Jovens Ateus dança ironicamente entre a lamúria do post-punk e o frio de madchester
Jovens Ateus lança seu primeiro álbum, Vol. 1, pela Balaclava Records. – Foto Por: André Djanikian
Dois anos atrás, Diego Carteiro resenhava o primeiro EP do grupo Jovens Ateus. Natural de Maringá, no Paraná, atualmente a maior parte da banda reside em São Paulo e neste 10 de abril lançam seu álbum de estreia Vol. 1 via Balaclava Records, selo que entraram recentemente.
Formado por Guto Becchi (voz), João Manoel (guitarra), Fernando Vallim (guitarra), Bruno Deffune (baixo) e Antônio Bresolin (sintetizador e bateria eletrônica) a banda teve como marca seu pós-punk com DNA dos anos 80, com referências do estrangeiro mas também de bandas clássicas nacionais. Naquela primeira mostra, incluindo “Iglesia”, uma releitura de “Igreja”, de um dos melhores discos do Titãs Cabeça Dinossauro (1986).
“A estética caminha por essa década, trazendo referências de nomes como Mercenárias e o trio paulistano Muzak, já que a banda possui o nome de mesmo título de uma faixa do trio que integra a compilação “Não São Paulo” de 1985.
Mesmo falando de anos 80, o pós-punk é um gênero que sempre se manteve atual, criativo e interessante. É o caso do Jovens Ateus, que também conseguimos captar referências ao The Soft Moon, Molchat Doma e Human Tetris.”, pontuou Diego para o Hits Perdidos durante o lançamento do primeiro EP
O álbum de estreia dos Jovens Ateus
Após isso eles lançaram um split com os catarinenses da Budang e agora enfim, o primeiro álbum ganha a luz do dia. O processo foi um pouco diferente do habitual, ao invés de se reunir com um produtor e começar a desenhar o disco, eles gravaram tudo sozinhos e após conversar com o produtor Roberto Kramer (Raça, Adorável Clichê, Jambu) decidiram regravar todas as faixas.
“Todo o processo de fazer o disco foi, de certa forma, algo inédito para nós, pois nunca tínhamos feito isso juntos. Nunca paramos e dissemos que faríamos um álbum. Ao longo de alguns meses gravamos muitas demos e, tempos depois, selecionamos o que consideramos bom e trabalhamos em cima desse material até chegarmos onde queríamos. Gravamos ele todo por conta própria, inicialmente.
No estágio em que estávamos prestes a mixar, encontrei Kramer em um bar onde trocamos uma breve ideia e ele me contou que conhecia nossa banda e tinha interesse em ouvir no que estávamos trabalhando.
Já havia uma admiração da nossa parte pelas produções dele e, uma vez que nos reunimos, ele ouviu o que tínhamos e demonstrou interesse em estar junto. Foi então que decidimos regravar tudo mais uma vez, agora no estúdio dele, e trabalhamos em conjunto nesse disco em parceria com a Balaclava”, pontua João Manoel em comunicado enviado a imprensa
Detalhes da Produção
É notória a guinada que a produção tem em relação à visceralidade dos primeiros trabalhos, o leque de referências se expandiu com mais melodias plásticas e arranjos que vão para outros lugares, como o lado mais rustico do Thrash Metal, em “Saboteur Got Me Bloody”, a cadência quase onírica do dream pop. O encontro com o produtor resultou em uma sonoridade ainda mais imersiva, o que evidencia por sua vez o mergulho profundo, e poético, no campo das composições dos paranaenses.
O primeiro single apresentado ainda em fevereiro, “Passos Lentos”, segundo os próprios integrantes, traz influência de nomes como New Dad e Beach Fossils.
“Vultos”, que abre o registro, chega serena com a densidade e bateria eletrônica marcando o passo. A tensão post-punker é captada em sua letra, que traz a sensação de desconforto iminente para o primeiro plano em meio a ruídos e uma gama de elementos sonoros.
“Homem Em Ruínas” é daquelas que mesmo tendo referências bem marcantes do estilo, é moderna por seu diálogo com a música eletrônica e apelo lo-fi. A sensação de estar em frangalhos e prestes a se emancipar desta realidade ganha versos poéticos em meio a sintetizadores, distorções e uma canção que assim como clássicos dos anos 80 acaba em fade-out.
“Espelhos” feito uma vertigem, fala sobre o abatimento de um momento de reconstrução emocional para seguir em frente. É impossível ouvir sem sentir ecos de New Order/Joy Division. “Mágoas” previamente lançada, e que agora também conta com uma versão “Dirty Mix + Slowed Reverb”, tem o peso da angústia após um encerramento de ciclo o seu pilar. Ela já flerta com o shoegaze, mostrando a versatilidade fúnebre das canções do grupo.
“Correntes” retoma a referência do indie rock com perfume de post-punk do Beach Fossils, uma das referências do projeto. Até por sua natureza punk, afinal, ela se resolve em apenas 1 minuto e meio, em meio a desesperança e a dor de um corte profundo no peito. Entre as mudanças, a correnteza acaba puxando nosso interlocutor para um momento onde a solidão ganha o primeiro plano.
O Lado B e suas surpresas…
“Saboteur Got Me Bloody” tem aquela aura do Sepultura, Anthrax e Suicidal Tendencies, que dentro da narrativa do disco faz o elo entre a primeira e segunda parte do disco se esfacelar feito um cavaleiro em chamas.
Em “Passos Lentos”, os Jovens Ateus voltam para as raízes do post-punk, a faixa, inclusive, ganhou um vídeo que se passa pelas ruas e metrô de São Paulo. O marasmo, o lado acinzentado da vida, o distanciamento e a inércia acabam ecoando logo na primeira audição, mas de forma bastante pop e de fácil identificação. Não foi por acaso que ela chegou para o público em forma de single.
“Introspectro” é uma das mais dissonantes e com ecos de grupos como Sonic Youth e Dinosaur Jr. Conforme seus acordes vão progredindo, a sensação de sufoco e violência vão pairando no ar.
“Flores Mortas” que tem título que poderia nomear um EP do gênero, dialoga com a atual safra de post-punk do leste europeu, mas sem perder sua verve garageira durante suas curvas sinuosas. Entre delírios, pessimismo e estagnação, a canção tem sussurros em seus backin vocals e distorções.
“Cedo Demais” é daquelas que até poderia ter sido single por sintetizar o cerne do disco. De certa forma, dialogando e reverenciando o cenário brasileiro de post-punk oitentista. Em sua segunda parte, a faixa ganha camadas interessantes que criam ambiências que nos levam para outra dimensão… onde o real e o irreal se confundem.
Quem fecha em ritmo de pista de dança invertida é “Twinturbo”. Com atmosfera de música eletrônica, assim como o som do Happy Mondays, eles revelam no fim do disco outra faceta em meio a batidas que reverberam o estopim entre a lamúria e o anticlímax.
Show de lançamento
O show de lançamento acontece no dia 10 de maio no clube La Iglesia, um inferninho localizado no bairro de Pinheiros em São Paulo, com abertura de girlblogging, projeto solo de Greg Maya (Terno Rei), além de um DJ set Balaclava Records. Os ingressos já estão à venda no site da Ingresse.