O Festival Timbre tem se consolidado nos últimos anos como um dos mais relevantes do país. Sendo já passagem obrigatória para quem vive no triângulo mineiro. Neste ano ele chega a sua quinta edição e com uma novidade em sua programação: o tema “Nossa Voz, Nosso Poder” – uma celebração à diversidade e, principalmente, ao empoderamento da mulher.

O evento que começou no dia 09 e se encerra neste domingo, 16 de setembro, reúne 25 atrações que se apresentam em Uberlândia (MG). com a proposta de não somente promover a música e a cultura, mas também a resistência e o amor.

Entre seus destaques no line up podemos vez nomes como Elza Soares, Karol Conka, BaianaSystem, Marcelo D2, Plutão Já Foi Planeta, Supercombo, Porcas Borboletas, Drik Barbosa, Musa Híbrida e Carne Doce.

Sobre a temática que da força e empodera mulheres e comunidade LGBTQ+ o organizador do festival Gabriel Caixeta comenta:

“Estou cercado por mulheres no Timbre, mas não parecia evidente para o público o protagonismo delas no evento. A partir dessa constatação, selecionamos nomes que reforçam a importância não só da mulher, mas do artista negro e LGBTQ+. Ter Elza Soares e Karol Conka em nossa programação é um marco para nós”


A apresentação da Elza Soares é um dos grandes destaques do Festival Timbre. – Foto Por: Patrícia Lino 


Reta Final

Nesta reta final do festival ainda teremos uma programação recheada de destaques.

Nesta quinta (13/03), que o Festival estreia, na Granja Marileusa, com diversos shows e praça de alimentação. No line up estão escaladas as bandas Joana Bentes (MG), Pássaro Vivo (MG) e Young Lights (MG). A entrada para esse dia também é gratuita.

Na sexta-feira, 14/09, o Festival acontece dentro do Teatro Municipal, em tom mais intimista. Além de shows com pegada eletroacústica, o público terá a chance de conferir com exclusividade o show de Gabriel Gonti (MG) convidando OutroEu (RJ).

Os artistas, que já tocaram juntos, retomaram a parceria especialmente para o Festival. Plutão Já Foi Planeta (RN) e Supercombo (ES), que já gravaram em conjunto para o projeto Session da Tarde, também apresentarão seus respectivos shows.

Já no sábado, 15/09, na Esplanada do Teatro Municipal, o público terá diversas atrações, além dos shows, como exposição de artes e poesias, mural de graffiti, espaço infantil “Timbrim”, stands interativos e feira gastronômica.

Os shows do sábado

Palco Budweiser: Com BaianaSystem (BA), Marcelo D2 (RJ), Elza Soares (RJ) e Porcas Borboletas (MG).

Palco Natura Musical: Com Karol Conka (PR), Drik Barbosa (SP), Minimal (MG), Uganga (MG) – convidando Clemente (SP) – e Lagum (MG).

Palco J&L: Djs. Bandas novas também se apresentarão no sábado. A cada edição, há um edital voltado a artistas em início de carreira. Em 2018, foram selecionadas seis atrações, sendo quatro da região e duas de outras localidades.

Para fechar, no domingo, 16/09, o evento terá a ARTE NA PRAÇA (Praça Sérgio Pacheco) edição Timbre. Além de shows ao ar livre, há feira de artesanato e alimentação, oferecendo a toda população uma tarde surpreendente em uma das praças mais bonitas e frequentadas de Uberlândia.

No line up dos shows quem for poderá conferir as apresentações das bandas: Deminux (MG), Musa Híbrida (RS), Julia Branco (MG), Mina das Minas (MG) e Carne Doce (GO).

A entrada para esse dia é gratuita. Arte na Praça é um evento realizado há 17 anos pela Universidade Federal de Uberlândia. A parceria entre o Festival e a UFU que acontece desde a primeira edição do Festival Timbre, em 2012. Os ingressos para o festival podem ser adquiridos por aqui.


Plutão Já Foi Planeta é um dos destaques da sexta-feira (14). – Foto Por: Cinemagrath

Aquecimento

Para entrar no clima do festival conversamos com as artistas participantes do Festival Timbre 2018 para saber mais sobre a importância de iniciativas como esta e o momento em que cada um está passando dentro de sua carreira. Responderam as perguntas Natália Noronha, Plutão Já Foi Planeta (RN), Carol Navarro, da Supercombo, além das bandas Musa Híbrida e Minimal (MG).

[Hits Perdidos] Como vem a música como ferramenta de transformação social?

Natália Noronha: “Quando você é artista, você ganha audiência e assim passa a ter muita gente para quem falar. Usar isso para mudar a vida das pessoas, nem que seja um pouco, é fazer uma transformação social.

É importante se posicionar enquanto artista, e às vezes sua música nem precisa conter uma letra política, você pode gerar debates de outra forma. Ser mulher num meio predominantemente masculino como o rock é uma maneira de se posicionar politicamente também. Quando as minas passa a ocupar  este espaço geram um debate sobre representatividade feminina e isso é muito importante pra sociedade no contexto da misoginia e machismo.”

Carol Navarro: “A gente entendeu que o jeito que a gente dialoga, musicalmente falando, entra muito na vida das pessoas, mais do que a gente esperava aliás. Os feedbacks da galera que nos ouve, a galera mais jovem – porque temos fãs mais velhos também -, a gente percebe que nossa música as acolhe, sabe?

Como uma relação familiar, paterna, de “educar” pelo carinho. A gente fala isso, da vida ser difícil, dela apresentar obstáculos, mas que ao mesmo tempo você não está sozinha e que, de alguma forma, você conseguirá viver nessa sociedade que nos impõe tanta coisa, todos os dias.

A gente não sabia que nossa música tinha esse poder, mas cada vez mais a gente tem percebido como isso afeta às pessoas e nos sentimos muito responsáveis por isso, por abraçar outras pessoa. Acho que tocamos as pessoas não só por meio de nossas músicas, mas também por meio do que somos e como agimos.”

Musa Híbrida: “A música ela não necessariamente é visível, não é algo que concretamente se veja. A transformação social, a transformação política, a transformação cidadã, a transformação econômica, a transformação cultural, a transformação etc, todos esses e assim vai, são bem visíveis e nítidos e até já sabidos e apropriados ao longo da história da humanidade, que é costurada pelo fazer música, pelo sentir música, por esse viver música.

Então, a música tem essa potência (assim como outros campos artísticos e não artísticos). Os desdobramentos do fazer música, do consumir música, do ser transformado por música, eles acontecem no tempo e no espaço e a gente não necessariamente tem um controle exato deles, mesmo que a gente tenha intenções e vontades, que por vezes se alinham com a realidade, por vezes se distorcem da realidade. Ora na tentativa abstrata, ora na tentativa exasperada. Ora na tentativa angustiada, ora na tentativa malfadada. Sempre na tentativa.”

Minimal: “A música promove a união. Tanto de quem faz quanto de quem prestigia. Um festival reúne tantas diferenças que se tornam imperceptíveis quando o propósito é a comunhão, a diversão e principalmente a celebração da música. Isso é lindo!”

[Hits Perdidos] Como seu trabalho mais recente dialoga com o mundo que estamos vivendo?

Natália Noronha: “No clipe de “Estrondo”, nosso último lançamento, temos um casal de mulheres como protagonistas, enquanto a representatividade lésbica for menor do que as outras letras da sigla LGBT, a gente precisa falar a respeito. A representatividade é sobre reivindicar que a sociedade saiba da nossa existência e isso só vai acontecer se a gente aparecer, nos clipes, nos filmes, na TV, na literatura. Depois, vamos chegar num nível de naturalização e aí as questões vão ser outras.”



Carol Navarro: “Nosso trabalho mais recente lançado foi o álbum Rogério (2016), que é um trabalho que comunica muito sobre nossa geração e tempos atuais, isso de encarar o lado ruim da gente, os nossos próprios opostos, que equilibra com o que temos de bom. Paralelamente, estamos com o projeto Session da Tarde também. Que foi a forma como entendemos a união da cena.

A Supercombo tem um público muito específico, sentimos uma necessidade de conversar com outros nichos, outras bandas, diferentes da gente. E isso ficou lindo! São várias tribos dialogando, que é o que rola nos festivais. Transborda o que a gente vive na cena.”



Musa Híbrida: “Ele dialoga com o mundo mais recente no instante em que ele nasce e existe e é criado, é gerado, no mundo mais recente. Ele é fruto do hoje. Mesmo que o hoje contenha o ontem e também o amanhã. “Da terra alecrim, um recomeço sem fim, diante da vida a fina flor do amor” Ele é a nossa fina flor do amor, é a nossa tentativa angustiada de escrever uma carta sem palavras, o diálogo possível a partir do absurdo, do movimento aleatório e inconstante das constelações e dos planetas, de uma vida inteira, minha metade de mim.”

Minimal: “Estamos em estúdio trabalhando em um novo trabalho que fala sobre a paixão que move aqueles que vivem de arte, a incerteza de onde podemos chegar, e toda a cobrança que nos cerca. Sabemos que existe algo meio que inexplicável que nos motiva todos os dias.”

[Hits Perdidos] Como vê a necessidade de iniciativas que dão mais espaço para mulheres seja na música como em outros campos da sociedade. Quais barreiras e preconceitos ainda precisam serem combatidos?

Natália Noronha: “Entrevistas como essa já são iniciativas de dar espaço para as mulheres falarem sobre feminismo/empoderamento feminino. Já na música, a gente sente falta de festivais preocupados em ter um line-up que represente bem as mulheres.

Se os festivais querem ser modernos e refletir o que tá rolando no mundo, por que não acompanham esse movimento das minas? Acho que isso tem mudando um pouco, temos percebido que as curadorias estão mais cuidadosas, temos tocado em festivais com mais mulheres… É daí pra frente!”

Carol Navarro: “Anteriormente eu não sentia ou via essa discrepância como algo real. Hoje em dia não, quando eu vou tocar num festival que a minoria é mulher, como acontece muito, as minas se rebelam e apontam pra isso.

Acho que é algo muito importante, acaba que nós, mulheres que estamos tocando, podemos abrir cada vez mais espaço, trazer outras mulheres profissionais pros bastidores. Sou totalmente a favor de cada vez mais grupos e parcerias entre as mulheres, a gente se fortalecendo, trabalhando juntas e se sentindo bem de estar ali.”

Musa Híbrida: “Deleuze fala do fascínio ao fascismo que existe dentro de cada um de nós e como é necessário combatê-lo. Se dar conta das coisas é um primeiro passo. Passar do ato de ignorar tal coisa ao ponto de entender, compreender, aceitar. Não há nenhum ser divino maravilhoso livre de todo o mal. E é claro que o que constrói essa narrativa de opressão não é nada simples.

É bastante complexo ser agente combativa dentro de uma questão estrutural. Então pra transformar, algumas pequenas coisas podem ser um começo, tipo aprender a ouvir. Ouvir é muito importante. Ouvir e refletir. E estar apto a mudar de ideia. Mudar de ideia sobre coisas pré-estabelecidas e entender quem fala sobre o quê. Entender o seu lugar de fala, entender o seu lugar de ouvir. A sua agencia específica dentro de cada movimento de quebra de padrões nocivos.

Do outro ponto, todas as iniciativas que visem transformar a sociedade e o mundo num lugar mais massa são geniais. As minas tão cada vez mais juntas fazendo o rolê acontecer. O ambiente de música ainda é muito machista. Mas, somos muitas fazendo esse cenário, essa cena, mudar. Minas tocando, minas produzindo, minas na técnica, minas na graxa. I see minas everywhere, mas quero ver mais. Com o devido valor reconhecido, no espaço que é nosso e estamos ocupando.”

Minimal: “Acho fundamental a união das mulheres pra conseguirmos vencer essas barreiras. Nada mais justo que termos o mesmo espaço dos homens. Na Minimal podemos experimentar esse desafio tanto na banda, quanto na produção. Desde o começo somos duas mulheres a frente do projeto.

Ultimamente temos nos deparado com varias mulheres que atuam nesse meio de agenciamento e produção de bandas, e é incrível. A produção requer muitas vezes mais firmeza e respeito do que o próprio artista que sobe no palco. Mas sem duvidas, a luta pela igualdade ainda é grande.”



Também conversamos com Gabriel Caixeta, idealizador e curador do Festival Timbre, para saber mais das motivações e sobre o momento da música brasileira.

[Hits Perdidos] Qual a importância em dar voz para Mulheres e LGBTQ+ neste momento tão delicado de nossa democracia.

Gabriel Caixeta: “Vivemos um momento muito conturbado com questão a nossa democracia principalmente em nosso país, onde vimos uma mulher ser arrancada de uma presidência por ser mulher, essa para mim é a única explicação.

Dar voz às MULHERES e LGBTQ+ foi um dever para essa edição do Festival Timbre, o festival sempre teve uma programação plural e de resistência cultural, mas nunca antes tínhamos colocado essas artistas como protagonistas da programação do festival. Esse ano o conceito é “Nossa Voz, Nosso Poder”, queremos todas as vozes mas sem exclusão de nenhuma e principalmente a mulher e LGBTS tem que ser ouvidas nesse momento.”

[Hits Perdidos] Como curador, como observa o legado e a profissionalização dos coletivos dentro do ecossistema da música independente?

Gabriel Caixeta: “Como curador eu sempre estive ligado no que está rolando na cena independente, hoje depois de 10 anos trabalhando com a música independente só consumo isso, procuro muito acompanhar a programação de outros festivais e o principal que é visitar festivais e feiras, nada melhor do que assistir as bandas para entender como funcionaria no seu festival.

Eu vi surgir vários movimentos coletivos, principalmente de mulheres, vi por exemplo o Festival Sonora ganhar força e vigor e se transformar no maior festival itinerante produzido, executado e cantado por mulheres no mundo, acompanhei também o surgimento da SÊLA que na SIM São Paulo do ano passado estava na boca de todo mundo, mas também vivi o drama deixado pelo Coletivo Fora do Eixo há um tempo atrás.

Acho de fundamental importância os coletivos nesse ecossistema da música independente brasileira, trazem visões diferentes de mundos e principalmente profissionalizam cada vez mais toda a cadeia produtiva.”

This post was published on 13 de setembro de 2018 11:00 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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