Categories: Nacional

“Arrigo Visita Itamar” celebra, sobretudo, a amizade entre Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção

São Paulo, dezembro de 2023. Faltou pouco, pouco, muito pouco mesmo para um reencontro entre Arrigo Barnabé e Itamar Assumpção, amigos de longa data e grandes parceiros na música, em “Arrigo Visita Itamar”, show que Arrigo e a Trisca – formato reduzido da banda Isca de Polícia – registraram em homenagem ao artista paulista no teatro Centro da Terra e que foi lançado no dia 9 de agosto nas plataformas digitais. Mas a conexão mediúnica se fez presente, tanto nas releituras das músicas de Itamar quanto nas outras canções do repertório que, de certa forma, retratam o seu universo. Porque o projeto, para além de um tributo, celebra sobretudo a amizade entre os dois artistas.

Arrigo já fazia participações especiais esporádicas nos shows da Isca de Polícia – grupo que acompanhou Itamar formada por Paulo Lepetit, Marco da Costa, Jean Trad, Luiz Chagas (in memoriam), Suzana Salles e Vange Milliet – e então surgiu um desejo do artista de fazer um show inteiro com eles em formato enxuto, com Paulo (baixo), Marco (bateria) e Jean (guitarra). Lepetit gostou da ideia e dirigiu o projeto, que desde 2022 fez algumas apresentações em SESCs. Em 2023, surgiu o convite da gravadora Atração para registrar em áudio e vídeo.

Através de uma performance com uma máquina de escrever, Arrigo escreve ao longo do espetáculo uma carta para Itamar e isso se torna o fio condutor do espetáculo, que apresenta canções de fases distintas de Assumpção, como “Fico Louco”, “Tristes Trópicos”, “Dor Elegante”, “Mal Menor” e outras. Também está presente no repertório artistas de diferentes gerações, como Nelson Cavaquinho, Ataulfo Alves (que Itamar já gravou, inclusive), Sergio Espíndola, Marisa Monte e Arnaldo Antunes. Mas um dos grandes momentos do show é o mashup de “Nego Dito” com “Clara Crocodilo”, juntando as duas grandes obras dos maiores nomes da Vanguarda Paulista e concretizando, enfim, o reencontro de Arrigo e Itamar através da música.

“Arrigo Visita Itamar” tem direção geral de Ana Maria T. Mendez e Wilson Souto, concepção cênica de Arrigo Barnabé, masterização de Beto Mendonça e mixagem de e Paulo Lepetit.

Em entrevista por Zoom, Arrigo falou mais sobre a concepção do projeto e sobre a amizade com Itamar Assumpção, contando boas histórias dos dois. Além disso, conversamos sobre o legado artístico de Itamar e sobre artistas que o influenciaram. Confira!


Arrigo Barnabé + Trisca visita ItamarFoto Por: Stela Handa

Arrigo, eu queria saber qual é a sensação de gravar esse projeto Arrigo Visita Itamar, que era um show que você já estava fazendo há um tempo, há uns anos… como é que foi ter isso registrado dessa vez?

Arrigo Barnabé: “Então, a gente fez no ano passado, no SESC Consolação, três apresentações. Foram muito legais. E o Wilson Souto, da Atração, que era o gordo do Lira (Paulistana), foi assistir e ficou entusiasmado com a apresentação e quis gravar. Daí ele quis gravar um vídeo. Primeiro era só gravar, daí ele resolveu gravar um vídeo também. Aí a gente incluiu mais algumas coisas no repertório: a música da Marisa Monte e do Arnaldo Antunes, “De Mais Ninguém”, que fala sobre a dor também; e “Luz Negra”, do Nelson Cavaquinho.

Então a gente começou a fazer isso há dois anos atrás, eu acho. Foi em 2022 que a gente começou a fazer isso, em função do Paulinho Lepetit, que era da Isca de Polícia, sempre me convidava pra participar de shows e tal, e eu falei para ele um dia no show: “Pô, Eu queria fazer uma coisa mais extensa, Porque você me convida, eu venho e canto duas músicas. Eu gosto de fazer com o trio de base, power trio”, aí ele ficou contente e foi atrás de produzir um show assim. E a gente começou a fazer.

A princípio com repertório centrado no Itamar, mas a gente já tinha o “Quando eu me Chamar Saudade”, do Nelson Cavaquinho, a música que abriu o show, porque de uma certa forma fala também da condição: “Quando eu me chamar saudade” vão acontecer as homenagens. E o Nelson Cavaquinho pede: Me façam em vida. Que é uma coisa que o Itamar cantaria. E uma do Ataulfo (Alves) que o Itamar tinha gravado também.

Nesse primeiro show que a gente fez teve a participação do Negro Leo, teve a participação do Paulinho Barnabé, meu irmão, da Patife Band, teve participação também da Nayla, uma cantora desconhecida, nova. Fizemos essa apresentação lá no SESC. Nessa apresentação eu não usava a máquina de escrever. 

Eu fiz essa performance da máquina de escrever pela primeira vez em 1982. Um show que eu fazia antes de ir para o Festival de Jazz de Berlim, eu fiz duas semanas aqui no SESC Pompeia, um show onde eu fazia uma performance, eu começava com a máquina de escrever. Eu começava batendo a máquina, como eu começo agora, e eu falava um texto do Caetano.

É um texto que o Caetano escreveu pro jornal Pasquim quando ele estava no exílio. E depois eu fiz um Projeto Pixinguinha em 1983, fazendo pelo Nordeste todo, também usando a máquina de escrever. Então em Recife eu falava um poema do João Cabral (de Melo Neto), na Paraíba eu falava um poema do Augusto dos Anjos, de acordo com o lugar onde eu estava. Era uma coisa bacana.

Aí nesse show eu resolvi, porque eu escrevendo à mão não ficou tão legal, não dava o impacto, então eu resolvi para esse show do ano passado, que foi o que o Wilson ficou entusiasmado, eu resolvi usar a máquina de escrever no mesmo esquema, só que eu escrevendo uma carta para o Itamar, como se a máquina fosse um instrumento mediúnico, que me permitisse entrar em contato com ele, sabe?

Então eu fui escrevendo e aí eu faço uma citação de um poema do Vinicius de Moraes que fala em “Certidão passada em cartório do Céu / E assinado embaixo: Deus” (Samba da Benção). O Vinícius diz: “Porque a vida é uma só / Duas mesmo que é bom / ninguém vai me provar que tem / Ninguém vai me dizer que tem / Sem provar muito bem provado / Com certidão passada em cartório do Céu / E assinado embaixo: Deus / E com firma reconhecida / A vida é arte dos encontros / Embora haja tanto desencontro pela vida…” E ele vai falando. Então eu faço uma citação dessa carta do Vinicius no meio da história para construir uma pequena dramaturgia para o show.”

Como dizia na carta do poema do Vinicius que você falou agora, a vida é a arte do encontro e eu enxergo nesse show, mais do que uma homenagem, e mais do que uma visita, eu acho que isso é um registro muito da amizade de vocês dois. E eu queria saber como era a amizade de vocês dois. Eu queria saber em um aspecto principalmente: Como eram as trocas musicais entre vocês? Tinha uma coisa que, por exemplo, que vocês dois gostavam muito? Ou que ele gostava e você não?

Arrigo Barnabé: “Olha, a gente tinha algumas coisas diferentes. O Itamar não fazia linha de baixo. Essa coisa que ele vinha a fazer depois, com muita maestria, ele não fazia. E eu já tinha feito o Clara Crocodilo que era em cima de uma linha de baixo.

Então eu lembro que o Itamar aprendeu a tocar isso. Ele tocava o Clara, tocava e cantava. Aí a gente fez um show juntos em 1975 onde eu tocava o “Luzia” no piano. A gente tocava várias coisas: Tocava “Luzia”, “Prezadíssimos Ouvintes”… Era um show com músicas minhas, músicas dele, músicas da Eliete Negreiros, de outro compositor chamado Renato Lemos… Então a gente ensaiou bastante juntos, eu e o Itamar. Eu acho que a gente ficou mais próximo quando a gente foi preso.

A gente estava num bar, num boteco na Teodoro Sampaio (São Paulo) – Um boteco, boteco mesmo – A gente estava lá, tinha um amigo da gente de travesti ali também, o meu irmão Paulo também tava, tava o Sérgio Guardado, conversando ali, a dona do boteco estava meio dando em cima do Itamar, e aí chega a polícia, pra dar batida no lugar. Parece que tinham uns quartinhos no fundo que ela alugava para prostituição, um negócio estranho. Enfim, os policiais quiseram entrar e ela não deixou eles entrarem no fundo… Era a época da ditadura né, era terrível. Aí eles revistaram a gente e eu estava sem carteira de estudante, tava só com a identidade. Então me prenderam, porque eu tinha que ter ou carteira de trabalho ou carteira de estudante.

O Enzo, um amigo da gente que era estudante de medicina, também foi preso, não sei por quê, acho que não gostaram dele. E o Itamar, pegaram o maço de cigarro dele. Na época o Itamar estava fumando fumo de corda, mas enrolado no papel. E o fumo de corda você fuma um pouco, apaga e guarda. Aí você fuma mais um pouco, apaga e guarda, porque dá para você fumar várias vezes durante o dia. E os caras pegaram o maço de cigarro dele, onde ele guardava o cigarro, e parecia uma bagana de maconha. Jogaram e caiu aquela bagana. “Ah, vamo prender o negão, vamoprender o negão!”. Aí fomos para aquele lugar atrás, um lugar super apertado, fomos nós três lá. Eles pegaram um outro cara não sei aonde, um cara que tinha transado com a filha de um delegado no interior de São Paulo e os caras estavam atrás dele, e rodaram com a gente pela cidade. Rodaram bastante. E a gente lá atrás, é um negócio claustrofóbico. Ficamos mais de duas horas ali. E a gente ficava cantando, eu e o Itamar. E eu lembro que a gente cantava uma música do Milton Nascimento que a gente gostava muito chamada “Milagre dos Peixes” (canta): “Eu tenho esses peixes e dou de coração / Eu tenho essas matas e dou de coração”. A gente cantava essas coisas e isso ajudou a gente.

Aí eu acho que a gente estabeleceu uma cumplicidade maior ali dentro do camburão mesmo, sabe. Eu e ele. Porque passamos por uma situação difícil. Aí paramos numa delegacia ali perto da Rua Augusta, isso depois de terem rodado, mas rodaram mesmo. Eles pegaram a gente umas onze da noite, a gente chegou lá umas 2h30 da manhã. Aí o carcereiro viu a coisa, cheirou e falou que não era maconha. Foi um cara legal.

A gente foi pra cela, ficamos lá, tinha outros presos, uma situação toda, e o Itamar falava assim: “Decore esse número. É um deputado, é amigo do meu pai, liga pra ele quando você sair daqui, porque eu vou ser o último a sair”. Aí toda hora ele falava: “Você vai me esquecer aqui”, eu falava: “Não vou, Itamar”. Acabou que ele saiu antes e eu saí por último! (risos).

Algum tempo depois a gente foi morar junto. Quando ele veio pra São Paulo, ele veio morar na república de uns amigos meus. Mas quem tinha mais contato com o Itamar era o meu irmão, o Paulo, e era quem mais dividia as coisas musicais com o Itamar. Aí eles começaram com essa coisa de linha de baixo, que a gente fazia no Clara, eles começaram a ver linha de baixo do Paul McCartney Paul McCartney já fazia várias linhas de baixo muito legais. E eles começaram a ver a relação da bateria, do bumbo da bateria, com o baixo. Aí eles começaram a ver Jimi Hendrix. Então eles ficavam vendo o tempo inteiro aquele negócio. Daí a gente foi morar junto no Bixiga e depois fomos morar em Eldorado. Aí fomos eu, meu irmão Paulo, o Itamar e o (Antônio) Tonelli. A gente foi num lugar retirado pra ensaiar, pra tentar gravar alguma coisa, tentar fazer alguma apresentação, ensaiar esse repertório. E aí convivemos durante, sei lá, uns sete meses nesse lugar isolado. A gente ficava o dia inteiro junto, tocava o dia inteiro, ensaiava muito.”


Arrigo BarnabéFoto Por: Stela Handa

Arrigo, você fala no show que o Itamar tem muito essa coisa da dor, e do sombrio. Você inclusive fala que costuma dizer que ele é o contrário do Jorge Ben, que é solar. Eu queria saber uma opinião sua, na verdade. A gente sabe que a dor é universal, e que muitos artistas falam muito sobre dor, mas considerando que o Itamar tem isso predominante na sua arte, será que a gente pode dizer que é por isso que o Itamar é um artista popular, e acima de tudo, à frente do seu tempo? O que você acha disso?

Arrigo Barnabé: “Olha, o Itamar teve várias fases, né? Se você vê o trabalho dele, você percebe, a partir do momento em que ele começa a entrar em contato com o Paulo Leminski e com a Alice Ruiz, ele tem um salto de qualidade literária, e passa a fazer letras antológicas. Depois ele começa a rearranjar as músicas do começo da carreira dele, coisas que não eram tão bem realizadas mas que ele consegue dar uma outra leitura para isso. Então ele tinha esse negócio do Oiticica, do Hélio Oiticica, “Seja marginal, seja herói”. É muito em cima disso, sabe. Tanto o Itamar, como o meu trabalho, do “Clara…”, o “Nego Dito”, Depois o próprio “Luzia”, a coisa do cara que Briga com a mulher.

E é incrível como o Itamar conseguia trabalhar com estruturas harmônicas mínimas e produzir quase que mantras, coisas que de uma certa forma eram mais sintéticas.

Itamar morreu em 2003, então faz 21 anos já. Ele apontava para outro caminho mesmo, né? Com certeza. E ele ia fazer muita coisa ainda.”

Nossa, eu escuto a obra dele dos anos 1980, o próprio “Beleléu…”, parece que é muito à frente, parece que foi feito hoje.

Arrigo Barnabé: “É verdade, podia ter sido feito hoje, mesmo. Não é datado, né?”

Arrigo, esse espetáculo, como a gente já falou, não é apenas uma homenagem ao Itamar, é uma coisa que fala do universo do Itamar, e você traz músicas de outros artistas, como o Nelson Cavaquinho, O Ataulfo Alves, que o Itamar já tinha gravado, e uma surpresa pra mim que foi uma música da Marisa Monte e do Arnaldo Antunes. Eu queria saber: o que você acha que esses artistas têm do Itamar?

Arrigo Barnabé: “Olha, eu acho que embora a Marisa não tenha gravado nada, mas uma época – quando ela começou, se eu não me engano – Ela pegou o Gigante (Brasil), que era baterista do Itamar, pegou o Luiz Waack, que era o guitarrista do Itamar… Quer dizer, uma parte da banda dela era da banda do Itamar. Então com certeza alguma coisa ficou aí.

E o Arnaldo, Os Titãs, eles apareceram um pouco depois do Itamar. Então eles ouviam o Itamar, com certeza. Conheciam, viam shows. Acho que encontrei com algum deles em show do Itamar. Eles se apresentaram no Lira também, onde o Itamar se apresentava sempre.”

Mas o que você enxerga, por exemplo, do Nelson Cavaquinho e do Itamar? No que você vê semelhança?

Arrigo Barnabé: “Ah sim, a gente curtia muito o Nelson Cavaquinho, né? A gente ouvia, curtia, gostava, cantava as coisas, comentava. E eu acho que essa coisa (recita “Quando eu me chamar saudade”) Me dê as flores em vida / O carinho, a mão amiga / Para aliviar meus ais / Depois que eu me chamar saudade Não preciso de vaidade / Quero preces e nada mais, é uma coisa que tem a ver com o Itamar, que ele começou a ser muito homenageado no fim.

Mas aí não estava mais aqui, ele já estava indo embora, foi embora e começou aquele negócio. Aí teve muita homenagem pro Itamar. Mas é um negócio que é irônico, né? Ele não tinha casa própria… É uma coisa que tá bem dentro dessa letra do Nelson Cavaquinho, sabe? E depois o Luz Negra: Sempre só / Eu vivo procurando alguém / Que sofra como eu também… Esse negócio também da solidão… Ele era casado e tudo, mas ele tinha essa questão da solidão também.”

Para finalizar, o que o público pode esperar do show?

Arrigo Barnabé: “Ah, o show é muito legal. A gente fica em transe. Você pode esperar um transe. Se você não entrar no transe, se eu não entrar, se os músicos não entrarem em transe no palco, o show não acontece. Quando a gente está em transe é que a potência aparece. Então as pessoas podem esperar um transe mesmo. É uma coisa meio mediúnica também.”

Arrigo Barnabé + Trisca – Arrigo Visita Itamar (Show Completo)



Faixa a Faixa por Arrigo Barnabé

“O Que Tem Nessa Cabeça”

A pretexto de uma carta para Itamar, fiz uma paráfrase de “Cabeça” do Walter Franco.

“Quando Eu Me Chamar Saudade”

Essa é a cara do Itamar, embora seja do Nelson Cavaquinho. É a história do artista que não é reconhecido em vida, só “quando eu me chamar saudade”. Adoro cantar essa música. Adoro samba.

“Fico Louco”

Nós morávamos juntos no Bexiga quando o Itamar compôs. Eu adorava cantar gritando como um louco. A coisa do “Fico Louco” é bem anos 1970, era a cara daquela época. Ele mudou a letra várias vezes, mas era aquela coisa Hélio Oiticica, seja marginal seja herói.

“Tristes Trópicos”

Essa o Itamar fez sobre um poema do Ricardo Guará, no final dos anos 1980. O Guará também morava com a gente no Bexiga. Bom, o Guará fez um trava-língua e tanto com “Tristes trópicos”, e o Itamar encontrou um jeito de encaixar as palavras numa melodia curta, com um caráter de “mantra”, muito bem solucionado.

“Oh Maldição”

Eu escrevi essa letra em 1972/73. Escrevi datilografando numa velha maquina portatil Remington que era do meu pai. Nós morávamos numa república na Rua Dr Virgilio de Carvalho Pinto, em Pinheiros. Eu escrevi e deixei jogado em algum lugar, nem pensei que poderia virar música. O meu irmão Paulo encontrou o texto e musicou sem que eu soubesse. Depois ele me mostrou, e era legal como ele tocava com suingue o violão. Quando o Itamar veio pra São Paulo, no final de 1974, acabamos morando todos juntos e o Itamar gostava muito dessa música, e acabou gravando, muito teatralmente como sempre.

“Errei Erramos”

Do Ataulfo Alves, eu adorava a gravação do Orlando Silva (a primeira) com arranjo pra orquestra do Radames Gnatalli. A orquestra super suingada e o Orlando Silva espetacular. Sempre tive vontade de cantar. O Lepetit que havia feito o arranjo dela para o disco Itamar canta Ataulfo, fez esse novo arranjo, gostei muito, conservou a vivacidade rítmica do original com uma vestimenta mais contemporânea.

“Dor Elegante”

Bom, essa é um clássico do Leminski/Itamar. Exemplo de parceria bem sucedida, muito regravada (lembro pelo menos da Zélia Duncan), ela começa o momento dor no show.

“O Relógio do Rosário”

Bom, esse poema do Drummond eu decorei em 2012, por aí. Adorava declamar esse poema que fala da dor de maneira tão ampla “…vivendo estamos para doer, estamos doendo…” (como diria Siddharta Gautama, o primeiro Buda né?)

“De Mais Ninguém”

Quando a gente estava preparando o repertório, aconteceu uma coisa curiosa. Aqui no prédio onde moro, a síndica coloca todo mês ao lado do elevador no térreo, um poema, ou um texto poético. Nessa época ela colocou um poema do Arnaldo Antunes. E a gente via o poema sempre que entrava no elevador, talvez isso tenho feito eu me lembrar de uma música que ouvi num show da Marisa Monte nos anos 1990, uma música que eu havia gostado muito. Quando fui ao camarim perguntei ao Arnaldo de quem era aquela música, e ele disse que era dele. Daí eu falei pro Lepetit que tinha um samba do Arnaldo Antunes que a Marisa cantava e que eu gostava muito. Ele localizou, então descobrimos que a música era da Marisa e a letra sim, do Arnaldo. E a música falava sobre dor também. Bom, estava consolidado o momento “dor” do show.

“Mal Menor”

Quando o Itamar me mostrou essa música eu fiquei encantado. Achei muito inteligente, um achado! Além do humor implícito. Comecei a cantar em meus shows, e acabei gravando, no CD “Façanhas” do selo Camerati. Agora com o Trisca revivemos um pouco o clima da versão original do Itamar. Ele brincava comigo cantando: te darei abrigo, se quiser Arrigo, se for pra brigar por você também brigo, pra tudo conte comigo.

“Luz Negra”

“Luz Negra” sempre foi cultuada por nós, lembro que o Itamar gostava muito, uma canção sobre a dor e solidão. E uma luz negra só poderia ser produzida por um sol antípoda, um anti-sol bem como o Itamar era.

“Noite Torta”

É das que eu mais gosto do Itamar. Ele me mostrou quando eu estava procurando repertório para um CD da Tetê Espíndola (“Só Tetê”). Foi impactante. Reconheci bastante a nossa vivência de interioranos em São Paulo. Filosófica.

“O Sentido do Samba”

O Sergio Espíndola estava fazendo um samba e me mostrou durante um ensaio aqui em casa. Comecei a fazer a letra na hora. Fiquei muito feliz com essa parceria. Gostaria que o Itamar tivesse ouvido. (mas ele deve estar ouvindo né?). O Lepetit fez um belo arranjo.

“Na Cadência do Samba”

Essa do Ataulfo Alves, o Itamar gravou, também com arranjo do Paulo Lepetit. Pra nossa versão ele partiu do arranjo original e acrescentou algumas coisas que ficaram muito legais, umas dissonâncias e uma coisa meio rock, gosto muito.

“Nego Dito/ Clara Crocodilo”

Bom, eu ouvi o “Nego Dito” assim que ele compôs. Ficou evidente que ele havia encontrado a pedra angular do seu trabalho. Isso foi em 1979. Era o elogio da marginalidade, tão cultuado naqueles anos via Helio Oiticica (do qual Clara Crocodilo também fazia parte). Ficamos, eu e o Paulinho Lepetit, uma noite na casa dele, tentando encontrar uma levada que colocasse o “Nego Dito” em 7/4, mesmo compasso do “Clara Crocodilo”. Uma hora apareceu a linha do baixo, e as coisas funcionaram, conseguimos fazer a fusão entre as duas músicas.

Ficha Técnica

Produtor Fonográfico: Atração
Direção Geral: Ana Maria T. Mendez e Wilson Souto
Produção executiva: Chico Pardal
Arrigo Barnabé: Voz e teclado
Paulo Lepetit: Baixo, arranjos e backing vocal Jean Trad: Guitarra e backing vocal
Marco da Costa: bateria e backing vocal

Concepção cênica: Arrigo Barnabé
Iluminação: Cristina Souto
Produção: Nicole Wolfensberger
Fotografia: Stela Honda
Direção audiovisual: Beto Mendonça
Captação de áudio: Rodrigo Carraro
Edição e Finalização: Beto Mendonça e Gabi Oliveira
Mixagem: Beto Mendonça e Paulo Lepetit Masterização: Beto Mendonça
Estúdio 185 Apodi – para Gravadora Atração

Teatro Centro da Terra
Direção: Keren Ora Admoni Karman
Curadoria de música: Alexandre Matias

This post was published on 20 de agosto de 2024 9:00 am

Ananda Zambi

Mestranda em Comunicação, apresentadora do Ananda Entrevista, assessora de imprensa e cantautora. Também colabora com o site Scream & Yell.

Posts Recentes

Renata Swoboda lança clipe apolítico para “Meu Dengo ♥️” às vésperas do segundo turno das eleições

Após lançar na sexta (18) o single "Meu Dengo ♥️", a artista catarinense Renata Swoboda…

23 de outubro de 2024

C6 fest anuncia line-up da 3ª edição com Nile Rodgers & Chic, Air, Wilco, Pretenders, Gossip, The Dinner Party, English Teacher e mais

C6 Fest chega a sua terceira edição com line-up de peso Após a primeira edição…

22 de outubro de 2024

Paul McCartney encerra passagem pelo Brasil em Florianópolis

No sábado (19), Paul McCartney fez a última apresentação da atual passagem da Got Back…

21 de outubro de 2024

Fin Del Mundo mergulha nas profundezas em “Hicimos crecer un bosque”

Que a cena de rock argentino é bastante prolífica não é nenhuma novidade. Após lançar…

18 de outubro de 2024

Maria Beraldo reflete sobre identidade de gênero e explora timbres em “Colinho”

Não parece, mas já se passaram 6 anos do lançamento de CAVALA (RISCO), álbum de…

18 de outubro de 2024

Dora Morelenbaum explora as curvas sonoras em “Pique”

Após o fim do ciclo ao lado da Bala Desejo, os músicos têm retomado suas…

18 de outubro de 2024

This website uses cookies.