azul azul apresenta nesta segunda-feira seu debut em Premiere no Hits Perdidos.
Talvez a capacidade de nos desconectarmos por alguns instantes da nossa realidade mundana seja por sua vez subestimada quando pensamos em arte. Reflexão e abstração funcionam feito máquinas à todo vapor. Um exercício necessário a todo ser humano pensante.
Os acordes de uma música atravessam sua sinapse e ganham significâncias e significados, trazem memórias á tona e um turbilhão de emoções. Muitas vezes somos pegos pelo fantasma de uma nostalgia tão abstrata que talvez nunca tenhamos de fato a vivido.
O plano das ideias por sua vez se confundem com o dos sonhos. Com dias menos nublados, reflexos mais apurados e uma esperança latente de encontrar um reconforto; como “Soda” da azul azul nos pega de surpresa. O tempo passa feito uma ampulheta prestes a esgotar o último grão de areia que se esvai.
Feito um filme tudo parece atravessar as lentes de um velho óculos que precisa de reparos. Aos frangalhos tudo se transforma e ganham novas narrativas mesmo de distanciamento como a doce e pop. “Acordo” talvez um Hit Perdido a ser descoberto. Um hino rebelde que canta aos quatro ventos “Não negociamos com artistas, eles não sabem o que fazer”, que provoca com a mesma intensidade que cadência.
Os alagoanos são perspicazes em seu debut justamente por saberem aproveitar para explorar texturas e referências distintas, em “aquele filme do rossellini”, faixa que abre o registro, eles navegam em direção do math rock de grupos como CHON para nos passar a sensação de ciclo sem fim.
Algo que os contemporâneos da Mineiros da Lua (saiba mais) já se atrevem a fazer a um tempo e sempre trazendo aquele espírito de reoxigenação próprio deste revival.
Dia desses voltei a ouvir o fabuloso Slanted and Enchanted (1992) do Pavement, num exercício raro de retomar a ouvir teus discos favoritos (vocês conseguem fazer isso com tantos lançamentos a cada semana?) e de fato pegar esse disquinho da azul azul para ouvir na sequência me deu o estralo sobre como a música mistura nostalgia e como ciclos se repetem.
“Victor Heringer” faz tributo ao finado escritor que entre outras obras de sua autoria tem “O amor dos homens avulsos” de uma forma até mesmo fora da curva. Imagina de certa maneira uma vida após a morte de uma forma onde não há limites entre os planos. Essa sensação de expansão e liberdade que retomar a obra do Pavement também nos transmite.
Já “formas de voltar para casa”, faixa título do álbum, tem uma aura e magia próprias. Tanto por seu tom expansivo como por seu jeito todo particular de criar a narrativa.
Psicodélica, magnética, cancioneira e estranhamente esperançosa, ela vai derretendo em um ciclo de transformação e desprendimento de uma realidade inerte. Seu solo contribui para que a experiência permita com que nos desconectemos das impurezas e medos da vida mundana. Arte e Conceito. Amor e Fúria.
Formada em 2018, a banda de Maceió (AL) a banda tem influências de dreampop, indie rock e surfgaze.
Entre suas referências eles citam grupos como Smashing Pumpkins a Pavement, de Mogwai a Weezer, além de vaporwave e dialogar com artistas como Sunset Rollercoaster, Homeshake e Terno Rei (Confira a resenha de Violeta).
O debut conta com faixas compostas por Mateus Antonio e Igor Cavalcante (exceto “Acordo” por Mateus Borges), o quarteto ainda conta em sua formação com Lucas Marques, Fellipe Pereira e João Gomes. Formas de Voltar Para Casa (Máquina Voadora Label / 2019) tem o título de um romance curto do escritor chileno Alejandro Zambra.
As cinco faixas foram gravadas no estúdio Montana Records em Maceió (AL) e resultam em um compacto de 23 minutos. A produção, gravação, mixagem e masterização são assinada por Filipe Mariz. Já a capa é uma foto de Paulo Accioli; o projeto gráfico foi realizado por Fellipe Pereira.
Em janeiro, a azul azul tem planos de gravar um disco cheio e pretende excursionar pelo Nordeste.
This post was published on 25 de novembro de 2019 12:17 am
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