Gabrre lança single pop, lo-fi e experimental pelo projeto Sons que Vêm da Serra

 Gabrre lança single pop, lo-fi e experimental pelo projeto Sons que Vêm da Serra

Quantos jovens músicos da geração pós-myspace você conhece que começaram seu trabalho em seu quarto com poucos recurso e explorando texturas e softwares? Jaloo é um grande exemplo, ele mesmo conta que seus primeiros sintetizadores vieram do Fruit Loops e é justamente desta curiosidade e ânsia por mostrar para o mundo trabalhos que surgem novos músicos. Com Gabrre não foi diferente.

O músico gaúcho começou cedo sendo baterista da Urso Polar (RS) esta que também contava em sua formação com Bianca Rhoden (leia aqui). Atualmente ele tem apenas 21, mas já aos 19 começou a desenhar os primeiros versos de “…e parabéns”.

A faixa lançada hoje em Premiere no Hits Perdidos conta com referências de Panda Bear e certamente agradará a fãs de Grizzly Bear, Deerhunter e Animal Collective. Aliás que coincidência tantas bandas com nomes de animais silvestres.


Gabrre
Gabriel Fetzner, o Gabrre, é natural de Gramado (RS) – Foto: Divulgação

Sons Que Vêm da Serra

Após Maria Rita Stumpf, pioneira da música eletrônica, lançar o primeiro single da Coletânea Sons Que Vêm da Serra chegou a vez de Gabrre.

O projeto foi selecionado pela Natura Musical por meio do edital 2018 com financiamento da Lei de Incentivo à Cultura Pró-Cultura RS, através da Secretaria de Estado da Cultura e do Governo do Estado do Rio Grande do Sul.

Com intuito de difundir, e fomentar, a forte cena música da Serra Gaúcha, tem coordenação de Jonas Bender, que toca na Catavento (leia aqui) e também é o responsável pelo selo Honey Bomb Records.

A coletânea reúne 10 artistas com backgrounds e fases da carreira distintos, o que deixa ela certamente interessante para quem ama música. Dando chance de descobrir, revelar e saudar músicos do cenário local.

…e parabéns

Chamado até de “pop fofo” o single de Gabrre começou a ser rascunhado a dois anos. Feito um experimento ele foi testando possibilidades e texturas. Muito inspirado pelo cenário indie / alternativo norte-americano.

“Quando comecei a produzi-la, já gostava de gravar coisas novas e tentava empregar algumas técnicas do hip hop, mesmo não sendo o meu estilo preferido.

E foi ouvindo o disco Person Pitch, do Panda Bear, projeto do músico experimental Noah Lennox, que surgiu a ideia de samplear músicas, cortando e transformando em novos sons”, relembra Gabrre

A dor de criar e o exercício de procurar novas possibilidades acaba entrando na ambientação do registro que segundo Jonas, tem um ar “natalino”.

“Para mim, o que não é relativo à música, me é estranho. Não existe um sentimento específico que eu sinta ao criar, até porque  o próprio ato de criar geralmente nunca é o mesmo.

É tudo muito espontâneo e muito livre, e sempre muito divertido. Gosto de trabalhar até o momento em que as coisas estão fluindo naturalmente.”, conta Gabriel



Profundidade

O existencialismo, o coração partido e a busca pelo pertencimento acabam guiando sua atmosfera como aponto o músico. De maneira sutil, lofi, com ar frio de distanciamento e feito uma névoa que se aproxima da montanha, o músico exorciza seus demônios.

O medo pelo desconhecido, pelo que esperar do futuro, temas de uma juventude já pressionada pela expectativa da sociedade, acabam transparecendo. O psicodélico, os sons da natureza (sons da serra) acabam entrando na ambientação da delicada faixa que ganha contornos, entre subidas e descidas, nos pequenos barulhos.

O clipe ajuda a materializar toda essa sensação de nostalgia e pensamentos profundos. Lembrando até mesmo um pouco os cenários de Twin Peaks. Entre maquetes, bonecos, lagos, efeitos e até mesmo um possível “disco voador”. E claro que o estúdio não ficaria de fora.

O vídeo foi dirigido por Breno Dallas, da produtora 8c5a, já a captação das imagens ficou por conta de Robinson Cabral e Saimon Fortuna.

Entrevista

Conversamos com Jonas Bender para saber mais sobre o projeto, a história da música local, o processo e suas impressões. Confira!

Conte um pouco mais sobre como você enxerga a história da música na Serra Gaúcha e como esse projeto ajuda a contemplar o novo e a vanguarda na região

Jonas Bender: Percebo a serra e sua história muito conectadas com a música de uma forma geral, não só falando em produção artística, mas também na questão estrutural, várias cidades daqui tiveram ou tem casas de show, nos anos 50 tinha duas fábricas de acordeons, além de uma gravadora chamada ACIT que lançava vários sucessos locais nos anos 90.

É um lugar essencialmente e culturalmente com sede de trabalho e alta performance, isso tem um lado ruim, mas tem um lado muito bom também, acho que conseguimos aproveitar como Honey Bomb essa produtividade toda.

A Construção

Meu pai, que é argentino e baterista, se orgulha de dizer que o único lugar do mundo em que ele teve carteira assinada como músico foi em Caxias do Sul, como fixo nas noites dos anos 80. Ele também teve uma banda com músicos de São Marcos, acompanhava ele nos ensaios de ônibus, tanto que uma vez derrubei um prato dele na rodoviária.

Enfim, foi em Bento Gonçalves, cidade cheia de bons músicos, que cresceu Ana Mazzotti, pianista e cantora que teve sua obra relançada pelo selo Far Out Recordings, agora em 2019. Uma banda caxiense chamada Bandida chegou a tocar no programa da Xuxa no início dos 90.

Bandas de metal, como Burning Hell, fizeram shows no Japão. Cidades como São Francisco de Paula sempre tiveram uma cena de música e músicos criando. O duo eletrônico CCOMA ganhou um prêmio da música brasileira. A região como um todo sempre teve e têm músicos de todas as estéticas possíveis muito competentes e criativos.



O Hoje

Vejo um movimento legal de artistas jovens surgindo em Canela e Gramado também. Tem pra todos os gostos, desde o vaneirão mais tradicionalista, passando pelos DJs de raves, boas bandas de reggae, até chorinho, jazz, blues, metal extremo, trap/rap, indie e hardcore.

Mas falando especificamente dos 10 projetos que gravaram para a coletânea foram escolhas que ao meu ver contemplam como um todo a obra final, o recorte que quero mostrar, contemporaneamente falando.”

Como foram feitas as seleções para o projeto e o que foi levado em conta na curadoria?

Jonas Bender: “Levei em conta a música e o quanto ela toca as almas, seja com suas melodias, histórias, letras ou contextos. Músicas, composições e projetos que passassem um recorte diverso do que é ser um artista daqui ou vivendo aqui nessa região.

Um espécie de “aqui e agora, na serra, em 2019″. Como a lista de artistas que produzem por aqui é muito diversa, e as demos que foram inscritas mostraram isso. Priorizei músicas e artistas que traduzissem em essência algo único que tem aqui, essa melancolia criada pelo clima e outros contextos sócio culturais.”

Como tem sido a supervisão e trabalho em estúdio?

Jonas Bender: “Essa é parte mais divertida, viver de perto com os artistas e proporcionar o tempo e as horas de estúdio para ele gravar sua expressão em forma de música.

Foi uma temporada e uma rotina muito inspiradora ver as características e vivências de cada uma das 10 músicas. Eu levava bolos feitos pela minha mãe pra gente lanchar juntos (risos). O estúdio Noise Produtora de Áudio é no bairro onde moro, caminhava cinco quadras de manhã para ir gravar com a galera.

O pessoal do audiovisual da 8c5a registrou tudo para gente usar as imagens nos 10 vídeos. Tinha os engenheiros de som e captação, sócios no estúdio, mais eu, o Chico Algo que produziu, mixou e masterizou as faixas, e também Breno, Robi e Saimon que captavam tudo em vídeo. Além do Leo Lucena que assina a direção de arte. Formamos uma equipe de trabalho muito massa.


Gabree
Gabrre, Jonas e a equipe durante as gravações da faixa. – Foto: Divulgação

Como foi seu primeiro contato com o Gabrre e como observa essa renovação diante o projeto?

Jonas Bender: “O Gabrre conheci pelo edital. Ele inscreveu duas demos e eu selecionei a faixa “…. parabéns” porque capta em essência e de forma única esse espírito natalino da cidade de Gramado.

Depois me dei conta que já tinha visto um show da banda que ele fazia parte como baterista, foi na cidade de Canela, em 2015, a Urso Polar. Tem uma geração muito massa surgindo nessa região e o Gabrre é um desses caras que faz tudo, toca tudo. Assim como o Jagunço, projeto do Rafael, eles se gravam no seu quarto, no seu notebook, sampleiam coisas e nesse processo solitário todo criam coisas bem bonitas.”

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