Jandaia cria sua própria forma de fazer pop em debut; Ouça “Estrago”
De Florianópolis (SC), a Jandaia é composta por Victor Fabri (Frabin), Murilo Salazar, Idyan Lopes (Rascal Experience) e Lucas Prá e nesta quinta-feira (07/04) apresentam seu álbum de estreia, Estrago. O lançamento capitaneado pelo selo paulista Cavaca Records foi orquestrado durante o período da pandemia o que para eles em si foi uma facilidade integrantes por morarem juntos.
Com bagagens de experiências e gostos diversos, a forma de traduzir o pop deles e de abraçar todas as peculiaridades de cada um foi um quebra-cabeças que os integrantes abraçaram com todas as forças. Tanto é que as composições, mesmo que algumas partindo de um ou outro membro da banda, acabavam sendo realizadas de forma coletiva como eles mesmos comentam em entrevista exclusiva para o Hits Perdidos.
“Fazemos música brasileira e um pop sem fronteiras trazendo toda a carga musical e cultural que adquirimos nos últimos anos, sendo colocada em prática desde que Jandaia nasceu, em meados de 2019”, conta o quarteto
O Jeito de fazer Pop da Jandaia
O “Pop da Jandaia” vai do funk carioca, pop, R&B, passando pelo hip-hop, brega e indo ao indie sem problemas. Ouvir o disco é também um pouco de se permitir adentrar a esse universo plural do grupo. “Gaia”, por exemplo, traz o brega e até mesmo nos leva para a atmosfera Raf Eletronics do pagode dos anos 90 e já emenda com “Ei Mulher”, com camadas de dream pop, espírito tropical e beats de funk carioca em uma letra explicitamente romântica.
Já o hip hop dá as caras em “Grude”, “Vai e Vem” e “Afogar” – esta última, ainda mais lo-fi, traz metais deixando ela com características jazzy e upbeat. O pagodão baiano aparece em “Baile”.
“Estrago”, faixa título do disco, vai beber do colorido do pop dos anos 80, com direito ao lado solar do groove, o espírito reverberante do funk – aquele lá da Motown – e traz consigo até mesmo alguns teclados à la Toto. “Plano Certo” entra na cota de baladas que acredito que pelo jeito irreverente irão agradar até mesmo fãs de Julio Secchin e da banda Biltre. Já “Bandeira Dois” tem teclados que nos levam para as trilhas dos videogames de 16-Bits.
“Movimento”, por sua vez, é definitivamente um hit perdido dentro do disco. Com baixo envolvente, refrão chiclete e teclados cintilantes, ela parece estar pronta para ganhar um mix para as pistas e nos leva “de carona” para o rolê. “Teu Jeito” soa como um remix eletrônico desacelerado e embala o trecho final do disco com direito a guitarras cortantes nos deixando com expectativas para os próximos passos dos catarinenses.
Entrevista: Jandaia
O álbum leva o nome de estrago, como chegaram no nome e como ele se encaixa dentro do conceito do disco? E falando em Brasil, para vocês qual tem sido o maior estrago nos últimos tempos?
Jandaia: “Estrago é o nome de uma das faixas do disco, o nome nos veio antes através da faixa e depois transferimos ele para o nome do álbum justamente pelo motivo de que combinava com o conceito geral de ter todas aquelas músicas juntas em um único trabalho. Elas são bem diferentes entre si porém se conversam muito bem ao mesmo tempo. É um ”Estrago” organizado. Além disso nada melhor do que um estrago pra estrear.
Dos últimos tempos é muito claro que o maior estrago, não apenas no Brasil mas no mundo, foi a pandemia. Longe de nós também dizer que isso foi uma coisa boa mas o fato de termos passado tanto tempo juntos (Moramos juntos) foi essencial pra criar esse trabalho. Basicamente tiramos dessa situação bastante ruim algo que pudesse ser bom, não somente para nós, mas para todo mundo que nos acompanham.
Esperamos muito que o maior Estrago dos ”próximos tempos” seja unicamente esse trabalho que criamos com muito suor e carinho.”
Vocês vão do funk, pop, R&B, passando pelo hip-hop, brega e indo de indie. Como funcionou para vocês criar com tanta liberdade logo em uma estreia? Aliás, como observam a mudança de consumo da música nos últimos anos e a procura por vibes?
Jandaia: “Nós 4 dentro do Jandaia possuímos uma “formação” musical bem diferente um do outro. Apesar de nos conhecermos há praticamente uma década, foi uma experiência bastante incrível trazer tudo o que já conhecíamos pra criar algo genuíno. Somos brasileiros e essa liberdade artística está nas ruas do nosso país e consequentemente no nosso sangue. Foi proposital trazer tudo isso pro conceito que é o Jandaia, no entanto nem sempre fácil. Estamos extremamente satisfeitos com o aproveitamento de todos os dias e noites que passamos pra cria-lo e o resultado está absurdamente incrível.
A mudança no consumo da música é algo que sempre foi esperado apesar de ter uma baixa previsibilidade na maioria dos casos. Poderíamos reclamar disso e fazer mais do mesmo mas seríamos hipócritas pois sem essas mudanças muitos artistas fodas que vem aparecendo não teriam espaço nem oportunidade pra mostrar o trabalho pro mundo. É diferente de ter que “ser descoberto” pra ter uma carreira musical ou o que quer que seja. Podemos até dizer que o consumo está indo pra um lado mais rápido com todo esse papo de velocidade de informação e indústria, mas isso também significa liberdade. Preferimos ficar com essa ótica.”
Aliás, como observam a música pop atual e o que mais fascina vocês nela?
Jandaia: “A música pop é popular. Ela tem um objetivo bem claro de fazer com que qualquer pessoa possa ouví-la e criar sentimentos diante daquilo. Isso é inclusive algo muito presente no álbum, fazemos música para as pessoas ouvirem e se identificarem, criarem um sentimento dentro daquilo, se enxergarem diante das letras e trazerem as melodias pra dentro de suas vidas. É um embalo de mãe (risos).”
Vocês já tiveram projetos anteriores, como veem que a bagagem de experiência ajudou a construir tanto o disco como a estratégia nos bastidores?
Jandaia: “Foi essencial. Depois de tanta tentativa e erro, sabemos exatamente o que NÃO FAZER.
Foi necessário entender que a primeira regra é levar a sério o que está sendo feito.
O comprometimento, o valor do suor, JAMAIS deixar qualquer tipo de dificuldade baixar a energia (Isso a gente tira de letra), entender que nem sempre conseguimos agradar todo mundo e que falar até o papagaio fala. Aprendemos com tudo isso, fazendo com que criássemos uma atmosfera com um potencial positivo para o Jandaia, que é atualmente o motivo pelo qual acordamos todos os dias.”
Quais as músicas favoritas de cada um de vocês dentro do disco e porque?
Idyan: “Estrago. Ela tem uma levada marcante, um ritmo envolvente e dançante.”
Salazar: “Vem e Vai. Essa música tem praticamente tudo que precisa ter.”
Prá: “Teu Jeito. Ela é a mais diferente do álbum, uma vibe mais calma.”
Fabri: “Ei Mulher. É Jandaia em sua essência.”
Em termos de composição, quem assume esse papel na banda? E qual composição bate mais forte em termos de significado para vocês? Tem alguma história ou vivência que foi marcante eternizada?
Jandaia: “Compomos juntos, e mesmo quando isso ocorre de maneira individual, nos reunimos, sentamos e trabalhamos nelas. Isso é parte da mágica e é fácil diante do entrosamento que temos. Elas tem significado diferentes pra nós, mas na parte da criação temos um consenso comum pelo fato de trabalharmos juntos. “Baile” e “Plano Certo” talvez sejam músicas que enxergamos de maneira diferente uma vez que elas são filhas legítimas desse tempo em que estamos aqui. As outras, pelo menos a ideia matriz de cada uma, já vem lá de meados de 2019.
História marcante são praticamente todas até o momento, parece que quando se trata da gente nada ocorre de maneira normal mas a que SEMPRE guardaremos com muito carinho foi o tempo em que estivemos durante a campanha do Catarse em 2020.
Madrugadas inteiras chamando a galera nas redes sociais, fazendo lives, trazendo pessoas pra conhecer nosso trabalho sem ter a mínima ideia de quando toda essa situação da pandemia acabaria e ainda sim tendo sucesso nos objetivos.”
Como observam o atual cenário da música catarinense e quais artistas destacariam da cena?
Jandaia: “A quantidade de artistas com trabalhos incríveis aqui em Santa Catarina é MUITO grande! Muita banda correria, artistas fodas na ativa: Jean Mafra, Bizibeize, Ponto Nulo no Céu, Makalister, Zé Otávio, enfim, galera que faz por onde. Estamos envolvidos com música aqui há muito tempo e conhecemos muita gente foda. Por falar nisso, um senso comum dentro do Jandaia é de que a Carinae deveria voltar.”