Uma cena local, de uma distinta área paulistana, mas que serve de espelho para tantas outras cenas mundo afora dividindo sempre as mesmas aflições. A sobrevivência artística com muito improviso, pouca estrutura, mas uma paixão que supera todas as dificuldades. O amor pela música sempre moveu horizontes, originou festivais e fomentou culturas locais. Essa é a atmosfera do primeiro trabalho como diretor de Alex Santos – o cara por trás do projeto O Rastro do Som, no documentário “Pop Ao Reverso: A Trilha do Som Autoral”. Um trabalho realizado de forma totalmente independente.
O documentário busca trazer uma reflexão, mesmo que de forma descontraída, como ainda falta recurso e investimento na cultura mesmo em uma cidade tão plural e cosmopolita como São Paulo. Também escancara o triste fato da resistência da grande mídia em buscar novos nomes, novas tendências, e perpetuar essa repetição que também ecoa em pequenos blogs – as pequenas bolhas como regra, ignorando o que pode existir de mais interessante por aí.
“Se os meios de comunicação não apresentam o novo para o público, o público não vai chegar a ele”, diz Marcelo Costa
Essa reflexão também se aplica ao público: estamos realmente dispostos a pagar pelo trabalho do artista? Você costuma frequentar shows, comprar discos ou merchandising no geral? Mas não somente pelo apoio, realmente gostar do que está consumindo. Gostar de fazer parte daquela comunidade. Automaticamente você apoia o artista, mas a relação mais estreita entre público e artista torna uma cena mais frutífera e viável financeiramente.
“Eu odeio quando as pessoas falam: “Vou comprar pra dar uma força… Não quero que você compre um disco ou CD de qualquer banda do Midsummer pra dar uma força. Eu quero que você compre porque você gosta. Se você não gosta, não precisa comprar”, frisa Rodrigo Lariú
Pop ao Reverso é um importante retrato das dificuldades de ser um artista ou produtor fora do mainstream, provando que a informação as grandes massas são centralizadas e tendenciosas.
Conversamos com o diretor Alex Santos sobre a produção do projeto, os percalços de ser independente e futuro.
Alex Santos: “A ideia, a princípio, partiu de um projeto acadêmico na universidade. Na disciplina de introdução ao audiovisual, tivemos que produzir uns materiais para o site institucional e a rotina estimulou esse desejo que eu tinha mas que não sabia como conduzir.
Na verdade, ainda sigo no aprendizado…(risos). Falar sobre o “subterrâneo” foi algo natural porque eu já vivia isso e sabia onde encontrar as pessoas que eu tinha interesse em ouvir as histórias. Então, o trabalho, mesmo, foi apresentar a proposta e convencer o pessoal a participar. Essa etapa, até que foi fácil pois os convidados toparam logo de cara. A dificuldade maior naquele momento foi alinhar a agenda com eles – principalmente com as bandas – já que eu queria captar algumas imagens de ensaios ou shows.
Ainda sobre as dificuldades, a mesma premissa apresentada no filme: ter um trabalho que sustenta o sonho, deslocamentos (alguns eu sacrifiquei dias do trabalho “que paga as contas” para seguir com o objetivo), montagem e edição que fui aprendendo enquanto eu executava a obra, algumas burocracias relacionadas ao uso de imagem…tamanhos esforços que ainda não sei quais retornos darão sejam para o bem ou para o mal. Espero que seja para o bem!
Alex Santos: “Acho que as mudanças já aconteciam neste período, mesmo, que você bem observou. Surgiram muitos selos novos e, junto a isso, muitos gêneros musicais mais alternativos que o convencional. Houve o reconhecimento profissional dessas cadeias, vários trabalhadores se tornando pessoa jurídica, a SIM São Paulo, proporcionando rodadas de negócios com vários agentes do entretenimento, entre outros. Hoje em dia, eu considero todos esses avanços fundamentais, mas ainda acho que o acesso à informação é limitado.
Há pouco acervo de dados e relatórios que orientem na compreensão da abordagem com vistas para os negócios. Além disso, há poucas interlocuções entre os meios, fazendo com que todo esse trabalho se restrinja apenas aos respectivos nichos de produção e consumo. Tudo isso, sem contar a pandemia, que atrapalhou a dinâmica dos trabalhos com cultura. Quanto ao futuro do cenário, acho que no final das contas ele sempre sobrevive porque as pessoas envolvidas resistem e se organizam.”
Alex Santos: “Tenho um projeto de um spin-off mas tudo dependerá da repercussão do Pop Ao Reverso. Por ora, a única série paralela são as que falo dos bastidores da produção, que tenho soltado às quintas e aos domingos no Shorts, Reels e Tik Tok.
Sobre “O Rastro do Som” , eu criei essa plataforma para me conectar com grupos ligados à curadoria e audiovisual para a realização de projetos. Através dele, compartilho alguns dados e descobertas em música e filmes e, mas sem o compromisso exigido do jornalismo cultural.”
Alex Santos: “Persistência. Muita persistência…não apenas na parte criativa, mas também na parte que envolve negócios e relacionamentos. São as chaves para o sucesso de qualquer carreira mas no rolê da cultura, é triplicado.”
This post was published on 6 de dezembro de 2022 10:00 am
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