Após cruzar o mundo gravando videoclipes, Couple of Things inicia nova série no Youtube

 Após cruzar o mundo gravando videoclipes, Couple of Things inicia nova série no Youtube

Você talvez já tenha ouvido falar sobre o Around The World in 80 Music Videos. A série de vídeo, filmada entre 2015 e 2016, atualmente está sendo exibida nos canais BIS e Multishow. Foi a primeira vez que uma equipe de filmagem rodou o mundo pra gravar uma série de videoclipes.

No total foram 18 meses de gravações e mais de 20 países visitados. Durante sua jornada eles puderam filmar clipes em parceria com bandas como: Molotov no México, Cairokee no Egito, Ben l’Oncle Soul na França, Monsieur Perinè na Colômbia, Pato Fu no Brasil, entre outros.



Agora no dia 27 de fevereiro Leo Longo e Diana Boccara, conhecidos como Couple of Things, começarão a exibir através de seu canal no Youtube o resultado de sua nova jornada.

A série chamada VIDEOCLIPERS contará com 16 clipes em plano sequência filmados a custo zero. Desta vez eles optaram por trabalhar exclusivamente com bandas e artistas brasileiros.

O roteiro de Diana e Leo cruza o país de norte a sul. Na sua rota eles passam por importantes capitais como Recife, Belém, Goiânia, Belo Horizonte, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.

Entre as participações poderemos conferir o resultado das filmagens com artistas do calibre de Alceu ValençaDona Onete, Tuyo, Dingo Bells, Barro, Sara Não Tem NomeFelipe CordeiroCarne Doce Bruna Mendez.

Além da exibição de um videoclipe, por semana, será disponibilizado um making of das gravações. Você também poderá acompanhar toda a gravação e os bastidores online, através  das redes sociais do casal. A cobertura realtime acontecerá no Instagram e o Facebook.


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Couple Of Things durante as gravações do videoclipe do Dingo Bells. – Foto Por: Bruno dos Anjos

Entrevista

Para saber mais sobre o novo projeto e todas estas vivências dentro do universo das produções audiovisuais conversamos com os filmakers.

[Hits Perdidos] Antes de adentrar a aventura “videoclíptica” eu gostaria que contassem mais sobre quais filmes, curtas, e videoclipes tanto musicais, como não, acabaram inspirando vocês a optarem por esta carreira. Além disso como veem a evolução tanto da tecnologia, como das produções modernas?

Couple of Things: “Tanto Diana quanto eu sempre tivemos admiração e encantamento pelo formato do videoclipe. Éramos adolescentes no surgimento da MTV e essa linguagem, naturalmente, está na maneira como enxergamos a música. Impossível dissociar uma da outra. Ouvir artistas que gostamos está naturalmente relacionado a assistir ou criar imagens pra representar essas melodias e versos. Os clipes e filmes do Spike Jonze e do Michel Gondry, por exemplo, sempre foram referências pra gente e desenvolvemos nossas habilidades artísticas muito em paralelo ao que assistíamos deles.

As filmografias de bandas como Foo Fighters e Beastie Boys, pra citar os anos 1990, também ajudaram a formar esse alicerce pra que o videoclipe fosse algo a que queríamos muito nos dedicar. No cinema, nossas referências sempre foram muito distintas. Sou fã da forma como Woody Allen, Wes Anderson, Iñarritu, Guy Ritchie e os irmãos Coen contam histórias utilizando a música como linha narrativa fundamental pra que suas histórias façam tanto sentido quanto seus planos de câmera. Pra Diana, o filme “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” e a série “Gilmore Girls” são as referências cruciais pra ter seguido este caminho.

Sobre a segunda parte da pergunta, a gente gosta de boas histórias e de como a câmera consegue contá-la bem. Nem sempre achamos que produções cheia de modernidades ou super-produções são o melhor caminho. Estamos na contra-mão disso. Tem cenas e clipes emblemáticos contados da forma mais simples possível, como fez Vincent Moon no início dos “Take Away Show” da Blogoteque ou “Don’t Look Back” do Bob Dylan. Quando a gente assiste “Hardest Button to Button” do White Stripes, “1 2 3 4” da Feist ou “Praise You” do Fatboy Slim dá pra entender que ideias simples e criativas é a forma como a gente gosta de ver esse mercado.”

[Hits Perdidos] Pessoas mais espiritualizadas costumam falar que viajar é um ato de transformação. Para vocês como esta vida de nômade, entre conhecer lugares, culturas e pessoas tão diferentes acabou influenciando não só no resultado dos clipes mas como no campo do crescimento pessoal?

Couple of Things: “Conhecer lugares não transformam a gente. Conhecer pessoas sim. Pra gente, estar na estrada não é a primeira coisa que passou pela nossa cabeça. O fato de estarmos vivendo de forma itinerante pelo mundo, criando e produzindo séries com nosso coletivo Couple of Things, é na verdade uma condição essencial pra que conseguíssemos trabalhar e viver da nossa arte. Então, isso é muito importante no nosso lifestyle. Primeiro veio a paixão por criar e depois veio a conclusão de que pra isso, deveríamos estar livres pra fazê-lo. E foi um baita processo. Por mais simples e rápido que tenha sido, custou a amadurecer.

Hoje, não temos nada que nos prenda a nenhum lugar, no sentido físico. Não temos casa, carro, escritório, trabalho, compromissos fixos em nenhum lugar do planeta. E isso nos permitiu poder decidir se amanhã queremos estar em São Paulo ou em Seul trabalhando. Por outro lado, estes 5 anos vivendo desta forma nos fez criar tantas relações em todos os lugares pelos quais passamos que é isso que nos faz nos sentir transformados. Nossa rede é tão conectada e tão especial, que temos a certeza de que é esse o bem mais valioso que temos nessa vida na estrada. Então, respondendo sua pergunta, é conhecer, se entregar e aprender a respeitar as pessoas que tem sido um ato de transformação em nossas vidas.”


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O paraense Felipe Cordeiro também participa da nova série que estreia no dia 27/02. – Foto Por: Ju Vasconcelo

[Hits Perdidos] Teve algum vídeo que chegaram com uma ideia em mente após ouvir o som da banda e depois acabou que conhecendo as pessoas e as locações tudo simplesmente “mudou”?

Couple of Things: “Quase sempre isso acontece. Permitimos que as sensações, sentimentos e influência local mude nossa perspectiva. E isso significa adaptar ou mudar uma ideia. Essa coisa de seguir um roteiro a risca, que foi criado num contexto totalmente diferente ao local que provavelmente vamos filmar, seria uma enorme negligência com nosso processo criativo. Foi assim por exemplo quando filmamos um dos clipes da série Around The World in 80 Music Videos, com a banda coreana Dead Buttons.



Só em Seul, quando conhecemos a banda e o bairro punk que eles frequentavam, que conseguimos compreender o mood, o tipo de humor, a vibe de tudo que girava em torno da banda. Até dias antes disso, pensávamos num caminho de clipe mais dark, mais underground… talvez fosse nossa influência ocidental puxando pra este caminho. Mas depois, fomos por um caminho bem diferente, mais nonsense e divertido, mas de um jeito bem coreano.”

[Hits Perdidos] Vocês abdicaram do conforto para viajar com o básico. Como isso de se desfazer das coisas ajudou vocês a entenderem as coisas que realmente importam na vida?

Couple of Things: “Na vida, tudo é condicional. Se você vive com sua família, seu referencial de morar é um. Se você divide a casa com amigos, morar é outra coisa. E assim, a gente vai determinando o que tem mais ou menos valor pra nossa vida. Mas o ser humano tem uma habilidade de adaptação enorme, por mais que às vezes queira achar que não possui e bloqueie isso. Então, a partir do momento que não tínhamos mais nada de bens, nossa condição era aquela. E de um momento pra outro, percebemos que as relações que criávamos é que era fundamental pra nossa sobrevivência e não mais ter um salário, ou emprego ou uma casa pra morar.

Foi um processo muito orgânico e de extrema facilidade de adaptação. Isso porque tivemos também muita sorte de encontrar todos os novos amigos que temos encontrado nesta jornada. Falei sorte, mas sei também que a gente investe muita energia e boa intenção pra que isso aconteça. Caso contrário, já teríamos abandonado este lifestyle há algum tempo.”

[Hits Perdidos] Viajar também tem a parte do se surpreender e as vezes se apaixonar por um lugar que jamais imaginaria que fosse gostar tanto. Quais lugares mais surpreenderam vocês? Sofreram em algum lugar para se comunicar ou se fazerem entendidos?

Couple of Things: “Tivemos as melhores experiências nos lugares em que nos conectamos mais com pessoas. É desses lugares que sentimos falta e queremos voltar. São esses os lugares que mais nos surpreenderam. Destacamos Lisboa, Dublin, Moscou, Nova Déli, Nashville e Cidade do México. Cidades totalmente distintas mas que nos sentimos em casa quando pensamos. Ali deixamos muitos amigos queridos que até hoje conversamos sobre tudo. Acho que tivemos algumas dificuldades de comunicação em algumas cidades, sim. Mas não por causa do idioma apenas. Comunicação vai além da língua. A gente se comunica através de gesto, de olhar e de coisas que nem estamos vendo acontecer. Assim como podemos não nos dar tão bem com pessoas do Brasil, isso pode acontecer com gringos também. Não é por causa do idioma ou do lugar que isso é determinante. Pra concluir, onde encontramos pessoas dispostas a colaborar e a se entregar, como estávamos, não tivemos qualquer problema.”


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Alceu Valença é um dos que estrelarão VIDEOCLIPERS. – Foto Por: Lumos Estúdio

[Hits Perdidos] Para vocês como é o exercício de em pouquíssimo tempo se conectar com uma banda? Pergunto isso pois muitas vezes o artista tem ideias, backgrounds e perspectivas bastantes diferentes, como é ter que lidar com esse equilíbrio?

Couple of Things: “Antes de tudo, é importante lembrar que apesar de sermos um casal, Diana e eu também somos dois e, consequentemente, também temos opiniões muito diferentes sobre várias coisas. Então sempre são duas etapas: a de encontrar nosso consenso e depois de entrar em consenso com os artistas. Sobre isso, acho que todo mundo está sempre se adaptando ao outro, né?!

Colaborar pressupõe ter um denominador comum, caso contrário não existe colaboração. Assim como nós temos que entender e interpretar dezenas de diferentes bandas, essas bandas também tem que sacar a gente.

Mesmo quando as coisas demoram a ter sinergia e o processo é ruidoso, difícil e mais complexo, não significa que não possa acontecer algo – desde que o objetivo principal seja produzir algo em conjunto. Mas Diana e eu criamos uma metodologia quase instintiva e uma prática natural sobre como entender  e interpretar a cabeça e o perfil dos artistas que filmamos. Isso é importante, mesmo que nossa intenção seja a de propôr uma disruptura a esse perfil deles.

Quando filmamos com Ben l’Oncle Soul em Paris, a proposta do nosso clipe foi algo extremamente simples, muito diferente do ele vinha fazendo na época, já que tinha contrato com a Motown e filmava todos seus clipe com grandes produções em Los Angeles. Tivemos que encontrar um equilíbrio e, o mais importante, ter confiança um no outro, porque só assim a gente conseguiria construir algo. E deu certo.



Encontramos nosso ponto de equilíbrio e isso só foi acontecer de verdade no set de gravação. Foi muito legal! Agora, quando não acontece esse “encontro mágico”, tudo bem também, né?! Não precisamos fazer o papel do bom samaritano e pensar que temos obrigação de ter afinidade com o perfil de todo mundo. Isso já aconteceu com a gente e tudo bem.”

[Hits Perdidos] Depois de rodar o mundo você optaram por fazer Brasil de norte a sul em uma temporada no youtube e com 16 artistas. De nomes renomados como Alceu Valença Dona Onete, a novos talentos como a Tuyo. Como enxergam esse convívio com diferentes gerações e quão abertos são a ideias?

Couple of Things: “A gente não faz uma divisão conceitual ou musical específica para convidar bandas e artistas pra filmar. A gente convida quem a gente gosta, admira e com quem a gente imagina que terá afinidade. Nosso projeto é colaborativo, ninguém paga nada a ninguém e essas trocas são totalmente voluntárias. Portanto, não teria outro jeito de filmar essa série se não fosse assim, um projeto bastante íntimo e pessoal.

Por isso mesmo acaba acontecendo essa grande mistura de perfis de artistas. A gente gosta demais disso. A vida de rótulos e caixinhas é chata pra cacete. Filmar com Alceu em Olinda, com Renascentes em Porto Alegre ou com Sara Não Tem Nome em BH tem o mesmo objetivo e vivenciamos essas experiências da forma mais intensa possível. E esse processo criativo com cada um deles foi muito enriquecedor pra nós – espero que pra eles também tenha sido legal de vivenciar rs. Diana e eu sempre estivemos dispostos a ouvir e criar ideias a partir das ideias deles. Até acho que é isso que faz com que todos se sintam pertencentes ao nosso projeto e, de alguma forma, proprietários também.”

[Hits Perdidos]  Vocês já produziram antes videoclipes para outras bandas brasileiras mas gostaria de saber como vocês enxergam esta nova geração de artistas que tem surgido nos últimos tempos.

Couple of Things: “O que mais me surpreende no que tem acontecido nos últimos 5 anos na cena musical é a capacidade de auto-gerenciamento que bandas e artistas independentes têm em mãos. E muitos têm tido consciência de como usar essas ferramentas a seu favor. Não só com plataformas de comercialização de shows e música, mas também de assessoria e divulgação. Fazer um bom som já não te garante na playlist dos fãs. Pra gente, por exemplo, só isso não basta pra convidarmos artistas a participar de nossos projetos. É preciso assumir uma estética, ter posicionamento e pensar na forma como se está produzindo conteúdo relevante sobre a banda. E é legal quando as bandas são criativas pra reinventar como se mostram pro mundo.”

[Hits Perdidos] Além disso, ainda no campo nacional, como observam o trabalho de outros diretores de clipes brasileiros? Quais admiram e como observam o mercado?

Couple of Things: “Engraçado que apesar de estar filmando videoclipes, nos sentimos à margem dessa indústria. Nossa percepção sobre o que acontece neste mercado atualmente seria insuficiente pra nos posicionar. Não conhecemos muitos diretores e o que estamos fazendo é justamente o de criar conteúdo autoral independente da nossa forma, com nossas próprias metodologias e tentando nos divertir com isso. Mas obviamente assistimos clipes de bandas que gostamos e podemos dizer que há muita coisa legal acontecendo.”


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Eles tiveram a oportunidade de trabalhar com a lendária Dona Onete. – Foto Por: Estúdio Tereza e Aryann

[Hits Perdidos] Porquê VIDEOCLIPERS? Ainda veem que é um mercado à margem do que poderia ser? Como veem a mudança de comportamento da indústria que já a alguns anos já desenvolve o vídeo como para internet (“webclipe”)?

Couple of Things: “Criamos a série VIDEOCLIPERS porque estávamos carentes de vivenciar sets colaborativos com bandas e suas redes. Além disso, achamos que não há nada tão especial quanto poder filmar e dar imagem às músicas que gostamos de ouvir. É uma sensação muito mágica. E no fim das contas, acho que é isso que todo diretor de videoclipe quer, sabe?! E é por isso que decidimos dar esse nome ao projeto. Quem ama e pratica fotografia, é photographer. Quem ama e pratica o filmmaking, é filmmaker. Que ama e faz videoclipes, é videocliper.

Essa não é uma propriedade nossa. Ser um videocliper é, antes de tudo, ser tão apaixonado por este formato e linguagem que não pensaria duas vezes pra filmar com uma banda que goste, independente da situação. Sobre a segunda parte da pergunta, particularmente gosto demais desta história de webclipe, lyric video, clipe ao vivo ou qualquer coisa que tente dar amplitude ao casamento da música com o vídeo.”

[Hits Perdidos] Para fechar, quais artistas para vocês seria uma honra algum dia dirigir um videoclipe?

Couple of Things: “Pra mim, Lenine, Gilberto Gil, The War & Drugs, Neil Young e Noel Gallagher. Pra Diana, Johnny Hooker, Ivete Sangalo, The Killers, Foo Fighters e Maroon 5.”

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