[Entrevista] “A experiência de isolamento foi decisiva pra conseguirmos uma imersão criativa” conta Dingo Bells

 [Entrevista] “A experiência de isolamento foi decisiva pra conseguirmos uma imersão criativa” conta Dingo Bells

Em abril o Dingo Bells lançou seu segundo disco, Todo Mundo Vai Mudar, e pude estar presente no majestoso Auditório do Ibirapuera para conferir o grande lançamento do disco.

Um álbum com tantas expectativas geradas se justificou naquela noite. Como disse na resenha do show – e no faixa-a-faixa – do disco:

“Tem discos que você precisa ver ao vivo para ver se é tudo isso. Simplesmente porque você ao ouvir em casa fica embasbacado pela produção, arranjos, melodias e quer saber como este funciona ao vivo.

Até brinco quando converso com as bandas que o melhor a se fazer é ir a um show quando acha que um disco é realmente bom, pois se corresponder as expectativas é porque realmente merece mesmo colher todos os louros.”


Ibira
Dingo Bells no show de Lançamento realizado no Auditório do Ibirapuera. – Foto Por: Rafael Chioccarello (Hits Perdidos

Depois do aclamado Maravilhas da Vida Moderna (2015), o Dingo Bells ganhou destaque nacional tendo sido selecionado pelo edital Natura Musical 2016 com apoio da Lei Pró-Cultura/RS. A expectativa para o lançamento do segundo disco era grande, tanto pelo apoio como por se consolidar como um dos principais nomes da nova safra de rock nacional.

A banda está na ativa desde 2006, tendo seu primeiro contato ainda nos tempos de escola e a cada momento que passa parece que eles estão mais afiados. Em sua formação eles contam com Diogo Brochmann (guitarra e voz), Felipe Kautz (baixo e voz), Rodrigo Fischmann (voz e bateria). No novo disco, Todo Mundo Vai Mudar, eles contam com a ajuda de Fabricio Gambogi, guitarrista e arranjador parceiro do grupo.

Todo Mundo Vai Mudar

O segundo álbum do Dingo Bells pode ser visto de duas formas: como um processo de transição de sonoridade para algo mais pop ou como um amadurecimento como compositores. Ambos são por sua vez positivos (e válidos), visto que hoje em dia quantas bandas colocam a cara para bater para falar que estão fazendo pop?

É legal ver que isso é feito sem querer soar com alguma banda consolidada no cenário nacional. É da mistura entre soul, funk, pop, jazz, hip-hop, rock alternativo, música eletrônica, piano, sopros e letras que dialogam com o mundo em que vivemos que dão o tom do que é Todo Mundo Vai Mudar.

Um disco que nos faz refletir em diversos âmbitos e nas atitudes de nossas vidas de maneira prática – e eficiente. Em ano de eleição, copa do mundo, discussões, diz que me diz e muita politicagem: ele cai como uma luva por levantar temas pesados mas sem perder o compasso.

Série de Shows @ Casa do Mancha 

O Dingo Bells realiza nos próximos três dias uma verdadeira maratona de shows na Casa do Mancha. Nesta quinta-feira às 21 horas já acontece a primeiro apresentação na “casinha”. Na sexta (22) e sábado (23) também acontecem shows por lá. O valor da entrada é de R$30.

Para aquecer os motores conversamos com o vocalista e baterista, Rodrigo Fischmann, que nos contou mais sobre o disco e sua recepção.

Entrevista

[Hits Perdidos] Antes de mais nada gostaria de parabenizar pelo disco pois senti que ele acertou o tempo de ser lançado e mostra que conseguiram fazer um bom disco sem ficar a sombra do Maravilhas da Vida Moderna. Quais eram os maiores receios que tinham? E como tem sido a recepção do público nos shows?

Rodrigo Fischmann: “Muito obrigado, que bom que tu teve essa percepção. Nossos maiores receios certamente rondavam em torno da pressão de um segundo disco que não ficasse a sombra do primeiro. E também o receio de provar pra nós mesmos, como compositores, que ainda havia muito o que contar.

Obviamente, descobrimos em algumas conversas com outros músicos amigos que esse era um receio comum e que ele nos acompanharia ao longo da nossa trajetória (rs). Isso trouxe, automaticamente, uma tranquilidade pra fazermos um disco que mostrasse a essência da banda em um recorte de tempo e contexto.

Com muita alegria posso dizer que a recepção do público tem sido calorosa. Acho que o Todo Mundo Vai Mudar tá sendo entendido com a profundidade que a gente gostaria e já, pouco tempo após a gente ter lançado o disco, deu pra sentir o público cantando e se emocionando.”

[Hits Perdidos]  Vejo como um disco de mudanças para tempos de mudanças. Mudanças não só superficiais mas também profundas. Acredito que seja um sentimento que já vem se amadurecendo a alguns anos dentro de nossa sociedade e o mérito do álbum é justamente tentar estabelecer estes “diálogos invisíveis”. Como observam as mudanças que o mundo tem passado em meio a tantas “rupturas”, transformações e quebras de paradigmas que muitas vezes são bruscas?

Rodrigo Fischmann: “Acho que, justamente como tu falou, estarmos em uma época de mudanças profundas e rupturas bruscas, simultaneamente, faz com que a análise crítica e a reflexão e o diálogo sejam retardatários. Esse é um terreno fértil pra radicalismos e ruídos de comunicação, e talvez por isso, o disco bata na tecla da inevitabilidade da mudança, como forma de apaziguar as polarizações. A faixa “Ser Incapaz de Ouvir” sintetiza bem essa ideia.”

[Hits Perdidos] Algo que notei durante o show de lançamento do Auditório do Ibirapuera foi o quão estavam preparados e com os detalhes muito sincronizados. Desta vez para esta bateria de shows vocês virão com os metais também? Vocês preferem o frio na barriga de grandes shows – e festivais – ou o ar intimista que só pequenas casas podem proporcionar?

Rodrigo Fischmann: “Ambos tem sua magia própria. Não tem como não se arrepiar vendo uma multidão cantando e vibrando em um festival, e ao mesmo tempo, não tem como não se arrepiar vendo cada rosto próximo cantando na nossa frente.

Pra mim, a diferença muitas vezes tá na interação entre a própria banda, que em um show intimista, em um palco pequeno, possibilita que a gente sinta mais uns aos outros enquanto tocamos. O som é mais próximo, mais alto, o suor é maior e isso nos contagia.

No Ibirapuera e em outros shows de lançamento em teatro ou auditório, criamos um espetáculo que não só envolve o naipe de sopros, mas também projeções, cenografia e luz. Como a proposta da Casa do Mancha é outra vamos com o quarteto, dando mais espaço para as guitarras e para o improviso.”

[Hits Perdidos] Sobre as gravações, vocês “se isolaram” e focaram no processo. Como foi esta experiência? Fruet fala sobre o amadurecimento de vocês, como acreditam que a estrada foi moldando isso? E a partir de que momento perceberam que tinham que focar de fato na carreira musical?

Rodrigo Fischmann: “A experiência de isolamento foi decisiva pra conseguirmos uma imersão criativa e dar a devida atenção e energia ao processo.

Com o Maravilhas percebemos que o projeto Dingo Bells poderia chegar em lugares que não havíamos imaginado, e aí encontramos definitivamente um foco na carreira musical.

Na estrada, a gente desenvolveu muita intimidade musical e colocamos em prática diversas experiências artísticas. Observamos reações do público, encontramos e entendemos pontos fracos e valorizamos os pontos fortes entre nós. E principalmente, incorporando o Fabricio, desenvolvemos uma sonoridade e uma intimidade musical junto com ele. Isso tudo refletiu diretamente no processo de criação do TMVM, que foi totalmente coletivo.”


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Dingo Bells. – Foto Por: Rodrigo Marroni

[Hits Perdidos] Em época de edital da Natura Musical aberto, quais as dicas que dariam para uma banda que tenha interesse no projeto e como tem sido a experiência?

Rodrigo Fischmann: “A experiência do Natura Musical foi muito bacana. Da parte deles sempre nos foi dada total liberdade criativa e de execução. A maior dica que me ocorre é planejar muito bem o que vem depois do que está sendo proposto pelo projeto. Já é tão difícil viabilizar os projetos artísticos que é preciso ter muita consciência de como estruturar os próximos passos. E isso a própria Natura Musical já se deu conta e vem trabalhando com os artistas contemplados.”

[Hits Perdidos] Das músicas do registro, qual a canção que tem mais apego pessoal para vocês e que ficam felizes em tocar? E quais histórias interessantes tem por traz do novo disco?

Rodrigo Fischmann: “Gosto muito de “Tem Pra Quem”, tanto a versão do disco quanto a nossa execução ao vivo nos shows. Ela tem um groove muito gostoso que me leva numa cadência hipnótica e abraça a melodia.

Esse disco foi concebido inteiramente em conjunto, nós três e o Fabricio Gambogi. Ficamos cerca de dois meses em uma imersão criativa na casa onde gravamos a maior parte das bases de bateria, baixo e algumas guitarras.

A música que dá nome ao disco – “Todo Mundo Vai Mudar” teve umas quatro ou cinco versões anteriores, com letras diferentes e principalmente arranjos diferentes. Em uma das versões ela parecia uma música dos Gypsy Kings. E tinha ficado muito boa já! (rs).

Outra curiosidade desse disco é que chegamos a gravar uma composição, sem nome nem letra. Como não tivemos ideias de letras ao longo do processo, ela ficou somente uma base instrumental. Quem sabe a gente não termina e lança logo mais? “

[Hits Perdidos] Consegui sentir que o disco agrega diversos grooves e estilos musicais, como a miscelânea musical foi acontecendo? O que andaram ouvindo que serviu como “click”?

Rodrigo Fischmann: “Acho que da mesma forma que aconteceu no Maravilhas, existe uma base comum de clássicos e influências que permeiam o nosso estilo. Chic, Steely Dan, Beach Boys, Caetano Veloso, David Bowie, Beatles, enfim, vários nomes que fazem parte da nossa formação musical. No “Todo Mundo Vai Mudar” agregamos alguns nomes do neo soul, como D’Angelo, e colocamos Djavan e Gil junto com o Caetano nesse baú de inspirações.”

[Hits Perdidos] Para vocês qual o maior desafio em ter uma banda independente no Brasil? E quais coisas que aconteceram jamais imaginariam que viriam acontecer quando começaram a tocar juntos?

Rodrigo Fischmann: “Pra mim, o maior desafio sempre vai ser chegar nas pessoas. Tem sido mais fácil produzir, gravar, buscar novas influências… Mas chegar até as pessoas ainda é um grande desafio. E digo isso tanto virtualmente quanto fisicamente.

Esse país tem o tamanho de um continente, então é muito caro chegar em vários lugares. Por isso, junto com o desafio de chegar nas pessoas, está o desafio de além da realização pessoal ter a realização financeira associada ao nosso trabalho. Esse é o nosso projeto e o nosso plano é trabalhar sempre pra viabilizar isso. Acrescente a diminuição de incentivos à cultura como um todo e temos um gigantesco desafio em mãos. Mas acredito muito no que faço.

Coisas que nunca imaginei? Pessoas com tatuagens de letras que eu fiz, tocar em festivais incríveis, tocar no Japão e abrir pro Ringo Starr. Acho que isso não tinha passado na cabeça.”


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Dingo Bells em São Paulo

Local: Casa do Mancha
Endereço: Rua Filipe de Alcaçova, 89
Datas: 21, 22 e 23/06
Abertura da Casa: 21h
Show: 22h
Ingressos: R$30,00
Venda online

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