No começo de Outubro a Pitchfork disponibilizou uma lista polêmica (confira aqui) comentando os 200 álbuns favoritos da década (2010-2019). Listas são controversas por si só mas acabam gerando uma discussão saudável, além de trazer dicas para sua playlist. Pensando nisso convocaremos até o fim do ano: um time de personagens do mercado da música para comentarem seus prediletos. O sétimo post que aparecerá por aqui é com o Tony Aiex, editor e idealizador do Tenho Mais Discos Que Amigos!.
São 10 anos de Tenho Mais Discos Que Amigos!, e claro, muitas noites viradas, projetos, festivais, shows, estratégias, mudanças e a formação de uma equipe capacitada para lidar com as demandas do dia-a-dia. Quem vê de fora nem imagina o quanto de tempo criar conteúdo e pensar no 360 da coisa demanda.
Uma batalha que Tony Aiex acredita e segue no front há tanto tempo, também reserva momentos de reconhecimento como foi a Noite TMDQA! realizada em parceria com Difusa Fronteira recebeu no palco do Cine Joia dentro da programação da SIM São Paulo as bandas BRAZA (RJ), Tuyo (PR), Sandro (SP), Sol Pereyra (ARG) e Muntchako (DF).
Neste post além de apresentar para quem ainda não viu a nova identidade do site, e da lista com Os Melhores Discos da Década segundo o Tony, ainda de bônus trazemos uma entrevista com o jornalista. Confira!
Tony Aiex: “Eu comecei o Tenho Mais Discos Que Amigos! em 2009 como um hobby por dois motivos, um bem pessoal e outro mais de “mercado”.
O primeiro era que eu havia me formado em Informática e trabalhava com coisas que não apenas viria a odiar como também me fariam mal. Tive depressão, síndrome do pânico e precisava fazer algo pra sair desse lugar. Escrever sobre música me salvou.
O segundo é que eu vinha importando muitos discos de vinil, vários deles de bandas novas, e percebendo que não apenas o formato estava ressurgindo como tinha muito artista incrível saindo por aí e eu ouvia as pessoas dizendo que não tínhamos mais bandas boas no mundo. Queria fazer essa ponte para que o público conhecesse as coisas que eu vinha conhecendo.
Levei como hobby até 2012 mas mesmo nesse período investia tempo e dinheiro com o objetivo de que um dia fosse a minha atividade principal. Comprava caixas incríveis de vinil lá fora pra sortear entre os seguidores do Twitter (!) e popularizar o site, já que eu havia literalmente começado do zero.
Em 2012 percebi que eu precisava arriscar e saber se um dia as coisas dariam certo ou não. A audiência crescia e eu era limitado pelo fato de que trabalhava das 08 às 18, fazia uma faculdade das 19 às 22 e tocava o site das 23 até 01 ou 02 da manhã. Vendi a única coisa que tinha, que era um carro usado, e passei a me dedicar 24 horas por dia ao site. Na época tínhamos cerca de 3 mil visitas por dia. Hoje são mais de 100 mil.
Com o passar do tempo também fui vendo que havia inúmeras possibilidades no entorno do site, então organizamos festas, um festival, lançamos uma cerveja em financiamento coletivo para comemorar os 5 anos, e criamos programas diferentes em nosso Podcast. O lance é usar tudo que tá aí disponível hoje em dia com o parênteses de reforçar a marca e levar o público para o site.
Respondendo efetivamente, é meu ganha pão desde 2013, quando começou a dar dinheiro ao invés de tomar tudo que eu tinha! (risos).”
Tony Aiex: “Sinceramente as abordagens mais bizarras são aquelas que recebo sem o mínimo de preparo. E-mail sem título, texto do e-mail com “lançamos ontem, ouve aí, taí o link”. Sem o mínimo de apreço pela própria, arte, sabe?
Acho bizarro e triste e muitas vezes vem de artistas muito talentosos.
Não me lembro de nenhum press kit horrível, acho que os piores são os mais óbvios, que mandam tipo caneca e pen drive, algo que todo mundo manda já há alguns anos. O mais legal que recebi foi de uma banda de MPB que mandou um kit (com limão) pra fazer caipirinha.”
Tony Aiex: “É doido porque nessa década a Internet tornou-se a principal forma de consumo de música e, mesmo passado todo esse tempo, a indústria ainda está bem perdida. Parece que o streaming vai se consolidando, mas mesmo sobre ele pairam várias dúvidas e tem muita gente com muitas certezas que amanhã já não serão certeiras.
A Internet democratizou mas ao mesmo tempo fez com que um monte de gente produzisse e não fosse ouvida. Tem muito material no Spotify com pouquíssimos plays porque existem artistas que acham que é só gravar e jogar lá e alguém vai ouvir um dia e popularizar seu trabalho.
Os artistas que estão se dando melhor são aqueles que entenderam que a banda é um negócio e que a gravação é tão importante quanto um trabalho de imprensa, que é tão importante quanto os ensaios, que são tão importantes quanto ações pagas de mídia. Quem se ligou já está na frente, principalmente porque vivemos uma era em que precisamos demais de curadores e interlocutores para criar as pontes.”
É engraçado falar sobre os melhores discos da década por uma dezena de motivos. Por isso é muito difícil selecioná-los a partir de tanta coisa boa, colocá-los em uma ordem, então, tarefa impossível que gera discussões infinitas, e no meu caso, está tudo intimamente ligado aos 10 anos do TMDQA!
Reunir a equipe toda para montar uma lista com os melhores é uma coisa, e montar a minha lista pessoal é outra, então já aviso que não chamaria essa lista de “Os 10 melhores discos da década” (até porque, repito, a tarefa é árdua e precisaríamos de no mínimo 200), mas sim algo como:
“10 Discos que definitivamente mudaram a minha década”. E com certeza a hora que eu terminar de enviar aparecerão outros 10. E outros 10. Mais outros 10…
Outro adendo: vou roubar e a minha década vai de 2009-2019 sim!
Sendo assim, lá vai (sem ordem):
“Eu amo o BTMI! e aqui vai uma revelação: a exclamação no nome do TMDQA! vem dessa banda. Eu ouvia muito o Jeff Rosenstock e seu projeto quando fundei o site há 10 anos e suas canções falavam comigo de jeitos pessoais que até assustavam.
No dia em que eu completei 25 anos, acordei cedo só pra colocar esse disco na vitrola e ouvir “25” bem alto. Foi um dos períodos mais difíceis da minha vida e ele ajudou muito.”
“Conheci o Rancore nessa época e, além de ouvi-los, tive o prazer de conhecê-los pessoalmente. Esse disco ainda bate muito forte aqui e além do lado pessoal também acho que é um dos mais interessantes da música nacional na última década.”
“Ainda acho que o melhor disco do Foo Fighters é The Colour And The Shape, mas esse chega BEM perto e é sempre muito legal ver uma banda se reinventando e voltando ao auge tantos anos após a sua fundação.”
“Esse disco é uma obra prima e foi um ponto importantíssimo para eu perceber que algo diferente estava começando a acontecer na música brasileira e que deveríamos documentar isso e espalhar a palavra o máximo que pudéssemos.”
“Eu acho esse disco bem bom, mas não seria digno de entrar na lista de melhores da década. Acontece que para divulgá-lo o vocalista do System Of A Down deu várias entrevistas pelo mundo, inclusive para mim, no que acabou sendo a minha primeira entrevista internacional em todos os tempos.
Quando chegou a hora marcada, e quando menos percebi, estava falando com o cara no telefone e foi incrível, com direito a ele dando risada do nome “Tenho Mais Discos Que Amigos!” e elogiando.
Fun fact: eu bebi uma garrafa inteira de 1L de cerveja antes da entrevista pra conseguir fazer.
“O Against Me! é uma das minhas bandas favoritas e já passou por diversas fases, mudando a sonoridade algumas vezes e sendo chamada de “vendida” tantas outras por Punks radicais.
Acontece que Transgender Dysphoria Blues é um registro histórico de alguém que expôs a disforia de gênero ao mundo todo com uma entrevista reveladora e um álbum dos mais competentes. É um marco da década, sem dúvidas.”
“A lógica do Foo Fighters vale também aqui pra mim: ao lado do White Pony, lançado 10 anos antes, acho esse o melhor disco do Deftones, uma das bandas mais inventivas de todos os tempos.
Eles souberam sobreviver muito bem aos rótulos e estereótipos empurrados para tentar vendê-los e seguiram fieis à mistura de rock pesado com melodias belíssimas.”
“A Maglore tem algumas das canções mais incríveis da Música Nacional espalhadas em seus discos, mas como álbum, esse é meu favorito. Ainda fizemos uma noite sensacional com eles em 2018 celebrando 1 ano de lançamento o tocando na íntegra e na sequência.”
“Disco incrível de uma banda que encorpou sua sonoridade e nos levou em uma viagem doida aos Anos 80. A sequência “Dia Lindo + Solidão de Volta” é Top 5 da década na música nacional pra mim e o disco conversa muito com a minha mudança recente para São Paulo.”
“E por falar em sequência, se você não se emocionar com “Passional + Sereno + Sobre Cafés e Você”, do Animalia, tem que rever seus conceitos! Brincadeiras à parte, esse é um dos discos de estreia mais competentes do rock brasileiro na última década.”
Claro que você não ia conferir essa lista sem ouvir um pouquinho de cada disco citado! Preparamos uma lista com os sons escolhidos especialmente para esta seleção do Tony Aiex do Tenho Mais Discos Que Amigos!.
This post was published on 23 de dezembro de 2019 3:56 am
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