Vocalista da banda neerlandesa, Within Temptation, virá ao Brasil em abril de 2024 como headliner do festival Summer Breeze, em São Paulo
O jornalismo te proporciona a realização de sonhos e isso ninguém consegue extinguir. Graças ao Hits Perdidos, tive a oportunidade de realizar o sonho de entrevistar Sharon Den Adel, vocalista da banda Within Temptation. A conversa aconteceu em uma tarde quente do dia 29 de novembro, em uma chamada de vídeo e, embora tenha durado apenas 20 minutos, foram os mais maravilhosos e anestesiados minutos da minha vida. Conversamos sobre a primeira participação da banda neerlandesa em um festival na América Latina, o Summer Breeze Festival; sobre a influência da dança balinesa em suas performances ao vivo; sobre música brasileira, as incursões na utilização de inteligência artificial no último disco e muito mais!
Liderado por Sharon Den Adel, o Within Temptation, é uma das bandas mais rentáveis da Europa. No currículo, oito álbuns que juntos superam a marca de quatro milhões de discos vendidos: Enter (1997), Mother Earth (2000), The Silent Force (2004), The Heart of Everything (2007), The Unforgiving (2011), Hydra (2014), RESIST (2019) e Bleed Out (2023). Graças a estes trabalhos, o grupo de metal sinfônico recebeu prêmios como o World Music Award, MTV Europe Music Awards, Metal Hammer Award, entre outros. Além de ser headliner de festivais como o Download, Hellfest, Wacken Open Air, Graspop, Pink Pop, entre outros.
Esta é a primeira vez que o Within Temptation toca em um festival na América Latina, o que os deixa bem animados, pois até então a banda só tem feito “shows normais em clubes no Brasil, sendo assim, esta será uma grande aventura para a banda, tocando para mais pessoas e sentir a energia sendo trocada e combinada entre o público. Estou ansiosa para ver a interação! E terão bandas que gostamos muito tocando também, estou bem ansiosa!”, antecipa Sharon.
Em 2024, o grupo retorna ao Brasil pela quarta vez e, nesta oportunidade, vem como atração principal do Summer Breeze Festival no sábado, 27 de abril, ao lado do Hammerfall e do Epica. Em sua segunda edição, o festival acontece nos dias 26, 27 e 28 de abril, no Memorial da América Latina (São Paulo/SP), trazendo entre os destaques Mercyful Fate, Mr. Big, Sebastian Bach, Anthrax, Killswitch Engage, e mais. Os ingressos estão disponíveis para venda online e presencialmente, na Galeria do Rock (SP).
“Da última vez que estive no Brasil eu comprei muitos vinis, de música tradicional brasileira. Não lembro deles de nome, porque eles ficam no meu closet e eu só os ouço no verão, porque eu sinto que a música brasileira transmite um sentimento de verão. Eu gosto de todos os tipos de música, mas também adoro ouvir as músicas tradicionais do países que visito”, elogia Sharon.
[neste momento eu a interrompi para destacar que a música brasileira pode ser definida como “Summertime Happiness”, em um trocadilho em relação à música “Summertime Sadness”, da Lana Del Rey, que o Within Temptation fez uma releitura de metal, justamente porque Sharon adora a cantora. Meu trocadilho foi bem aceito por Sharon que retribuiu com risadas.]
Uma série de bandas de metal sinfônico no Brasil (e no mundo) foram influenciadas pela sonoridade do Within Temptation, mas não somente: a dancinha da Sharon é reproduzida até hoje por diversas bandas em suas performances ao vivo e também nos clipes. Por isso, resolvi investigar diretamente com a fonte: de onde vem esta dancinha? Quando adolescente, costumávamos imaginar que Sharon Den Adel era a vocalista mística – afinal o que é “Mother Earth” se não um conjunto de canções falando sobre o poder da natureza? – e portanto, utilizava dos seus conhecimentos mágicos para nos enfeitiçar com sua dança.
[Neste momento, Sharon ri e começa a dançar com os braços em frente à câmera enquanto canta o mantra: “compre meus álbuns, vá aos meus shows”]
A dança, claro, nunca teve a ver com feitiçaria e sim, é fruto da influência da criação de Sharon Den Adel, filha de expatriados, passou um tempo de sua infância na Indonésia, onde as danças chamadas Barong, Kecak e Lelong são bem comuns e influenciaram a artista na performance do palco.
“Sempre achei que a forma que eu componho as músicas são fruto de como eu me sinto quando estou no palco, sentindo essa música. Quando eu era criança, vivendo com meus pais na Indonésia, nós fomos várias vezes à Bali e você tem essas dançarinas balinesas e elas se movem como se fossem menininhas inocentes, que é como elas se parecem quando usam máscaras.
Às vezes elas pintavam o rosto de forma esbranquiçada, com blush bem rosado nas bochechas, e esse tipo de coisa. E elas tinham o cabelo arrumado e usavam vestidos bonitos enquanto dragões tentavam lutar com essas garotas, que estavam em perigo e elas seguiam dançando ao redor destes seres perigosos. Eu me apaixonei por isso e foi mágico para mim, acredito. Ainda que não tenha a intenção, acho que estava tentando fazer a mesma coisa e só sentindo a música. Enquanto canto sobre assuntos pesados, sigo dançando desse jeito sonhador”, explica Sharon.
[Um detalhe curioso são os dragões que aparecem nesta história: o fandom do Within Temptation é chamado de “dragons”, então comentei que talvez seja uma referência à essa fase da vida de Sharon, no que ela concorda: “sim, definitivamente tem uma conexão aí, sempre tem”, disse ela.]
Formada em 1996 por Sharon Den Adel e seu então namorado, e agora marido, o guitarrista Robert Westerholt, o Within Temptation é uma das maiores bandas da Europa. Nestes quase 30 anos de carreira, a banda presenciou as diversas mudanças na indústria da música, da fita cassete para o CD, a crise da pirataria com a chegada dos MP3, a ascensão das plataformas de streaming e, agora, encaram a carreira como uma banda independente. De acordo com Sharon, nada mudou nestas décadas, a paixão em fazer música continua igual:
“É mágico quando escrevemos uma canção e ficamos realmente muito felizes com isso e sempre foi assim desde o início. É mágico para mim continuar fazendo música e sentir essa paixão todas as vezes que componho. É como se estivesse apaixonada, você tem que estar apaixonada com a sua própria música.
Do contrário, você não consegue levar amor para as pessoas. Acho realmente mágico quando acordo de manhã e não tem nenhuma música escrita e, ao fim do dia, vejo que nasceu algo ali. É realmente único e acho que se você, em uma banda, pode levar música para as pessoas, eles vão entender o sentimento que você colocou ali. É como se fosse o seu DNA e isso acontece a cada nova música”, conta Sharon.
Para chegar à marca de quase três décadas de existência, o Within Temptation teve que se reinventar várias vezes, a mais recente, durante a pandemia, incluiu a mudança dos lançamentos: da frequência de EPs e álbuns, para singles; uma série de lives no Instagram; e o show “The Aftermath: A Show In A Virtual Reality”, realizado em um ambiente pós-apocalíptico criado virtualmente para a banda. No mundo pós-Covid, o grupo neerlandês teve que aprender a pensar com a cabeça de uma banda independente, com a liberdade de lançar as canções no momento que desejam, mas também com toda a responsabilidade de cuidar sozinhos de cada passo da produção musical.
“Nós escolhemos lançar sem uma gravadora, embora tenhamos tido ofertas, porque a gente sentiu que da maneira tradicional de lançar singles, poderíamos apenas soltar três músicas e nada mais; toda vez que você vai tocar tem a exigência de fazer determinadas coisas. Funciona para um período das bandas, porque eles têm que cuidar de diversos grupos. Mas este disco, produzido durante a pandemia, nós sentimos que queríamos lançar algumas músicas em determinados momentos, falar sobre o que está acontecendo na sociedade.
E quando você escreve sobre algo, é estranho a música sair apenas três anos depois! E perde o impacto, o tópico já foi embora, ninguém mais está falando sobre isso. Então nós gostamos de ter essa opção de lançar as músicas quando nós queremos e não tem gravadora no rock, no heavy metal, que vai aceitar fazer assim. Nós percebemos que os artistas de outros gêneros estavam fazendo assim e pensamos: ‘por que não fazemos?’ E tem dado certo! Embora a gente tenha realmente lançado mais singles por causa do Covid e nós não podíamos viajar tanto e nem finalizar o álbum de uma vez só. Não acredito que vamos repetir esse feito, mas nos ajudou muito a ficar em contato com os fãs durante a pandemia, que foi difícil para todo mudo, então foi muito bom”, elogia Sharon.
Ao falar sobre as transformações do Within Temptation, existe um tema que não pode ficar de lado: o uso da inteligência artificial na criação do clipe de “Bleed Out” e do visualizer “Wireless” , fortemente criticados pelos fãs, tanto pela estética incomum, quanto pelo uso desta ferramenta que, desregulamentada, tem tirado emprego de designers no mundo inteiro. Na entrevista, Sharon Den Adel entendeu a recepção negativa dos fãs, e contou que quis experimentar a ferramenta como uma forma de fazer algo diferente visualmente.
“Nós ficamos entediados ao pensar em fazer um videoclipe da forma tradicional novamente. E ultimamente, nós estávamos com dificuldades de encontrar uma nova maneira de fazer algo espetacular, então para nós foi uma boa solução. Na minha opinião existem dois lados da I.A: eu noto que existem muitas possibilidades e é uma tecnologia muito boa que pode ser utilizada para fazer o bem, como dentro da medicina, que pode auxiliar pessoas a fazer cirurgias de forma mais rápida e apurada. Talvez humanos não consigam fazer determinadas atividades de forma tão rápida e apurada como um computador pode fazer. Então isso é muito bom! Mas por outro lado, muitas pessoas têm medo de perder os seus empregos, o que também é um argumento válido.
Um dos motivos de termos feito este clipe com I.A foi porque queríamos ver o que esta ferramenta é capaz de fazer, enquanto também trazer a discussão sobre de qual forma podemos utilizar a inteligência artificial e como não podemos utilizá-la. Não é que sejamos a favor ou contra, mas acredito que devem existir regulamentações e o Estado deve ser um pouco mais rápido fazendo estas leis dos usos e claro, também para proteger pessoas. Eu vejo como foi na época da Revolução Industrial, que muitas pessoas perderam seus empregos e provavelmente isso vai acontecer novamente. O gênio já está fora da lâmpada, não tem como colocar de volta. Haverão outros empregos, porque as pessoas ainda precisam alimentar a I.A e mantê-la. Ao mesmo tempo, tivemos esse debate com os fãs, que tivemos elogios mas também muitas e muitas críticas. Eu entendo que o lip sync não ficou legal, não foi melhor que o original teria sido. É uma tecnologia que vai melhorar no futuro e nós não temos certeza que usaremos novamente, mas gostamos.”, elogia Sharon.
Muito além da experimentação com novas tecnologias e ferramentas, o Within Temptation também é uma banda que se posiciona politicamente, desde o álbum Mother Earth, com canções sobre a proteção do meio ambiente; ou em “The Heart of Everything”, que continha letras que falavam sobre guerra e abuso infantil. No álbum atual, “Bleed Out”, o grupo de metal sinfônico se conecta ainda mais ao gênero do heavy metal – uma mudança sonora que vem desde “The Unforgiving” – e se dedica a causas políticas, como a questão da Guerra na Ucrânia.
“Sempre têm alguns tópicos que estão circulando, mas às vezes você precisa tirar do seu cérebro, da sua mente e estas letras surgem. Estas foram as canções mais rapidamente escritas que nós já fizemos. Não foi tão fácil, mas também não tão difícil, isso porque o fato estava bem em frente a nós. O que está acontecendo no mundo e as palavras certas simplesmente apareceram.
Para nós foi libertador. Também porque nós pudemos nos livrar de toda a frustração que sentimos sobre estes assuntos, e se algo acontecer novamente, seja por acidente ou porque está nos noticiários, irá nos inspirar novamente, claro. Para nós, é importante manter certos assuntos vivos e nós fizemos isso com esse disco. Não posso prometer que o próximo álbum será igual, mas será provável se as coisas continuarem do jeito que estão nos últimos dois anos.”, finaliza Sharon.
Ao término da entrevista, quis fazer jus ao nome do Hits Perdidos e questionei: Qual é o hit perdido do Within Temptation? Qual música você acha que mais pessoas deveriam ouvir?
“Hmmm, eu acho que é a canção ‘The Fire Within’, que foi um hit perdido. Sempre fico pensando na música e como ela deveria estar no disco, porque é uma música muito boa na verdade. E nós recebemos uma resposta bem positiva, mas não entrou no disco, o que eu me arrependi depois”, declara Sharon Den Adel.
This post was published on 12 de dezembro de 2023 9:17 am
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