Os batuques, o jazz, a MPB, a paisagem e as cores ganham um presente nesta terça-feira (04/06) com o álbum de estreia de Sessa, Grandeza. Entre batuques, passos ritmados, espiritualidade, minimalismo, crueza e ousadia, o registro flerta com várias culturas e modos de se expressar.

Grande parte disso se dá justamente pelo disco ter sido gravado enquanto o músico viajava pelo mundo. Sim, um espírito wanderlust, e cigano, que dá todo um toque especial para as camadas do registro que mesmo com estes ingredientes tem a alma e gingado brasileiro.

Grandeza é um disco sobre o gesto natural do amor e a doçura do corpo humano.
Também é sobre o meu amor pela música do Brasil e suas tantas formas.

Gosto de pensar que ele canta com os rituais que celebram o estar no mundo. Espero que bata como um lembrete de que, em meio a tanta dor a música vem reafirmar o lugar do coração e a beleza da vida”, complementa Sessa.


Sessa lança Grandeza em Premiere no Hits Perdidos. – Foto Por: Gabriel Basile

Trajetória &

Origens

Com 10 anos de carreira artística, o músico é co-fundador da banda de funk psicodélico Garotas Suecas e tem circulado entre Brasil e EUA. Visto que colabora como guitarrista ao lado do nova iorquino Yonatan Gat.

Mas foi a curiosidade pela música brasileira, seus ritmos, texturas e peculiaridades que ele crava neste lançamento. Uma das inspirações foi definitivamente o clássico Afro Sambas, de Baden Powell.

A percussão aliada as vozes femininas e os metais dão toda uma frequência, e proximidade, do caldeirão que só a malemolência – e descompasso – da música brasileira proporciona. O que o “gringo” chama de lo-fi, aqui além de recurso, causa graça e aumenta a temperatura dos tambores.

Grandeza está sendo lançado em vinil e digital pelo selo RISCO, em parceira com o selo canadense Boiled Records. O lançamento do álbum já tem data marcada, 27/06 no Itaú Cultural, depois disso Sessa embarca para os EUA e Canadá, onde fará 16 datas em 15 dias. Haja maratona!

Sessa – Grandeza (04/06/2019)

Um disco que nasceu com a estrada e de maneira bastante orgânica. Sem pressa e se deixando influenciar por onde ele passava.

“Eu terminava as turnês e alugava um quarto pra escrever, juntava umas duas, três músicas, uma banda e entrava em qualquer estúdio ou sala grande que desse com meu gravador de fita.

Ficava lá um ou dois dias arranjando as músicas com a banda ao vivo, improvisando e gravando o máximo que dava. Aí o disco ficou com essa cara, essas diferentes cores no som, por conta dos diferentes lugares.”, comenta o músico.



“Grandeza”, faixa que abre, brinca com a bossa nova, tem espírito livre e reverencia o mestre Erasmo Carlos de forma delicada e convocando a todos para o centro da roda de samba.

Mas quem abre caminho e traz a sensualidade, e tom caliente, é justamente “Tesão Central” com seus batuques potentes e versos picantes. Praticamente chamando na xinxa.

Sexo sendo tratado como conexão tribal entre mente, corpo e alma. Sua verve psicodélica parece até evocar um xamã, sem freios, sem limites e querendo aproveitar ao máximo aquele momento pecaminoso.

A próxima já vem logo com uma curiosidade. “Gata Máxima” conta com participação especial da banda de free jazz Música de Selvagem e o músico nos adianta que será a próxima faixa a ganhar um clipe. A canção, por sua vez, também vem sendo interpretada por Tim Bernardes, nos shows da turnê do disco Recomeçar.

Quente

Balada manhosa, ela fala ao pé do ouvido para chegar de mansinho e dar o bote na hora certa. Subverte esteriótipos pela sua construção e exalta sua musa de maneira delicada, e facilmente é um dos destaques do disco. Simples, poética e perspicaz. Agradará a fãs de João Gilberto, e claro, Baden Powell.

Sua sexualidade mais uma vez se expande na agridoce, e selvagem, “Flor Do Real”. Um elemento interessante é o advento na canção do afoxé em sintonia com a psicodelia e o folk. Entre batuques, malemolência, casamento entre vocais femininos e masculinos, o sentimento carnal se consome, entre sopros, quadris, fluídos e carícias.



As frequências de “Sangue Bom”, e como trabalha o vazio entre batuques e voz, trazem a conexão espiritual e interpessoal ainda mais forte. Celebra as amizades e os momentos de reunião, entre experimentações do free jazz em harmonia com a energia celestial dos batuques.

Quando li o nome da próxima faixa já sabia que se pesquisasse ia achar uma história interessante e a do bloco Filhos de Gandhy é um caso a parte. A conexão com o Ijexá e a conexão com a África se fazem presentes na história que se passa em Salvador (BA). Da matéria destacada chama a atenção este trecho que irei reproduzir:

“A resistência cultural tem sido uma das mais fortes que os africanos e seus descendentes ofereceram em todas as suas diásporas contra a opressão escravista e colonialista.

Ela está presente no cotidiano brasileiro sob a forma de religiosidade, das artes, como música, dança, culinária, escultura, sob a forma de gestos, estilos de vidas, entre outros aspectos.”, comenta Kabengele Mananga

Filhos de Gandhy

Por sua vez “Dez Total (Filhos de Gandhy)” presta tributo a luta e exalta a vanguarda do Afoxé. Trazendo as raízes africanas, e sua história, para o plano central. Reverencia e se conecta ainda mais com a história de nosso país. Resistência!

“Infinitude Nu” serve como porto seguro do disco e traz calmaria, e conforto, através de seus delicados acordes e melodias vocais. O som dos chocalhos e sopros nos aproximam das reviravoltas, e agitos, das ondas do mar.

As altas temperaturas voltam aumentar na sacana, e tribal e conectiva, “Orgia”. A curiosidade, o descobrimento e o agito ganham novos capítulos – e projetam cenários imaginários na mente do ouvinte.

“Tanto” é mais gelada e coloca a cabeça no travesseiro para pensar sobre as coisas da vida. Os desaforos, desconfortos, conflitos, e dificuldades são colocados sobre a mesa de forma sóbria e querendo acertar as contas.

A medida que expõe, e abre para reflexão, o free jazz come solto, as peripécias aparecem e o conflito do imaginário ganha frequência e grooves sonoros.

Instrumento Boca

“Língua Geral” utiliza de dialetos e onomatopéias como instrumento. Trazendo calmaria e estabelecendo uma comunicação sensorial com o ouvinte. Entre acordes leves e o ritmo apaziguador dos batuques.

Mas quem fecha o álbum é “Toda Instância do Prazer” com toda sua literalidade. Entre tambores, chocalhos, vozes, violões e sopros, ele fala sobre libertação do mundo material e a entrega aos prazeres.

Criando uma parede sonora para dissipar sua energia e trazer o ouvinte para mais perto. Incentivando que ao menos durante sua audição, ele se desconecte do louco mundo em que vivemos, medite e se expanda mentalmente. Shalom!



Sessa Grandeza (2019)

A conectividade e expansão de horizontes é o porto seguro de Grandeza, álbum de estreia do músico Sessa. Conhecido como Co-Fundador do Garotas Suecas, e também por seu trabalho como guitarrista do nova iorquino Yonatan Gat, ele traz para esse projeto influências de samba, bossa nova, free jazz, afoxé, folk, psicodelia espiritualidade e um pouco de cada lugar em que gravou.

São diversas texturas e soluções sonoras que trazem além de paz, conforto para a alma. Ponto alto para a quentura e por sua capacidade de abstração.

A Turnê

Como dito no começo do texto, o lançamento em São Paulo acontece no Itaú Cultural. Está marcado para o dia 27 de junho às 20:00.

Depois disso, Sessa embarca em turnê norte americana. Um dos pontos altos da turnê de lançamento de Grandeza será em Nova Iorque no dia 24 de julho. A apresentação fará parte da programação do Brasil Summerfest.


Serão 16 datas na perna norte-americana da turnê. – Foto Por: Gabriel Basile

Confira as datas:

Junho 27 – São Paulo, SP – Itaú Cultural
EUA
Julho 5 – New Haven, CT – State House
Julho 6 – Northampton, MA – Historic Northampton
Canadá
Julho 7 – Montreal, QC – Marché des possibles
Julho 7 – Quebec City, QC – OFF Festival
Data: Julho 8 – Toronto, ON – Baby G w/ Tal National
EUA
Julho 9 – Detroit, MI – Trinosophes w/ Tal National
Julho 10 – Chicago, IL – TBA
Data: Julho 11 – South Bend, IN – Langlab
Julho 12 – Milwaukee, WI – Ursa
Julho 13 – Rock Island, IL – Rozz Tox
Data: Julho 14 – Indianapolis, IN – SSP
Julho 15 – Nashville, TN – Little Harpeth
Julho 16 – Asheville, NC – The Mothlight
Data: Julho 17 – Knoxville, TN – Pilot Light
Julho 18 – Washington, DC – Eaton Hotel
Julho 24 – New York, NY – Brasil Summerfest @ National Sawdust

This post was published on 4 de junho de 2019 10:10 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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