QUEREMOS: Festival aposta em line up diversificado e acerta ao focar mais na música e menos em marcas
Queremos! Festival aconteceu no fim de semana no Rio de Janeiro
Quem tem ido aos festivais que tem acontecido pelo país nos últimos tempos, com certeza percebeu a quantidade de ativações de marcas que tomam conta dos espaços.
E não que isso seja ruim. Afinal, um evento desse porte depende muito de patrocinadores para acontecer. E parece que as organizações têm acreditado que isso transforma a experiência do público em algo melhor e é realmente necessário. Muitas vezes, a parte principal, é deixada de lado.
O Festival Queremos, realizado no último sábado (13), na Marina da Glória, no Rio de Janeiro, mostrou que se organizar direitinho, a gente consegue ter os dois: espaço para patrocinadores e foco na música e nos artistas. Na edição deste ano, pudemos ver poucos estandes dos patrocinadores pelo espaço, o que fez com que o público pudesse aproveitá-lo melhor e até mesmo, circular entre os dois palcos sem dificuldade, o que foi um problema em edições anteriores.
Mesmo tendo um grande lounge da Heineken no meio dos palcos, era possível assistir aos shows estando longe ou perto dos palcos. As transmissões por telões também funcionaram bem e davam uma boa visibilidade para quem não queria ficar no meio da multidão. Um ponto negativo, foi não transmitirem todos os shows no telão da praça de alimentação.
Com um line up que misturava a nova e antiga geração da música brasileira, além de algumas atrações estrangeiras, o festival resgatou um pouco daquela essência que quem gosta desse tipo de evento, gosta de encontrar: a oportunidade de ouvir os artistas que gosta e conhecer novos nomes.
Resenha: Queremos! Festival 2024
O festival começou cedo, com Ana Frango Elétrico abrindo o dia para uma pequena plateia. Talvez esse tenha sido outro erro do festival: os portões abriram muito perto do show de Ana começar, fazendo com que, muitas pessoas ainda estivessem chegando quando a cantora estava no palco.
Mas quem chegava, queria logo estar perto do palco. Ana Frango Elétrico apresentou as músicas do mais recente trabalho, Me Chama de Gato Que eu Sou Sua e colocou a galera pra dançar debaixo de um sol forte. Mas ninguém parecia ligar para isso, pois a cantora tem um grande carisma e fez um show divertido.
No mesmo palco, Rubel seguiu o dia, que já se encaminhava para a noite. Era possível ver os rostos ansiosos de quem queria que ele pisasse logo no palco. Durante todo o show, era possível ver no telão, cenas de filmes passando, que combinavam com as músicas que eram apresentadas.
Abriu o show com “Forró Violento”, uma das faixas do mais recente trabalho, As Palavras Vol. 1 e 2. “Na Mão do Palhaço”, despertou a voz das pessoas para cantarem o refrão junto. Ao cumprimentar a plateia em seguida, comentou que era uma honra estar no palco com tantas atrações incríveis daquele dia.
A faixa “Toda Beleza” é talvez um ponto alto para admirar a banda que acompanha Rubel. Principalmente as backing vocals, que conseguem mostrar a potência de sua voz e se encontram em perfeita harmonia com a percussão, fazendo com que a gente queira mais e mais daquilo. Até mesmo o cantor percebe isso e na, próxima música, se torna plateia, ao parar para admirar a banda no palco.
Rubel também apresentou “Partilhar” e “Quando Bate Aquela Saudade”, músicas do início da carreira que todo mundo canta junto. É possível ver uma abundante de casais se declarando um para o outro durante essas músicas e é bonito demais ver como algumas músicas falam realmente por nós. Ele encerrou a noite com “Grão de Areia”, faixa que também tem participação de Xande de Pilares na versão de estúdio.
No outro palco, Lenine começava a apresentação do disco “Olho de Peixe”. Sem conversar muito com a plateia para ganhar tempo e poder tocar mais, o cantor e compositor mostra porque é um ícone da nossa música brasileira. A aura que ele traz ao palco é diferente, quase mística.
Não teve uma música do disco que tenha sido tocada e não tenha sido cantada pelo público com a voz alta. Mas o destaque da noite vai para a apresentação de “Leão do Norte”, onde foi possível ver as pessoas levantando bandeiras do estado de Pernambuco ou vestindo blusas, mostrando todo o orgulho que possuem de sua origem e tornou este, um momento muito bonito do show.
“Hoje eu quero sair só” também figurou na setlist no final do show, assim como “Eu só quero um xodó”, o que fez o artista encerrar seu show com chave de ouro e alto astral.
As principais atrações do Festival
Adi Oasis entrou no outro palco em seguida, porém neste momento, o público pareceu dispersar um pouco. Ainda assim, quem ficou para apresentação, com certeza não se arrependeu. A cantora e baixista entregou um show potente, com uma grande presença de palco, que, muito provavelmente, conquistou até quem não a conhecia.
Em seguida, Devendra Banhart levou o coração do público, trazendo muitas canções em português em seu show, além de músicas próprias. Além disso, o cantor interagiu bastante com a plateia, como se quisesse se tornar amigo dela mesmo. Arriscando um português que às vezes se tornava um portunhol, Devendra seguiu a noite mostrando, principalmente, faixas de seu último álbum “Flying Wing” e outras canções da carreira.
Uma das atrações mais aguardadas da noite, Djavan entrou no palco com quase 20 minutos de atraso. Mas tudo bem, a gente releva. Porque afinal, quando ele entra no palco, você esquece qualquer coisa. A única coisa que você se lembra, são das letras das músicas e de querer viver e estar na mesma sincronia do músico.
Djavan é poesia, assim como suas músicas. E não tem como você não se entregar com ele ou não se contagiar com sua energia. O show pode ser considerado como uma sequência de hits e grandes sucessos de sua carreira, que mostram o porquê sua música toca toda e qualquer geração.
A apresentação começa com um texto sobre narrado por Sônia Guajajara, Ministra dos povos indígenas, sobre a importância das florestas e do cuidado com elas.Em seguida, Djavan entoa a música “Curumim”. “Eu Te Devoro”, marca um momento de muitos celulares para cima. Afinal, todo mundo queria guardar um pouco do clássico ao vivo para si.
Dedicando o show a todas às minorias, Djavan também teve momentos só voz e violão, onde cantou um de seus maiores sucessos, “Oceano” e deixou todo o público emocionado. Para equilibrar a apresentação, também pudemos ver “Se…”, “Sina” e outros clássicos de sua carreira, encerrando com “Lilás” e fazendo todo mundo pular.
O festival esvaziou consideravelmente no final da apresentação de Djavan. Mas enquanto muitas pessoas iam embora, o rapper Djonga começava seu show no Palco Bosque.
Misturando várias músicas da carreira, disse que é a primeira vez desde que começou a turnê que fazem esse tipo de show, com músicas diferentes, sem ser somente as músicas do mais recente álbum, “Inocente”.
“Quem gosta do Djonga antigo, ouve o Djonga antigo. Quem gosta do novo, ouve o novo. No final, os dois são os mesmos”. – diz ele.
Djonga faz um show equilibrado, que não perde a energia. Quem ficou, se sentia parte da história do rapper e dava para perceber, que se identificava muito com suas letras. Não houve um momento que você visse as pessoas paradas. Pelo contrário: todo mundo cantando e pulando, como se aquele fosse o momento pelo qual estavam realmente esperando.
Isso não cessou nem nas faixas mais “love songs”. Ao tocar o hit “Leal”, chamou alguns casais no palco e pediu para que se declarassem um pro outro, enquanto performava. Mas com um aviso: guardar o celular e aproveitarem aquele momento.
Em “Sensação Sensacional”, foi possível ver a formação de uma roda que gritava a música com força. Na última música da noite, o show contou com a participação do rapper BK’.
Embora houvesse a última atração da noite ainda, KENYA20Hz, poucas pessoas ficaram para vê-la. E talvez esse tenha sido um dos grandes erros do festival. Afinal, é complicado um artista tocar para uma plateia vazia. Muitas pessoas estavam desde cedo no evento e já sentindo os pés reclamarem e por isso, deixaram o festival logo após a apresentação de Djonga. Na verdade, muita gente não sabia sobre a última apresentação, que seria da DJ.
Mesmo assim, o Queremos! Festival acertou ao focar mais na experiência do público com artistas e a música, do que com as marcas. Ao dar espaço para que as pessoas pudessem aproveitar o evento do seu jeito e deixando como foco principal o que realmente deve ser, mostra que é possível, ainda, equilibrar marcas e a experiência de festival que parece ter se perdido.
Sendo assim, estamos ansiosos pelas próximas edições e pelo que o Queremos irá nos dar.