Em atividade desde 2015, Os Fadas é uma banda que se autodenomina como “rock regressivo com ondas” e tem como norte desafiar as convenções musicais, tal como Sonic Youth fazia com destreza. Formada por Anna Bogaciovas (vocal e guitarra), Augusto Coaracy (bateria e voz), Gabriel Magazza (vocal e guitarra) e Rafael Xuoz (vocal e baixo), em São Paulo, a banda iniciou os seus trabalhos como uma banda cover de Pixies, até por isso o nome do projeto, mas a identidade e a vontade de explorar curvas sonoras finalmente se materializaram no EP Sono Ruim.
Com 4 faixas, o material foi oficialmente apresentado no dia 19/10 e lançado pelo selo Before Sunrise Records (leia entrevista).
Os Fadas prepararam especialmente para os leitores do Hits Perdidos um faixa a faixa exclusive com as nuances de cada música do EP Sono Ruim. Quem assume a partir daqui é a banda, confira!
“Sei lá vie” veio de uma letra e um riff antigos da Anna Boga, para os quais a gente foi dando também a cara de Fadas aos poucos. Poderia ser uma música feita com pedra e gravetos, é uma valsa de gorilas com uma pitada de primatas pra deixar a ferida aberta pulsar.
É a faixa que melhor define a criação musical d’Os Fadas como “rock regressivo com ondas”, por ser divertida, brutona e levar às últimas consequências uma melodia simples. Surpreende, também, pelo seu segundo movimento, inesperado, com vozes noturnas, suíngue e solos de guitarra, que acaba por roubar a cena. Por fim, há os espantosos gritos de Anna Boga, e o surgimento das Fadas transformadas em gorilas, numa espécie de catarse coletiva, que acaba por ser um dos momentos mais animalescos dos shows e do EP.
Revolto desenrola um tapete musical tecido por fios oníricos, psicodélicos, calmos e raivosos. Quando a música começa a explodir, a banda segura. Quando quer repousar, a banda acorda. Mas, tudo isso fica bem amarrado nesta composição do Gabriel: as diversas figuras rítmicas, que vão tropeçando numa espécie de gincana tortuosa, encontram a melodia das vozes, compondo uma revolta contra o relógio, contra o nexo, a certeza, essas coisas. Afinal, esse aparente descompasso é coerente com a própria letra, que é um pouco sobre uma incerteza afirmativa, uma inadequação por opção.
Essa é uma música que o Augusto, nosso baterista, fez no violão e depois produziu uma versão demo no computador com sintetizadores e bateria eletrônica. No formato quarteto com o baixo, as guitarras e a bateria acústica, ganhou uma cara mais orgânica, visceral e talvez mais dramática também. É a única faixa instrumental do EP, que traduz uma atmosfera vaporosa por onde as rotas se desenham.
Acontece que essas rotas, em algum ponto, no arrastar prazeroso desta música, viram nós, e aí não dá mais pé, nem paz. É um afogamento com prazer. A sustentação de um acorde só por maior parte da música, cujo tempo é lento a princípio, evoca um ar sombrio, mas meditativo. O que guia e deixa esse ar mais interessante é o fato de ter uma melodia fugidia e simples, que serve de guia. Ao final, encontramos gritos e ataques, num ritmo frenético, mostrando que as rotas por onde passam Os Fadas são tortas.
“Expurgatório” é uma música com elementos mínimos, que se misturam para fazer uma cama para a interpretação do Gabriel, o compositor desta. Essa faixa conta com a participação do Filipe Viana, produtor musical do EP, na composição de parte do arranjo. Ele também foi responsável por lapidar nossa execução da música durante meses, no sentido de saber ‘usar’ melhor os ruídos e os silêncios, principalmente na segunda parte.
O papel da banda é amplificar e dar cor às emoções que vão sendo sugeridas: sussurros, a dinâmica em crescente lento, a repetição de uma nota só, servem de base para o início desta composição soturna. Efeito de anos em meio ao desejo de expurgar a sinistra violência e cinismo que tomaram a cena pública nacional, a música traduz a perturbação de um purgatório, em que tal expurgo vai demorar para ocorrer. A boa surpresa é que ele vem, no final da música, que é um dos momentos mais altos do show e do EP.
Os Fadas Sono Ruim
Gravado entre junho e outubro de 2022, no Orra Meu! Estúdios e nos estúdios da BRDN
Acessibilidade com apoio da Mais Diferenças.
Composições: Os Fadas
Arranjos: Os Fadas e Filipe Vasconcelos Vianna
Produção Musical: Filipe Vasconcelos Vianna
Mixagem e masterização: Klaus Sena
Créditos:
Anna Bogaciovas: Guitarras e vocais
Gabriel Magazza: Guitarras e vocais
Augusto Coaracy: Bateria e backing vocals
Rafael Xuoz: Baixo e backing vocals
This post was published on 14 de novembro de 2023 9:06 am
The Vaccines é daquelas bandas que dispensa qualquer tipo de apresentação. Mas também daquelas que…
Demorou, é bem verdade mas finalmente o Joyce Manor vem ao Brasil pela primeira vez.…
Programado para o fim de semana dos dia 9 e 10 de novembro, o Balaclava…
Supervão evoca a geração nostalgia para uma pistinha indie 30+ Às vezes a gente esquece…
A artista carioca repaginou "John Riley", canção de amor do século XVII Após lançar seu…
Quando foi confirmado o show do Travis no Brasil, pouco tempo após o anúncio do…
This website uses cookies.