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C6 Fest: 1º dia é marcado pela performance do Christine and the Queens, aspereza do Dry Cleaning, leveza de Arlo Parks e mensagem de empoderamento

Dry Cleaning coloca pressão e Christine and the Queens desfila na passarela no primeiro dia do C6 Fest

Quando o line-up do C6 Fest foi divulgado as lembranças na timeline foram de festivais icônicos e com curadorias ousadas que misturavam a vanguarda com o que era o próximo Hit (ainda perdido). Tais como Free Jazz Festival e Tim Festival que marcaram época em edições que apresentaram muitos artistas que alcançariam o topo das paradas dentro dos seus respectivos nichos.

Com ingressos elevados e bem distante da realidade do brasileiro, o festival contou com as vendas em modalidades de palco, algo que muitos estranharam e gerou um espécie de incômodo por parte dos fãs que teriam que desembolsar mais de R$3000 para usufruir da experiência completa. Tendo o Parque do Ibirapuera como sua casa, o festival marcado para os dias 19, 20 e 21 de maio teve sua estrutura dividida entre o Auditório do Ibirapuera (Plateia interna), a Plateia externa com outro palco, além da Tenda Heineken e além do Pacubra (subsolo) para sets eletrônicos.

A sexta-feira (19/05) contou com as apresentações de Xênia França, Dry Cleaning, Arlo Parks (leia etrevista) e Christine and the Queens, na Tenda Heineken. Tributo ao Zuza, Nubya Garcia, Julian Lage e Tigran Hamasyan, no Auditório do Ibirapuera (Plateia Interna). Além do Disco Theran e Gop Tun DJs no Pacubra (Subsolo).

Ao chegar no Parque Ibirapuera no fim da tarde podemos ver aquele típico cenário de primeiro dia de festival com diversos funcionários escalados para orientar o mapa do local para o público. Com distância média entre os palcos não era difícil errar o caminho ou escolher o mais longo. Era possível ver a estrutura da Plateia externa do Auditório do Ibirapuera ainda sendo erguida (e com obras atrasadas). Algo que chegou a preocupar a nossa equipe já que no sábado (20/05) haveriam muitos shows escalados para o local.

Algo a elogiar é a distância entre as opções de restaurantes e um leque que ia de hambúrgueres da rede Bullguer a um restaurante japonês. A experiência foi o foco do festival que começa e acaba pouco depois da uma da manhã para quem optar estender a noite na parte eletrônica. A Tenda Heineken, por exemplo antes das 22 horas já havia encerrado o expediente. Com alguns atrasos entre os shows, a maioria dos shows começou cerca de 20 minutos do horário previsto, algo que elogiamos quando acontece pontualmente, como foi o caso do Primavera São Paulo.


Arlo Parks no C6 Fest.- Foto Por: Rafael Chioccarello – Coloração Por: Beatriz Paulussen

Primeiro Dia: C6 Fest

Xênia França

O primeiro show da Tenda Heineken foi o da baiana Xênia França que focou seu show no disco Em Nome da Estrela (2022) mas que também alternou com canções do seu álbum de estreia. A espiritualidade estava presente em sua apresentação e a cantora conduziu seu show com leveza e sempre que pode agradeceu ao público pela presença e conexão.

Em seu discurso empoderado Xênia fala sobre acreditar em si e se ver cada vez maior como inspiração para correr atrás dos seus sonhos. Ela até fala que é super apegada e sentimental citando ser do signo de peixes. Incentivando a trocas de experiências após a mensagem na DM de Instagram onde diz que ama responder os fãs.

Além de ecoar seus hits e ter uma banda afiada na percussão, teclados e baixo reverberante, ela trás a magia da viagem cósmica até na hora de apresentar seus companheiros de jornada astral com direito a um duo de irmãs realizando um coral no mais alto nível. “Renascer” e “Pra Que Me Chamas?”, claro, se fazem presentes no set.

Leia também a nossa resenha do show da Xênia no Mita Festival 2022


Xênia França no C6 Fest. – Foto Por: Rafael Chioccarello – Coloração: Beatriz Paulussen

Dry Cleaning

A expectativa para ver o Dry Cleaning era alta afinal de contas essa energia caótica com deboche típico inglês do revival post-punk de bandas que John Peel amaria indicar tem encantado o público brasileiro: apresentações de grupos como Shame e IDLES estão aí para não deixar mentir.

Tendo a carismática Florence Shaw, nos vocais, o guitarrista Tom Dowse, o baixista Lewis Maynard e o baterista Nick Buxton na linha de frente, a banda ainda conta com um guitarrista de apoio que fica na parte de trás do palco para dar ganho em algumas canções.

Primeiro show no país, o grupo que tem referências que vão de Sonic Youth, passando por Black Sabbath, Björk, psicodelia, dream pop, post-punk, e o rock setentista do metal ao punk rock, trás para o palco uma energia que mistura o sombrio do Black Metal, a ironia do punk inglês mas sem perder a tenacidade da poeta do punk, Patti Smith.

Sem perder o deboche habitual de seus letras que se dividem entre comidas e ironias sobre o cotidiano, Shaw logo no começo do show já solta: “It’s nice to perform for some trees” (“é bacana performar para algumas árvores”) se referindo as árvores que estavam posicionadas dentro ao fundo da tenda, algo que nos remeteu automaticamente a experiência do Palco da primeira edição do Primavera Sound São Paulo (este que dificultou a visão de boa parte público).

No caso do C6 Fest não atrapalhou mas compôs o cenário…mas foi algo propício para alguma piada no melhor estilo inglês.

Não demorou muito para duas coisas por parte de Florence:
1) Abrir uma latinha de cerveja.
2) Quebrar o protocolo do personagem dark e sisudo que constrói e mandar um beijo para a plateia.

Logo como segunda música a vocalista anuncia, “Gary Ashby”, faixa presente no segundo disco de estúdio, Stumpwork (2022) laçado via 4AD. Aliás, até o momento os dois discos, num intervalo curto de dois anos, foram produzidos por John Parish, parceiro de PJ Harvey.

Outro grande figura do show é o guitarrista Tom Dowse que além de lembrar um pouco a energia do Thee Oh Sees, traja uma vestimenta universitária, gosta de fazer dancinhas indisciplinadas e solos com a mesma natureza cáustica do Sonic Youth.

Já na reta final do show eles fazem um discurso muito emocionado para o tour manager Collin exaltando sua competência e companheirismo com os integrantes do grupo inglês dedicando a ele seu maior hit até o momento, “Scratchcard Lanyard”, do álbum de estreia, New Long Leg (2021).

Tudo parecia caminhar sem grandes problemas, é verdade que a guitarra de Dowse já tinha apitado algumas vezes e o guitarrista de apoio tentou ajudar trocando o instrumento já durante a reta final da apresentação, até que faltando dois refrães para o final da derradeira canção o instrumento decide parar de funcionar de vez.

Bastante irritado mas sem querer perder a energia emanada pelos presentes, ele desiste e deixa tudo a cargo do baterista, baixista e vocalista que decidem parar o show com o gosto amargo de não poder entregar seu hit por completo para os fãs presentes. Para quem foi isso foi apenas um mero detalhe pois o jogo estava já ganho por goleada.

Até chegamos a comentar que o show acabou do jeito mais Dry Cleaning possível.


Dry Cleaning no C6 Fest. – Foto Por: Rafael Chioccarello – Coloração: Beatriz Paulussen

Setlist Dry Cleaning

Viking Hair
Gary Ashby
Kwenchy Kups
Hot Penny Day
Her Hippo
Swampy
No Decent Shoes for Rain
Stumpwork
Strong Feelings
Conservative Hell
Liberty Log
Goodnight
Don’t Press Me
Driver’s Story
Unsmart Lady
Scratchcard Lanyard (com pane na guitarra e fim antecipado de show)

Arlo Parks

Falar sobre Arlo Parks após entrevistá-la sem exaltar seu carisma, sentimento de estar vivendo um sonho ainda bem jovem e ainda buscando caminhos criativos para experimentar cada vez mais é praticamente impossível. Descendente de nigerianos, um quarto chadiana e um quarto francesa, a inglesa da zona oeste de Londres, mais precisamente Hammersmith, é fascinada por literatura, cinema e desde muito cedo toca guitarra, o que a levou a cada vez mais querer fazer parte do processo de produção dos discos.

Atenta com o novo e sempre buscando parcerias para seu trabalho ir ainda mais longe, a artista que se orgulha de ser eclética musicalmente mostra através de cada single do novo álbum que será lançado oficialmente no dia 26/05 muita maturidade e boas escolhas no repertório. O que naturalmente se reflete em suas apresentações.

Leia entrevista exclusiva com Arlo Parks

Logo ao adentrar ao palco após sua banda se posicionar nas extremidades do palco, ela canta “Bruiseless” e logo antes de apresentar “Weightless”, canção que estará presente em The Soft Machine, Arlo Parks diz que além de ser sua primeira vez no país, conta que é sua primeira apresentação por aqui também – aproveita para agradecer por todo amor e carinho que tem recebido das pessoas nos últimos dias.

Algo bastante notório é como a artista se entrega no palco, não usando nenhum artifício externo para modificar sua voz, o resultado nu e cru cresce a cada canção onde ela com facilidade vai do rock ao rap, do minimalismo a extensão de voz, com muita tranquilidade e sem precisar de muito esforço.

Sua banda também não fica para trás e mostra versatilidade, da tecladista e backin vocal que até em determinado momento ajuda Arlo Parks quando ela mesmo erra a entrada, o guitarrista é bastante versátil e acompanha com esperteza toda deixa que tem para solar e o baterista Jazz também não fica atrás indo do jazz ao pop passando pelo rock com sagacidade.

Ela caminha pelo palco sorrindo ao ver a quente recepção em um dia onde as temperaturas fora da Tenda batiam os 15 graus (mas com sensação térmica de menos).

“I love you, I wanted to come for here for a long time. I read all the messages telling please come to brasil. Keep together, promise me that we’re gonna have a good time (“Eu amo vocês, eu queria vir para cá há muito tempo. Eu li todas as mensagens dizendo por favor, venha para o Brasil. Fiquem juntos, me prometam que vamos nos divertir”), diz Arlo Parks para os presentes no C6 Fest

Depois de ter tocado “Blades”, que também integra o novo disco, e “Caroline”, vem “Eugene” onde ao terminar de executá-la faz coração pro Público aparentando estar muito feliz com a recepção. Na sequência vem “Pegasus”, canção que conta com parceria de Phoebe Bridgers que veio na edição do Primavera Sound no ano passado onde fez feat com a Lorde.

Um dos momentos mais emocionantes da apresentação foi quando ela tocou “Black Dog” e disse ser sobre um amigo que estava sofrendo muito na época e ressalta que todo mundo merece amor e esperança na vida. Depois de tocar diz que é uma canção muito especial para ela e agradece a todos pela escuta.

Já no trecho final Arlo que estava trajando uma camiseta do Bob Dylan diz que a penúltima faixa, “Hope”, que integra a trilha da novela da Globo, “Vai na Fé”,  é sobre estar sozinha e que aqui em São Paulo ela não sente só. A inglesa encerra a apresentação com “Softly”. Um dos comentários que pude ouvir foi bastante certeiro, se no estúdio as músicas podem parecer lineares, no show a gente vê ainda mais personalidade nos arranjos e atitude em frente ao palco. Uma artista nova mas que está numa subida rápida e daqui a 5 anos a gente conversa para ver onde vai estar.


Arlo ParksFoto Por: Rafael Chioccarello – Coloração Por: Beatriz Paulussen

Setlist Arlo Parks:

Bruiseless
Weightless
Blades
Caroline
Eugene
Pegasus
Black Dog
Too Good
Impurities
Sophie
Devotion
Hope
Softly

Christine and the Queens

É até difícil definir em palavras o que foi a apresentação do Christine and the Queens. O francês Héloïse Adélaïde Letissier, natural de Nantes, é daqueles fenômenos cada vez mais raros do pop, onde rotular como um estilo ou outro soa pequeno perto da proposta artística e o conceito de emancipação que move o projeto. Não bastasse isso, a banda que o acompanha também eleva a apresentação para outro nível.

Art-Pop, Jazz Punk, Eletropop, Experimental, Drum & Bass, R&B e atitude rock’n’roll tanto no discurso afiado sobre existência e emancipação, são os pontos altos de um show que também tem como destaque figurino, atuação e performance do quarteto. O exagero e o lado caricato fazem parte da estética por si só.

Uma frase logo no começo da apresentação serve como inspiração para qualquer presente no local e que mostra como é importante o auto-cuidado e amor próprio: “The man that i love is inside of me” (“O homem que eu amo está dentro de mim.”)

Referências de Michael Jackson, Prince, Madonna e Lady Gaga estão presentes? Com certeza e faz questão de reverenciar nos detalhes mais sutis de sua apresentação, das danças a sonoridade. Logo na primeira canção o espírito livre se faz presente com um jazz punk com direito a adentrar o palco com saia alta e coreografias tortas feito Iggy Pop.

Um dos momentos que dividiu a plateia, entre quem gostou e quem abandonou a Tenda Heineken, foi quando Héloïse senta ao lado da baixista e começa a ironicamente a tocar “Under The Bridge” em tom displiscente e logo volta para seu repertório ainda retomando o hit caloforniano no refrão – agora já envolto nas batidas dos sintetizadores.

O repertório do Christine and the Queens também cria uma atmosfera pop futurista em meio a teclados em progressão, guitarras que ecoam e uma energia feita para a pista de dança. Indo do Dark Pop, com referências que vão do torto do post-punk ao pop mais fácil de ser consumido. É nessa dicotomia que suas ideias constrastam. Entre o simples e o exagerado, o transgressor e o tosco, a tensão e a calmaria, a sobriedade e a epifania.

Destaque para o formato do palco que deixa tudo mais vistoso e na passarela, seus passos e performance soam ainda mais provocadores.


Christine and the Queens no C6 Fest. – Foto Por: Rafael Chioccarello – Coloração Por: Beatriz Paulussen

This post was published on 23 de maio de 2023 6:29 pm

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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