Francisco, el Hombre revisita memórias em entrevista emocionante sobre a carreira e o álbum pré-hiato “Hasta El Final”

 Francisco, el Hombre revisita memórias em entrevista emocionante sobre a carreira e o álbum pré-hiato “Hasta El Final”

Francisco El Hombre – Foto Por: Julia Mataruna (@juliamataruna)

Hasta El Final, Francisco, El Hombre abraça os fãs em sua turnê de hiato, apelidada por eles como “siesta criativa”

Nada mais do que simbólico que ter tido tantas oportunidades de assistir aos shows da Francisco, el Hombre, e nos 10 anos do Hits Perdidos, realizar finalmente a entrevista com eles. E logo, com todos juntos, Mateo e Sebastián Piracés-Ugarte, Ju Strassacapa (LAZÚLI), Helena Papini e Andrei Martinez Kozyreff.

Posso falar que conheci eles antes mesmo da Francisco, el Hombre, existir. Já que ainda em 2011, pude assistir a um show da Lisabi, banda em que Mateo, Sebastián e Ju tocavam, em apresentação com o Bomb The Music Industry!, em que Jeff Rosenstock ficou na casa deles em Campinas, como base. Como esquecer o gringo de Rider e camiseta do “Apoie o Rap Nacional” usada por dias in loco, ou os shows no Beco 203, e na Doombox. Tem tudo isso no Youtube do Hits Perdidos.

O papo com carga emocional bastante emotiva, mas passando por momentos bons, deste pré-hiato anunciado há poucas semanas, aconteceu com elementos que só coroam a trajetória dos paulistas. Primeiro por ter sido realizado presencialmente, no topo de um dos edifícios mais icônicos de São Paulo, o Martinelli. Segundo, por ter sido em uma coletiva de imprensa com direito a até mesmo uma tela atrás celebrando Hasta El Final, o disco que eu prefiro chamar de até logo. Algo bem diferente se compararmos ao ¡Adios Amigos! (1995), dos Ramones. Terceiro porque era um dia de festa para amigos e convidados da cena brasileira, essa que sempre fizeram questão de fazer parte e ajudar a construir.

Hasta El Final tem todos os elementos que fizeram do grupo uma potência e uma delas é o carinho especial com quem passou pelo caminho. Sobre esta vírgula Mateo diz: “O fim não é algo que assusta, mas, sim, algo que valoriza ainda mais o presente.”

“Um segredo que poucos sabem é que esse disco vem sendo construído há quatro anos, com muita paciência, esperando o momento certo de lançar”, explica Mateo


Francisco El Hombre - Hasta El Final -JULIA-MATARUNA-@juliamataruna
Francisco, El Hombre diz hasta luego em “Hasta El Final”. – Foto Por: Julia Mataruna (@juliamataruna)

Hasta El Final, o álbum

Reunindo 16 faixas, 37 minutos, o quinto álbum de estúdio, revisita vários momentos da carreira e tem até mesmo canções lançadas em outros projetos dos músicos, rearanjadas para esse momento.

Hasta El Final carrega o DNA eclético e aberto a experimentações do grupo, com faixas mais festeiras, outras mais introspectivas mas sem perder o caldeirão que os moveu até aqui.

Além disso tem participações mais do que especiais de nomes como Lenine, Mart’Nália, Ilú Obá de Min, Pato Fu, Karina Buhr, Paulo Miklos, Bia Ferreira, BNegão e Agarrate Catalina (um dos maiores grupos carnavalescos do Uruguai), Cuatro Pesos de Propina (Uruguai), Calequi (Argentina), KeTeKalles (Espanha), Juanito Ayla (Chile, ele já tocou com Los Fabulosos Cadillacs e Manu Chao) e Yusa (Cuba).

“O disco todo é pautado na ligação com o público, na conexão com o ao vivo. Vocês vão entender que dar play em HASTA EL FINAL vai servir para matar a saudade do show da Francisco, el Hombre”, finaliza Mateo.

A liberdade do processo de Hasta El Final foi algo bastante enfatizado durante a entrevista que fizemos. Disseram que eles se desprenderam de qualquer vergonha ou medo. Que fizeram o disco com uma liberdade que nunca tiveram antes. Até brincaram que uma das músicas presentes no álbum lembra justamente o grupo RBD.

Sobre a faixa “Hasta El Final”, Mateo Piracés-Ugarte comenta: “É a nossa versão de ‘We Are The World’”.

“HASTA EL FINAL” se destaca por sua estética dos anos 1980, marcada pelo uso de teclados e sintetizadores, elementos que criam uma paisagem sonora distinta das demais faixas do disco.

Esta escolha não é apenas uma reverência ao passado musical, é também um meio de evocar a saudade, um tema central na letra da canção. “Essa música fala sobre aproveitar até o final, e é a forma como a gente imagina fazer todos os shows: celebrar até a última gota, só assim a gente vai embora”, ressalta Mateo

Para acompanhar essa continuidade musical, o projeto audiovisual é composto por videoclipes gravados no mesmo dia, com os mesmos figurinos, porém em situações diferentes. Os registros tem direção de Gabi Jacob.



A turnê de Hasta El Final

* Mais datas serão anunciadas em breve.

Entrevista: Francisco, El Hombre sobre Hasta El Final

Em conversa exclusiva realizada por Rafael Chioccarello, momentos antes da audição do disco, os integrantes contam causos e histórias inesquecíveis dos últimos 11 anos de uma trajetória que se inicia na cidade de Campinas, a pouco mais de 100 km de São Paulo. Hasta El Final, um projeto idealizado nos últimos 4 anos com muito carinho especialmente para os fãs.

Vou começar com uma pergunta que parece simples, mas não é, quando perguntei para o Rodrigo, do Dead Fish, ele ficou uns 5 minutos para responder, então vamos la. Neste momento de encerramento de ciclo, qual sentem que foram as maiores conquistas?

Andrei: “Lançar um disco no Martinelli.”

Helena: “É uma grande conquista mesmo, um lugar icônico como esse. E essa turnê que vai começar agora também. Eu arrisco dizer que é o álbum mais incrível lançado pela Francisco, el hombre, e a gente tá muito feliz. De cara me veio esse momento presente, mas tem muitas outras, conquistas interessantes.”

Mateo: “Eu acho que uma das coisas que eu tenho mais orgulho de ter conquistado é a pluralidade de espaços que a Francisco consegue ocupar. Eu me lembro de um fim de semana que a gente tocou um dia no Rock In Rio, do amor, aquele show espetacular, e no dia seguinte a gente tava tocando em um assentamento do MST, no interior de São Paulo, e com o mesmo sentimento de admiração por um espaço que estamos tocando. E eu acho que essa pluralidade que a Francisco conseguiu alcançar para mim é uma das coisas que mais me orgulho, mesmo.

Sebastián: “Eu acho que essa pergunta que você fez é desafiadora porque como que você mede o que é o sucesso? É o fato de estar vivendo de música independente, politizada, há 11 anos? É o fato de que através da música conseguimos conhecer lugares do mundo que nunca passaram pela cabeça que a gente ia conseguir conhecer?

Mas sendo muito muito sincero, eu acho que para mim a maior conquista é estar aqui. Sabe? Nós 5, nós tantos, que a Francisco é para além de nós 5, vivos. Vivendo, bem, vivendo a música independente há 11 anos. Eu acho que estar aqui, eu tava comentando para um amigo que tá aqui colocando as comidas (do restaurante Guaco) que é um amigo que tive uma das minhas primeiras bandas, 15, 16, 18 anos atrás, como é doido, a bandinha que passava chapéu na praça, dez anos atrás, agora tá fazendo uma festa no topo de um dos prédios mais emblemáticos da cidade de São Paulo.

É difícil mensurar conquista. Então, eu acho que a maior conquista de todas é o que a gente quase perdeu no começo, em 2015, que é justamente poder estar aqui vivendo. Desfrutando. Felizes. Sabe? Presentes. O resto é só lucro.”

Ju Strassacapa: “Eu tive uma conversa muito bonita, e filosófica, com meu pai. Meu pai que vai fazer 88 anos já, já. E ele me falou muitas coisas que eu nunca tinha ouvido na vida dele. E uma das coisas foi: “Ju, que lindo te ver vivendo e não sobrevivendo. Tem muita gente que tá sobrevivendo, você tá vivendo realmente as coisas.”

Eu acho que a maneira como a gente construiu essa história não é tanto pelo que a gente fez, mas como a gente foi fazendo. E o quanto a gente se deixou permear pela estrada, pelas nossas relações. A gente busca construir as coisas com muito afeto, com muito coração, com muita atenção, as conexões, então, eu acho como a gente traçou tudo até chegar aqui, agora.”

Vocês sempre levantaram a bandeira da música latina e a aproximação com nossas raízes. Do começo do projeto para cá podemos ver que tivemos uma maior atenção do mercado, seja por intercâmbio com artistas, como também pelo interesse de produtores em suprir esse Gap. Como observam essa movimentação como o todo e o quanto se sentem parte disso?

Sebastián: “Tem uma música que a gente gravou muitos anos atrás que não é uma música nossa, é uma música que a gente traduziu de uma banda argentina e a música, originalmente, chamava “Hacer Un Puente” (“Fazer uma Ponte”). E se tem uma coisa que a gente tem feito, e acreditado muito nesses anos, é de fazer pontes pra criar cenas que sejam interdependentes. Que construam seus próprios crescimentos.

Porque a gente tinha desde o começo da banda, desde as nossas vidas pré-Francisco, a gente sempre acreditou na construção coletiva. A cena não se constrói de cima para baixo. A cena se constrói debaixo pra cima. Se constrói porque tem pessoas que querem ver acontecer uma cena. E uma cena é a música que se toca, o ambiente que se cria, as pessoas que estão afim de colocar a mão na massa pra criar algo que antes não existia.

Só que esse algo que se cria, essa cena que se cria, é muito frágil, porque a gente vive num mundo capitalista, onde é muito difícil sustentar essa cena por si só. Então a gente aprendeu desde muito pequeno que essa cena, essa pequena micro cena, se sustenta quando dá as mãos para outra pequena micro cena, que dá as mãos para outra pequena micro cena, de tal forma que isso vai se espalhando.

E isso é uma coisa que a gente tem acreditado muito, fazer pontes com artistas brasileiros, dos diversos brasis, mas as pontes latino americanas também, pra que a gente consiga criar uma cena que também não seja apenas pautada, se seguindo a trajetória do imperialismo cultural. De apenas o que é lançado nos Estados Unidos é o que dita as tendências musicais para o resto do mundo inteiro. O que eu vejo é que ao seu modo isso vai também influenciando as cenas. Cada um vai fazendo o seu pequeno grãozinho de areia.

Mas agora a gente vê uma cena aonde a música latino americana cantada em português, em espanhol, tá bombando. São Paulo tá lotada de festas que tocam, por exemplo, reggaeton. Que é uma conquista mainstream, mas essa conquista mainstream, começou com vários grãozinhos de areia… e eu acho que a gente sempre fez a nossa parte. E quero acreditar que a gente faz parte de hoje poder ver isso acontecendo, tanto aqui, quanto também vê artistas brasileiros que vão se locomovendo e tocando por outros palcos pela América Latina.”

Mateo: “Eu lembro que no começo da banda a gente tentava tocar em festivais, casas de show, vários lugares que as pessoas que produziam esses lugares nos respondiam: “cara, eu não sei como encaixar vocês aqui, não sei que palco do festival encaixar vocês, vocês cantam em espanhol, em português, fazem música brasileira, é rock, mas não é, não sei como encaixar vocês.”

E a gente sempre veio trazendo uma mescla orgânica de ritmos latino americanos. Hoje em dia, essas mesmas pessoas, falam o contrário. “Nossa, como é fácil encaixar vocês num festival, porque vocês cabem em qualquer palco. Palco de rock, palco de MPB, palco de música infantil, palco de tudo, cabe. Vocês cabem facilmente. Porque é isso, essa mescla, orgânica de ritmos latino americanos, é orgânica porque é um continente muito diverso, mas com muitas histórias análogas. Essas histórias quando conectadas, faz essa ponte que o Sebastián tá falando, a junção é orgânica e natural. Você juntar um tecno brega com uma cumbia, você vai ver que é natural porque a gente tem histórias análogas. E a gente foi percebendo, olha (começa a tocar uma cumbia ao fundo), a cumbia (todos riem).

Hits Perdidos: “Foi o chamado…”

Mateo: “Foi o chamado pra cumbia!”

Helena: “Eu vejo que a Francisco teve, e vivencia, né? De se inserir no contexto latino americano também. O Brasil se desinseriu desse contexto por muito tempo, dessas influências, (focando) nessas influências europeias e estadunidenses. E realmente quando você pesquisa por, exemplo outro dia conversando com você (Mateo), sobre os ritmos do norte, o Mateo tem feito essa pesquisa, nos últimos tempos a gente percebe as conexões com os países que estão mais fronteiriços ali, e tal, e é muito perceptível mesmo essa conexão se a gente sai da nossa cabeça exclusivamente sudestina, eu digo por mim, sendo daqui desse estado, que se insere num continente, como um todo, essa ponte realmente existe, ela tá aí o tempo todo.

Eu acho que é isso é um trabalho muito interessante de pesquisa e de execução que a Francisco faz também. Que leva essa latinidade brasileira, né, para as pessoas também, pro público.”


Francisco El Hombre - Hasta El Final -JULIA-MATARUNA-@juliamataruna--1-
Francisco El Hombre. – Foto Por: Julia Mataruna (@juliamataruna)

Pude acompanhar shows de vocês em diferentes fases, mas algo que sempre foi marcante foi a entrega no palco. Mas queria saber de cada um de vocês quais foram os shows mais marcantes?

Andrei: “Eu acho que foi em Natal, no DoSol, em 2017, que foi absurdo, tava muito quente e tinha muitos amigos lá. A gente fez todo mundo subir no palco pra gente e é um show que a galera até hoje quando a gente volta para Natal, fala dele. Foi muito marcante. A gente fez nesse festival, foi o de 20 anos, foi um pouquinho antes, mas foi absurdo, eu lembro que o palco tava dando uma balançadinha, deu um certo medinho (todos riem) mas foi absurdo esse dia, o pessoal comenta até hoje.

Sebástian: “Eu nunca vou esquecer quando a gente tocou em Cuba. Nas duas vezes que a gente tocou em Cuba. Na primeira vez foi muito marcando porque a gente tava descobrindo Cuba e também descobrindo o nosso próprio som. Eu acho muito icônico que as duas vezes que a gente tocou lá foi um mês antes da gente lançar nosso primeiro e segundo discos. Então a gente testou o Soltasbruxa, em Cuba, e a gente testou o Rasgacabeza, em Cuba.

E isso foi muito interessante porque Cuba é um país extremamente musical, quente, temperatura quente, musicalmente um dos países mais ricos do mundo, e eu me lembro de dois shows. Um em cada vez, quando a gente tava tocando pela primeira vez as músicas, do Soltasbruxa, na Fábrica de Arte Cubano, em 2016, e depois em 2019, no Havana World Music Festival… a gente abriu o show com o Rasgacabeza e as duas vezes eu pensei que foram muito impactantes porque era tocar músicas novas pra gente, com um público que não nos conhecia e botamo (sic) os cubano (sic), a terra mais rica musicalmente que a gente já conheceu, pra dançar, pra suar. E aí foi tipo assim, o melhor dos test drives que musicais que a gente podia ter feito.

Ju Strassacapa: “Tá difícil escolher entre dois. Tem dois que me marcaram bastante. Um deles é o show do Rock In Rio, aquele fatídico que o Bolsonaro tinha acabado de ganhar, era isso? (interrompem dizendo que foi um ano depois). No ano seguinte, mas tava um clima de muita tensão. Um clima de não façam grandes manifestações, não se pronunciem politicamente, e a gente voadora, voadora no pé da goela. E assim, e foi muito forte. Muita gente já cedo ali assistindo, a gente preparou um telão muito massa. A gente quase saiu preso de lá. Foi muito marcante, mesmo. Bem bonito toda essa movida. Eu me lembro muito da cena do povo dali também lá durante o show respondendo. Eu achei muito forte.

Outro foi na Plaza Socorro Herrera, prazça principal da Cidade do México, no Dia de Los Muertos, uma celebração muito grande, muito forte. Ninguém sabiam quem nós éramos mas nós távamos ali tocando (risos). E foi muito lindo, muito marcante, tipo WOW, uma praçona cheia de gente. Esses são os meus.”

Helena: “Eu tava pensando também. Você falou que você viu vários shows em várias fases. Eu também vi vários shows da Francisco antes de entrar na banda. E pensei logo de cara em um show que me marcou muito foi um show que aconteceu aqui no Edifício Martinelli. Que foi o primeiro show que eu fiz com a banda, inclusive, só que num cenário completamente oposto a tudo que eu tinha visto antes porque não tinha ninguém assistindo.

Era durante a pandemia e a gente só tinha aqui em cima as pessoas que estavam trabalhando nesse show. Eu tava completamente nervosa, ansiosa, porque eu ainda não sabia tocar as músicas direito, eu confundi a “Tá com Dólar” com “Como una Flor”, eu não sabia que música ia começar. A gente tem as imagens desse show e são imagens que eu não gosto muito de assistir porque eu me vejo muito nervosa.

Me vejo olhando pra dentro assim, e a diferença que o público faz ela é muito notória porque eu tenho certeza que a minha postura, o meu estado de espírito ia ser muito diferente também nesse dia. Porque eu tô muito acostumada com palco há muitos anos já, sabe?

Então, mesmo eu estando nervosa, como já estive em outras vezes na minha vida, por estar fazendo algo novo, pro público é um fator muito importante de trazer segurança também… às vezes deixa a gente mais nervosa também, mas o público ali faz uma diferença significativa… e pensando nisso me lembrei do show que a gente fez quando a gente lançou o Casa Francisco.

Que foi no CCSP, que a gente tava já há algum tempo considerável sem encontrar pessoas, sem tocar pra pessoas, na era das lives… e eu me lembro muito que não tinha muita gente lá, porque ainda era algo restrito, a entrada de pessoas, e eu me lembro muito bem da gente prestes a entrar no palco, a gente ouvindo o burburinho, ouvindo o sons de pessoas presentes ali, e isso me marcou muito, assim. A gente entrou no palco do CCSP e as pessoas vibraram por a gente estar ali, e a gente ver alguns rostinhos ali, pessoas conhecidas, ainda que não muitas, ainda que naquelas circunstâncias que a gente se encontrava, foi muito marcante assim. O começo, um esboço de retorno, daquela época que a gente viveu.”

Mateo: “Obrigado Helena, eu tava entre dois e você me ajudou. Agora só tem um (risos). Porque eu ia falar esse do lançamento da Casa Francisco porque a gente também gravou esse show. E eu morro de vergonha porque eu chorei tanto nesse show. Mas tanto que eu não conseguia cantar. Então, eu lembro de cantar “a melhor cura”, eu tentando cantar tudo desafinado… mas foi muito emocionante.

Mas pensando em intensidade de show tem uma cena que para mim é uma das cenas mais icônicas da intensidade de show da Francisco, el Hombre que foi o “porco aranha compulsório” (todos riem). O porco aranha compulsório que a gente tava num show numa garagem em Caxias do Sul, e era uma garagem que cabia umas 40 pessoas, e tinha umas 120.

Ju Strassacapa: “Não era a Casa Paralela?”

Mateo: “Era a Casa Paralela. Quando o show era ainda dentro da garagem, na Casa Paralela. E aí a gente tava, cabiam umas 40 pessoas e tinham umas 120, o show tava tão intenso, e era tão grudado, que em determinado momento eu fui puxado pelo público, me levantaram, e começaram a jogar pro alto… só que o teto era muito baixo (risos)… então era eu dando de porco aranha no teto (gesticula simulando), dando cabeçada no teto. E essa é de um dos dias mais intensos de show da Francisco, el Hombre. O Porco aranha compulsório (todos caem na risada).”

E quais situações mais inusitadas que viveram em turnê?

Helena: “Quando foi que você derrubou a bateria do Seb? (Pergunta para o Andrei).

Andrei: “Eu? Teve isso! Eu passei pelo Seb…”

Helena: “Você bateu com o calcanhar na bateria e levou a bateria embora…”

Andrei: “Isso pareceu que foi por querer e ficou super rockstar…”

Sebástian: “Eu vou falar de um monento muito marcante de um show que eu não vou mencionar agora quando foi porque eu tô aqui torcendo o dedo para que a gente possa voltar… mas teve um festival que rolou entre o primeiro e o segundo turno das eleições, de 2018, que o clima tava tenso, tava tudo assim, das duas vezes que a gente quase saiu preso, né?

Uma foi no Rock In Rio e o outro foi aqui. E aí era um showzão, lotado, lotado, lotado. E tava aquela urgência na gargante de gritar, velho, porque eram uns absurdos acontecendo e sabe aquela reta final onde… enfim, a história teve o desfecho que teve.. das eleições de 2018… e era o último ato, momento, que a gente podia ter de afronta. Então, a gente subiu no palco (Festival MADA), sem falar para ninguém, a gente pintou a palavra LUTE no nosso corpo… anunciaram a gente, as luzes acenderam, tava a gente peladão escrito LUTE com as mãos lá em cima pra sei lá 30 mil pessoas no minuto mais eterno da história da Francisco, el hombre, e isso foi bem…”

Mateo: “Logo antes, a gente tocava em seguida, era Franz Ferdinand, né? (risos). Doideira.”

Sebástian: “E o assalto lá atrás. E as passadas de chapéu. Tem muita coisa pra contar.”

Mateo: “Tem muita coisa inusitada. Eu acho que uma coisa que acontecia muito no começo da banda que para mim era muito inusitado era que a gente passava o chapéu na rua, nos primeiros dois anos da banda, tocando pelo continente. Vendendo nosso disco por 5 reais… que era um EPzinho de 3 músicas e a gente vendia isso passando o chapéu. E acontecia em vários momento em que encontrava gente que não tinha grana para pagar o disco, sabe? E aí a dependendo do olhar que a pessoa dava você falava “Pô, sabe o que, eu quero que essa pessoa tenha o disco.” e eu dava o disco e falava “cara, em algum momento você vai me pagar.”

A quantidade de vezes que anos depois chegavam pessoas e falavam: “lá atrás eu não tinha grana pro disco e aqui tá a grana do disco. 5 reais. Sabe? Uma grana que a pessoa podia ter esquecido. E foram muitas vezes. Isso nunca saiu da minha memória. Você olhar para a pessoa e falar: “Eu acredito nessa pessoa. E se não for pagar, tudo bem. Eu prefiro que ela ouça do que eu tenha um disco no bolso. E a pessoa chegava e pagar depois, eu acho que são coisas inusitadas assim que a música nos ensinou a ter esperança nas coisas.”

Andrei: “Teve a história de quando subiu um coelho no palco, lembra? (Mateo ri alto). Um coelho roxo. Parecia uma brisa. Parecia que a gente tava doidão. Um coelho roxo que apareceu, no palco, gigante assim, e até hoje eu não entendi o que foi aquilo (todos caem na gargalhada).”

Sebástian: “Quando o Lula tocou a minha bateria e virou uma figurinha de WhatsApp (risos).”

Helena: “Isso foi legal mesmo.”

Sebástian: “Vocês tão ligados naquele vídeo do Lula tocando bateria? (Thais, a assessora, comenta que ama esse vídeo e que é muito bom saber de onde veio).

Ju Strassacapa: “Uma coisa muito inusitada é as pessoas com quem a gente colaborou até agora, musicalmente. Tanto nesse disco agora, quanto ao longo da carreira. Tipo as pessoas que a gente conheceu, conhece, segue conhecendo, e eu constantemente me vejo olhando pra minha Ju criança, Ju adolescente, e falando “véi, olha isso aqui, sabe?”.

Olha essa pessoa, eu sou amiga dessa pessoa agora, eu gravei com essa pessoa agora. Tipo, nunca esperaria uma coisa dessa. Mas aí é muito bonito como a trajetória quando ela vai sendo feita de uma maneira, com base, com uma sustentação, ela vai dando frutos e você não acha tão bizarro assim, né?

Não fica tão discrepante porque você fazendo parte da construção, mesmo. Mas é bem inusitado.”

Francisco, el Hombre Hasta El Final


error: O conteúdo está protegido!!