Festival Turá celebra o poder dos encontros, a diversidade e a música brasileira em sua 1ª edição
Com proposta de reverenciar a música brasileira, a primeira edição do Festival Turá aconteceu nos dias 2 e 3 de Julho no Parque do Ibirapuera. Organizado pela T4F, o evento trazia vários questionamentos sobre como seria aproveitado o espaço, a capacidade de pessoas que iria abrigar em sua estrutura, qual seria sua identidade, como funcionaria a parte de serviços e a pontualidade de shows. Perguntas estas que eram prontamente respondidas logo na chegada ao local montado no entorno do Auditório do Ibirapuera em uma estrutura de festival médio.
A Estrutura do Festival Turá
Com apenas um palco central montado na estrutura do auditório postado para o lado de fora, o festival que aconteceu no gramado do parque passou por uma série de desafios dignos de primeira edição como por exemplo a dificuldade de conseguir sinal de internet o que atrapalhou bastante a comunicação e cobertura em tempo real por parte tanto da imprensa como dos encontros entre o público, talvez um dos principais pontos de conexão que um festival permite. Outro problema foi justamente os banheiros que proporcionaram filas de mulheres no banheiro dos homens, por conta da fila enorme que o feminino ocasionava (em alguns momentos ficando sem água) e as longas filas para pegar bebidas.
Os pontos positivos, no entanto, foram muitos. Com clima de domingo no parque, o ambiente reuniu gerações, algo que o line-up naturalmente proporcionava em sua essência. Chegar por lá e observar a estrutura mostrava um pouco do ambiente que priorizava a sustentabilidade tantos nos copos recicláveis entregues nos bares como também em um estilo de vida mais contemplativo com direito a redes montadas no entorno de árvores. Espaços de convivência procuram dialogar com o estilo de vida da geração z que vê cada vez mais estes eventos como espaços de convivência e de expressar seu viés ideológico.
Assim como o Lollapalooza (leia resenha) contempla um Lounge, por lá era possível encontrar o espaço Toca com a mesma proposta mas ao invés de tenda eletrônica, o conceito era espaço de música brasileira e conexão com a terra.
Quando o assunto era o que comer. Espaços gourmet eram avistados com serviços de restaurantes como o Bar da Onça, Mocotó e Bar do Mineiro. Cada um com pratos especiais no modo degustação e com o preço um tanto quanto salgado (variando entre 35 e 40 reais). Além dos dois tipos de Cerveja do patrocinador oficial (Colorado) que você encontrava por 18 reais você também tinha a opção da Bud (14 reais) da mesma empresa. Ativações de marcas de tônicas e de whiskey também eram possíveis de se avistar ao longo da extensão que também tinha uma tenda da marca de roupas que levava o patrocínio master da edição.
As Mudanças de Última Hora e os encontros
O festival passou por duas baixas nas vésperas de acontecer e a organização prontamente trouxe artistas a altura para compensar os fãs que aguardavam tanto as apresentações de Zeca Pagodinho e Mahmundi. No lugar do Zeca foi convocado o carismático Paulinho da Viola, já para substituir Mahmundi, Larissa Luz teve a responsabilidade de abrir o festival ao meio-dia em meio ao calor de um sábado de 26 graus.
A tônica do festival seriam justamente os encontros. Com Lagum e Mart’nália tocando em dias separados a música em conjunto acabou não ganhando feat no palco, o mesmo aconteceu no show do Emicida que provavelmente teria um feat com Zeca Pagodinho em “Quem Tem Um Amigo (Tem Tudo)”, faixa que o feat conta com o sambista e a banda de ska japonesa Tokyo Ska Paradise Orchestra.
Encontros de gerações que tiveram seu brilho na participação carinhosa de Nando Reis convida Jão em que puderam cantar juntos a música em parceria (“Sim”), além de “Dois Rios”, faixa composta por Samuel Rosa, Lô Borges, e Nando Reis presente no álbum Cosmotron do Skank. Baco Exu do Blues também reuniu em seu show participações de Marina Sena e Illy.
O lado interessante e ponto positivo também foi o conceito aberto do que é música brasileira, indo do samba, passando pelo rap, pop rock, latinidades, MPB, soul, som sistema, reggae entre outros ritmos tão brasileiros. Algo celebrado inclusive no show de encerramento do festival com o BaianaSystem em que a última apresentação na cidade tinha ocorrido em 2020 no Bloco Navio Pirata. Show este que trouxe também participação especial com direito a ativismo e conexão com os povos da América Latina.
Os Destaques do 1º Dia do Festival Turá
No line-up o primeiro dia reuniu Emicida, Paulinho da Viola, Duda Beat, Lagum, Xamã, Roberta Sá, Larissa Luz e os DJ’s Mulú, DJ Cinara, Dre Guazzelli, Pathy de Jesus e Santo Forte. O interessante foi justamente observar a dinâmica dos horários das apresentações que começavam pontualmente e já na última música dos shows era possível ver a produção já levando a cabine do próximo DJ que iria se apresentar, sendo assim o festival contava com a música como mestra de cerimônias ininterruptamente.
Lagum
O primeiro show que destacamos da programação é justamente o da Lagum, de Belo Horizonte. Os mineiros que em 2021 lançaram o álbum MEMÓRIAS (de onde eu nunca fui) traz em seu repertório os 3 discos até então lançados. Fenômenos do pop rock contemporâneo e com um público com seus 20 e poucos anos, como até mesmo a letra de “NINGUÉM ME ENSINOU” diz, o carisma do vocalista que com sua regata pula de um lado para o outro faz sua comunicação ser bastante fluída em meio a canções que como tema principal tem as conexões, os amores e dissabores de ser jovem.
Para uma geração anterior poder compreender mais sobre o aspecto pop do grupo, eles consegue trazer entre uma balada e outra mensagens de positividade assim como Charlie Brown Jr. e os conterrâneos do Strike faziam. Não é a toa que ambas citadas eram habitués nas trilhas sonoras de Malhação.
“Não Vou Falar de Amor” é uma das mais celebradas entre o público que canta todas e se sente a vontade para estabelecer uma conexão. Em certo momento, mesmo em baixo de um dia de veranico no meio do inverno, Pedro Calais declara que estão felizes em tocar em um festival no meio de uma tarde, visto que eles costumam sempre tocar durante as madrugadas nos festivais, isso antes de tocar “Musa do Inverno”. A Lagum esta num momento propício em termos de cenário musical e dialoga bastante com outro fenômeno pop, os curitibanos da Jovem Dionísio. Assim como os cariocas do Braza, o pop que fazem carrega elementos do reggae e a comunicação fluída com o público é um dos pontos altos.
O show ainda permite investir no cenário com direito a sofá onde os integrantes aproveitam para contracenar durante as músicas em um aspecto mais teatral em buscar uma experiência além do show. Já na pista é possível ver o clima de romance entre casais de jovens, entre uma balada e uma música mais agitada. Inclusive, eles optam por encerrar o show com uma canção que ensaia se tornar um hardcore, assim como o Charlie Brown tanto fazia. Um show de uma banda que caminha para seu auge e com o público no bolso, foi interessante justamente visualizar o intercâmbio de gerações entre pais e filhos que chegavam ao recinto.
Duda Beat
A pernambucana radicada no Rio de Janeiro, Duda Beat se apresentou por volta das 17 horas no Festival Turá. Acompanhada de um time composto por 16 pessoas entre músicos de apoio e dançarinas. Nos beats ela é acompanhada de Lux & Tróia que comandam o show efervescente e declaradamente pop.
O figurino, claro, não ia passar batido e ela entrou com um vestido brilhante colorido que poderiam remeter tanto a bandeira LGBTQIA+ mas como também ao mapa de calor. Já as dançarinas não ficavam para trás com vestido preto com o decote em formato de coração.
Bastante performático o show foi pautado por uma sequência de hits dos discos Te Amo Lá Fora (2020) e Sinto Muito (2018). Ela aproveita por politizar o show em certos momentos e o público corresponde em peso a cada manifestação contra o presidente. O interessante do show é observar a evolução da artista no palco e a teatralidade que trás para a apresentação que consolida o segundo disco com “Nem um Pouquinho”, “50 Meninas”, “Meu Pisêro”, “Mais Ninguém” e “Tu e Eu”. Já “Bixinho”, hit que colocou a artista no mapa, ganha uma versão estendida apresentando a versão normal e o remix com o duo executados em sequência.
O pôr-do-sol foi um feat à parte na apresentação e algo que Duda fez questão de exaltar assim como a lua que já aparecia no horizonte dando um tempero a mais a “sofrência” pop que a artista se propõe a apresentar nos palcos.
Paulinho da Viola
Inicialmente Paulinho da Viola não se apresentaria no Festival Turá mas o destino quis assim. O sambista teve a missão de substituir outro ícone do gênero, Zeca Pagodinho e a garantia de um excelente começo de noite no Parque Ibirapuera era uma certeza.
No auge dos 79 anos, Paulo César Batista de Faria, um grande entusiasta da escola de samba Portela, esta verdadeira paixão reverenciada ao longo da apresentação por mais de uma vez, o músico faz questão de protagonizar um show que faz um verdadeiro passeio pela sua história.
Carismático e com um show bastante cristalino, o espírito da gafieira se instaura no gramado do palco, em uma apresentação para toda a família e canções para cantar no pé do ouvido. Sem perder o swing, o gingado e o mollejo, ele lembra parte da história do samba com hits como “Coração Leviano”, “Timoneiro” com direito a backing vocals e “Para Ver as Meninas”.
É interessante como ele faz questão de ter como banda base companheiros de toda uma vida de uma carreira prestes a completar 60 anos de trajetória e devoção ao samba. O carisma reverbera até mesmo no veterano baterista que assim como o jazz não faz muita força para tocar mas consegue ter a batida pulsante sem perder a sintonia.
Em um dos momentos mais fofos do show Paulinho chama seus velhos companheiros de “rapaziada” mostrando que o estar no palco celebrando a vida rejuvenesce a todos. Um show que “aqueceu” de forma bastante interessante para o do Emicida que tem como o samba uma boa parte do seu repertório.
Emicida
Um dos momentos mais aguardados do dia era definitivamente a apresentação do rapper paulistano Emicida que saudou o reencontro com o público da cidade em que nasceu. O show fez um caminho interessante em manter o clima de samba que Paulinho da Viola deixou pairando no ar, o que fez a primeira parte da apresentação ser calcada no estilo. Com direito a claro, a execução de “Quem Tem Um Amigo (Tem Tudo)” que celebra os encontros entre os amigos durante o Festival Turá. O fator unir brasis transparece quando toca “AmarElo” (Sample Sujeito de Sorte) que tem participação na gravação do disco de Pabllo Vittar, Majur e o finado Thiago Jamelão, esta na qual é ecoada pelo público presente. Na primeira parte a sensível “A Ordem Natural das Coisas” também integra o bloco.
Sempre preciso em suas colocações o músico não deixa de lado a parte de ativismo, de relembrar as origens e espírito aguerrido das batalhas do dia-a-dia. O músico tem momentos mais politizados e deixa o lado mais agressivo do rap e de suas rimas para a segunda parte do show em um momento importante e simbólico do festival.
Com a polêmica de Nelson Piquet que mais uma vez lamentavelmente teve uma atitude racista em relação ao piloto britânico Lewis Hamilton, ele aproveitou para ironizar a situação de forma veemente e com postura firme. Ele começa vociferando “Neguinho é o Caralho” e na sequência se refere ao ex-piloto de fórmula 1 como “Chofer de Jumento”, visto que este costuma se posicionar à favor do atual presidente da república com certa frequência e defende pontos de vista polêmicos.
Pixinguinha foi homenageado com as músicas “Carinhoso” e “São Pixinguinha”, e Wilson Simonal com Tributo a Martin Luther King. “Pantera Negra” também levanta as bandeiras e empodera durante a apresentação.
Em um dos momentos mais firmes do show durante a execução de “Eminência Parda”, faixa que tem participação em estúdio de Dona Onete, Jé Santiago e Papillon, ele abre o microfone para Dj Nyack poder rimar sendo um momento interessante da apresentação. Já em seu trecho final ele traz a intensa “Ismália”, faixa que tem participação de Larissa Luz, que inclusive se apresentou no começo do dia, e Fernanda Montenegro.
Com espírito de comunhão e união em prol de quem está do lado no “corre” ele finaliza com “Principia”, faixa que tem participação do Pastor Henrique Vieira, Fabiana Cozza e as Pastoras do Rosário, deixando uma mensagem positiva para quem naquele ponto da noite se despedia do evento.
Os Destaques do 2º Dia do Festival Turá
No line-up o segundo dia reuniu BaianaSystem, Nando Reis convida Jão, Baco Exu do Blues convida Marina Sena & Illy, Alceu Valença, Mart’nália, Luísa e os Alquimistas, Baby e os DJ’s Deekapz, Eu Vou Chamar o Síndico, Forró Red Light, Pardieiro e DJ Th4ys.
A proposta em choques de Brasis neste dia pareceu se aflorar ainda mais com Baco e Baiana trazendo o espírito da Bahia, Alceu um pouco de Recife, Mart’Nália o gingado carioca, Luísa um pouco do bregafunk de Natal e o encontro de gerações entre o hit maker Nando Reis e o novato Jão.
Mart’Nália
Há duas semanas estivemos no Festival Forró da Lua Cheia e o line-up dos festivais tinham algumas coincidências algo que já falamos nesta matéria especial sobre a Curadoria dos Festivais Brasileiros, entre eles Mart’Nália, Luísa e Os Alquimistas e Alceu Valença eram nomes que se repetiam. Por isso o setlist não foi muito diferente da apresentação no interior de São Paulo.
Ela abre com a versão de “Don’t Worry, Be Happy”, canção originalmente composta pelo norte-americano Bobby McFerrin em uma versão à brasileira e cheia de gingado e tem seu repertório calcado em grandes interpretações da música brasileira. Muitas delas em que ela participa do processo. O show tem essa perspectiva de trazer o amor e sua energia magnética para frente do palco entre uma interpretação de clássicos de nomes como Paulinho Moska, Caetano Veloso, Vinicius de Moraes e Toquinho, além da versão para “Eita Menina”, parceria com a Lagum que tocou no sábado.
A emoção em “Pra Que Chorar” é um convite para que o público se entregue as novas paixões após ter o coração partido e em certo momento “Mulheres” de Martinho da Vila equaliza colocando o público para sambar. Com carisma em alta ela troca carinho com o público e impressiona pela potência da extensão da sua voz em um show leve – e agradável de meio de tarde. Outro momento interessante é a interação com o público durante a apresentação de “Tonga na Mironga”.
Alceu Valença
Outro show que vimos recentemente mas em outro formato foi o de Alceu Valença, no outro festival pudemos assistir ao lado de Geraldo Azevedo no show d’O Grande Encontro. Desta vez ele no formato solo fez uma apresentação que fez o público embalar dancinhas e casais perderem a timidez ao som dos seus clássicos. Aliás, “Girassol”, “Anunciação” e “La belle de jour” não deixam de fazer parte do repertório que ainda conta com homenagens ao amigo de longa data Geraldo Azevedo.
“Pagode Russo”, Vem Morena, “Táxi Lunar”, “Tropicana” já na parte final do show fizeram o público cantarolar e idolatrar o músico que a todo momento cobrar o público para que cantem junto. Seu carisma é algo intenso e ver com a banda completa deixa ainda mais encorpado seus clássicos.
Baco Exu do Blues convida Marina Sena & Illy
Já no fim da tarde e já adentrando a noite quem sobe no palco é o rapper Baco Exu do Blues em show que se apresenta como mestre de cerimônias e onde as backin vocals e participações especiais acabam tendo maior protagonismo. O lado teatral do coro gospel que o acompanha dá ainda mais emoção para as faixas executadas ao vivo. Tendo espaço para se posicionar sobre injustiças e também para falar sobre amor com poucos filtros. Inclusive, o seu quarto álbum, QQVJFA, lançado neste ano, divide o repertório com o cultuado Bluesman (2018).
O lado mais sedutor aparece em “20 Ligações” e “Hotel Caro”, faixa em parceria com Luísa Sonza. Hits como “Flamingos” e “Me Desculpa Jay Z” acabam marcando presença em um show que também tem seu momento de reflexão e solitude em meio a singles como “Samba em Paris” que mostra um lado mais sensível do músico ao lado de “Lágrimas” parceria com Gal Costa que no palco do Festival Turá ganhou o feat com Illy.
A baiana também participa em conjunto em “Quente Colorido” com a mineira Marina Sena, em momento em que Baco sai dos holofotes para dar o centro do palco para as mulheres. Sena ainda canta “Por Supuesto”, hit do TikTok e é possível ver pessoas correndo para a frente do palco durante a execução. Para o feat ficar completo, ele retorna ao palco e ao lado de Marina e Illy canta versão para “Te Amo Disgraça” encerrando a apresentação que ainda soa arrastada mas que tende a ganhar corpo nos próximos festivais.
O interessante é mesmo ver a evolução de um show morno do segundo disco de estúdio em 2019 para uma espécie de show onde ele encarna o próprio Damon Albarn e abre espaço para que os convidados brilhem. Uma passagem de bastão interessante capaz de conectar gerações de um músico que lançou disco no meio da pandemia e não cansa em buscar renovação artística.
Nando Reis convida Jão
Assistir a uma apresentação de Nando Reis é uma viagem no tempo de um artista que ilumina os palcos há 4 décadas. Dos tempos dos Titãs passando por uma prolífera carreira como compositor e artista solo, o músico é um verdadeiro hit maker de mãos cheias em uma trajetória bastante íntegra e respeitada na música brasileira. E ele não deixa de reverenciar justamente pela forma que constrói o seu show passando pela entrada com “Marvin”, eternizada no começo de carreira com os Titãs que ao lado de “Cegos no Castelo” traz uma nostalgia forte.
Sua eterna amiga do coração Cássia Eller também é homenageada durante a apresentação quando toca “Segundo Sol”, ele ainda dedica “All Star” para ela. A faixa “Onde Você Mora?” parceria de Nando e Marisa Monte, que ganhou versão mais recente ao lado da Melim, também integra o show. Ao lado do filho, Sebastião Reis, ele ainda toca “Dona”, “Pra Você Guardei o Amor” e “Por Onde Andei”, o que faz com que hits se estendam por toda a apresentação.
Sempre politizado ele aproveita para dizer “Espero que Esse Governo Acabe” em desabafo durante uma das suas canções, logo após o público puxou protestos contra o governo em coro uníssono. Jão sobe ao palco com camiseta brilhante de lantejolas para tocar “SIM”, feat em parceria composto para o festival e disponibilizada recentemente nas plataformas de streaming, a parceria no palco também deu espaço para o jovem músico cantar seu maior hit até o momento “Idiota”.
Fazendo assim um intercâmbio de gerações e agradando os pais e filhos presentes na plateia. “Dois Rios”, composição de Lô Borges, Nando Reis e Samuel Rosa também tem espaço no repertório e no palco do Turá ganhou a presença de Jão no feat. A parceria com o Jota Quest “Do Seu Lado” também tem espaço já na última parte da apresentação – e ele aproveita para cutucar novamente o senhor que ocupa o planalto puxando um “Fora Bolsonaro” prontamente ecoado pelo público de um festival que ao longo de dois dias reuniu 26 mil pessoas.
BaianaSystem
Para encerrar a primeira edição do Festival Turá estava escalado o BaianaSystem que tratou de aproveitar a ocasião para realizar um show temático e empoderando a nossa latinidade e raízes sulamericanas. Algo que Russo Passapusso reforçava por diversas vezes durante a apresentação que prendia a tensão com um telão com direito a cores, palavras de resistência, simbolismos e diversos conceitos que unem história, vivacidade e movimentos de contracorrente.
O manifesto pelos indígenas da América do Sul dá o tom do começo do show com direito a participação especial e dizeres em espanhol para elucidar como somos todos irmãos da mãe terra, isso mesmo antes da entrada de Passapusso no palco.
O disco de 2016, Duas Cidades, assim como O Futuro Não Demora, acabam funcionando como ogivas nucleares e mostram o grande arsenal do grupo. Conforme o show vai caminhando, o tamanho das rodas vão aumentando progressivamente ao longo da apresentação que tem hits entre os fãs como “Cabeça de Papel” com o público mascarado acompanhando, “Capim-Guiné” que transforma o Festival Turá num grande caldeirão junto a “Saci” que traz símbolos de resistência e união de uma América Latina Livre – e utopicamente unida – no telão psicodélico.
O sulamericano acaba exaltado e o vocalista não deixa de vociferar que não devemos abaixar a cabeça para norte-americano. A apresentação acaba se estendendo e canções como “Duas Cidades” e “Dia da Caça” também contemplam o setlist de um show potente, e repleto de bandeiras, de uma banda que a cada lançamento se consolida como vanguarda dentro da música brasileira.