Spotify inaugura casa para empoderar nova geração de mulheres na música

Fortalecer o trabalho das minas com conteúdo produzido por elas e com a devida estrutura para deixar um legado que vai muito além de um projeto temporário.

Essa é uma das premissas do #EscutaAsMinas, projeto do Spotify Brasil que pretende impulsionar as mulheres dentro do ecossistema da música.

Em um mercado onde as oportunidades, técnicos, produtores e especialistas são em sua maioria homens, projetos como este tem que como intuito profissionalizar, educar, fortalecer e capacitar uma nova geração de artistas, são de extrema importância.

Não só este projeto de maneira isolada mas como a soma deles. Sempre vale lembrar o importante trabalho do Girls Rock Camp, Sêla, PWR Records, Efusiva, Hérnia de Discos e tantas outras iniciativas que felizmente tem surgido pelo Brasil.

Tanto é que a exatamente dois anos fizemos aqui no Hits Perdidos um post sobre esta movimentação e projetos voltados para a mulher na música.

O Fator Social



Os dados acima deixam claro como a indústria fonográfica ainda é um território hostil para as mulheres, produtoras, compositoras, indicadas a Grammy….mas da para estender ainda para outros setores do ecossistema.

Realidade que nos últimos anos tem se transformado em pequenos gestos.

Alguns festivais brasileiros, e music conventions, por exemplo, tem colocado como meta ter ao menos 50% do line up contam com mulheres, um dos exemplos disso é a SIM São Paulo que em dezembro terá nova edição em SP (e tem inscrições para showcases abertas).

A iniciativa do Spotify também conta com este fator de transformação e capacitação social.

Casa de Música
Escuta As Minas

Uma casa feita por mulheres e para mulheres. Com equipe que vai da comunicação, passando pela engenharia de som as artistas e bandas a casa que já funcionou como estúdio de um artista plástico, ficará instalada na Vila Madalena,  região oeste de São Paulo, por 6 meses. Começando agora em Julho e se encerrando em Dezembro.

O espaço pretende ser democrático em todos os fatores. Abrirá as portas para artistas em diferentes estágios da carreira. Proporcionando a gravação de singles ao lado de profissionais experientes, com assistência de engenheiras de som e produtoras.

Essas cantoras, que vão representar os mais variados gêneros musicais, também terão a oportunidade de se conectar com algumas artistas já renomadas que participarão do projeto como “madrinhas”. Negra Li, Priscilla Alcântara, MC Pocahontas e Maiara & Maraísa são algumas das cantoras já confirmadas no projeto.

Além do intercâmbio de ideias, experiências e aprendizados constantes, estas mulheres também terão a oportunidade de fazer parte de todo um ambiente educacional dentro da casa, com participação de workshops, eventos, audições, rodas de debate, entre outras ativações. O que agrega ainda mais para a experiência e seu legado vivo.

O Machismo

O machismo está presente nos mais diversos campos da sociedade e afeta a todos de diferentes formas. E quando o assunto é música muitas vezes as mulheres são vistas com desdém.

Em matéria especial sobre produtores e casas de show o depoimento da Liu se destacou justamente pela denúncia de algo que infelizmente ainda é habitual (e não se restringe a sua área de atuação).

“Existem aqueles homens que só trabalham com homens também. Chegam na casinha, querem falar com alguém que booka e quando sou apresentada a simpatia, e muitas vezes a pessoa, vai embora. Rola aquele famoso: A HOSTESS É QUEM PROGRAMA?””, contou Liu


Souto MC lançará trabalho e faixa de resistência em tempos estranhos.  – Foto Por: Rafael Chioccarello

Durante coletiva para imprensa sobre o projeto do Spotify, a rapper indígena, Souto MC lembrou sobre sua trajetória de mais de 9 anos no Rap.

Desde o convívio com homens, passando por períodos de aceitação, dificuldades, convívio com outras rappers inspiradoras como Rap Plus Size e a vontade de dialogar sobre suas origens.

Mesmo subindo de degrau em degrau, sendo uma das apostas da Natura Musical, tendo sido contemplada pelo edital de 2018 onde deve gravar seu primeiro álbum, ela ainda passa por situações desagradáveis.

Nos stories do Hits Perdidos, por exemplo, você pode conferir na aba “Highlights” – Parcerias – ela contando sobre um caso de sabotagem em uma recente apresentação onde o indivíduo que estava cuidando de seu som ameaçou cortar seu mic para não ser ouvida. Esse tipo de silenciamento infelizmente ainda acontece.

Fico até pensando nos desafios que ela terá que enfrentar nos próximos meses após o lançamento do disco já que este levará a ancestralidade indígena, presente inclusive no som gravado para o #EscutaAsMinas, em tempos estranhos onde até mesmo o “Presidente” não quer diálogo com tribos e ameaça diminuir a marcação de territórios indígenas em prol dos ruralistas.

Resistência em dose dupla, alinhada com nossos tempos, e por isso ficamos na torcida para que sua voz ganhe ainda mais lastro. Música transforma!

#EscutaAsMinas

A experiência fará verdadeiras conexões entre diferentes profissionais do mercado. Teremos por exemplo engenheira de som que trabalha com rock, trabalhando também por sertanejo. Desafios como este que fazem com que todos os lados do processo ganhem com o aprendizado.

Ao todo serão 24 singles que serão gravados por 24 artistas mulheres diferentes. Por um time incrível de outras mulheres do primeiro escalão que ficarão responsáveis pela gravação dos singles.

Profissionais experientes, como Lahn Lahn, Mahmundi, Florência Akamine (mixagem e masterização), Bia Paiva (técnica de som); Lilla Stip (engenheira de som); Allyne Cassini (engenheira de som), entre outros grandes nomes da música nacional.

O Estúdio

O estúdio também impressiona desde a entrada, o live room conta com 80 metros quadrados, com tratamento acústico e predominância de captação analógica. Já a sala de mixagem conta com prés Neve, API, SSL, microfones vintages e uma série de possibilidades de efeitos analógicos.

Mas a casa foi pensada também para ser um ambiente leve que permita um bom astral e permita a criatividade. Até por isso sua sensação de aconchego só de pisarmos lá já é sentida.

Equipamentos

“Se os caras podem ter os melhores equipos, porque as minas não?”

Foi pensando nisso que o Spotify trouxe entre guitarra, baixos, teclas, amplificadores e efeitos tudo que estava a seu alcance dentro do melhor da América Latina.

Por lá encontramos guitarras como as clássicas Fender Stratocaster 1963 Surf Green, Gretsch White Falcon, Gibson Les Paul Standard 1996 Sparkling Orange, Fender Jazzmaster 1976 Sunburst.

Além do clássico órgão Hammond L100 e o piano elétrico Fender Rhodes Suitcase 1976. Já na parte de efeitos é possível se deparar com mais de 100 pedais, efeitos analógicos e digitais. Alguns com delay de fita Roland Space Echo RE201, Chandler Tube Driver e Empirical Labs Distressor.


Os equipamentos são um dos destaques do estúdio montado para a ativação. – Foto Por: Rafael Chioccarello

O Legado

Diferentemente de outros projetos envolvendo marcas, a artista ou banda participante terá todos os direitos e poderá fazer o que bem entender com a música gravada pelo projeto.

Além disso ela terá uma consultoria profissional com dicas para redes sociais, gestão de carreira, distribuição e do showbizz que poderá utilizar ou não, como frisado em coletiva pela equipe de marketing.

As 12 Primeiras

Para dar o pontapé inicial o Spotify selecionou 12 artistas dos mais variados gêneros musicais para entrarem na casa.

Estas com o perfil de estarem com a carreira em ascensão e que estejam dispostas a mostrar seu talento, criar e se conectar.

Na primeira leva e tendo como base a representatividade da pluralidade da mulher brasileira, entrarão na casa 1LUM3Ni Munhoz, Barbara Amorim, LUDI, Bibi Caetano, Souto MC, Marujos, Urias, Nina Oliveira, Samantha Machado, The Monic Luana Marques.


Durante nossa visita Bibi Caetano estava gravando vozes e acompanhando a mixagem de sua faixa. – Foto Por: Rafael Chioccarello

Pudemos ouvir em primeira mão a faixa gravada pela Souto MC e você confere um trechinho com exclusividade nos stories do Hits Perdidos!

A faixa já dá dicas que seu som será uma mistura de rimas afiadas, beats pulsantes e percussão que nos leva direto para uma aldeia. A mistura e raízes afloradas também adiantam o que seu disco levará para o mundo.

Durante nossa passagem por lá também pudemos ver a artista Bibi Caetano no meio do processo de gravação de vozes, cortes e mixagem.

As Outras 12!

Com toda essa estrutura dá até vontade de ter a chance de participar, não é mesmo? Mas fiquem tranquilas que a partir de setembro Spotify abrirá inscrições para outras 12 mulheres entrarem na casa.

Passando pela mesma experiência das pré-selecionadas pela equipe do Spotify, gravando músicas e participando dos eventos e ativações que acontecerão no local.

O diferencial será a escolha qualificada de minas de responsa!

Um time de respeito que já atua no mercado a muito tempo e tem tudo para somar de várias formas ao trabalho. Entre elas estarão: Monique Dardenne, Camila Garógalo (SÊLA), Bia Rizzini, Letícia Tomás (PWR Records), Flavia Biggs (The Biggs / Girls Rock Camp), e claro, a equipe do Spotify.

Agora é ficar de olho e esperar os próximos passos com a certeza de que conexões importantes e laços estão sendo criados (e principalmente fortalecidos).


This post was published on 5 de julho de 2019 10:10 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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