[Premiere] Fight The Power! Fluhe lança single de resistência para tempos sombrios

 [Premiere] Fight The Power! Fluhe lança single de resistência para tempos sombrios

As vezes é preciso canalizar energias não muito boas para encontrar a paz interior. Quando vivemos momentos de euforia ou extrema tristeza normalmente despejamos uma força muito grande em nossas emoções.

Se bem usado isso pode virar arte, o cérebro humano funciona assim. Ao mesmo tempo que nos tira a tensão ainda nos presenteia com inspiração e força de vontade para superar nossos obstáculos. É o suspiro e a força por sobreviver.

Chico Leibholz estava vivendo um momento assim, de tensão, introspecção, depressão e fadiga mental. Entre o cansaço, a euforia pela chegada da segunda filha ele percebeu que sua única salvação seria voltar a fazer música.

Chico já tem uma trajetória significativa dentro da música independente, além de ser engenheiro de som e ter tido um um estúdio na Casa do Mancha, ele já tocou no Boom ProjectSoulstripper, Os Augustos teve programa na Mutante Radio e agora nos apresenta seu mais novo projeto, Fluhe.


Chico Leibholz
Chico Leibholz. – Foto: Divulgação

A Fluhe é diferente de todos os projetos que se envolveu anteriormente. Para começar que para o EP que lançará em breve, Leve Devaneio Sobre Ansiedade, ele foi o responsável por gravar todos os instrumentos (baterias, guitarras, synths, baixo e percussão), mixagem e masterização.

Apenas na faixa “Alone and Empty” que ele contou com a ajuda do amigo Luka Funes (Soulstripper) nas guitarras. As baterias foram gravadas no estúdio Casarão Music Studio em Piracicaba (SP).

Chico foi atrás de referências diferentes como música africana, soul, trip hop, rock alternativo, noise, glitch e buscou estudar camadas para assim chegar no resultado final. Foi muito cuidadoso e durante o processo teve a ajuda dos amigos através de críticas construtivas.

Como ele mesmo aponta a inspiração veio da exaustão, noites mal dormidas, solidão, depressão, fadiga mental e claro o amor por sua família. Tanto é que o nome do projeto vem das iniciais dos nomes de suas filhas.

Além de Leibholz, a banda conta em sua formação com com Rafa Bulleto (Bike, Sara Não Tem Nome, Cabana Café), Jimi Arrg, Ag Massinhan e Tom Retamiro.

Fluhe “Além das Bandeiras” (09/05/2018)

O colapso social e político que o mundo tem vivido nos últimos anos também é uma das coisas que tem tirado o sono do compositor paulista. E por essa razão ele resolveu escolher como single “Além das Bandeiras”, faixa inflamada com uma mensagem de resistência inerente a sua composição.

Para dar ainda mais punch ao discurso de desespero com o momento tão agressivo e tenso ele sabiamente usou como sample uma gravação de John Lennon analisando o caos que via no mundo em 1968. Falando justamente sobre a insanidade dos governantes. Ironia do destino a parte, o músico diz “foi em 1968, mas podia ter sido dito na semana passada”.


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Na semana em que Childish Gambino lança o explosivo e impactante clipe para “This Is America” e coloca os holofotes do mundo sobre o discurso de resistência perante uma sociedade racista – e opressora – vemos como vivemos cada dia em um cenário de guerra.

O pior disso é que ela é silenciosa mas não para de matar milhares de pessoas, tanto através de milícias em favelas no Rio de Janeiro, como travestidas de guerras com interesses econômicos.

Ano de eleição que escancarará discursos de ódio, dividirá o país e a guerra social ficará ainda mais exposta, nos mostra como serão os próximos meses. E o pior dependendo do resultado, como serão os próximos anos. O pessimismo é evidente e claro que a música ia carregar essa energia fúnebre de enterro da democracia perante essa situação.

Seus beats são cirúrgicos, soam algumas vezes como sirenes, mostram o sistema rachando por dentro, as emoções se extravasando – e a impotência vindo em forma de calmaria.

Conforme o discurso se esvai a batida trip hop ganha corpo e os sintetizadores tomam conta do cenário caótico. A ideia é realmente te fazer mal, e desta maneira fazer com que haja reflexão para que assim coloquemos todo esse sentimento para fora através de atitudes concretas. Menos discurso e mais ação. É uma convocatória para que lutemos pelo nosso futuro. Pois se não o fizermos por nós, ninguém o fará.

Entrevista

[Hits Perdidos] Antes de mais nada eu queria que você contasse como foi o processo de formação da Fluhe. Este que é tão diferente de seu projeto anterior, com outra abordagem e gama de ritmos. Lembro até que estava para lançar material e acabou largando mão.

Chico Leibholz: “O processo de formação da Fluhe foi muito informal. Eu sempre gostei de compor sozinho, mas durante a segunda gravidez da minha esposa esse processo se tornou mais frenético. Mas nada que eu pensasse em levar adiante ou formar uma banda. A princípio as músicas ficariam ali, guardadas no meu hd externo.

Eu simplesmente pegava meu cansaço, minhas noites sem dormir, o amor pela nova filha, minha depressão e a fadiga mental se transformava em música.

Aí do nada, no ano passado o Rafa Bulleto (Bike, Sara Não Tem Nome, Cabana Café) me mandou uma mensagem que iria fazer uma tour com a Bike na Europa e que quando voltasse queria fazer um projeto dele e me chamou para tocar bateria.

Coincidentemente na mesma semana, o Jimi Arrj (eu havia gravado algumas baterias para uma banda que ele tocava alguns anos atrás, quando tive um estúdio na Casa do Mancha) que também é outro amigo, me convidou para outro projeto. Pensei: ”bom, se eu juntar essa galera tenho uma banda”. Mostrei para eles, que abraçaram a ideia e formei a banda.

A diferença entre a Fluhe e a Boom Project (que era meu antigo projeto), é que na Fluhe eu fiz tudo sozinho e sem pretensão nenhuma. Não rolavam ensaios, processos de criação, stress (risos).

A Boom tinha uma pegada ”surfunk”, mesclava muito soul com surf music. Foi com ela que eu aprendi a fazer música instrumental, mas depois de trocas e trocas de integrantes eu basicamente sai da minha própria banda.”


Rafa Bulleto
Rafa Bulleto.

[Hits Perdidos] Neste primeiro single apresentado, “Além das Bandeiras”, eu consigo sentir um pouco de Primal Scream, um outro tanto de hip-hop, trip-hop que de certa forma me levam direto para o começo dos anos 90 e aquele ar gelado de Manchester. Como foi essa imersão no soul, noise e glitch?

Chico Leibholz: “Cara, eu ouço muito, mas muito soul e de uns 7 anos pra cá entrei numa pesquisa pesada sobre música africana. No primeiro trimestre de 2017, que quando ”Além das Bandeiras” começou a nascer eu ouvia muito algumas playlists com essa temática, mas também estava viciado em trip hop francês, e outras viagens escandinavas.

Mas uma coisa fez toda diferença nesse processo, que foi o Tommy Guerrero. Quando meu primo me apresentou o trabalho dele minha cabeça se abriu de uma maneira como nunca tinha aberto. Meio que como a primeira vez que você ouve o ”Deloused in Commatorium” do The Mars Volta, sabe?

Noise e glitch eu sempre gostei, mas nunca tinha tido a oportunidade de fazer do meu jeito, já que sempre compunha com banda. E de Manchester eu só piro em Sheffield, apesar de estar digerindo o disco novo do Arctic Monkeys.”


Fluhelogo

[Hits Perdidos] Porque do nome Fluhe?

Chico Leibholz: “Depois que você escolhe o nome de dois (ou melhor, duas) seres, a parada fica mais intuitiva (risos). O nome Fluhe é um lance extremamente paternal. É uma homenagem para minhas filhas. For Luna and Helena.”

[Hits Perdidos] Sobre o processo soube que debruçou noites a dentro reparando em texturas e detalhes, qual foi o maior desafio na parte de produção e quais elementos foi agregando não somente para o single mas como para o álbum que achou interessantes dentro da proposta artística do projeto?

Chico Leibholz: “O maior desafio foi ter os projetos de gravação abertos na minha frente. A partir do momento que os rascunhos sem pretensão se tornaram o começo de um possível todo, todo sem pitacos ou opiniões de fora, tive muitos momentos de agonia, ansiedade e insegurança.

O projeto está ali (quase fechado), e vira e mexe você tem uma idéia, um insight e fica nesse dilema. Altero? Faço uma outra versão? Está bom assim? É foda você se desgarrar de algo tão íntimo e jogar no mundão. Virar aquela chave de ”ok, não é mais tão meu”.

Depois da Boom Project eu entrei num pega de fazer música para mim e foda-se, até pelo fato de não ter pretensão. Mas minha banda me ajudou muito nesse processo, fazendo com que eu agregasse um pouco da vivência deles dentro da música junto das minhas. Eles conseguiram dar opiniões de uma forma que eu não perdesse a minha individualidade.”

[Hits Perdidos] Consigo sentir muita entrega na composição e sentimentos reverberando. Você fala sobre solidão, depressão, estafa, o que ela significa para você – e porque da escolha como single? E como foi a busca por samples?

Chico Leibholz: “Eu não curto fazer nada meia bomba (risos). Se é pra se entregar, vai por inteiro. Eu sempre fui (ou me vejo como) uma pessoa solitária. O amor da minha esposa, família e amigos não me exclui dessa solidão. Talvez seja a depressão misturada com remédios controlados e drogas lícitas falando (risos).

A escolha do single foi pelo fato de vivermos um momento caótico. Não digo de hoje, mas de uns anos para cá. Politicamente, ideologicamente a ponto de (aqui no Brasil) termos bolsominions. Estamos em 2018 e ainda pessoas como Emicida, Kendrick Lamar e  Childish Gambino precisarem literalmente desenhar algumas coisas.

2017 foi treta. Toda aquela merda no ventilador com o Eduardo Cunha, entre outras. Eu andava ouvindo muito ”Why Is It So Hard” do Charles Bradley, que também havia falecido no mesmo ano. E viajando no youtube nessas buscas infinitas madrugada adentro caí no John.

O melhor dos Beatles sempre foi o John Lennon. Ele não era o cara que fazia a guitarra chorar, ou o batera (genial) que ficou na escuridão e nem o pop hitmaker (com todo respeito). O sample é uma entrevista dele.

Traduzindo: ‘‘Eu acho que nossa sociedade é dirigida por pessoas insanas por objetivos insanos. E eu acho que é o que eu descobri quando eu tinha dezesseis e doze anos, no meio do caminho. Mas eu expressei de forma diferente durante toda a minha vida. É a mesma coisa que estou expressando o tempo todo.

Mas agora posso colocar na frase que acho que estamos sendo administrados por maníacos para fins maníacos, você sabe. Se alguém puder colocar no papel o que o nosso governo, o governo americano, o russo, o chinês… o que eles estão realmente tentando fazer, e como e o que pensam que estão fazendo, ficarei muito feliz em saber o que eles estão fazendo.

Acho que eles estão fazendo. Eu acho que eles são todos insanos. Mas eu sou passível de ser colocado como louco por expressar isso, você sabe. Isso é o que é insano sobre isso”.

A entrevista é de 1968, mas parece que foi da semana passada.”

Playlist Exclusiva no Spotify


Playlist Fluhe


Para fechar pedi para o Chico montar uma playlist com referências da sonoridade do novo projeto e inspirações de toda uma vida. O resultado é eclético e mistura bem o passado com o presente. Ficou bastante interessante!

Siga o Hits Perdidos no Spotify para Playlists Exclusivas!


4 Comments

  • Dae Chico!
    Passando pra te deixar um grande abraço man… Desejo todo sucesso pra ti e parabéns pela Helena.
    Maurão/ Gestão Coletiva. Rs

  • […] Para ler a matéria completa clique aqui. […]

  • […] no início desse mês pelo novíssimo selo Alcalina Records e com première + entrevista no Hits Perdidos, ‘Além das Bandeiras’ é um trip noise instrumental que chama a atenção para […]

  • […] Para ler a matéria completa clique aqui. […]

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