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A arte do improviso reverbera nas experimentações de Mariá Portugal em “CHEIO/VAZIO”

De uma escola onde as sessões de improviso são pilares da criação, Mariá Portugal, conhecida por seu trabalho ao lado do excelente Quartabê, e também por colaborar com grandes nomes da música brasileira como Arrigo Barnabé, Metá Metá, Elza Soares, Pato Fu, Iara Rennó, entre outros, se aventura em uma nova jornada.

A vôo solo chega em grande estilo com direito a colaborar com amigos de longa data. O primeiro single a ser revelado, “CHEIO/VAZIO” conta com a participação do cantor Tó Brandileone, mais Joana Queiroz e Filipe Nader nos sopros, Rui Barossi no baixo acústico, Chicão ao piano e André Bordinhon na guitarra.

O single estará presente no álbum EROSÃO que será lançado no Brasil via RISCO (Luiza Lian, O Terno, Maria Beraldo, Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo…) e na Alemanha pelo selo Fun in the Church.


Mariá PortugalFoto Por: Kristina Zalesskaya

Mariá Portugal CHEIO/VAZIO

Assim como sua catarse sonora, o som tem um aspecto em sua narrativa pós-apocalíptico. A artista discorre sobre espaços, decadência e (re)nascimento, em um cenário onde monumentos pensados como ruínas, usinas de carvão silenciosas, edifícios futuristas abandonados, cidades evacuadas e sobre depois de tudo isso finalmente vislumbrar o chão sujo numa festa de techno, ao sol nascer.

A verve technopunk transparece nas frequências e conecta o frio dos descombros pós-guerra com a energia dos inferninhos de música eletrônica de uma cidade cosmopolita como Berlim (ou São Paulo). Servindo como um sopro de querer viver o amanhã em meio a um tempo onde as raves e festas, como conhecemos, ainda parecem estar em um futuro distópico. O som definitivamente irá agradar a quem ama a trilogia de Berlim, do icônico David Bowie, por seu trabalho de desconstrução e tradução em imagens.

A angústia se reflete nos vocais de Mariá PortugalTó Brandilone em meio ao cenário de festa de um carnaval (ou até mesmo de esbórnia) que ainda parece ser um sonho distante. Os metais dão uma sensação do descompasso da valsa da vida e a busca pelo renascimento, em meio a tantas tragédias, se confunde com a poeira, e a terra batida, após a passagem pelo pior.

A Produção da Versão

Assim como todo o álbum EROSÃO, a versão para “CHEIO/VAZIO” (de 2013), nasceu de sessões de improvisação gravadas em São Paulo em 2019. A musicista trouxe os resultados destas improvisações em HD para a Alemanha, para editar e processar durante a sua residência artística em Moers, onde também gravou a própria voz.

Música, Imagem e Som

A experiência sinestésica fica completa através do vídeo musical realizado pela designer de luz brasileira Anna Turra.

“O arranjo de “CHEIO/VAZIO” me provocou a criar uma peça audiovisual em um processo espontâneo, permitindo diversão na concepção, no sentido de mergulhar na timeline com algumas premissas, mas também me deixar desviar e brincar com aquilo que os gráficos e o som iam sugerindo.

Identifiquei três “movimentos” mais evidentes no arranjo e escolhi partir de formas perfeitas e contrastes absolutos – a circunferência, o quadrado, o preto o branco –, para depois introduzir plantas arquitetônicas simplificadas, composições de luz e cor e fotografias de espaços reais, tudo interagindo com “triggers” do arranjo sonoro.

A ideia de trazer as palavras surgiu ao refletir sobre acessibilidade com fruição estética, e acabei gostando de inserir os caracteres como elementos da composição gráfica do primeiro movimento.”, conta Anna Turra que já desenvolveu projetos ao lados de artistas como Elza Soares, Arnaldo Antunes, Anelis Assumpção, 5 a SecoCristiane Paoli Quito e Museu Boulieu.


This post was published on 13 de agosto de 2021 12:03 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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