Desde de 1995 resistindo ao tempo e modismos. O The Bombers não é só parte da história do punk rock / ska punk brasileiro mas como um pouco da vida de Matheus Krempel que recentemente completou 40 primaveras.
Krempel é uma espécie de Mike Ness (Social Distortion) ou Mike Palm (Agent Orange), nunca desistiu de sua banda. Aos poucos, o grupo surgido em Santos e estabelecido em São Paulo, foi conquistando o reconhecimento por sua longa jornada.
No auge dos seus 24 anos, no ano passado eles viajaram para Goiânia para tocar no Goiânia Noise Festival e ainda venceram na categoria hardcore o cultuado Prêmio Profissionais da Música (que neste ano o Hits Perdidos também concorre!).
2018 não se resumiu apenas a festivais, shows mas também foi o ano em que o The Bombers lançou um EP acústico que de certa forma nos mostrou uma nova face. Com referências de outros gêneros, do brit pop ao rock’n’roll, eles nos surpreenderam em um compacto que chamou a atenção até de críticos conceituados.
Mas foi um ano de transformações e mais um novo ciclo dentro do Bombers se encerrou. Eles tiveram a saída do baixista, Daniel Bock, que foi morar no Canadá e do baterista Mick Six. Em seus respectivos lugares entraram: o mineiro Raul Signorini (Sick Dogs in Trouble) e o baterista da formação original, Estefan Ferreira.
Nesta quinta-feira (21/02) o The Bombers lança seu novo EP, Achados e Perdidos, via Hearts Bleed Blue. De certa forma o registro não é por si só uma grande novidade para os fãs mais antigos dos santistas…porém ele ainda não tinha sido disponibilizado nas plataformas digitais.
Para este “relançamento” eles remasterizaram as faixas e para quem acompanha eles a tempos notará o ganho. É tiro curto, 5 faixas e por volta de 12 minutos de duração. Praticamente um tempo de prorrogação de jogo de mata-mata.
De certa forma a volta do baterista original, aliado ao pedido dos fãs nas redes sociais, motivaram para que este registro fosse relançado. “Semana Sem Você”, por exemplo, traz a levada Bubblegum dos contemporâneos do Carbona até mesmo na temática.
Aquele espírito do Rancid, na década de 90, reluz em “Não Sei Nada” que até em seu nome me remete indiretamente o Operation Ivy (outra grande inspiração de seus primeiros dias). Ainda em seu trecho final, seus sussurros “uh uh” me transportaram para “Sympathy For The Devil” dos Stones.
Se você gosta de Backyard Babies, Tequila Baby e Bombshell Rocks, “Ônibus Azul” vai te fisgar. À bordo do ônibus, aventuras e devaneios de um coração partido passeiam por curvas sinuosas. Na “pressão”, direta e reta, “24 Horas”, tem aquela cara de fita demo com refrão que gruda na cabeça.
“Jogadas ao Vento” fecha o EP. É a mais confessional e até mesmo “emo” do compacto. Expõe seus sentimentos através de metáforas e eufemismos.
Uma canção sobre mudanças para fechar o disquinho é, de certa forma, um acerto para quem quer anunciar uma nova fase. Agora é esperar pelo que está por vir.
Conversamos com o Matheus Krempel para contar toda a série de transformações, entre alegrias e perdas que o The Bombers passou nos últimos tempos.
Ele comenta sobre o modo com que consumismo música, as mudanças no cenário musical underground e como sua percepção sobre o mercado tem mudado constantemente. Além de contar mais sobre seu selo, Craic Dealer Records, carreira solo e seu trabalho no comando do estúdio Porto Produções Musicais.
Matheus Krempel: “Pois é, recentemente perdemos dois integrantes, em Outubro do ano passado o Daniel Bock aceitou uma proposta de trabalho e foi morar no Canadá e mais recentemente o Mick Six precisou sair da banda para se dedicar um pouco mais a criação do filho dele.
Nós então recrutamos o mineiro Raul Signorini (Sick Dogs in Trouble) para o baixo e trouxemos de volta o nosso baterista original, o Estefan Ferreira para dar sequência aos trabalhos.
Com essa volta do Estefan no momento nos pareceu propicio para lançarmos uma versão remasterizada, do único disco que não havíamos disponibilizado até hoje nas plataformas de streaming.
Já havíamos recebido uns pedidos via Instagram e Facebook e isso estava martelando na minha cabeça. Em uma conversa com a Hearts Bleed Blue, surgiu a ideia de disponibilizarmos algumas dessas músicas, que foram tão importantes para formação do Bombers que nós somos hoje.
Além disso, estamos trabalhando em um matéria novo, totalmente baseado na língua portuguesa, para ser lançado ainda esse ano.
Ou seja, se você parar para analisar, esse EP Achados e Perdidos vem meio que para preparar o terreno pelo que vem aí.”
Matheus Krempel: “Pois é… no Brasil, e só no Brasil, existe um gênero conhecido como Hardcore melódico, além do Hardcore propriamente dito. A gente sempre teve muita influência de tudo o que tivemos contato musicalmente falando.
Nascemos em um cenário de Punk e Hardcore e por mais que hoje estejamos nos distanciando cada vez mais disso em termos de gênero musical, esse premio veio como uma grata bomba nas nossas cabeças.
Nunca pensei que fossemos receber um prêmio pelo nosso trabalho. Até então a minha maior alegria havia sido ver nosso disco ser resenhado e elogiado pelo Tárik de Souza. Eu achei engraçado, porque não esperava de jeito nenhum toda essa atenção. Existiam bandas de Hardcore com H maiúsculo indicadas na categoria.
Voltando a esse dia. Foi até por isso que, eu e o Trivela, ficamos lá, tomando uma cervejinha, sem pretensão, desencanados e quando anunciaram nosso nome, eu tive que voltar de Júpiter para a Terra em frações de segundos. Foi uma coisa muito doida. Os poderes da adrenalina… ahahahahaha ela te deixa sóbrio em um piscar de olhos. Depois disso, eu fiquei umas 2 horas e meia chorando que nem criança no ombro do Trivela.
Esse ano, fomos indicados na categoria Rock, pelo Embracing the Moon e eu volto a dizer, que só pelo fato de ter o trabalho lembrado e indicado em uma premiação como essa, já é um presente incrível.
No final das contas é apenas música e quando ela é feita com o coração, ela com certeza vai se conectar a outras pessoas e isso é o que faz ela ser boa.”
Matheus Krempel: “É verdade! A gente conversou isso em uma ocasião.
Cara, eu acredito que para poder sobreviver você precisa se adaptar ao mundo.
As pessoas mudam. Ninguém fica parado. Até os Ramones mudaram.
Hoje em dia os hábitos mudaram e a forma de consumir música mudou.
Eu não tenho a menor pretensão de nadar contra a corrente pelo simples prazer de ser do contra.
Isso é fazer papel de otário. E eu já fiz isso demais (risos).
Por outro lado, a resposta ao lançamento do Embracing the Moon foi muito boa. A resposta foi acima das expectativas. Diversificamos ainda mais o som, exploramos novas possibilidades e mesmo assim ouvi diversas pessoas que conseguimos manter nosso DNA intacto. Eu senti que o formato enxuto, ajudou as pessoas a prestarem mais atenção a tudo o que produzimos para ele. As 5 músicas. E no final das contas, isso é tudo o que queremos. É o que todo artista quer.
De 2014 a 2017 lançamos 35 músicas divididas em 2 discos, um EP e uma participação no Tributo ao Titãs. Honestamente?
É muita coisa para um mundo onde hoje, as pessoas parecem ter trocado os filmes longos pelos seriados. E não é papo de tiozinho revoltado. Eu sou assim também. O Ritmo hoje é frenético.
Não que a gente descarte o lançamento de álbuns, mas acredito que um meio termo é muito bem vindo. E com relação ao direcionamento musical… eu estou muito confortável com as maluquices que estamos criando. Deram liberdade… vamos tentar aproveitar isso da melhor maneira possível.”
Matheus Krempel: “Eu amo música acústica.
Minha parceria com o Trivela nasceu de um projeto acústico chamado Krempel e Do Vale. Todas as músicas que eu componho são feitas no violão. Acho lindo o caráter confessional que as músicas ganham nesse formato.
Sou fã do “Bossa n’ Roll” da Rita Lee. Acho incrível o que o Vic Ruggiero faz nos shows solo, a Laura Jane Grace e até mesmo o Ginger Wildheart, andou fazendo uns tempos atrás.
Por aqui tem uma galera que eu me identifico bastante também.
Tem o Marlon Henris (Fibonattis), o Dom Orione (Videocassetes), Pedroluts, o Riot Rodriguez (13 Brotherhood) e uma galera explorando esse formato. Todos lançando grandes trabalhos. E eu de fora babando. Ou seja, tem tudo isso rolando e eu lá, com um estúdio me encarando? Não da para ficar de fora né?!”
Você mesmo conta como foi mudando, de públicos de 400 pessoas para algo menor e mais nichado. Como é a forma que vê o consumo da indústria?
Matheus Krempel: “É um momento de renovação no mundo inteiro.
Existem boas bandas aparecendo o tempo inteiro. Produção acima da média, mas muitas vezes para um público muito abaixo. As coisas já foram maiores um dia? Concordo. Mas elas também ja foram menores. Hoje vivemos de acordo com os algoritmos.
O cara pensa: “Ah eu amo Led Zeppelin e Queen”, beleza aí as plataformas de streaming vão lá e te indicam o Greta Van Fleet e o The Struts e você segue vendo renovação.
Se você curte Bombers, o Spotify te indica bandas como Paulo Rocker e os Rockaways, Manual, Armada, Abraskadabra, Violet Soda, Letty e Water Rats. E eu acho que assim a coisa segue.
Por outro lado o que eu acho que aconteceu, principalmente depois dos frutíferos anos 90 e início dos 2000, foi que a galera viu umas bandas de rock fazerem sucesso, sairem do underground, assinarem com grandes gravadoras e aí começaram a montar bandas e mirar seus trabalhos para atingir o mesmo êxito ou ao menos serem peças de reposição dessa turma.
Óbvio que nessa veio uma enxurrada de chorume. Todo mundo conhece alguém que teve banda de rock e desistiu por que não deu certo e aí o cara foi tocar pagode ou virou dentista… sei lá…
Já virou clichê do Bombers mas a verdade é que, quando você faz por amor, você segue fazendo independente do resultado.”
Matheus Krempel: “Meus maiores ídolos na música são aqueles que não ficaram parados e que sempre buscaram se reinventar. Do Clash ao Paralamas do Sucesso, passando pelo Ratos de Porão, Sepultura e o Guns n’ Roses. Nenhum deles ficou parado ou se repetindo.
Com as novas músicas que estão saindo todas em português, eu estou buscando uma maneira de estabelecer uma conexão com quem for ouvir. Depois de um tempo escrevendo crônicas para o “Guitar Talks”, onde eu falava de mim e dos meus perrengues, eu recebia muitas mensagens de pessoas dizendo que se identificavam demais com tudo aquilo e me elogiavam dizendo que aquilo havia feito bem para elas.
Baseado nessa experiência, eu resolvi incorporar isso no som do Bombers.
Comecei a estudar o Tarot, li Mark Manson, Antonio Prata e Haemin Sunim para iluminar as idéias.
Quero atingir cada vez mais as pessoas e para isso estamos buscando diversificar não só o som, mas também a abordagem. To cagando se o público mais radical (e consequentemente mais conservador) vai aceitar.
Quando lançamos Blood and Tears ano passado, pessoas que estavam lidando com depressão mandaram mensagens dizendo que se identificaram com a música.
É isso o que eu quero. Não quero que o Bombers pertença a um nicho.
Eu quero que o Bombers seja de todo mundo e de qualquer um.”
Matheus Krempel: “Eu não sei o que eu estou fazendo. Só estou fazendo. Acho que tudo isso é uma troca.
Eu ajudo as bandas e os artistas da forma que eu posso. Com o estúdio, seja gravando ou organizando pocket shows, com o meu selo (Craic Dealer Records), com o meu programa na Mutante Radio (que vai voltar esse ano) ou mesmo a minha relação com a HBB, eu não me vejo como um colono explorador.
Eu acredito e trabalho de forma colaborativa e tento encontrar uma maneira de todos sairem ganhando. Acredito que se todos tiverem condição de ganhar com os acordos, a maquina se mantém funcionando.
É uma questão de engrenagem. Se tudo funcionar direitinho, a coisa anda.
Não dá para ter ganancia ou querer restringir a parada a um grupo seleto.
Tem que haver troca entre os ambientes. Qual o problema de uma banda gravar no Costella, ensaiar na Porto, lançar pela Craic Dealer e fazer shows com bandas da Hearts Bleed Blue e da Howlin? Eu não vejo o menor problema.”
Matheus Krempel: “É uma coisa bem simples e óbvia.
A politica, e não só ela. A economia também. Isso afeta a vida todos. Não tem como passar incólume por tudo isso.
A gente lida com emoções, sentimentos e ninguém pode ignorar esse assunto que dividiu as pessoas. Nessas eleições vimos tanto ódio sendo destilado, que só tendo sangue de barata para não se manifestar.
O que eu acho massa, é que depois dessas últimas eleições, uma galera do nosso meio artístico independente começou a se interessar pelo assunto. Eu me incluo nessa.
Eu só acho que forma de expressar essas ideias as vezes é ainda meio ingênua e simplória, mas o caminho é esse. A gente vai conseguir melhorar os argumentos. Tenho fé.”
This post was published on 21 de fevereiro de 2019 11:00 am
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