Orijàh não se esquiva em clipe para “Não Vou Sair da Faixa”
Nos últimos dias de 2019 saiu, sem muito alarde, um clipe que deve deixar os amantes de reggae atentos. O nome Orijàh pode ser novo para muitos, mas o trabalho feito pelo quarteto paraibano tem uma densidade de inspirar respeito.
O vídeo de “Não Vou Sair da Faixa” é o primeiro material do grupo a sair nas redes, e dá uma boa ideia do que esperar do disco que deve sair em fevereiro.
Longe do estereótipo de positividade apática do reggae brasileiro mais comercial, Orijàh dissemina o que há de mais importante no legado dos mestres jamaicanos. A mensagem política dita na sua cara mas com graça – confronto frontal sem esquecer a base dançante.
“É quatro e vinte, mas é o preço da gasolina”. O som nem por isso segue uma receita nostálgica de clichês, abraçando uma produção digital com forte influência do rap, recheada de 808s e um baixo synth hipnótico.
O Videoclipe
A própria produção do clipe reflete a missão do grupo de colocar o marginal no centro. O título (que é também refrão) da música pode ser interpretado de forma metafórica, mas é uma alusão bem literal à escolha cotidiana de quem tem a bicicleta como principal meio de transporte na cidade: sair das margens do acostamento e ocupar com folga a faixa dos carros.
Pedalar na margem abre espaço para o perigo de ser atirado pra fora por algum motorista perverso: andar no meio da rua obriga o motorista a te aceitar como parte incontornável do trânsito.
O clipe, todo em primeira pessoa, segue o cotidiano de Caetano, cantor e letrista da Orijàh, atravessando a cidade de bicicleta. Com uma câmera na mão e uma ideia na boca, Caetano se espreme através de vãos perigosamente pequenos entre carros e ônibus, canteiros, passagens de pedestres, feiras e um rápido vislumbre de lugares e pessoas do underground cultural pessoense. Terminando num banho de mar com gosto de afronta ao asfalto.
O Background da Orijàh
Além de Caetano, Orijàh conta com um time de veteranos da cena musical da cidade. O americano-paraibano Rieg Wasa, que assina a edição do vídeo e leva há mais de uma década um projeto com seu nome; Leo Marinho, também conhecido pelo seu projeto de dub na alcunha de Amaro Mann e por ser o guitarrista de Cabruêra; e Daniel Jesi, um dos realizadores, compositores, produtores e instrumentistas mais incansáveis da cidade.
Fortalecimento local e Coletividade
Daniel e Rieg são também as cabeças por trás do BBS, um estúdio-coletivo que é atualmente uma das maiores forças agregadoras de João Pessoa, produzindo e colaborando com bailes, slams, batalhas de rima e os mais variados eventos musicais.
Foi essa força coletiva do BBS que acolheu Caetano, até então atuando principalmente como poeta e ilustrador. Entre 2017 e 2018, mergulhou no rap com seu EP Invasão, produzido por Daniel e Bravo (falecido em 2018, cantor, compositor e produtor parceiro do BBS).
A partir daí foi um pulo para que todas essas parcerias se consolidassem no Orijàh. O “megazord”, como eles mesmos apelidam o super-grupo, junta as características dos projetos individuais de cada um dos membros. “É assim que nasce o underground”, diz a música: “da necessidade de organização”.
1 Comment
Brabo demais esse Matteo! Gratidão pela conversa, pelas mangas e energia. Tamo junto nesse corre!
Axé!