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“Meu plano maligno é bombar ‘Bumbum de Homem'”, deseja Juvi

Pude conhecer o trabalho de Juvi ainda com seu antigo projeto Sasha Grey As Wife, no qual pudemos conversar sobre seu segundo disco, este com diversas críticas a sociedade conservadora – e olha que o pior do país ainda estava por vir. De lá para cá muita coisa mudou, deixou Volta Redonda (RJ) para trás e continuou produzindo música para trilhas de games entre outros projetos. Mudou-se para São Paulo e da produção de conteúdo no Youtube acabou migrando para o TikTok. Algo que conta justamente que foi algo que acabou experimentando como público e posteriormente neste segmento.

Multi-conteudista, em seu canal no YouTube fala sobre música e comportamento, e mais recentemente no TikTok brinca com as possibilidades da plataforma analisando obras de arte renascentistas e de vez em quando provando comida industrializada de procedência duvidosa.

Aos 30 anos, e sem querer aparentar mais jovem do que é, Juvi lança nesta sexta-feira (11) o álbum Músicas pra Ex, Vol 1: Só Gatilho Foda, se aventurando por diferentes referências e possibilidades que vão do Hyperpop, passando pelo emo, tecnobrega, funk carioca e até mesmo o synthpop. Entre as referências mais explícitas estão os contemporâneos 100 gecs, Sophie, Grimes e Charli XCX.

O álbum conta com a participação de Arthur Mutanen, vocalista do Bullet Bane na faixa ‘Queria Enviar uma Variante Minha Pra te Conhecer Ano Passado’ que tem letra escrita por Vitor Soares da banda de hardcore All The Postcards e é host do podcast História em Meia hora.

Outra colaboração em letras foi do músico Vitor Brauer (Lupe de Lupe) na música ‘Piscina’. Além também da participação do guitarrista Martin Mendez (Pitty) na música ‘Sapo Cyborg Gladiador’ que nasceu de um desafio no TikTok, história que Juvi conta em entrevista exclusiva para o Hits Perdidos.

Juvi lança o disco Músicas pra Ex, Vol 1: (Só Gatilho Foda)Foto: Divulgação

Entrevista: Juvi

Como surgiu esse novo projeto e como foi ficar um bom tempo sem produzir um material próprio?

Juvi: “Os meus dois últimos anos musicais foram focados em fazer a trilha sonora do RPGOrdem Paranormal’ do Cellbit que é transmitido na Twitch. Muita gente ali conheceu minha música e nesse projeto consegui expressar mais das minhas origens musicais que vem da música ambiente, do metal extremo e do noise.

Daí durante esses dois anos enquanto eu criava essas músicas longas, lentas e tenebrosas eu precisei ter uma fuga experimentando sintetizadores, batidas com uma energia positiva e tentando não levar a sério esse meu outro lado autoral pra contrabalancear as energias musicais. E talvez por isso que são as músicas mais diferentes e solares que já fiz na vida, elas vieram como desafio de ir até onde nunca fui musicalmente. Foi o ano que mais fiz música na vida e elas estiveram na gaveta por muito tempo, coisa que geralmente não faço, pois gosto de processos ágeis. Mas talvez por isso seja o meu trabalho pessoal que mais curto.”

Conte mais sobre o porque do título e como vê que as faixas dialogam com passagens tuas.

Juvi: “Eu comecei a compor esse disco quando me mudei pra São Paulo antes da pandemia estourar. Minha vida mudou intensamente de 2019 pra 2020 e quis colocar nas letras o conceito de EX indo além dos relacionamentos. É sobre mudar de cidade, perder amigos, se decepcionar com pessoas, sobre abandonar um velho eu, é sobre as coisas que passam e a necessidade de ir em frente.

Pra mudança acontecer o conceito de EX precisa existir.

Durante esses anos mudei de profissão, cidade, me entendi como pessoa não binária, aprendi mais sobre meu corpo, minha sexualidade, minha visão de mundo e como produtora de conteúdo se transformou totalmente e de alguma forma tudo isso desaguou em forma de música. Enfrentar esses fantasmas e perder isso nem sempre é gostoso, por isso SÓ GATILHO FODA!”

O material joga a internet em 2022 em um liquidificador e ainda traz o hyperpop (RIP Sophie) para o primeiro plano ao lado do que bomba no TikTok como Funk e tecnobrega – além dos games e animes. Como foi a busca por referências nesse sentido?

Juvi: “Acho que essas referências vieram naturalmente. Sempre estive por dentro das tendências musicais e o hyperpop é algo que me pegou de primeira, então sempre existiu a vontade de fazer algo do tipo. Eu bombei no TikTok nos dois últimos anos, tanto como consumidor como produtor, e eu gosto muito da rede, consumo todos os dias, a minha música só transpirou isso.

“O desafio musical pra mim foi fazer o hyperpop soar nacional, colocando ritmos dançantes daqui em fusão a essa saturação e de certa forma acho que consegui. Foi divertido fazer, referências de cultura pop e emo estão ali e isso dá uma espécie de nostalgia e denuncia minha idade, até porque isso é importante, tenho 30 anos e não quero parecer mais jovem.”, completa Juvi

O lado da expressividade, contra-ataque e da sexualidade reprimida, religiosidade e até temas que você fala em seus vídeos acabam transparecendo em algumas faixas como “Bumbum de Homem” e a resposta direta “Meu Pau na Sua Mão”. Conte mais sobre o universo por trás disso tudo e a necessidade de trazer esses temas à tona em sua perspectiva tanto pessoal como neste momento em que vivemos.

Juvi: “São músicas que de imediato parecem engraçadas, bem humoradas, mas são músicas, não são piadas. Mas falar de forma leve, irônica pode ser o melhor caminho pra iniciar um assunto. “Bumbum de Homem”é sobre possibilidades de prazer e como a gente se afasta delas. É uma música no fim das contas sobre tesão e depressão, é sobre humores. Existem essas duas energias existem dentro da gente, e a pandemia aguçou esses dois lados. É como se a binariedade da sociedade sufocasse possibilidades.



‘Bumbum de Homem’ nasceu como um TikTok e ganhou um clipe com a participação do artista Zé Rubens (@ozerobens) como dublê de bunda.

“Meu Pau Na Sua Mão” talvez seja a música mais política do disco e fala sobre como os debates se encerram antes mesmo de começar. É sobre a escrotidão das pessoas e as máscaras das redes sociais e o processo de auto-depreciação que a internet acaba reforçando na expressão digital. Eu diria que o disco inteiro é uma investigação sobre a sociedade e processo de aceitação de mudanças, principalmente as destrutivas.”

As parcerias também são um causo a parte, conte mais sobre as collabs e o desenvolvimento delas

Juvi: “As collabs aconteceram de maneira espontânea.

‘Piscina’ foi escrita pelo Vitor Brauer vem basicamente de uma letra terrível que fiz em cima de um beat no início da faculdade com um amigo meu. Eu mudei nesse tempo e a letra não fazia mais sentido, daí jogar na mão de alguém que admiro muito como letrista fez sentido, tanto por conversar com o disco, como por assumir a possibilidade de mudar os processos, já que sempre fiz tudo sozinho.

Vitor Soares fez da ‘Queria Enviar Uma Variante Minha Pra Te Conhecer Ano Passado’ que é um amigo meu de longa data que admiro muito tanto pela banda All The Postcards quanto pelo podcast História Em Meia Hora e ela conta com os vocais potentes do Mutanen da Bullet Bane que é um grande amigo que o universo das bandas trouxe pra mim e só ele poderia ENGOLIR o refrão mais enérgico do disco.

Talvez a collab mais curiosa tenha sido com o guitarrista Martin Mendez, da Pitty, já que a música “Sapo Cyborg Gladiador” começou como um vídeo zuera de TikTok, ele viu no Twitter, pirou e torou de gravar uma guitarra e foi aí que entendi ESSA É UMA MÚSICA DO DISCO.”

Depois desse material ser lançado, quais os planos? Já imaginou remixes ou algo do tipo? Algum curta metragem a vista?

Juvi: “Eu faço tudo sem pretensão, meu plano maligno é bombar “Bumbum de Homem” apenas. Não sei se tenho energia ou tempo pra desenvolver mais o álbum. Mas é certo que um EP de remixes de Bumbum de Homem vem aí. Mas o foco da missão agora é começar a trabalhar no Volume 2. Eu quero é fazer música, se rolar ao vivo, só a repercussão vai dizer.”


This post was published on 11 de fevereiro de 2022 12:00 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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