Sessa mantém a “Estrela Acesa” em seu segundo álbum

 Sessa mantém a “Estrela Acesa” em seu segundo álbum

Sessa lança Estrela Acesa – Foto Por: Helena Wolfenson

Sessa lança Estrela Acesa via Mexican Summer

Fundador do grupo de psych-funk Garotas Suecas, Sergio Sayeg a.k.a Sessa, lança agora seu segundo disco solo produzido pelo próprio e também pelo baterista amigo de longa data Biel Basile (O Terno / Maurício Pereira) com lançamento pelo selo americano Mexican Summer. O sucessor de Grandeza (2019), traz em suas 12 faixas a musicalidade tropical, sedutor, ao mesmo tempo silencioso e melancólico.

Foi concebido durante o isolamento de 2020 por conta da pandemia de COVID-19, carregando incertezas do futuro e noticiários trazendo todos os dias as péssimas notícias de um governo fascista. Entre essas dualidades de sentimentos, a alegria sensual narra o fim dos tempos.

Apesar de Estrela Acesa, seu novo disco, ser apenas seu segundo registro, Sessa já tocou em grandes festivais mundo afora como Desert Daze, Brasil Summerfest, Le Guess Who? Festival na Holanda, Tremor Festival em Portugal, já se apresentou na TV Dinamarquesa com a participação da orquestra de jazz da rádio pública de Copenhagen, e ainda fez uma sessão na grande rádio KEXP de Seattle.


Sessa lança Estrela Acesa - Foto por Helena Wolfenson
Sessa lança “Estrela Acesa” – Foto Por: Helena Wolfenson

Entrevista: Sessa sobre Estrela Acesa

Conversamos com Sessa sobre seu novo disco “Estrela Acesa”, composições, sentimentos e mais.

Você nasceu em uma comunidade judaica em São Paulo com uma família que não era muito musical. Sua educação musical se deu início nas Sinagogas com os cânticos, rituais e as melodias. Qual foi o momento em que conseguiu quebrar essa bolha e ter o interesse em formar projetos diferentes do que estava acostumado?

Sessa: “Acho que, simbolicamente, depois do ritual judaico no qual o judeu é dado voz, que é o bar mitzvah. Você aprende a cantar para que, uma vez atingida a maioridade judaica, você possa abençoar a comunidade, antes disso é como se sua voz não contasse. Quando passou a contar eu fui saindo, não chamaria minhas primeiras incursões fora do gueto de “projetos”, mas eu já tocava um pouco de violão nessa época, comecei a fazer amigos na música, montar bandas, etc.”

O novo disco “Estrela Acesa” soa melancólico, mas ao mesmo tempo ensolarado, tropical. Foi composto em momentos turbulentos de pandemia, isolamento e fascismo, mas também traz um conforto como na faixa “Gostar do Mundo” que brinca com as dualidades dos sentimentos. Poderia nos falar um pouco mais de como aconteceu o processo de composição?

Sessa: “Acho que a parte da sonoridade do disco, banda, vozes, cordas foi uma coisa que eu fui desenvolvendo meio instintivamente, indo atrás de um som como quem persegue um perfume, sei lá, eu sabia que queria trabalhar com orquestrações, mas não manjo nada desse mundo mais formal da música, no final, uma coisa puxou a outra. As cordas meio que pedem um chão, porque são muito aéreas e dinâmicas, o violão, meu jeito de cantar é tudo meio mântrico, meio na mesma, então, pra equilibrar isso eu cheguei nesse som de baixo e bateria.

O disco, a música e o show formam um tipo de ecologia, de alquimia, e as energias tem que se regularem. Agora, na parte da composição, eu dei uma penada pra escrever, acho que a gente viveu no primeiro choque pandêmico uma coisa de absorver doses muito altas de realidade, de notícias, de gráficos, curvas, números, e a poesia ela ilude, dribla um pouco a certeza dos números, então, eu demorei um pouco pra conseguir afrouxar esse laço apertado da realidade e escrever…mas eu também meio que tinha que terminar o disco por uma série de prazos e datas, que por sua vez são números, então, no fim tudo certo com eles também, tudo nota dez (risos).”

As meninas da banda Pato Preto colaboram com você desde seu primeiro disco “Grandeza”, excursionando pelo mundo todo, até passando pela rádio de Seattle KEXP. Como aconteceu essa parceria? Aproveitando, compartilhe um pouco sobre a experiência de um artista brasileiro tocando numa radio gringa como a KEXP.

Sessa: “Sim, o Pato Preto é um acontecimento, uma inspiração muito grande e uma parte da semente inicial do “Grandeza”. As cantoras do Pato Preto são amigas da minha namorada, Helena, eu conheci o trabalho delas quando estava começando a arranjar as músicas do Grandeza e as convidei pra cantarem em uma música.

Elas, então, vieram no estúdio e a gente gravou “Toda instância do prazer” na versão que tá no disco, a partir daí a camaradagem foi se estendendo pra shows e o resto do disco. A banda tem um lance muito forte de serem pessoas cantando, a voz da pessoa cantando, não necessariamente a voz treinada, a voz profissional, é a voz amadora no sentido de ser a voz que passa pelo coração pra sair, e eu acho que essa mistura de vozes com caminhos que passam, às vezes, mais e às vezes menos pela educação formal é muito bonita, ouve-se a beleza que tem nisso, as pessoas reagem a essa voz mais solta, é muito evidente.

Isso me remete de volta à sinagoga, apesar de a sinagoga de onde eu vim ser um ambiente extremamente machista, as vozes ali não são de cantores, são de gente rezando e isso me formou num lugar primeiro. Nem todas as cantoras com quem eu trabalhei fizeram parte do Pato Preto, só a Lia, Sofia, Paloma e Laura.

Na KEXP as cantoras são a Talita Nascimento, Sabine Holler e Monique Maion e no “Estrela Acesa”, Laura e Paloma, do Pato Preto, se somam à Ciça Góes e Ina.



O bielorrusso Alex Chumak foi um dos arranjadores do novo disco, junto do estadunidense Simon Hanes. A história com Alex Chumak foi um tanto quanto inusitada que acabou dando certo. Pode nos contar essa história? Esse foi seu primeiro contato com ele?

Sessa: “Alex é um músico de vinte e poucos anos muito especial, quando começamos a trocar ideia ele morava em Minsk na Belarus, mas, por conta de complicações na região, devido à Guerra na Ucrânia, ele se mudou para Varsóvia, na Polônia. Ele é um cara que mergulhou muito fundo na sonoridade do Milton, e tudo que se desdobrou ali depois do Clube da Esquina, Wagner Tiso, Toninho Horta, Novelli, etc.

Um dia, um tanto depois de ter saído o Grandeza, eu recebi um email dele dizendo que ele tinha uma banda chamada Soyuz em Minsk, que curtia meu som, se eu queria fazer alguma coisa juntos e mandou colada no email uma foto da banda dele, que eram uns cara meio torto, meio grandão subindo numas árvores, achei bem esquisito e fui ouvir, tinham umas músicas com um som de cordas lindo e a nossa colaboração foi indo.”

A capa de “Estrela Acesa” assinada por Joshua Nazario lembra muito a do disco auto-intitulado Purple Mountains, projeto de David Berman. Inclusive acredito que ambos os discos possuem aspectos em comum. Quais foram suas referências para sua concepção estética?

Sessa: “Eu acho que essa capa em que o símbolos aparecem chapadões, traz uma coisa das pinturas medievais, pinturas do judaísmo místico, imagens das tábuas da lei, dos mandamentos onde página é meio organizada por arquiteturas, meio desenho meio texto. Quando a gente perde a representação por perspectiva, a página é mais passível de ser lida como texto, acho que essa viagem foi um pouco o que informou a disposição assim de elementos em grade, em tabela.

Agora, sobre o processo de escolha dos símbolos foi através de mergulhar no processo com o Nazario, estudar a obra dele encontrar ícones no simbolismo que ele faz e trazê-los pro meu universo. O piano torto, por exemplo, tem a ver com o que eu estava falando sobre driblar a educação formal em música seja na voz, seja nas orquestrações que estão no meu disco.”

O disco tem diversas faixas que compartilham dos sentimentos desoladores que muitos experimentaram nesses últimos anos, como “Dor Fodida”, ainda escrita em tempos de isolamento. Como é sua relação a essas lembranças quando toca essas músicas ao vivo? Existe aquela situação em retornar aquele momento que compôs?

Sessa: “Acho que sim, mas não exatamente do ponto de vista do tipo “nossa estava triste quando escrevi, deixa eu acessar essa tristeza pra fazer uma performance autêntica”, eu nem sei se estava triste, estava sob essas intensidades do nosso mundo (risos). mas sim, acho que a obrigação de quem se coloca na posição de músico em frente a um público requer uma atenção aos estados e acessar algum estado entre a leveza e a responsabilidade de quem toca na música é um pouco parecido no compor e no fazer show.”

Falando em shows, teremos uma turnê brasileira de “Estrela Acesa”?

Sessa: “Teremos! Vamos anunciar nas próximas semanas os primeiros shows no brasil que devem acontecer em novembro desse ano.

Sessa Estrela Acesa


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