Lollapalooza Brasil 2023: consolida nomes e traz surpresas no primeiro dia
Programado para os dias 24, 25 e 26 de março o Lollapalooza Brasil 2023 realizou na última semana a sua décima edição no Autódromo de Interlagos. Com mais de 80 atrações o festival reuniu no primeiro dia 103.350 pessoas no qual teve como headliners Lil Nas X e a cantora Billie Eilish mas também gratas surpresas como a primeira vinda do Modest Mouse ao país, depois de um cancelamento no SWU (em 2011) e a substituição do 100 GECS pelos canadenses do Mother Mother, de última hora.
Além disso o dia também ficou marcado pelo show de uma da cantora, compositora, produtora musical e designer de moda colombiana-estadunidense Kali Uchis e a grata surpresa da escalação de Suki Waterhouse, também estrela da série do Prime Video, Daisy Jones & the Six: uma história de amor e música. A escalação de brasileiros chamou bastante a atenção também justamente pela atenção especial e palcos cada vez mais cheios mesmo escalados em horários ingratos.
Esse foi o caso de Gab Ferreira, artista do casting da Balaclava Records, que começou seu show ao meio-dia com os portões ainda abrindo, o que gerou algumas matérias na mídia mainstream satirizando o fato dela tocar para “10 pessoas”. Fato que fez a artista ganhar visibilidade e mais do que dobrar seu número de seguidores no instagram (de 62 mil para 125 mil) – e consequentemente aumentado seus plays nas plataformas de streaming. A artista que ganhou visibilidade nacional no programa The Voice e já tendo lançado Lemon Squeeze (Independente, 2018) e no ano passado visions (2022, Balaclava Records) tem agora a oportunidade de fazer de fato uma limonada com a situação.
O primeiro dia é sempre marcado por acontecer numa sexta-feira, dia comercial, então o público começa a chegar mais para o final da tarde, o que faz com que seja o dia mais tranquilo para conhecer a estrutura do festival que apostou em experiências tecnológicas, ações de marketing e ativações até mesmo do Instagram, grande rival do TikTok que apostou no Primavera Sound São Paulo no ano passado (evento que agora sai das mãos da Live Nation e vai para a T4F).
Com o encerramento da produção e vendas do Ônix no país, o palco foi renomeado para Palco Chevrolet. A edição que contou com 6 cancelamentos de artistas internacionais (Drake, blink-182, Willow, 100 GECS, Dominic Fike e Omar Apollo) marca também a despedida da T4F da produção do evento. A próxima edição será produzida pela Live Nation. Ou seja, a dança das cadeiras das produtoras de grandes festivais.
O fim da semana da edição do Lollapalooza Brasil 2023 foi marcado pelas altas temperaturas e sol desafiando o público para acompanhar a maratona de shows. Fato que foi lembrado e enaltecido pelos artistas brasileiros que tiveram que tocar geralmente entre às 12h e às 15h durante todos os dias.
Abrindo a programação do Palco Chevrolet a artista Brisa Flow, criada em Minas Gerais e filha de artesãos araucanos, assim como costuma fazer em suas apresentações no circuito independente brasileiro, levantou a bandeira da causa indígena tanto em discurso como em representatividade.
Para um momento tão especial ela trouxe até mesmo a flauta, metais e percussão para engrandecer a apresentação. Um fato que chamou bastante a atenção além da música foi justamente o capricho no figurino. Seu álbum mais recente Janequeo foi lançado em 2022.
O primeiro show que pudemos assistir na íntegra foi o do rapper fluminense Black Alien. Gustavo de Almeida Ribeiro em seu repertório concentrou em sua maioria canções do premiado Abaixo de Zero: Hello Hell (2019) mas também não deixou de trazer canções clássicas da sua carreira.
Acompanhado de seu DJ ele esbanjou carisma e interação com o público em show. Surpresa mesmo para quem já pode vê-lo na turnê deste disco foi justamente a participação especial de Xamã. Uma participação surpresa que anunciou uma colaboração dos dois com Hariel, intitulada “Bad Girls & Bad Boyz” – até o momento ainda não lançada oficialmente.
Uma das gratas surpresas do primeiro dia foi a participação da modelo, atriz e cantora inglesa Suki Waterhouse. A estrela de Daisy Jones and The Six mostrou que tem boas referências que vão de Cat Power passando por Patti Smith e o som que alterna entre o indie rock e pop bem executado cresce no Palco Adidas.
Tendo apenas um álbum de estúdio I Can’t Let Go (2022) e o EP Milk Teeth (2022) ela aproveitou para mostrar que o frescor dos recentes álbuns se justifica com uma performance leve e boa sintonia com o público bastante jovem. Chega até a declarar amor pelo país dizendo que o Brasil é o “Coolest Place In The World”, faixa que integra o último EP – e arranca sorrisos e aplausos da plateia.
Já mais perto de encerrar a sua apresentação, a cantora que entrou trajando uma gravata com James Dean estampado chama para frente do palco todas as garotas presentes antes de tocar a última canção do set, o hit “Good Looking” – que já passa dos 140 milhões de streams.
No Palco Perry, conhecido pelas apresentações de música eletrônica, podemos dizer que Pedro Sampaio mudou um pouco o ritmo em um show que ficou marcado por revelar a bissexualidade e anunciar que está namorando um homem. Com destaque no figurino (quente demais para o dia), ele aproveitou para contar sobre o momento da carreira e trouxe para a cena um show energético para levantar o público presente com direito a muitos efeitos para deixar a energia no alto. Pabllo Vitar, que maratonou o Lollapalooza fazendo diversos feats, também fez uma pontinha na apresentação do músico.
A fotógrafa Yasmin Kalaf que pode acompanhar a apresentação bem de perto relata a ótima performance do corpo de ballet que o acompanha, entregando o pacote completo para quem gosta do som.
Após 12 anos de espera os estadounidenses do Modest Mouse finalmente se apresentaram no Brasil. Se a apresentação no SWU, com o timing correto do auge comercial do grupo, não aconteceu, o público de certa forma foi punido pelo show começar às 15:50h da tarde, visto que os fãs 30+ em sua maioria estava ainda em horário de trabalho.
O que fez com que muitos curiosos, não necessariamente fãs deles, estivessem presentes na apresentação – e provavelmente aguardando a próxima atração. Erro do festival que não soube ler que a demanda indie rock fazia teria uma demanda de Lolla Sideshow com sold out visualizando este neste cenário com antecedência. Dá até para dizer que os gringos sofreram derretendo debaixo de sol, algo exaltado por eles mesmo durante o show, com direito ao vocalista tirar e colocar de novo o boné por diversas vezes. O set de apenas 12 canções, por conta do tempo enxuto de festival fez com que o público ficasse com gosto de quero mais.
Hits das pistas de dança indie como “Dashboard” e “Float On”, claro, não iam passar batido. O carismático vocalista Isaac Brock em determinado momento pergunta quantos irlandeses tem na plateia e diz que eles costumam aparecer do nada feito gremilins no sol de torrar que estava assombrando o show. Ele ainda pega o banjo, elemento que não tira o peso do show mas mostra mais possibilidades e o clima irlandês se instaura numa tarde ironicamente ensolarada.
De Vancouver, o Mother Mother está em atividade desde 2005, por mais que por aqui o grupo foi ganhar algum tipo de visibilidade quase 10 anos depois. Fato é que em 2014 citamos em um post sobre uma premiação canadense do cenário independente na qual ganharam o prêmio de Melhor Álbum de Rock Alternativo.
Escalados para o Palco da Budweiser já na parte final da tarde, o grupo já tinha que lidar com um obstáculo visível na plateia: fazer um show de rock para um público que aguardava as apresentações de nomes como Kali Uchis e Billie Eilish. Fato é que através da performance impactante onde exploraram toda a estrutura do palco e extensão, eles desfilam com guitarras e duas vocalistas que se revezam. Os figurinos também chamam bastante a atenção. Algo que ficou notório foi a atenção e deslumbre que os fãs de Billie Eilish ficaram ao estar descobrindo uma banda nova ao vivo.
Destaque ficou por conta de “Bit by Bit”, o cover de Radiohead (“Creep”) que criou um anticlímax e o medley para “Hayloft” já na parte final. Alternando entre o indie rock e o pop, tem espaço na prateleira com a nova geração justamente pelo apelo Maneskin que eles tem na performance.
A expectativa por assistir a o show da Kali Uchis era alta. Muito disso por conta de o Brasil estar tendo a oportunidade de assistir a apresentação de um dos maiores fenômenos do R&B e música urbana contemporânea no momento da sua explosão. A cantora norte-americana mas com sangue latino faz show romântico e sensual com a ajuda de um corpo de dançarinos e hits como “Telepatía”, esta que abriu a apresentação da artista já no começo da noite.
O show, aliás, é repleto de feats como de “See You Again” (Tyler, the Creator), “Get You” (Daniel Caesar), “Rica y apretadita” (El General), “Pobre diabla” (Don Omar), “Papi chulo” (Lorna), “10%” (Kaytranada), “Sad Girlz Luv Money” (Amaarae), mostrando como esta é uma ferramenta de marketing cada vez mais consolidada em uma música pop repleta de comunidades. Seu set ainda tem espaço para a estreia ao vivo de “NO HAY LEY”, a apresentação da inédita “Tatoo” e um show que ao todo reúne 22 canções. Não foi difícil ver muitas chorando durante a apresentação da artista.
Um fato marcante aconteceu no dia seguinte da apresentação quando Kali Uchis em suas redes sociais revelou que não gostou da sua performance e que precisava cuidar da sua saúde mental. Chegando a dizer que cancelaria seu show na Colômbia, o que depois voltou atrás.
Um dos momentos mais aguardados do Lollapalooza era justamente a estreia do Lil Nas no Brasil. Ele inclusive não escondeu a sua alegria da oportunidade desde que foi oficialmente confirmado no line-up do festival. Até brincou tweetando que iria “comer o cu do Brasil”. Desde o hit viral “Old Town Road” muita coisa aconteceu dentro até mesmo da estética dos seus lançamentos, podendo ver uma guinada nas produções e podendo mostrar seu talento artístico em várias esferas, passando pelo audiovisual, figurino, performance e talento.
O show conta com muitas coreografias, trocas de roupa, aliás exigiu 4 figurinistas locais para cuidar somente disso, e assistir a apresentação do músico é se deparar com muitas telas, explosão de cores, memes, pot-pourris, remixes e até mesmo um dançarino que se veste da fauna toda (é sério, uma hora de cavalo, depois de inseto e por aí vai).
A apresentação tem totalmente o pensamento voltado para a experiência do TikTok, com direito a trechos de várias músicas pops de “Something In The Way” do Nirvana a outos clássicos do pop durante suas trocas de roupa. Bichos que andam pelo palco, estátuas, bailarinos e muita informação acaba saltando a vista do público que não tem muito tempo para ficar disperso. Em um mundo de muitas telas ele sai ganhando de goleada.
Ele ainda deu sorte do Palco Chevrolet ter o melhor som do Lolla, tudo jogou ao seu favor. Lil Nas X ainda preparou uma surpresa e convidou Pabllo Vittar para uma participação na música “Batty Boy”, que ainda não foi oficialmente lançada.
É até difícil tentar traduzir o que aconteceu na vida da Billie Eilish nos últimos 4 anos. Com apenas 17 anos ela da noite para o dia com seu primeiro álbum produzido em conjunto do seu irmão. Foi do minimalismo e outra maneira de produzir música pop, indo na direção quase oposta do que estava sendo feito que ela chamou a atenção. Depois disso passou por uma enxurrada de coisas muito nova, de se preocupar como se vestir, ter convites para trabalhar com os maiores produtores do mundo e um segundo disco vencedor de Grammy. Após ensaiar vir para o Brasil ainda em 2020, ela agora finalmente transforma esse sonho antigo do público brasileiro em realidade.
Headliner principal do dia com todos os méritos a maior dúvida era justamente se ela iria aguentar performar e cantar por mais de uma hora e meia com a tremenda responsabilidade de fechar o dia no Lollapalooza. Desafio maior se formos pensar que ela só tem 21 anos de idade. Billie por assim dizer é magnética, ela chega de mansinho e com um jeito todo leve entra com uma explosão de luzes psicodélicas que deixam tudo ainda mais futurista. Ela pode até não vir do futuro mas tem materializado coisas que poucos conseguem ao longo de uma carreira toda, imagina só em 4 anos após o debut.
Outro ponto a se observar é o product placement durante a apresentação. A cantora, inclusive, é patrocinada pela Air Jordan e entrou vestindo roupas da marca de Michael Jordan. No telão durante “my future” seu modelo de tênis, no qual tem a assinatura, aparece em destaque com o logo enorme da Nike, vale lembrar que a Adidas patrocinava um palco poucos metros dali.
Se você já teve a oportunidade de assistir ao “DVD” do seu mais recente álbum (Happier Than Ever) sabe bem como uma canção encaixa na outra de forma proposital e o que ela quer transmitir a cada passo. Ela aproveita a extensão do palco e também aproveita para utilizar o telão quando deita e a câmera faz o close. Só na primeira parte do show ela toca “bury a friend” (que abre o show), “Therefore I Am” e “Billie Bossa Nova”, o meio é composto pelo set acústico com direito a estreia ao vivo na turnê de “wish you were gay”, “i love you” e Your Power”.
Já a parte final é uma porrada de hits e medleys como “ocean eyes”, “when the party’s over”, “all the good girls go to hell” e a dobradinha final com “bad guy”, seu primeiro hit e “Happier Than Ever”, canção que fala sobre se desgarrar de um relacionamento abusivo. Claro que entre performar e cantar ela tem o auxílio em alguns momentos de um playback, nada que ofusque a apresentação, mas cantando baixo como ela faz, é até normal em algum momento a voz sumir.
This post was published on 29 de março de 2023 12:30 am
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