Às vésperas do seu disco de estreia, Rod Krieger lança clipe para “Cores Flamejantes”

Prestes a lançar seu disco de estreia, Rod Krieger conversa com o Hits Perdidos em entrevista exclusiva onde revela detalhes dos bastidores do registro e conta mais sobre a vida em Portugal. O músico gaúcho que se mudou para Lisboa no ano passado lança hoje, a apenas dois dias do álbum, o videoclipe para “Cores Flamejantes”.

Com oitos singles, A Elasticidade do Tempo, mesmo antes do seu lançamento oficial já apresentou ao público quatro, e hoje apresente o quinto, através do vídeo. Já foram lançados: Louvado Seja Deus (feat. Arnaldo Baptista), Todos Gostamos de Você, “Raio” e Despertar. Entre as referências do disco vão de David Bowie, George Harrison a Syd Barrett. Além de Beatles, Os Mutantes e The Who, o Mod Rock que sempre acompanhou os tempos de Cachorro Grande.

Rod Krieger “Cores Flamejantes”

“Cores Flamejantes” conta com a direção de Rayman Virmond e Ana Clara Piet, amigos brasileiros de Rod Krieger que estudam Cinema em Lisboa. As referências da produção audiovisual vão justamente de encontro com o universo imagético das bandas mods sessentistas.

“Cores Flamejantes foi feita em um dia em que tive uma nova percepção da realidade e marca muito a época que eu quis trocar o meu estilo de vida, buscar me conhecer melhor, voltar para a minha essência. O nome da música veio das cores dos chakras e de uma forma diferente de ver o mundo”, conta Rod Krieger


Rod KriegerFoto Por: Daryan Dornelles

As gravações do clipe

O vídeo foi gravado diretamente do estúdio HAUS, na capital portuguesa, e foi feito em uma única diária. A ideia é simples: basicamente é um jogo de luz natural enquanto os músicos performam. E talvez esse seja o destaque da produção, usar a luz ao seu favor em uma faixa com letra um tanto quanto transcendental.

“Com uma fotografia bem marcada e desenhada, eu e Ana optamos usar muitas sombras, espaços vazios no quadro, e somente luz natural. Definimos algumas cores que apareceriam de forma sutil nos planos, e de uma forma quase mágica, fizemos um teste no estúdio Haus na hora certa, estava uma luz natural com uma incidência perfeita dentro da sala. O espaço oferecia tudo que nós precisávamos e queríamos para o clipe”, comenta Rayman.

Rayman ainda comenta mais sobre as referências para a produção audiovisual.

“Usamos como referência principal as fotos que a fotógrafa alemã Astrid Kirchherr tirou dos Beatles no começo dos anos 60, e que definiam muito bem a estética da banda naquela época. O alinhamento da direção de arte veio de forma muito natural, com o Rodolfo participando ativamente do processo. A ideia principal estava definida e alinhada às expectativas dos envolvidos!”, finaliza o diretor



Entrevista: Rod Krieger

Confira a entrevista com o músico e descubra mais sobre os desafios enfrentados, o novo estúdio, detalhes dos bastidores, parceria com Arnaldo Baptista, referências e muito mais.

O nome A Elasticidade do Tempo tem todo um tom misterioso e revela uma maneira de lidar e enfrentar a vida. Das emoções, expectativas, frustrações e até mesmo como enxergar o hoje e como de certa forma projetar o amanhã.

Como veio toda a mística sobre o assunto, como acredita que isso se encaixa com seu momento na carreira, mudança de país e convívio com uma nova cultura?

Rod Krieger: “Essa frase tem muito a ver com a ansiedade e com a pressa da sociedade em fazer tudo correndo e não apreciar certos momentos. Penso que precisamos entender que as coisas têm o seu tempo, e que ele também pode ser alterado. Passei muito tempo na loucura da cidade de São Paulo e quando decidi ir morar na praia já procurava um ritmo de vida menos acelerado. Sentia que precisava me reciclar, não só mentalmente, como espiritualmente.

Isso está me ajudando muito hoje em dia, estou trabalhando com muita calma no meu projeto e fazendo as coisas como devem ser feitas, e no tempo delas. Mesmo que eu esteja recomeçando em outro país, afinal, por respeitar o tempo do processo, não me sinto receoso com as incertezas que, claro, são muitas.”

A espiritualidade, referências que talvez nunca tenham tido espaço na Cachorro Grande e um lado mais contemplativo acabam entrando dentro da narrativa do disco que parece mesmo até uma viagem de auto-descoberta.

Como sentiu que tudo convergiu? O que te inspirou tanto musicalmente como na parte lírica, audiovisual e gráfica do projeto?

Rod Krieger: “Existe uma diferença muito grande em um disco feito por uma banda e um disco feito por um único compositor. A inspiração surgiu naturalmente, não foi nada programado. Eu já andava me desvencilhando de alguns hábitos e tentando mudar o meu estilo de vida e isso me inspirou, com certeza, em todo esse processo. Que reverberou obviamente em todo o resultado, desde a parte lírica até a identidade visual.

Por ter toda essa atmosfera para você qual seria o cenário ideal para ouvir o disco?

Rod Krieger: “É difícil responder essa questão, afinal cada um tem o seu jeito de apreciar álbuns, mas se quiser uma sugestão eu acho que as 4:20 da tarde pode ser um bom horário.”



Pensa em lançá-lo em vinil? Aliás como vê a mística da bolacha? E como observa a mudança de hábito das pessoas estarem cada vez mais focadas em ouvir singles do que um trabalho do começo ao fim?

Rod Krieger: “Sim, pretendo lançar em vinil, a ideia é que ele saia no segundo semestre.

E acredito que essa mudança de hábito possa ser uma reação da maneira que escutamos música nos dias de hoje. Por exemplo, antes você comprava um CD e o escutava de cabo a rabo, um produto físico, era prazeroso usufruir dele.

Hoje você pode colocar todos os discos em um dispositivo apenas, no caso o celular, possibilitando montar as suas próprias playlists. Mas, também, existem muitas pessoas que ainda escutam álbuns, isso fortaleceu a venda dos discos de vinil. No entanto, esse papo é uma discussão longa, pois ao meu ver o vinil nunca saiu de moda, ele apenas tirou umas férias enquanto o CD circulava nas prateleiras.”

Como surgiu a oportunidade de trabalhar com Arnaldo Baptista e como foi a experiência? Como vê a relação tumultuada dos Mutantes?

Rod Krieger: “Sempre fui fã do Arnaldo, costumo dizer que se ele não existisse eu não teria escolhido essa profissão, afinal, cresci e me desenvolvi como artista escutando os discos dele e dos Mutantes, obviamente. E bom, estava compondo a música “Louvado Seja Deus” e ainda não tinha um refrão.

Nessa época, estava imerso nos discos solo do Arnaldo. Um dia, escutando o Let it Bed, a frase ‘Louvado Seja Deus’ surgiu e entrei em contato pedindo autorização. O mais louco disso tudo é que eu mandei uma carta escrita a mão e ele me respondeu, junto com a carta tinha um quadro pintado pelo próprio escrito “Creia em Seus Sonhos”. Posso dizer que esse foi o pontapé que faltava para eu transformar o single em álbum!

Sobre os Mutantes, acredito que tudo na vida tem os dois lados, mas no caso deles, tem três. Fico muito triste que a situação tenha chegado a esse ponto, mas, infelizmente, as coisas ficaram fora do controle. Não acho legal essas agressões públicas e desnecessárias e concordo com o Arnaldo quando ele fala que só quer ficar em paz.”



Vivendo em Lisboa, como observa a musicalidade e cena cultural da região? Quais acredita serem os locais e principais festivais? Como observa o aumento dos brasileiros em Portugal x o consumo de música brasileira?

Rod Krieger: “Aqui é incrível, tem uma quantidade grande de casas de show com música ao vivo, de quinta feira a domingo. Além de ser um país com muitos festivais espalhados durante o ano todo. Acho que o aumento de pessoas no país não seja só o de brasileiros, hoje o mundo está vindo para cá.

No entanto, é claro que a forte presença de pessoas do Brasil seja um ponto super importante na hora de agendar gigs por aqui. Querendo ou não, a chance de se ter familiaridade com o público é real. Aqui em Lisboa existem alguns clubes como o Sabotage, Musicbox e a Fábrica da Musa onde costumo assistir shows regularmente.”

Além disso você irá começar ao lado de sócios brasileiros seu estúdio próprio, Magic Beans, de onde veio a ideia e como pretende aproveitar o espaço?

Rod Krieger: “Um deles, o Halison P., é o baixista do Telepathic Owls, banda que me acompanha aqui na Europa. A ideia foi meio que unir a fome com a vontade de comer.

Precisávamos de um lugar para ensaiar, aí nos juntamos com mais dois amigos e alugamos um espaço dentro de uma associação cultural. Daí, resolvemos abrir ao público, lá alugamos para bandas ensaiarem, dou aulas de música e também executo alguns trabalhos de produção.”

O disco ainda conta com uma versão para uma música do Tony Bizarro. Como vê a importância desse resgate e o porquê da escolha?

Rod Krieger: “Essa musica marcou muito uma fase da Rua Augusta, que vivi com alguns amigos, alguns dos quais encontrei novamente na gravação do disco. Durante os intervalos das gravações, escutei o muito os discos do Tony Bizarro, da Ultramen e do Sabotage.

A base da música já existia e eu queria uma faixa no álbum que fosse mais cantada, algo meio Ian Brown. Daí, um dia estava escutando algumas bases, cantei a melodia do Tony por cima e ficou.”


This post was published on 18 de março de 2020 10:16 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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