Zimbra fala sobre como foi comemorar os 10 anos do 1º álbum: “É algo que ultrapassa a memória profissional, é uma memória pessoal.”

 Zimbra fala sobre como foi comemorar os 10 anos do 1º álbum: “É algo que ultrapassa a memória profissional, é uma memória pessoal.”

Zimbra – Foto Por: Tony Santos (@tonysantosrs)

No fim de janeiro desse ano, a Zimbra realizou os últimos shows de uma turnê grande e muito especial, a de comemoração de dez anos do primeiro álbum da banda: O Tudo, O Nada e o Mundo (ouça aqui). Agora a banda se prepara para o encerramento da tour, com um show programado na cidade onde nasceram, no Arena Club, no dia 04 de maio.

Nascida em Santos no início dos anos 2010, hoje o quarteto pode se considerar um dos nomes mais conhecidos da cidade e acumula 5 álbuns, 3 EP’s e muitos fãs pelo país e tornam todos os shows da banda um espetáculo convidativo. As músicas são cantadas com tanto sentimento, seja pela plateia ou pela própria banda, que mesmo que você não esteja sentindo aquilo no momento, vai recordar um momento que passou e com certeza, querer fazer parte daquilo e repetir um dos refrões chicletes das músicas.

Com os dez anos do disco se aproximando, a banda percebeu que era um trabalho emblemático e digno de receber uma homenagem, algo que marcasse a data e toda a história construída até aqui. Bola, vocalista da banda, conta que a turnê de comemoração foi se materializando aos poucos, conforme as datas das apresentações foram chegando perto de acontecer, mas que não previam todo o respaldo que o público daria a eles.

É também um momento especial para a banda como um todo, afinal, comemorar dez anos de um disco vindo de um cenário independente é realmente marcante e fica difícil não pensar no que estavam sentindo naquela época e como tem sido a experiência de revisitar as mesmas canções hoje.

“A gente entra num contexto da vida de que todo mundo, muito provavelmente,  é muito diferente do que era dez anos atrás. Então a gente consegue ressignificar muita coisa, reparar muita coisa que talvez na época a gente não tivesse reparado, reconhecer algumas coisas que a gente tinha de visão que hoje a gente pensa diferente, ou, pensa igual, né? 

Saber que alguma coisa se perdurou ao longo desses 10 anos também é muito louco de ver; A gente tem cruzado com vários rostos conhecidos, de gente que ouvia a gente há muito tempo atrás e tá aqui 10 anos depois, junto com a gente cantando. Então, está sendo uma experiência bem legal.”, diz Bola.


Zimbra aniversário do disco turnê - Tony Santos (@tonysantosrs) - Foto 2
ZimbraFoto Por: Tony Santos (@tonysantosrs)

A Experiência de gravar o primeiro disco do Zimbra

É claro que com todo o tempo de estrada e com os lançamentos que se seguiram, nem todas as músicas do primeiro álbum se mantiveram nas setlists de shows e a banda precisou reaprender como tocá-las, mas Bola garante que é tipo andar de bicicleta e com dois ensaios, já conseguiam fazer como era há uma década antes: “talvez um pouco pior, um pouco melhor, não sei, né, vai de cada ponto de vista”, ele brinca. 

O vocalista também comenta que voltar nas músicas e lembrar do que gravaram foi uma experiência muito legal. Lembrar do que estavam sentindo e ouvindo para gravarem tal faixa e que é uma sensação bem louca refazer essas visitas. 

Ele também comenta sobre “Viva”, uma das músicas mais conhecidas do álbum e mais cantada pelo público nos shows. Bola diz que, embora a faixa não tenha saído dos shows, a sensação de tocá-la no contexto dos dez anos do O Tudo, O Nada e o Mundo, é diferente.

“É uma música que levou a gente para muitos lugares, chegou em muitas pessoas, a gente teve muitas regravações, covers na internet, covers de pessoas com relevância em números, o que trouxe uma visibilidade pra gente também. Então, essa música, apesar de nunca ter saído do setlist, foi muito especial tocar ela dentro desse contexto, que é o lugar original dela, esse disco.”

Comparando os cenários de dez anos atrás e agora, Bola ressalta que a experiência de palco é algo que faz muita diferença hoje e que, no passado, eram uma banda bastante impulsiva e nenhum deles sabia o que acontecia durante as apresentações, apenas seguiam o show e deixavam as coisas rolarem. Já hoje, podem dizer que são mais “racionais”. Não que tenham deixado o lado sentimental de lado, mas atualmente, conseguem pensar no show como um todo antes e seguir esse combinado. “Dez anos atrás a gente só anotava as músicas no papel e saia tocando. Hoje em dia a gente consegue pensar nesse macro ambiente.”, conta o músico.

Como é ter uma banda hoje em dia?

Além disso, o vocalista também fala sobre a diferença de ser uma banda no final dos anos 2000 e hoje.

“Embora a Zimbra tenha nascido já em um ambiente digital, era um pouco “pré” essa cultura de visualização, de números, de engajamento e tal. Então a nossa brisa era disponibilizar música na internet e fazer show, claro. Inclusive até hoje, a gente faz uma média de 40, 50 shows por ano, que é bastante coisa, se a gente for ver hoje em dia. E a gente tem um público muito fiel e que permite a gente fazer essa quantidade de shows no ano, de passar o ano viajando e tal.” E complementa dizendo que, andar de van antes não é o mesmo que agora e que o cansaço físico foi algo bem nítido nessa turnê. Mas, se resta algo dos rapazes que começaram a banda há uma década, é a vontade de tocar as músicas e subir no palco. Isso nunca mudou. 

Porém, ter uma presença digital hoje é uma outra história. Se antes, não era algo muito importante, hoje acaba sendo para quem quer ser mais visto ou lembrado. É comum ver a briga pelos charts nas principais plataformas de streaming ou glamourização da constante fabricação de conteúdo para as redes sociais. Mas Bola comenta que, embora a Zimbra não comungue muito desse lifestyle de estar cronicamente online o tempo todo e saibam da importância da geração de conteúdo, não se forçam a fazer o que não gostariam e fazem o máximo que podem.

“A gente não é uma banda diariamente presente nas redes sociais fazendo todo tipo de conteúdo possível, mas a gente também não é uma banda que ignora isso. Nós tentamos fazer as coisas na medida da nossa naturalidade, porque a gente construiu a banda em cima disso também.

Nada foi forçado nunca, então pra gente é muito importante manter um pouco dessa identidade também. Eu acho que o público entende e já saca um pouco nossa relação com a rede social e continua consumindo da mesma maneira. Então acho que a gente consegue estabelecer um pouco o distanciamento desse clamor por atenção o tempo todo.”

A força das redes sociais

E claro, também não deixam de dar importância às mídias sociais no contexto atual de comunicação.

“A rede social é uma ferramenta muito importante e, além de ser importante, eu acho que ela é muito significativa de fazer o conteúdo de qualquer pessoa chegar diretamente no público, sem ter que passar por um intermediário, sem ter que passar por um veículo de comunicação, uma rádio, uma TV, um programa de TV.

Então, a gente consegue falar diretamente com o nosso público, e isso é muito… Po, sei lá, se tu falasse isso há 20 anos, era uma coisa inimaginável. Então, com certeza é uma forte aliada que a gente tem, mas a gente tenta vivenciar ela de maneira natural pra gente.”

O Tudo, O Nada e o Mundo ainda é um dos discos mais populares da banda. O sucesso dele, é atribuído pelo vocalista, como uma mistura de estar há mais tempo nos canais de streaming, por ser o primeiro, e também por tentarem fazer uma música atemporal: “A gente sempre pensa em assuntos que são em comum da vida das pessoas e tal, e que não sejam datados. Então eu acho que isso contribui muito para que as pessoas ainda continuem ouvindo hoje uma música de 10 anos atrás e continue fazendo sentido para elas.” 

A relação com os fãs

Essa relação banda/fã acaba se tornando uma coisa muito íntima e claro, rendendo histórias de agradecimento pela banda e pelas músicas e como elas ajudaram as pessoas em momentos difíceis e Bola diz que, é nesse momento, que reconhecem que o fazem é legal para alguém. E esse sentimento de gratidão também fez com que a banda fizesse o último show da turnê com um Cine Joia, uma das maiores casas de show de São Paulo, completamente lotado. Bola comenta que ver aquela quantidade de pessoas cantando com a mesma força e intensidade que eles queriam ouvir há dez anos (não só em São Paulo, como em outras cidades pelas quais passaram), é algo que vão levar pelo resto da vida.

“Eu acho que ultrapassa o lance da memória profissional, já entra no lance da memória pessoal. São experiências que a gente viveu que a gente vai contar pro resto da vida. E lembrar disso, né? Acho que foi um acontecimento na vida de cada um ali muito, muito especial. A gente ficou muito feliz de poder ter a oportunidade de fazer um show daquele e viver um momento daquele.”

A Cena de Santos

Nascida em Santos, uma das cidades mais conhecidas pelas bandas de rock brasileiras e que exportou grandes nomes, principalmente nos anos 90 e 2000, a Zimbra cresceu com referências como Charlie Brown Jr. Hoje, Bola concorda em dizer que também são um dos representantes da nova geração de rock e pop rock da cidade e complementa que, não só eles, mas também toda a geração que cresceu ouvindo Charlie Brown no auge e que viveram isso muito de perto. 

Ele se recorda que na época em que começaram a tocar, lá por 2008, chegavam a ter cerca de 10, 12 bandas por noite, tocando em uma casa de show e que isso era um ambiente muito fértil para eles que estavam no início, principalmente pela questão da criatividade e que isso era um grande incentivo.

“Tem muitos artistas da cidade que são referências até hoje pra muita gente, então é muito legal pra gente hoje ser um pouco disso. Ser um pouco lembrado como uma banda da cidade. A gente ainda tá buscando nosso lugarzinho ao sol ali, mas a gente sabe que a gente conquistou muita coisa também que a gente sonhava quando a gente começou a tocar lá na cidade, e saber que hoje a gente faz isso, é bem louco.”

Embalado pelo clima nostálgico, quando perguntado se fariam algo diferente, ele comenta:

“Acho que se a gente tivesse feito alguma coisa diferente, pode parecer ser meio clichê, mas eu acho que a gente não teria, não estaria no lugar que a gente tá hoje, e eu não tô nem dizendo que a gente tá no melhor lugar possível, mas eu tô dizendo que a história da gente seria outra.

De repente a gente, sei lá, tivesse tocando pra 50 mil pessoas, de repente eu tivesse sentado numa mesa do escritório, de repente eu não estaria nem aqui respondendo essa pergunta, então, né, com todos os prós e contras, com todos os problemas e vitórias que a gente passou, eu acho que a história é essa. 

Acho que o ‘se’, ele não existe, então eu prefiro acreditar que a gente fez exatamente o que a gente deveria ter feito esse tempo todo.”

Mas se pudesse mandar um recado para a Zimbra de dez anos atrás, ele é certeiro…

“Umas aulinhas de pilates, porque o corpo hoje tá cobrando demais isso, a estrada é maravilhosa, muito prazerosa, mas ela dá uma castigada de vez em quando na gente, e a gente lembra que a gente tá ficando mais velho, né?

Eu acho que eu mandaria fazer umas aulas de alongamento mesmo, que seriam muito bem-vindas hoje em dia, com certeza.”

 

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