[Premiere] Kanduras abre asas para novos voos em “Seus Planos”
De tempos em tempos vemos bandas que fazem misturas em seu som para conseguir impactar diferentes tipos de público. Muito disso também ocorre pelo vasto background que cada membro da banda carrega dentro de si.
Esse fato eu pude notar na oportunidade que pude assistir a uma apresentação do Kanduras há alguns meses. O evento que aconteceu no fim de julho contou com shows dos cearenses da Old Books Room, dos cariocas da Warmest Winter (ouça o novo single no Spotify) e da banda paulista. Este que foi organizado por Cainan Willy, um dos responsáveis pelo selo independente Cavaca Records.
Era um dos primeiros shows com Vitor Placucci nas guitarras e pude notar que as novas composições que compunham o setlist possuíam diferenças das do primeiro EP, Caminhar – lançado em junho do ano passado.
Isso não é um fato negativo, muito pelo contrário. Eu acredito que uma banda pode e deve sempre buscar novas referências e só o tempo trará uma evolução musical. Penso que a entrada de um guitarrista tem tudo a dar este peso nas composições.
Essas que no segundo EP da banda que está sendo lançado hoje com Premiere no Hits Perdidos foram compostas por Raphael Thebas (Voz e Guitarra) e Marcelo Gasperin (baixo). Completa a banda o baterista Junior Breed e o trompetista Rafael Cardoso.
O momento para este lançamento aconteceu de certa forma de maneira um tanto quanto natural durante o processo de composição do álbum. Eles notaram que estas quatro faixas que compõe o EP, Seus Planos, conversavam entre si.
O primeiro disco cheio deve vir em 2018 e o processo de trabalho tem sido muito proveitoso. Eles nos adiantam inclusive que o disco que está sendo produzido com o produtor Sami Orra contará com 10 faixas.
“Estamos produzindo nosso primeiro disco, por isso várias músicas já estão arranjadas. Quando paramos para analisar, percebemos que essas quatro faixas se interligavam. Assim, resolvemos fazer esse registro”, conta a banda
Sobre o que tinha dito sobre as diferenças entre os dois EP’s eles deixam claro:
“Há semelhanças e diferenças entre o EP Caminhar e este. Resolvemos continuar com uma sonoridade mais orgânica, por isso gravamos na casa do Sami Orra. Esse EP tem a presença forte de reverb. Há eco e efeitos que o outro EP não tem. Também achamos que está com uma cara mais indie e pop na comparação com o trabalho anterior”, afirma o Kanduras
A banda até indaga sobre a cena para explicar as diretrizes do novo EP: “A imagem que queremos passar é que a cena precisa de musicalidade inovadora, mas que agregue a todos os gostos. O EP Seus Planos é um dos passos para a criação do nosso CD”.
Kanduras – Seus Planos (06/10/2017)
É sob essa perspectiva que o grupo paulistano lança hoje seu segundo EP. Mesclando o rock alternativo com o pop/rock e a MPB. Segundo eles mesmos de maneira orgânica e com mais efeitos de pedais e reverb em relação ao lançamento anterior.
É até engraçado conseguir ler o som mesmo sem ter conversado com eles. No show que pude assistir consegui captar influências de artistas como Arctic Monkeys, Wilco, Strokes, Los Hermanos e uma preocupação com as composições dignas da nossa MPB.
O EP está sendo lançado pelo selo Cavaca Records, a produção é assinada por Sami Orra. Já mixagem e a masterização ficaram por conta de Lisciel Franco, do Rio de Janeiro.
Um bom plano de partida para o EP foi quando a banda passou a compreender melhor sua identidade sonora dentro do escopo do que acontece no atual cenário de música independente. Essa maturidade consegue se transmitir ao longo dos 15 minutos do disquinho.
A brasilidade e os ritmos latinos já aparecem na faixa que abre o EP. Com instrumentos de sopro, semelhantes aos primeiros discos do Los Hermanos e do ska alá Paralamas do Sucesso, “Ciclanos, Fulanos, Seus Planos” tem a missão de carregar o título do disquinho em seu nome.
A inconstância e fervo de nosso dia-a-dia são criticados na letra que mostra como “sempre estamos preocupados com o futuro e deixamos de desfrutar o presente”. Um destaque são as invertidas e pausas da música que quebram e trazem linhas criativas no baixo.
Paixão e desilusão são os calcanhares de Aquiles da faixa seguinte, “Vem Cá”. Essa que resgata o rock alternativo do começo dos anos 2000 com o que rolava na música pop brasileira da época. Com certeza Siderado do Skank tocou muito nos foninhos na época. Tem aquele groove em sua introdução e letra catchy como os versos do Vivendo do Ócio e do Maglore, este último que acaba de lançar o disco Todas as Bandeiras (Ouça no Spotify).
A canção se arrasta “swingada” com guitarras açucaradas e dançantes linhas de baixo. O tema da canção é o amor descontinuado. Aquela falta de quem quer estar junto mas a vida tratou de por um fim. Este é um dos temas também do recém lançado e hype disco do Tim Bernardes (O Terno) que resenhamos na semana passada. Um fato é a canção é catchy e está prontíssima para tocar nas “FM’s dos elevadô” como diriam os Raimundos.
Com aquela vibe Pavement de encontro com Mac Demarco, “Candidato” faz a mescla do passado com o presente do cenário alternativo. Por mais flutuante que a canção pareça a mensagem é uma crítica social: “É também uma crítica à atual conjuntura do sistema político brasileiro. Uma crítica à falta de representatividade”. – afirma a banda.
As relações pessoais focadas apenas a troca de favores, feito Temer fazendo “fila” em seu gabinete para trocar favores e emendas para evitar sua derrocada. Algo tão comum em sua classe, onde políticos tem mais interesse de dizer “que é golpe” ou “golpista” conforme a água bate em sua cintura.
Quem tem a responsabilidade de fechar o disco é “Contramão” esta que já chega com um riff caliente e bluseiro que sinaliza seu tom dançante. Assim como a festa Contramão Session (que rola nesta quarta, 11, no Estúdio Aurora com shows da Bratislava e Cigana) a crítica é na estrutura de como funciona o mecanismo da produção de cultura no país. Onde vemos por exemplo artistas que não precisam captando recursos – de milhões – e quem precisa mesmo de incentivo sendo colocado à margem.
As dificuldades e mazelas do D.I.Y. e os caminhos “questionáveis” da indústria que de certa forma sugerem “atalhos” que muitas vezes tem seu “preço” também se expressam através das poéticas estrofes da canção.
Enquanto a arte deveria ser mais uma expressão de resistência. Nos últimos dias vemos que o preconceito e a falta de informação conseguem até fechar exposições. Desta forma a liberdade de expressão sendo “calada” como em outros tempos nebulosos.
O EP Seus Planos conduz a nova fase do quarteto e mostra que a mistura vem para somar e alcançar novos públicos. O Kanduras de São Paulo vai aos poucos encontrando sua identidade e fortalecendo seu entrosamento. Sem vergonha de soar pop e de flertar com o alternativo, o disco nos mostra uma maior maturidade nos temas que retrata.
Tem amor, tem vazio, tem política e tem uma dose de realidade. Preste atenção nas composições e viaje pelas linhas de baixo e pelo baile das guitarras. Mais um lançamento da Cavaca Records que nos últimos tempo lançou o EP de estreia do Xoxoto e distribuiu virtualmente o mais recente trabalho do projeto Meu Nome Não é Portugas.
Playlist Exclusiva: Os Novos Planos do Kanduras
Para fechar o post com chave de ouro claro que íamos ter dicas do que os caras tem ouvido para se inspirar nesta nova fase. Desta forma pedi para que eles montassem uma playlist no Spotify com influências que ajudaram a moldar o EP e que definitivamente estarão no disco que sai no ano que vem.
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O lista que conta com faixas escolhidas por cada um dos membros da banda conta com artistas clássicos da música brasileira como Nação Zumbi, Novos Baianos, Hermeto Pascoal e Gilberto Gil. Também vemos novos nomes que tem ganhado destaque nos últimos anos como Maglore, Supercombo, Carne Doce, Di Melo. Além de nomes da música gringa como Manu Chao e Childish Gambino.