Falta pouco! Carcaju disponibiliza single e entra na reta final da campanha de crowdfunding
O processo de auto-conhecimento é próprio do ser humano e muitos tentam exercitar isso através das mais distintas formas. Seja ele através da escrita, música ou ciência. A humanidade tem muitos mistérios ainda a serem explorados. Entre mitos, dilemas, incertezas e perguntas ainda sem respostas.
Porém durante o processo de explorar o mundo é necessário conhecer também a nós mesmos. Muitos passam a vida sem ter a oportunidade de se conhecer na plenitude porém o exercício é uma boa forma que nos compreendamos e aceitemos quem somos da melhor forma.
Uma das perspectivas que isso pode ser visto é o feminino. Este é o caso do single de estreia da Carcaju, “Gole”. Este que foi composto por Claudia Dantas inicialmente como um presente para a musicista/mais que amiga Alexia Evellyn.
“Entender-se na sua individualidade, mas também compreender-se como parte de um todo, numa grande teia regida pela mãe-terra (…) uma descoberta está instrinsecamente relacionada à outra”, explica a vocalista Claudia Nishiwaki Dantas
Tida pelo grupo como uma canção mântrica a faixa aborda o processo de auto-descoberta como complexo e libertador.
A banda conta em sua formação desde 2015 com Claudia Nishiwaki Dantas (vocais, composições e synth), Felipe Rezende (bateria), Ivan Liberato (violão, composições e backing vocals), Pedro Canales (baixo) e Rodrigo Passos (guitarra e backing vocals).
“Sempre falo de água nas músicas porque tem algo de místico e eu sou muito atraída por isso. A gente aceita a água porque já faz parte, mas é das coisas mais loucas que existem. Pra mim tem a ver com nascer, morrer, medo, fascinação, forças que o regem e que não são desse mundo. Sempre que penso no mar tem gente e coisa saindo transformada e também gente e coisa que entra e não volta nunca mais”, contextualiza a vocalista
Mas como dissemos, “Gole”, tem o aspecto de traduzir a perspectiva feminina:
“O meu descobrimento pessoal veio muito de entender o que/quem eu sou instintivamente, sem o filtro social que molda a mulher contemporânea.
Eu acho que a coisa mais natural e primordial que a mulher ainda faz hoje é menstruar (ainda assim, sendo abafada com perfumes, absorventes de plástico e anticoncepcionais) e foi a primeira coisa que eu abracei, o que incitou toda minha busca. Nesse início compreendi que o ciclo feminino de uma mulher está relacionado ao de outra, está relacionado às fases da lua e ainda a mais mil outras coisas.”, finaliza Claudia
Ouça “Gole”
“Gole” contempla com delicadeza seu universo e faz bom uso das metáforas. Entre a lenda, a natureza, o sobrenatural, a ancestralidade e as perspectivas das vivências, a canção abraça o ouvinte e o convida para exercitar a empatia perante este complexo e particular universo.
Se pudesse dizer que este single central do futuro lançamento dialoga com algum projeto, eu diria que extende a narrativa do primeiro EP da Papisa.
Seu campo astral e as energias da natureza vivem nos elementos. Das cordas a percussão que tem papel vital no andamento da canção. O diálogo sobre o feminino está presente em cada verso.
A faixa conta com engenharia de som de Luciano Tucunduva, mixagem e masterização de Fernando Sobreira Rala. Já a concepção visual é idealizada pelas artistas plásticas Marina Malheiro, Alice Veríssimo e Beatriz Leite
Campanha no Catarse
O primeiro disco de Carcaju foi gravado ao vivo no estúdio Submarino Fantástico, contando com overdubs de percussão de Fernando Altenfelder captados no estúdio da FASM sob a engenharia de som de Luciano Tucunduva e Fernando Sobreira Rala.
Ainda para as últimas etapas desse disco, que poderá ser finalizado a partir desse financiamento coletivo, será feita uma mixagem com Fernando Sobreira Rala, masterização com Gilberto Assis e a concepção visual será assinada pelas artistas plásticas Marina Malheiro, Alice Veríssimo e Beatriz Leite.
Falta pouco para a banda alcançar a meta de 20 mil reais, até o momento 96 pessoas já apoiaram a campanha que já está perto de alcançar a marca de 15 mil reais. O prazo para contribuir vai até dia 04/08, ou seja falta pouco, contribua!
Entrevista
[Hits Perdidos] Gostaria de saber mais sobre os primeiros dias da banda e a expectativa para o lançamento do primeiro álbum? Como tem sido o processo?
Claudia: “Eu (Claudia) cheguei com uma música sem expectativa nenhuma. Na época eu pensava em arranjar ela em duo com o Rodrigo, que do nada viu potencial em fazer ela com banda. Juntamos um repertório que finalizamos pro meu recital de formatura da faculdade (todos estudamos música na Santa Marcelina) e daí vingou!
O repertório autoral fechou quando fui convidada pra tocar no festival SONORA do Rio, pro qual precisávamos que todas as músicas fossem autorais. A ideia de um álbum veio logo depois disso, pois estávamos super bem ensaiados e engatilhados. Fomos meio loucos, e gravamos tudo ao vivo porque era o que cabia no nosso bolso, sem saber o que íamos fazer depois. Aí veio a ideia do Catarse.”
[Hits Perdidos] Quais as maiores referências do projeto? Sejam elas artísticas, estéticas, filosófica e sonoras, como agregam a identidade e conceito da Carcaju? E porque do nome?
Claudia: “Pra mim Milton Nascimento é sem dúvida a maior de todas. Gil também. Tem algumas banda gringas, como Fleet Foxes e Radiohead que considero bastante também, mas o que eu gosto MESMO é da mistura das coisas. Gosto da Beyoncé, da Rihanna e isso não poderia deixar de influenciar as minhas escolhas estéticas musicais.
Eu comecei a usar o sintetizador pra abarcar esse lado pop, que tem tudo a ver com a contemporaneidade, e com São Paulo. Mas eu acho que cada integrante acaba trazendo um pouco de suas próprias referências, que são muito variadas, e no fim a gente vai criando com isso uma mistura que é só nossa. Eu amo mato e amo a cidade, é isso!
Carcaju é a história da mulher sagrada que surgiu em diversas partes do globo sob diversos nomes (la loba, luz del abyss, rio abajo , amaterssu omikami). Na lenda, Carcaju (do húngaro Rozsomák) recolhe os ossos das lobas que morreram. Ela canta sobre os ossos que reuniu, canta alma sobre aquilo que está doente ou precisando de restauração. As lobas renascem e saem correndo pela floresta em sua nova forma: de mulher.
Carcaju utiliza a música, o canto como forma de curar e trazer de volta a vida.”
[Hits Perdidos] Queria que comentassem mais sobre a feminilidade da canção e toda sua rica imersão no universo da auto-descoberta, individualismo e aceitação.
Claudia: “Acho que tem tudo a ver com o nome da banda em si. Pra mim cantar é o jeito que encontrei de expressar minha essência mais primordial, de mulher selvagem mesmo. Esse lado foi algo que eu descobri cantando e compondo.
“GOLE” é uma canção que fala sobre a auto-descoberta. Entender-se na sua individualidade, mas também compreender-se como parte de um todo. É o que diz o o primeiro verso, que uma descoberta está intrinsecamente relacionada à outra. O meu descobrimento pessoal veio muito de entender o que/quem eu sou instintivamente, sem o filtro social que molda a mulher contemporânea.
Buscar a raiz, onde está? E então no meio da pesquisa descobrir que é bem ali que está o poder, a força que te leva a se relacionar de forma plena com o mundo, seja natureza, pessoa, bicho, pedra, coisa.
Eu acho que a coisa mais natural e primordial que a mulher ainda faz hoje é menstruar (ainda assim, sendo abafada com perfumes, absorventes de plástico e anticoncepcionais) e foi a primeira coisa que eu abracei, o que incitou toda minha busca. Nesse início compreendi que o ciclo feminino de uma mulher está relacionado ao de outra, está relacionado às fases da lua e ainda a mais mil outras coisas. Por isso “pelo sangue”.”
[Hits Perdidos] Vocês estão no meio de uma intensa campanha de financiamento coletivo. Como tem sido esse ciclo? Expliquem para os leitores sobre a campanha do Catarse.
Claudia: “A experiência do Catarse tem sido muito chocante, porque a gente não esperava que fosse ter tanto retorno! Cada nominho que aparece lá que contribuiu é ao mesmo tempo um choque e uma gratidão eterna.
A campanha é o único meio que encontramos pra finalizar o disco, já tínhamos pago a gravação em estúdio do próprio bolso e vimos no Catarse uma maneira de arcar com os outros custos todos que envolvem o lançamento de um disco, como mixagem, masterização, prensagem, arte, divulgação, etc.
Também é um jeito legal da gente sentir que estamos construindo isso junto, que o som não é só nosso, com cada um contribuindo da maneira que pode. Cada um dá um pouquinho, curte, compartilha e juntos faremos um lindo disco.”
[Hits Perdidos] Para fechar, qual mensagem querem deixar no coração do ouvinte com o single de estreia?
Claudia: “Acho que a mensagem principal dessa canção é sobre o cuidado e a auto descoberta. A única coisa sobre a qual a gente tem algum controle real somos nós mesmos. É pra mostrar que às vezes é difícil, mas esse mesmo tanto que é difícil é também incrível.”