O Brasil é repleto de ritmos, discursos, sentimentos, confusões, descompassos e pulsações. Talvez seja até mais complexo do que historiadores – e sociólogos – tentem explicar mas muitas vezes pequenas crônicas tem o poder de mostrar, através de perspectivas bem particulares, histórias comuns de nosso cotidiano.
Um disco muitas vezes passa por esse papel e Paulo Chaves em seu álbum de estreia consegue passar suas impressões e vivências de maneira leve e solta. O brasiliense em novembro lançou sua “colcha de retalhos”, ou melhor dizendo o disco Desafogo.
Paulo é violonista formado pela Escola de Música de Brasília. Entre suas influências cita João Bosco, Caetano Veloso, Jorge Drexler, Ed Motta, Gilberto Gil, Roberto Carlos e Guinga mas não se prende apenas a este repertório já que em seu disco passeia por gêneros musicais como o brega, neo soul, samba, R&B, Rock Alternativo, ijexá, bolero e MPB.
Junto de sua banda para o álbum foram incorporadas ainda inspirações em grupos como Thundercat, Frank Ocean e o Terno. Completam a banda Pedro Lacerda no baixo, Isabella Pina na percussão e Pedro Barbosa na bateria.
“Por mais que a carreira seja solo – algo que esteve muito claro desde o início – a construção do disco foi totalmente coletiva. Eu jamais teria condições de fazer um disco como esse sem o talento deles e da galera que entrou depois. Eles são tão responsáveis pela identidade do trabalho quanto eu”, conta o músico
A depressão, o gato da vizinha, a ansiedade, as relações humanas, os desequilíbrios, dúvidas, inconstâncias, signos, tédio e o amor tem espaço em Desafogo. Disco que muitas vezes parece um pouco um livro de crônicas do dia-a-dia.
Desafogo foi produzido por André Zinelli (Campbell Trio) e mixado por Diego Poloni
(Ventre, Dom Pedro). Já a foto da capa é de Carine Wallauer e o design é assinado por Bepo. O álbum lançado de maneira independente conta com 11 faixas e 37 minutos de duração.
Em tom leve, e de brincadeira, o álbum se inicia com a nada pretensiosa “Analfabetismo Astral”. Com referências R&B, de funk e synthpop, o registro se inicia divagando sobre o amor e os astros.
Até a sinastria amorosa é colocadas em pauta. Ele ironiza o crescente apelo do misticismo dentro das composições contemporâneas e ressalta seu “desapego” com tal tipo conhecimento.
Já “Ócio” é praticamente um hit perdido do registro. Ele vai atrás de referências do brega, sintetizadores, guitarras secas e através de melodias pops, guitarrada e bolero, nos convoca para dançar a dois. Narrando em si a rotina de um casal que já não está mais em completa sintonia.
“Lá Vamos Nós” ainda tem o ar de ressentimento no ar. Parece falar sobre tentar lidar com o desgaste. Quando o indivíduo sabe que precisa tomar novos rumos mas ainda vive em um (eterno) impasse. As harmonias e backin vocals deixam o clima ainda mais viajante e desta forma percebemos a influência de Thundercat.
“Filó” bebe da MPB de Gilberto Gil e Caetano e faz uma pequena crônica sobre o cotidiano. Passando tanto pelos afazeres banais de todo dia como pelo fator “errante” inerente ao ser humano. Mostrando através de delírios sentimentos que passam pela tristeza, ira, monotonia, e decepção. Por fim a canção acaba nos surpreendendo com seu trágico desfecho.
Na sequência temos a curta “Mentiras”, um desabafo repleto de arrependimento. A canção acaba servindo como introdução para “Sinceras”. Faixa que tem destaque para os vocais de Paulo e fala sobre amadurecimento, ressentimento e promessas. A partir daqui o álbum começa a ficar mais rockeiro, com direito a solos de guitarra setentistas.
Trazendo percussão, latinidades, e guitarras pesadas temos “Corpos”. Autobiográfica e que abre o coração para falar sobre suas fragilidades. As crises, destemperos, depressão, paranóias e ansiedade são colocadas em pauta de maneira bastante literal.
Quem chega com um dedilhado é “Sussuro” que caminha pelo campo das brasilidades. É sobre lidar com as tempestades e recomeços. Sobre as idas e vindas, os desgastes e o que na teoria realmente importa. Louco, apaixonado e delirante.
O gato da vizinha ganha um capítulo a parte em “Bichano”. Que fala sobre a trajetória do bichinho que depois de ter uma vida de rei teve sua vida abreviada após um atropelamento. Paulo narra a rotina da criatura, sua liberdade e existência.
Já “Obsoleto” traz na percussão referências africanas, bossa nova e parece ainda ter dificuldade de superar o fim. É também a mais experimental do registro e viaja para outras galáxias abraçando o samba, a ginga e até mesmo o ritmo avassalador do carnaval.
Mas quem tem a missão de encerrar o álbum é justamente “Ciúmes da Bahia”. Uma balada crua, no melhor estilo voz e violão, que parece o destruir aos poucos. Irá agradar quem curtiu o disco Recomeçar (2017) de Tim Bernardes.
O brasiliense Paulo Chaves em seu primeiro álbum, Desafogo, divaga sobre amores, depressão, ansiedade e até mesmo sobre o trágico fim do gatinho da vizinha. O registro em si faz uma fusão de estilos como a MPB, samba, Neo Soul, brega, bolero, Rock Alternativo e jazz. Seu jeito despretensioso para falar sobres suas inseguranças e dores do dia-a-dia recaem como pequenas crônicas musicadas. Destaque para os singles “Ócio” e “Filó”.
This post was published on 9 de janeiro de 2019 10:30 am
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