática, a ideia de ilustrar diferentes histórias que se cruzam de alguma forma foi um mote. Quando fui assistir o filme novamente, me lembrei de algo fundamental!
Na época que comecei a escrever a música, eu tava super inspirado por ter acabado de assistir Magnólia pela primeira vez. Bingo!
Minha intenção na música não foi ilustrar situações tão claramente concretas como as histórias contadas no filme, mas sim oferecer sugestões pra que o ouvinte faça relações e identifique suas próprias histórias. O videoclipe também propõe essa experiência.”
“A performance butô utilizando argila no corpo; O retratista enfrentando o auto-retrato; A família na mesa; Esses são os planos narrados no videoclipe que acontece em um hotel abandonado. Este, o hotel onde tudo acontece, é um personagem importante também, o personagem atemporal que abriga todas as histórias.
Cada plano individual pode levar o expectador à uma reflexão, mas é interessante pensar que os planos todos podem coexistir, estão conectados de alguma forma. Acho o clipe um furacão. Coloca a gente pra dançar com nossos fantasmas sem medo.”
Produtoras: Lupino Filmes e Claraboia Imagem
Produção Executiva: HERA Produção e Assessoria Cultural
Roteiro: Diego Locatelli e André Prando
Direção e Fotografia: Diego Locatelli e Felipe Amarelo
Cor: Felipe Amarelo
Assistente de Direção: Jorge Tran Jr
Assistente de Fotografia: Diogo Buloto
Steady Cam: Pedro Monteiro
Direção de Arte: Gabi Christo
Assistente de Arte: Edu Sant’Ana
Produção: Daniela Maia
Assistente de Produção: Yasmin Piovezan
Gaffer: Philipe da Silva de Miranda
Assistente de Iluminação: Raphael Carrozzo
Maquinário: Chacal
Figurino: Figurina
Maquiagem: Isabella Reis
Making Of: Gabriel Hand e Terê Dantas
Comunicação: Terê Dantas
Assessoria de Imprensa: Izabela Costa
Parcerias: Catuaba Selvagem, RedBull, Rock Burger, Paparazzi Pizzaria, Bella Horta.
André Prando
Nicolas Soares
Abou Mourad (ORAI Centro Flutuante)
Cecília Minette (ORAI Centro Flutuante)
Júlia Buffe (ORAI Centro Flutuante)
Thiago Pindaíba (ORAI Centro Flutuante)
Darlete Gomes Nascimento
Antônio Apolinário
Markus Konká
Malu Brust Costa
Pedro Gil Guimarães Ribeiro
Franciny Dias
Marcelo Castelo Rodrigues
Silvia Labuto
This post was published on 3 de setembro de 2019 12:04 pm
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