Em junho deste ano, a Activision Blizzard reconheceu a criação do Game Workers Alliance (GWA), sindicato de games criado em maio pelos funcionários do controle de qualidade da Raven Software, estúdio que trabalha em jogos da série Call of Duty.
A empresa disse que negociará contratos com os representantes do sindicato após uma série de denúncias de seus funcionários. Em julho de 2021, segundo o Washington Post, a Activision foi processada por assédio sexual e acusada de má conduta, o que desencadeou diversas paralisações na empresa.
Em dezembro daquele ano, mais 60 funcionários fizeram uma greve contra a demissão de 12 testadores da Raven que receberam a promessa de que teriam aumentos salariais antes do ocorrido, conforme publicou a Game World Observer.
Os eventos se sucederem até a criação da GWA, que representa cerca de 28 trabalhadores e materializa o primeiro sindicato em uma empresa de jogos de grande porte dos Estados Unidos.
Desenvolvedores de jogos acusam empresas do setor por problemas trabalhistas há décadas. Reclamações por “crunch”, ou superexploração da carga horária de trabalho, são frequentes.
A prática do crunch é comum na indústria desde os anos 2000, conforme registro da Wired, impondo cerca de 60h a 80h de trabalho semanal antes do lançamento de um jogo. Mas pode extrapolar esse montante — funcionários da CD Projekt Red alegam ter sidos obrigados a trabalhar 6 dias por semana, por mais de 10h diária, meses antes do lançamento do jogo Cyberpunk 2077, em 2021, segundo a Polygon.
Movimentos mais sólidos direcionados à criação de sindicato de games ganharam forma na Game Developers Conference (GDC) de 2018, maior evento da indústria profissional de videogames. Na ocasião, a International Game Developers Association (IGDA) debateu sobre sindicalização, em tom anti-sindicalista, de acordo com a Vice. Em resposta, integrantes do Game Workers Unite (GWU) atuaram na GDC para organizar os trabalhadores que se sentiam insatisfeitos e ameaçados.
Ainda naquele ano, conforme repercussão do Tecmundo, o Reino Unido ganhou seu primeiro sindicato de games, que é um braço do GWU no país, com o objetivo de garantir a seus membros, de programadores a testadores, o pagamento por horas extras, salários mínimos, proteção contra assédios, entre outros direitos.
Segundo a publicação, os trabalhadores se uniram pela criação da GWU UK após relatos de que a Rockstar Games — empresa responsável por GTA, Red Dead Redemption e outros títulos — exigia horas extras dos seus funcionários sem remuneração.
No mesmo ano, ainda houveram acusações de práticas abusivas na Quantic Dream — responsável por jogos como Heavy Rain, Detroit: Become Human, entre outros —; de que a Riot, de League of Legends, mantinha um ambiente de trabalho tóxico e mais.
Em abril de 2022, um ex-funcionário acusou a Nintendo of America de rescindir seu contrato por envolvimento com sindicato. A reclamação, dirigida também à empresa de contratação Aston Carter, menciona intimidações como “ações coercitivas”, conforme revelou o Axios.
A Nintendo não reconhece o caso e afirma que o funcionário foi demitido por revelar informações sigilosas.
A indústria de games no Brasil cresceu nos últimos anos. De acordo com a Abragames (Associação Brasileira das Desenvolvedoras de Jogos Digitais), existem mais de mil estúdios de jogos no país em 2022 — em 2018, por exemplo, eram menos de 400.
Apesar do avanço, o setor ainda é pouco expressivo comparado aos Estados Unidos, que registrou 8,5 mil estúdios de desenvolvimento de jogos e 1.530 empresas distribuidoras de games em 2021, segundo pesquisa da Statista.
A disparidade entre as indústrias de ambas regiões traduz a ausência de sindicatos de games brasileiros. Entre registros de organizações de trabalhadores no país, o Hits Perdidos identificou que a GWU possui célula no Brasil e oferece suporte por meio do seu servidor no Discord, cujo acesso pode ser solicitado por meio deste formulário.
This post was published on 18 de julho de 2022 11:00 am
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