Inspirado em The Handmaid’s Tale, Frabin lança clipe para “Realilusão”
Experimentando mais texturas e brincando com sintetizadores, a poucas semanas o músico Victor Fabri, nascido em Belém e criado em Santa Catarina, apresentou seu segundo disco autoral, Tropical Blasè.
Fabrin é o alterego que carrega em sua trajetória o EP de estreia, Selfish (2014), gravado – e mixado – em seu quarto e masterizado no estúdio The Ranch Mastering. O mesmo estúdio responsável pela masterização de álbuns como Humbug (Arctic Monkeys), King Of The Beach (Wavves), Plastic Beach (Gorillaz), Thank You Happy Birthday (Cage The Elephant) entre outros.
Em 2015 veio o primeiro disco, Real, este que saiu pelos selos Midsummer Madness e Balaclava Records, assim como o EP também foi gravado de forma caseira porém a a mixagem dessa vez foi feita no estúdio Pimenta do Reino e masterização por conta de Rob Grant no estúdio Poon’s Head na Austrália, parceiro na produção do álbum “Innerspeaker” do Tame Impala.
Foi a partir deste trabalho que pude conhecer a obra do músico que explora por camadas do Dream Pop e psicodelia. Me lembrando projetos como Melodys Echo Chamber e facilmente cativando através de suas harmonias imersivas.
Pouco depois veio o EP Nope, em 2017. Agora no fim de 2018, ele chega com seu segundo disco e cita referências que engrandeceram seu som como Unknown Mortal Orchestra, Neon Indian e Michael Jackson. O que deixou o disco mais próximo do pop por conta de sua experimentação com os sintetizadores.
“Estava no meio de vários paraísos tropicais entre o Norte e o Nordeste do Brasil, inclusive a foto da capa é numa praia no Piauí. Essas paisagens naturais com a mínima interferência do homem são os meus locais favoritos.
E eu moro numa ilha, também perto de lugares bem naturais, e faço esse dream pop de tom mais escuro e letras introspectivas. É um contraste entre o ambiente e as ideias”, conta o músico sobre a concepção do álbum.
Novo Clipe
Após em setembro disponibilizar o belo vídeo para “Pastime Ilusion” ele acaba de lançar o videoclipe para “Realilusão”, este em que ele assina a direção e a produção através de sua própria produtora, a Invocado Filmes.
“É tão difícil reverter algum lucro da cena musical no Brasil hoje, então tenho lenha pra queimar por muitos anos sendo auto-suficiente. Como isso é o que me diverte, vou continuar fazendo tendo galera pra escutar minhas músicas e ver meus clipes ou não.
O feedback é muito bom, eu tento ser o meu maior crítico a princípio, não sei quão sincera as pessoas estão sendo mas desde 2014, o pessoal que tromba comigo sempre curte o som”, conta Victor em entrevista para o blog do selo Midsummer Madness
Sobre a canção escolhida ele conta que uma das inspirações para o vídeo foi a série The Handmaid’s Tale, do canal a cabo HBO, além claro dos nervos à flor da pelo do atual momento político.
“Eu fiz essa música e letra inspirado pela ideia da meritocracia. No clipe tentei mostrar isso em várias etapas, começando meio pé rapado, bagunçado, dai vou me arrumando até virar um “homem de bem”. No final, chegamos na atual teocracia armada.
Eu tinha tido essa ideia antes mesmo de relacionar com qualquer crítica ao momento atual, até porque eu compus essa musica em 2016, mas achei pertinente fazer esse vídeo para lançar agora. Ao crescermos, às vezes nos enganamos achando que nossos desejos estão acima do bem estar do outro. Esta obra de ficção é sobre isso.”
O vídeo mostra como nos transformamos nos sonhos dos outros para se adequar a um sistema nefasto e injusto. É como assistir calado nossos valores de humanidade sucumbindo terra abaixo. Expondo em si a falsa ilusão da meritocracia. A cena final recai como um aviso do que iremos ter enfrentar perante sociedade pelos próximos 4 anos.
Para entender mais sobre o momento de sua carreira, o clipe e as discussões que propõe conversamos com o Victor.
[Hits Perdidos] O clipe para “Realilusão” não poderia vir em momento mais pertinente com tudo que tem passado no país. Como é para você enxergar esses “homens de bem” cheios de ganância e loucos pelo poder chegando lá? Te assusta ver os obstáculos que artistas terão que passar num futuro próximo?
Victor Fabri: “Um dos problemas da ascensão desse tipo de pensamento no Brasil é que botam segurança e economia como desculpas pra passar por cima da humanidade e cultura da população, sendo que uma sociedade funcional só é saudável com tudo isso em harmonia, na verdade a cultura no brasil já ia mal das pernas a um bom tempo, visto o brasileiro médio que fica horrorizado vendo artes de corpos nus, seja de séculos passados ou atuais, ou a repulsa de ver arte brasileira abstrata e periférica tendo visibilidade internacional, acho que o nosso papel é resistir e não desanimar por que assim como essa onda de conservadorismo veio alguma hora ela também vai passar.
[Hits Perdidos] Claro que dentro da sua arte você quis expor a falta de humanidade na meritocracia e sua falsa ilusão, onde muitos perdem sua essência e escrúpulos para “chegar lá”. Com isso em mente, como foi pensar no roteiro e produzir seu próprio clipe?
Victor Fabri: “Então, essa música eu compus a letra dela em 2016 se não me engano mas nunca tinha pensado no clipe dessa forma, acho que nesse caos da eleição me veio essa ideia de roteiro, em que eu queria demonstrar esse processo de ascensão de forma simples, me inspirei um pouco em Handmaid’s Tale.”
[Hits Perdidos] Seu segundo disco acaba de sair passeando por estilos como Synthpop, Psicodelia, Shoegaze e Dream Pop, e trazendo outros universos para seu trabalho. Como foi o processo e o que procurou trazer como novas referências?
Victor Fabri: “O processo foi bem parecido com o de sempre, compondo aqui em casa. Dessa vez brinquei mais com os sintetizadores e tentei explorar um lado um pouco mais pop.”