O álbum Motirõ saiu no fim do ano passado, era mês de Outubro. A mais ou menos um ano do dia de hoje me lembro de ter sido apresentado ao som do grupo paulistano pelos integrantes da banda Cigana, de Limeira/SP.
Como de costume dei uma chance ao disco. Me impressionei pela maneira que eles encontraram tanto de passar uma mensagem cheia de metáforas e com os detalhes da imersão do instrumental que carrega muito do universo do rock dos anos 80 e 90.
O ar robótico, acizentado e bruto da rotina de uma grande metrópole e a relação deles com a cidade são os pontos principais da obra. Pouco tempo depois pude assistir uma apresentação de ambas as bandas no palco do Breve na Pompeia.
Foi a primeira vez que tive a oportunidade de assistir a banda ao vivo e me chamou bastante a atenção o quanto afiados estavam na apresentação. Ao contrário do acizentado do disco – que também é dançante – o show joga o astral para cima e o brilho das luzes tem a missão de guiar o clima do show.
Pouco tempo depois eles tiveram a oportunidade de se apresentar no Cine Joia em um show bastante importante, além de uma turnê pelo sul do país. Mas as conquistas recentes foram exatamente ter participado de dois projetos importantes para as bandas independentes brasileiras, o AudioArena Originals e o Estúdio Showlivre.
Para fechar a buena onda das sementes colhidas em 2017 eles lançaram na sexta-feira passada (19/10) o videoclipe para “Salvação”.
A faixa é a segunda do terceiro álbum da banda, Motirõ, este que contou com a produção de Duda Machado e Martin Mendonça (Pitty) e direção artística de Rafael Ramos. A banda que está na ativa desde 2005, atualmente a banda conta em sua formação com Lize Borba (vocal e guitarra), Thiago Augustini (bateria) e Vincius Souza (guitarra).
O vídeo foi dirigido por Fernanda Fraiz e reflete a possibilidade de mudança que acha-se dentro de cada um e a vida coletiva como um modo de redenção. O local escolhido para as filmagens foi o Terminal Bandeira, um dos principais centros nervosos do
transporte público de São Paulo (SP),
Um dos destaques do vídeo é exatamente a escolha por utilizar do clima metafórico do álbum. Nele os figurantes, muitos deles músicos e amigos da banda, são filmados de costas e interagindo com o acinzentado da “correria” do dia-a-dia.
A ideia era essa mesma mostrar como a cidade é um coletivo de pessoas e todos carregam suas histórias, dores, realidades, verdades e vivem em transformação constante. Todo o processo como a vocaliza Lize irá falar na entrevista concedida ao Hits Perdidos foi feito de maneira coletiva. Banda, diretora e amigos arregaçaram as mangas para o resultado final.
Para o lançamento a banda preparou uma cerveja. Amantes das cervejas gourmet como IPAs, Pale Ale, Witbeer e afins eles decidiram transformar sua música em algo desgustável. Para esta missão eles convocaram os amigos Tony Aiex e a Aline Krupkoski lá de Francisco Beltrão (PR) que encontraram na Mandioca o ingrediente diferencial. Sobre a escolha vocês saberão logo menos. Antes disso claro, confira o clipe que está perto de alcançar a marca de 3 mil views.
[Hits Perdidos] Primeiro gostaria que comentassem um pouco do porque da escolha da música “Salvação” para ganhar o clipe e qual a significado da letra para vocês?
Lize Borba: “Salvação é uma das músicas que a gente mais gosta do disco. Ela foi a que mais demorou pra ficar pronta e o refrão foi feito durante as gravações, diferente das outras músicas que já vinham com a letra e melodia mais definida. Acho que foi natural essa escolha, a Fraiz que é a diretora, veio com essa ideia de filmar alguma música no Terminal Bandeira, de fazer algo DIY, aí decidimos que combinava com Salvação que é uma música que fala dessa coisa do individual pro coletivo e tinha tudo a ver com uma locação como aquela.”
[Hits Perdidos] O registro também marca um ano de lançamento do Motirõ. Como notam que tem sido a recepção do álbum e como vocês observam ele hoje?
Lize Borba: “MOTIRÕ pra gente é um álbum especial, marca uma etapa de consolidação, de amadurecimento, não só sob o aspecto musical – que de fato foi uma evolução, experimentação de gêneros, sonoridades e desconstruções musicais – mas também no âmbito das abordagens e temas e na forma de expressar isso. É um álbum que possui uma temática unificadora, a ideia de coletividade mas que gira em torno de diversos aspectos do social, cultural e estético. E nesse interim a recepção tem sido muito boa, há uma identificação com com a proposta e estamos felizes com o respaldo que temos recebido.”
[Hits Perdidos] Como foi o trabalho de direção de Fernanda Fraiz e a escolha dos figurantes? O brainstorm foi coletivo, como foi o processo?
Lize Borba: “A gente fez praticamente tudo juntos. Começou despretensiosamente e foi gravado em vários dias diferentes. Não teve uma produção sólida, foi algo que a gente foi deixando acontecer, a medida que a gente avançava nas gravações foi desenvolvendo as ideias, trabalhando melhor até chegar na edição final. Muitas coisas foram filmadas no celular e outras em DSRL. Os figurantes são todas pessoas próximas, a gente mesmo, amigos da banda e a da diretora.”
[Hits Perdidos] O lado urbano do centro de São Paulo é o personagem principal do vídeo. Qual a metáfora por trás dos figurantes estarem de costas para a câmera?
Lize Borba: “Justamente a identificação. Por mais paradoxal que possa parecer, a ideia é que o fato da gente não reconhecer essas pessoas faz com que coloquemos qualquer rosto nelas, ou seja, elas podem ser pessoas que conhecemos e até nós mesmos. No final tem aquele frame que passa pra câmera subjetiva, acho que isso é uma boa dica de interpretação, mas a arte é um código aberto.”
[Hits Perdidos] Para o grande lançamento vocês prepararam uma cerveja de mesmo nome. Porque a escolha da “mandioca” ser um dos ingredientes? Como foi o processo para chegarem a cerveja e qual o tipo de cerveja que mais agrada vocês?
Lize Borba: “Bom, essa ideia da cerveja veio principalmente porque a gente simplesmente AMA cerveja. E além disso, a gente curte ficar experimentando as artesanais, enfim, eu mesma sou chegada nas IPAs. O lance com a mandioca foi pra fazer uma homenagem a cultura indígena, já que o disco tem um pouco desse apelo e esse ingrediente pra eles é muito recorrente. Os responsáveis pela nossa blonde ale foram o Tony Aiex e a Aline Krupkoski lá em Francisco Beltrão, são nossos amigos cervejeiros. A mandioca fez com que a cerveja ficasse um pouco mais alcoólica, mas a gente não achou isso ruim não, ficou muito saborosa.”
[Hits Perdidos] Para harmonizar com a cerveja, qual aperitivo ou prato acreditam que harmonizaria não só com a cerveja mas com o conceito do álbum? E porque?
Lize Borba: “Já vi que essa entrevista tá ficando gourmetizada, hein? Rs. Nossa cerveja é uma Blonde Ale, isso quer dizer que ela uma cerveja não tão amarga, mais clara e cremosa. Dá pra desenrolar bem com pastel, comidinha de boteco, até mesmo um peixinho grelhado, mas gosto é gosto, há quem beba com qualquer tipo de comida.”
[Hits Perdidos] 12 anos de banda. 3 discos. Quais foram os aprendizados que tiveram nesse período e qual a dica que dariam para as bandas que estão começando?
Lize Borba: “Se propomos um olhar para toda essa história parece muito mais tempo do que de fato é. Foram tantas experiências e ainda são tantas coisas que ficaria difícil analisar de forma resumida. Uma coisa é fato a música sempre é e deve ser a pauta principal de toda banda, a capacidade de se renovar de sempre estar criando e buscando novas sonoridades é essencial pra qualquer banda, talvez esse seria o conselho mais produtivo que poderíamos dar. Também organização, planejamento e engajamento sempre são bem vindos, risos, não só de arte vive uma banda, mas de todo o corre possível que ela poderia fazer.”
[Hits Perdidos] “Rudá” canção que inclusive ganhou um lyric video antes de “Salvação” foi uma canção que me chamou bastante a atenção dentro do repertório de vocês quando pude vê-los ao vivo. Queria que comentassem sobre a construção da canção e sobre a temática da cidade tão forte no disco.
Lize Borba: “Rudá é um xodó da banda (rs) é uma música que fala muito do tipo de sonoridade que procuramos atingir com esse disco novo. É um pouco diferente do que costumávamos fazer nos trabalhos antigos, ela mescla muito das novas referências sonoras que buscamos encontrar no disco e também é uma música com um teor mais profundo.
A faixa brinca com essa metáfora de uma relação com a cidade e com nós mesmos, a cidade tem um papel importante nesse disco justamente porque somos urbanos, nossos tipos de relações são pautadas por nossa disposição na cidade, nossa individualidade, nossa falta de coletividade enfim, esse jogo entre a relação com o externo e o nosso interior é um jogo metafórico muito poético e profundo pra gente.”
[Hits Perdidos] Recentemente vocês também participaram do AudioArena Originals, como foi essa experiência?
Lize Borba: “Gravar o AudioArena foi sensacional! É um programa que a gente sempre acompanhou, que particularmente nos agrada muito pela abordagem e pela complexidade da produção e tal e foi uma experiência incrível, sempre recebemos respaldos ótimos com o programa, foi um meio importante de divulgação do disco, o programa é incrível mesmo.”
[Hits Perdidos] O que podemos esperar de novidades para 2018?
Lize Borba: “Ainda temos muita coisa sendo programada pro ano que vem, pretendemos lançar mais um clipe já no começo do ano, e também estamos na fase final de produção de um documentário que narra toda a produção do Motirõ, que deve sair ano que vem sem dúvida.”
[Hits Perdidos] 2017 tem sido um ano repleto de lançamentos do cenário independente com bastante relevância. Quais despertaram o interesse de vocês e o que tem ouvido?
Lize Borba: “De fato tem muitas bandas ótimas no cenário mesmo. Temos acompanhado muitos trabalhos novos, temos convivido com muitas bandas também na estrada. Para citar algumas; Francisco El Hombre é uma banda sensacional; Carne Doce nos agrada muito, assim como Baleia, Canto Cego e Aloizio e a Rede. Também algumas bandas parceiras como Supercombo, Medulla, Cigana, Nove Zero Nove, Bratislava, Zimbra, Versallle e Kaike Falcão são pessoas incríveis. Enfim vamos ser injustos aqui porque sempre vai faltar muita gente.”
Playlist para harmonizar com a cerveja “Salvação”
Para fechar esse papo “gourmetizado” e bem humorado claro que íamos pedir para que eles criassem uma playlist para ouvir tomando cerveja afinal de contas: é sexta-feira!
Lize Borba: “Uma playlist ótima para ouvir com a cerveja, é uma que acabamos de criar na real, que diz um pouco sobre o universo de influências do Motirõ, o que se torna relevante demais pra ouvir tomando a breja (rs)”
A playlist conta com sons de artistas como The Kills, Arcade Fire, Nine Inch Nails, Radiohead, Curumin, Metronomy entre outros!
This post was published on 27 de outubro de 2017 4:04 pm
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