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Documentário “Pop Ao Reverso: A Trilha do Som Autoral” é lançado; confira entrevista com o diretor

Uma cena local, de uma distinta área paulistana, mas que serve de espelho para tantas outras cenas mundo afora dividindo sempre as mesmas aflições. A sobrevivência artística com muito improviso, pouca estrutura, mas uma paixão que supera todas as dificuldades. O amor pela música sempre moveu horizontes, originou festivais e fomentou culturas locais. Essa é a atmosfera do primeiro trabalho como diretor de Alex Santos – o cara por trás do projeto O Rastro do Som, no documentário “Pop Ao Reverso: A Trilha do Som Autoral”. Um trabalho realizado de forma totalmente independente.


Documentário “Pop Ao Reverso: A Trilha do Som Autoral”

Documentário “Pop Ao Reverso: A Trilha do Som Autoral”

Registrado entre 2013 e 2016, o documentário de média duração reúne entrevistas das bandas Ordinária Hit, Orange Disaster, Hitchcocks e Loomer em um momento decisivo onde esses artistas buscam se profissionalizar e revelam suas táticas de sobrevivência. Toda a cena subterrânea ainda é analisada pelo jornalista Marcelo Costa (Scream & Yell), a radialista Mariângela Carvalho, do curador Rodrigo Lariú (Midsummer Madness), do CEO Maurício Bussab da Tratore e da produtora cultural Inti Queiroz, compartilhando suas próprias experiências promovendo eventos e carreiras musicais em São Paulo.

O documentário busca trazer uma reflexão, mesmo que de forma descontraída, como ainda falta recurso e investimento na cultura mesmo em uma cidade tão plural e cosmopolita como São Paulo. Também escancara o triste fato da resistência da grande mídia em buscar novos nomes, novas tendências, e perpetuar essa repetição que também ecoa em pequenos blogs – as pequenas bolhas como regra, ignorando o que pode existir de mais interessante por aí.

“Se os meios de comunicação não apresentam o novo para o público, o público não vai chegar a ele”, diz Marcelo Costa

Essa reflexão também se aplica ao público: estamos realmente dispostos a pagar pelo trabalho do artista? Você costuma frequentar shows, comprar discos ou merchandising no geral? Mas não somente pelo apoio, realmente gostar do que está consumindo. Gostar de fazer parte daquela comunidade. Automaticamente você apoia o artista, mas a relação mais estreita entre público e artista torna uma cena mais frutífera e viável financeiramente.

“Eu odeio quando as pessoas falam: “Vou comprar pra dar uma força… Não quero que você compre um disco ou CD de qualquer banda do Midsummer pra dar uma força. Eu quero que você compre porque você gosta. Se você não gosta, não precisa comprar”, frisa Rodrigo Lariú


 

Rodrigo Lariú no trailer do Documentário “Pop Ao Reverso: A Trilha do Som Autoral”

Pop ao Reverso é um importante retrato das dificuldades de ser um artista ou produtor fora do mainstream, provando que a informação as grandes massas são centralizadas e tendenciosas.

Entrevista com o diretor Alex Santos

Conversamos com o diretor Alex Santos sobre a produção do projeto, os percalços de ser independente e futuro.


Cena do Documentário Pop Ao Reverso

Alex, esse é seu primeiro documentário como diretor. O que te moveu a produzir esse projeto sobre o subterrâneo paulista? Como diretor independente, você também enfrentou muitas dificuldades para dar vida a este projeto?

Alex Santos: “A ideia, a princípio, partiu de um projeto acadêmico na universidade. Na disciplina de introdução ao audiovisual, tivemos que produzir uns materiais para o site institucional e a rotina estimulou esse desejo que eu tinha mas que não sabia como conduzir.

Na verdade, ainda sigo no aprendizado…(risos). Falar sobre o “subterrâneo” foi algo natural porque eu já vivia isso e sabia onde encontrar as pessoas que eu tinha interesse em ouvir as histórias. Então, o trabalho, mesmo, foi apresentar a proposta e convencer o pessoal a participar. Essa etapa, até que foi fácil pois os convidados toparam logo de cara. A dificuldade maior naquele momento foi alinhar a agenda com eles – principalmente com as bandas – já que eu queria captar algumas imagens de ensaios ou shows.

Ainda sobre as dificuldades, a mesma premissa apresentada no filme: ter um trabalho que sustenta o sonho, deslocamentos (alguns eu sacrifiquei dias do trabalho “que paga as contas” para seguir com o objetivo), montagem e edição que fui aprendendo enquanto eu executava a obra, algumas burocracias relacionadas ao uso de imagem…tamanhos esforços que ainda não sei quais retornos darão sejam para o bem ou para o mal. Espero que seja para o bem!

Os registros foram realizados entre 2013 e 2016, como no próprio documentário consta “Em um momento distante anterior ao Impeachment e a pandemia”. Como você observa o cenário hoje após todos esses eventos? Você está otimista quanto ao futuro?

Alex Santos: “Acho que as mudanças já aconteciam neste período, mesmo, que você bem observou. Surgiram muitos selos novos e, junto a isso, muitos gêneros musicais mais alternativos que o convencional. Houve o reconhecimento profissional dessas cadeias, vários trabalhadores se tornando pessoa jurídica, a SIM São Paulo, proporcionando rodadas de negócios com vários agentes do entretenimento, entre outros. Hoje em dia, eu considero todos esses avanços fundamentais, mas ainda acho que o acesso à informação é limitado.

Há pouco acervo de dados e relatórios que orientem na compreensão da abordagem com vistas para os negócios. Além disso, há poucas interlocuções entre os meios, fazendo com que todo esse trabalho se restrinja apenas aos respectivos nichos de produção e consumo. Tudo isso, sem contar a pandemia, que atrapalhou a dinâmica dos trabalhos com cultura. Quanto ao futuro do cenário, acho que no final das contas ele sempre sobrevive porque as pessoas envolvidas resistem e se organizam.”

O documentário serve facilmente como reflexão para qualquer músico tentando se profissionalizar mundo afora. Mas sinto que ele tem uma abertura para novos temas e abordagens diferentes em outros episódios. Você planeja novos episódios documentais? Talvez uma série! Nos fale também sobre seu projeto O Rastro do Som.

Alex Santos: “Tenho um projeto de um spin-off mas tudo dependerá da repercussão do Pop Ao Reverso. Por ora, a única série paralela são as que falo dos bastidores da produção, que tenho soltado às quintas e aos domingos no Shorts, Reels e Tik Tok.

Sobre “O Rastro do Som” , eu criei essa plataforma para me conectar com grupos ligados à curadoria e audiovisual para a realização de projetos. Através dele, compartilho alguns dados e descobertas em música e filmes e, mas sem o compromisso exigido do jornalismo cultural.”

Com a experiência adquirida ao longo desses anos, qual conselho você daria ao músico/produtor iniciante que busca se profissionalizar?

Alex Santos: “Persistência. Muita persistência…não apenas na parte criativa, mas também na parte que envolve negócios e relacionamentos. São as chaves para o sucesso de qualquer carreira mas no rolê da cultura, é triplicado.”

Assista o Documentário Pop Ao Reverso: A Trilha do Som Autoral


This post was published on 6 de dezembro de 2022 10:00 am

Diego Carteiro

Apresentador do programa Ruído na Internova Radio, colaborador do Hits Perdidos. Entusiasta de shows e festivais e músico nas horas vagas. Siga o Hits no Instagram: @hitsperdidos

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