Com direção de Alfie Dale, “JAMES”, de Renato Medeiros, ganha a vida para retratar a dependência emocional

 Com direção de Alfie Dale, “JAMES”, de Renato Medeiros, ganha a vida para retratar a dependência emocional

James ganha vida no videoclipe que discorre sobre dependência emocional. – Foto: Reprodução/YouTube

Premiado diretor britânico, Alfie Dale, comenta com exclusividade os bastidores do videoclipe

Em novembro de 2023, Renato Medeiros lançou seu álbum de estreia, A Curva dos Dias. O disco, que tem até mesmo parceria com Lucas Gonçalves (Vitreaux, Maglore), em “Livre”, conta curiosamente com uma única música em inglês, “JAMES”.

A canção tem elementos do rock sessentista e durante o seu andamento, flertes com o flamenco, e coros do supracitado Lucas, o que faz dela no mínimo inusitada dentro da construção do debut. Além disso, ela conta com elementos percussivos no lugar da bateria, o que chamou a atenção do premiado diretor inglês Alfie Dale, que topou colaborar na produção audiovisual diretamente do Reino Unido

Com temática sobre o deslumbre e o horror do vício, entre a paranoia e a ficção, a narrativa do videoclipe, que preza muito por detalhes na produção e na paleta de cores, nos leva para um lugar muito comum de nós enquanto humanos, a dependência emocional.

“O que me motiva como cineasta é o desejo de explorar e entender personagens, e, nesse sentido, ‘James’ foi o projeto perfeito para mim. A música de Renato não só criou uma sensação, mas também deu vida a uma pessoa: James. Assim que ouvi a track, senti que essa pessoa estava viva. Eu queria explorá-la mais, queria saber quem ela era e o que aconteceria com ela”, explica Alfie Dale


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O Coelho é o grande antagonista da narrativa. – Foto: Reprodução/YouTube

Renato Medeiros “JAMES”

Como dito pelo diretor, James ganha vida e traz consigo toda a complexidade de um personagem. Lidar com a obsessão de forma poética, até mesmo lúdica, é a grande cartada do vídeo que explora a capacidade humana de fugir da realidade, indo até o seu limite do (clinicamente) aceitável.

A dependência emocional ganha um interlocutor, o coelho, e conforme o andamento do roteiro vemos ele se tornar prisioneiro daquele universo fantástico, perdendo total controle sobre suas ações. Assim como Gaspar Noé ou David Lynch, esse lado surreal e às vezes soando até absurdo (e bobo) que deixa a narrativa instigante, e inusitada, para quem assiste ao audiovisual.

“Sinto que o vídeo cresceu como companheiro visual e narrativo perfeito para a música, e que eles realmente se elevam mutuamente, levando-nos a algum lugar desconhecido até o final”, reflete Alfie Dale



Alfie Dale sobre os bastidores de “James”

Nada melhor do que o diretor britânico Alfie Dale para contar mais sobre a produção audiovisual e seus inusitados bastidores. Ele é o responsável pelo curta-metragem “My Brother Is A Mermaid”, no qual explora justamente as emoções com reviravoltas do imaginário, tendo recebido pela obra premiações como Iris Prize Film Festival, Norwich Film Festival, Academy Qualifying Flickerfest e The Casting Director’s Association Awards. Tendo circulado vários festivais mundo afora. Antes de “JAMES”, seu último curta-metragem a ser lançado é “Crusts” que atualmente também está no circuito de festivais.

Sobre o que motivou a aceitar o desafio e o primeiro contato com Renato Medeiros, ele conta.

“O que me motiva como cineasta é o desejo de explorar e entender personagens, e, nesse sentido, “James” foi o projeto perfeito para mim. A música de Renato não só criou uma sensação, mas também deu vida a uma pessoa; “James”. Assim que ouvi a música, senti que essa pessoa estava viva… Eu queria explorá-lo mais, queria saber quem ele era e o que aconteceria com ele.

Os vocais emocionantes de Renato, seu trabalho intricado na guitarra e sua mistura celestial pareciam cruzar gêneros e tons, e o vídeo precisava fazer o mesmo. Eu queria capturar a qualidade hipnótica e de canção de ninar da música e justapor isso com um surrealismo deslumbrante e neon. Queria que o vídeo fosse atmosférico e sombrio, mas também estranho, engraçado e divertido. Queria que o vídeo parecesse sempre em evolução, em constante movimento e mudança, levando-nos a algum lugar desconhecido até o final.

Fazer esse vídeo foi realmente especial, um verdadeiro trabalho de amor, inicialmente concebido durante uma ligação transatlântica. Renato e eu nos conhecemos porque sua esposa e minha namorada são melhores amigas desde a infância. Eu e Renato nos demos super bem, unindo-nos pelo amor compartilhado por cervejas, Ocarina of Time (versão N64) e as lutas para equilibrar carreiras artísticas com a vida real.

Quando ele tocou “James” para mim, a primeira metade etérea e assombrosa da música realmente me tocou – parecia brincalhona e triste, incrivelmente evocativa, realmente pintava um quadro, parecia muito visual. A explosão para o estilo de guitarra flamenca quase parecia uma reviravolta musical que exigia uma reviravolta narrativa.

Estou muito satisfeito com o vídeo, acho que a sinergia que ele tem com a música superou as expectativas. Renato criou um tom, uma atmosfera e um estado emocional muito específicos com “James”, e o vídeo nasceu de sintonizar com isso. Sinto que o vídeo cresceu em um companheiro visual e narrativo perfeito para a música, e que eles realmente se elevam mutuamente. Sou muito grato a Renato por confiar em mim com isso e me dar tanta liberdade criativa, foi incrível trabalhar com um amigo tão bom, embora do outro lado do mundo! Espero que venham muitas outras colaborações.”, conta animado o diretor Alfie Dale


James Graded NEW EXTENDED VERSION.00_03_16_20.Still049 por Alfie Dale
Bastidores de “JAMES” – Foto: Reprodução/YouTube

Curiosidades sobre o vídeo de “JAMES”, o Making Of

“A música é sobre dependência, e para mim a primeira metade evoca a sensação de entorpecimento sereno… a falsa esperança com a qual um viciado se anestesia. O vídeo se torna cada vez mais surreal à medida que avança, e James desce mais fundo no buraco do coelho, capturando seu afastamento crescente da realidade. Quando o solo de guitarra começa, o clima muda e James é puxado para o espaço do purgatório, onde se depara com sua obsessão (o coelho-urso). Ali, ele pode se entregar e abraçar sua dependência… Mas, ao fazer isso, ele se torna um prisioneiro, perdendo sua humanidade, para sempre preso dentro da máquina… tudo isso, claro, de forma boba e absurda!

Renato mencionou um fliperama em suas primeiras ideias para o vídeo. Ele queria algo brincalhão, cômico, mas com um toque sombrio. Desenvolvi essa ideia a partir dessa conversa, e quando apresentei para Renato, ele concordou que parecia muito certo para a música.

A parte mais difícil foi decidir se Renato estaria no vídeo ou não! No início, queríamos que ele estivesse, mas o Oceano Atlântico estava no caminho e nosso orçamento mal cobriria o voo. Então, optamos por um vídeo puramente narrativo, que seria filmado no Reino Unido.

Foi um vídeo de micro-orçamento, então ficamos incrivelmente gratos por encontrar uma equipe tão generosa e talentosa. Nina Oyens (a DOP, também coincidentemente brasileira) me contatou na semana anterior sobre a possibilidade de colaborar, e o timing foi perfeito, ela estava super comprometida e fez um trabalho incrível em todas as etapas.

Da mesma forma, não podíamos acreditar na nossa sorte quando encontramos Daniel Rainford e Jennifer Tyler para estrelar o vídeo. Ambos tinham instintos incríveis para os personagens, e desenvolvemos extensas histórias de fundo e eventos internos momento a momento para fazer seus personagens/relacionamento parecerem autênticos e ricos. Também tivemos sorte com Greg Tannahill, o gênio na fantasia de coelho-urso! Greg é, na verdade, um ator de alto perfil no West End, que gentilmente se ofereceu para ajudar… e ele trouxe alguns movimentos para a dança da besta coelho-urso.

O brinquedo coelho-urso foi desenhado e feito por Lisa Ott, uma mestre na confecção de adereços. Dei a ela algumas referências e não pude acreditar no que ela trouxe de volta. O desafio então era fazer uma fantasia gigante de sua pequena criação com apenas 2 semanas até a filmagem… mas Christine Moon entrou em cena e conseguiu a tarefa notável de fazer a fantasia incrivelmente rápido enquanto mantinha um emprego em tempo integral, novamente com quase nenhum orçamento!

Infelizmente, não houve tempo para adicionar um zíper ou buracos para os olhos na fantasia, então o pobre Greg dançava cego na fantasia, costurado nela, incapaz de urinar por horas, e contando com o assistente de produção Daryl Hopkins para alimentá-lo, para abaixá-lo para a posição sentada e guiá-lo pelo set (desculpe novamente, Greg!).

Também tivemos muita sorte com o fliperama; depois de procurar e contatar cerca de 50 locais que estavam muito além do nosso orçamento, finalmente encontramos o Fantasia Amusements, administrado por Alan Frost, que foi um verdadeiro herói ao nos acomodar. O fliperama parecia perfeito, e a máquina de garra vintage era uma descoberta bastante rara.

O lado negativo era que a máquina era bem antiga e continuava quebrando, com as luzes acendendo e apagando ao longo do tempo, e recusando-se a aceitar moedas! Mas Alan veio ao resgate. E um agradecimento especial deve ser dado a Matt Armitage (meu colega produtor), que foi brilhante, indo além e criando uma atmosfera fantástica no set.”, relembra Alfie Dale

Ficha Técnica (Videoclipe)

Elenco:
Dan Rainford – James
Jennifer Tyler – Lu
Greg Tannahill – Urso/Coelho

Equipe:
Alfie Dale – Escritor, Diretor, Produtor, Editor, Artista de VFX
Matt Armitage – Produtor
Ben Smith – Produtor Assistente
Jack Fielder – Assistente de Direção
Nina Oyens – Diretora de Fotografia
Bernat Bonaventura – Assistente de Câmera Principal
Destinee Wildman – Assistente de Câmera
Ryan Adams – Operador de Steadicam
Jorge Higgins – Chefe de Iluminação
Adam Wells – Técnico de Iluminação
Romy Roulin – Técnico de Iluminação
Adam Aryniak – Decorador/Construtor de Cenário
Christine Moon – Criadora de Props
Lisa Ott – Criadora de Props
Pete Jenkins – Gerente de Estúdio
Daryl Hopkins – Assistente de Produção
Clara Pavia – Assistente de Produção
Alan Frost – Gerente de Localização (Fliperama)
Mara Ciorba – Colorista @Harbor Picture Company
Andrew Irwin – Produtor de Cor @Harbor Picture Company
Hemant Oou – Consultor de VFX
Hew Widdon – Consultor de VFX
Studio – Andy Knights Limited
Produtora – Grey Moth
Agradecimentos especiais ao Fantasia Amusements, Murray Dale, Marina Eisenhauer Pires De Albuquerque, Julia Rabahie


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