Mulamba e a calma inquieta em “Será Só Aos Ares”

 Mulamba e a calma inquieta em “Será Só Aos Ares”

Mulamba lança Será So Aos Ares – Crédito: Fábio Setti e Tamara dos Santos

Quatro anos após o sucesso de lançamento do seu debut autointitulado, a banda curitibana Mulamba lançou no final do mês passado, (24/06) seu segundo álbum, Será Só Aos Ares, explorando diferentes ritmos da música popular brasileira e com participações de artistas que vêm, também, chamando atenção na cena nacional: Luedji Luna, Kaê Guajajara e BNegão.

O grupo, junto desde 2015, é formado só por mulheres e tem como uma de suas características a forte abordagem de críticas sociais em suas músicas. Em 2018 lançaram o seu primeiro álbum, mencionado em diferentes listas de melhores do ano.

Para quem esperava que as artistas fossem seguir a mesma linha melódica “roqueira” do debut, o amadurecimento musical de Será Só Aos Ares vem como uma prazerosa surpresa musical.

“Entendemos a importância do grito, do desassossego do primeiro disco, mas agora a gente caminha pra um momento de respiro, de querer falar em outro tom.”, conta a vocalista, Amanda Pacífico

Sem deixar de lado guitarras e batidas aceleradas, o disco utiliza bastante instrumentos de sopro e elementos da música afro-brasileira, jazz e eletrônica. Já nas letras, a banda firma a sua voz imponente, falando sobre questões sociais e ambientais (“Pachorra do Dotô”; “Barriga de Peixe”), desejo feminino (“Phoda” e “Lascívia”), além de versos intimistas sobre relacionamentos (“Hemisfério”; “Samba Pra Nunca Mais”).

“Ficaram muito claras as referências de cada uma no disco.”, completa

O disco, lançado pela PWR Records, segue um caminho calmo para falar sobre problemas importantes – e faz isso com maestria, alternando canções aconchegantes com outras feitas para causar desconforto.


Mulamba lança Será So Aos Ares - Crédito Fábio Setti e Tamara dos Santos
Mulamba lança “Será So Aos Ares” – Crédito: Fábio Setti e Tamara dos Santos

Entrevista: Mulamba sobre “Será So Aos Ares”

Conversamos com Amanda Pacífico, uma das vozes do disco, sobre processo criativo, inspirações e amadurecimento musical no novo álbum.

As letras do “Será Só Aos Ares” têm elementos diferentes do debut. Há uma “transição” musical do desconforto ao aconchego de um álbum para o outro, mesmo tratando, também, de questões sérias. Quais vocês consideram as principais inspirações para isso?

Amanda: “Acho que nós mesmas olhamos aqui pra dentro e chegamos nessa conclusão.
Até pra falar das mazelas do mundo, pra conseguir se comunicar, a gente precisa estar bem mentalmente.
Num país que o caos toma conta, os sons são de gritarias da boca de quem queima de ódio, precisamos olhar pra dentro e agir com serenidade, no contrafluxo.’

O disco conta com participações que, junto da Mulamba, vêm ganhando espaço na cena musical nacional. Além disso, a escolha de cada um encaixou perfeitamente no som das canções. Como foi essa experiência? E a escolha dessas vozes para as músicas?

Amanda: “Para esse disco escolhemos vozes muito representativas no nosso cenário atual. Bnegão é um cara que influenciou toda a nossa geração. Quando eu tava fazendo “Bagatela”, já queria uma voz forte no meio somando na letra e acho que ele foi a cereja do bolo.

A gente já queria um feat com a Luedji faz tempo, por ela ser referência pra gente. E “Bença” era canção perfeita, pra trazer a experiência dela enquanto mãe pro tema e a sutileza da voz dela que a música pedia. E a Kaê deu uma aula em “Barriga de Peixe”, nada como a voz dela pra falar de um tema tão urgente e tão importante.”

Agora indo para o lado melódico, as texturas sintéticas e o uso de instrumentos de sopro remetem, respectivamente, a músicas eletrônicas e a sons puxados para o jazz. Além de muitas batidas afrobrasileiras. Esses estilos musicais foram muito consumidos no processo criativo do disco? Além desses, tiveram outros?

Amanda: “Na realidade esses ritmos são muito consumidos por nós desde sempre. Embora não estejam presentes no primeiro disco, dessa vez a gente teve tempo de maturar os sons.

Durante a pandemia a gente se internou bastante na imersão pra construção desse disco, o que possibilitou a nitidez desses elementos no trabalho final. Seja no drum’n’bass que a gente ouvia no início dos anos 2000, evidente em “Samba Pra Nunca Mais”, “Bagatela”, por exemplo, eu fiz no GarageBand, além de muita coisa atemporal da nossa música que nos inspira frequentemente como os sopros e a afro-brasilidade de Letieres Leite.”


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