Antiprisma reflete sobre nossos tempos em “Não Verás País Nenhum”

 Antiprisma reflete sobre nossos tempos em “Não Verás País Nenhum”

Antiprisma – Crédito: Ana Zumpano

Antiprisma lança “Não Verás País Nenhum” via Alcalina Records

Para quem conhece o Antiprisma, sabe que o duo composto por Elisa e Victor, nos últimos anos tem transformado em um quarteto vigoroso. Ao vivo e a cores a baterista Ana Zumpano (ex-Lava Divers, Echo Upstairs, Cinnamon Tapes) e o baixista Rafael Bulleto (ex-BIKE, Sara Não Tem Nome, Fluhe e Neptunea) trazem para o corpo sonoro novas possibilidades sonoras e uma maior experimentação nas ambiências. Inclusive, o último disco do Antiprisma, Hemisférios (leia resenha), eles já trouxeram para si ondas mais roqueiras, utilizando do artifício do lo-fi e flertando com o shoegaze e a psicodelia.

Algo que “Não Verás País Nenhum” traz consigo em sua estética etérea que vai do folk, de Johnny Cash em seu fim de vida, a maleabilidade shoegazer do My Bloody Valentine. Sempre muito próximos a literatura, a faixa foi inspirada na obra homônima de Ignácio de Loyola Brandão (imortal da Academia Brasileira de Letras e homenageado pelo Prêmio Jabuti de 2021), para refletir sobre a dureza e o sofrimento causada tanto pela pandemia como pela incapacidade dos governos em lidar com sua gestão.

“Essa música foi composta mais ou menos no início da pandemia e o livro foi muito impactante para mim ao ter contato com o universo que ele descreveu. A vibe catastrófica de ‘novo normal’ casa perfeitamente com o que passamos nesse período. Era o que estávamos sentindo, tanto que a letra veio praticamente de uma tacada só. Estamos cada dia mais perto de controlar essa questão da pandemia, mas tem todo o resto que ainda precisamos estar vigilantes, e não podemos de jeito nenhum dar qualquer passo para trás”, avalia Victor José, voz, violão e guitarra do Antiprisma.


Antiprisma "Não Verás País Nenhum" - Credito Ana Zumpano
AntiprismaCrédito: Ana Zumpano

Antiprisma “Não Verás País Nenhum”

Com a impossibilidade de ficar calado em tempos onde o absurdo é normalizado, e o surgimentos de novos factoides, fake news e denúncias todos os dias, foi algo natural o caminho por optar por uma canção com tom mais politizado.

“Estamos coletivamente em um período pesado, denso, seria impossível para nós não sermos influenciados por isso em nossas músicas. Não só por conta da pandemia em si, mas todo o cenário político e social, as decepções, a sensação de solidão e indignação. Apesar de todo o nosso trabalho desde o começo de certa forma trazer essas preocupações, mesmo naquelas canções mais leves e bucólicas, eu sinto que os tempos pelos quais estamos passando trouxeram um tom mais pesado para nossas músicas.”, reflete Elisa Moreira Oieno, vocalista e violonista do Antiprisma.

O peso aparece logo nos acordes mais estridentes da sua introdução que já adianta a atmosfera mais psicodélica da faixa. O medo, os conflitos e o fio de esperança, em meio aos escombros, evidencia o momento ardiloso e complicado do nosso país. Entre delírios (pseudo) nacionalistas, desmatamento, ideias retrógradas, perseguição a minorias e uma série de retrocessos em diversos campos da sociedade. Entre o niilismo e o realismo, o tom acizentado quase fabril da canção, um tanto quanto Manchester, traz consigo a esperança pela reconstrução. Destaque fica também para os ótimos backin vocals e sing-alongs.

A mixagem e masterização ficaram por conta de Chico Leibholz, com engenharia de som realizada por Murilo Cambuzano. A capa do single é uma criação do artista Felipe Corsini. A faixa que está sendo lançada via Alcalina Records foi gravada nos estúdios Casa Torta e Lustre.


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