Após muitas ciladas, enroscos, shows em locais insalubres, confusões e hits perdidos o Monaural não desiste. Desde 2003 na ativa a banda paulistana, nem tudo foram flores. Com uma série de hiatos eles estão em processo de reconstrução e prestes a escrever mais um capítulo em sua história.

O quarteto teve em sua mais recente formação: Vitor Graf (baixo e voz), Erick William (guitarra e vocal), Leandro Ayuso (guitarra e vocal) e Gustavo Borges (Bateria). Nos últimos dias a banda teve algumas saídas e tem seu futuro incerto.

Porém as origens do som do Monaural vem de aproximadamente 10918 Km de distância e de 15 anos antes de sua fundação. Sim, estamos falando do sujo, apocalíptico, brutal, sentimental, autodestrutivo e polêmico: grunge. Claro que as nuvens escuras de Seattle deram origem a toda estética do estilo que mudou a perspectiva da indústria fonográfica no começo dos anos 90 com bandas como Nirvana, Alice In Chains, Mudhoney e tantas outras.

Do dia para noite o “cool” era usar camisas xadrês, cantarolar sob suas dores e ressucitar como influência bandas da primeira e segunda levas do punk e hardcore. Para muitos uma misteriosa lista de discos favoritos de Kurt Cobain (ou Nirvana) virou uma verdadeira “bíblia” a ser seguida. A real é que a lista tem ótimos discos e vale a pena acompanhar como bom fã de música.

Comentários feitos pelo jornalista Thales de Menezes para o jornal Folha de São Paulo em 2014. – Créditos: Folha de São Paulo

O curioso é que nessa última volta o Monaural está lançando material novo justamente no ano em que o embrião do que a imprensa e os críticos chamam de “grunge” faz 30 anos. Já que em 1987 começaram a pipocar bandas como Hüsker Dü, Fugazi, Replacements, Pixies, Dinosaur Jr., Jawbox, Sonic Youth, Breeders, Gumball e tantas que foram essenciais para que esse boom eclodisse em 1991 com a meteórica passagem do Nirvana por nosso cosmos.

Premiere: Monaural – Andando Torto Por Aí (14/08/2017)

Nesta segunda (14) estamos fazendo a PREMIERE do single de mais uma volta dos paulistanos. Andando Torto Por Aí (2017) que está saindo pelo selo Dinamite Records.

Assim como a dramática história de seus ídolos de Seattle cada uma das canções tem conteúdos pesados, mensagem forte, autodestruição e pancadaria. Por mais dançantes que sejam ambas composições, elas contam dramas vividos por seus integrantes como a depressão e as tentativas de suicídio. O ar de não se sentir aceito que o próprio Kurt Cobain provou do veneno em 1994. Curiosidade a parte no dia 20/02 Cobain teria completado 50 primaveras e seu legado está longe de acabar.


Monaural lança hoje com exclusividade para o Hits Perdidos seu novo single. – Foto: Tomita Gajin Lab (Gaijin Lab)

O single foi gravado no estúdio Submarino por Clayton Martin, já a mixagem e a masterização ficaram por conta de Rodrigo Ricardo Rodrigues. A dor e a vontade de expressão toda a sua indignação com o mundo exterior – e sua punição interna – estão presentes tanto em “Andando Torto Por Aí” como em “Me Drogar Até Morrer”. Talvez por isso o som visceral e tão sincero seja uma das marcas deste lançamento.


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“Andando Torto Por Aí” é áspera, indignada, rústica e clama por ajuda. Bebe da fonte do rock de garagem. Seus riffs inclusive são rasgados e crus. O famoso rock de boteco em que o dono do bar chega com uma marreta para pedir para abaixar o som. Sua letra é tão reta e direta quanto seu delicado tema.

O tão ~proibido~ e chocante: suicídio. Realidade vivada por milhares em silêncio mas que é uma das maiores pragas da sociedade moderna (principalmente nas grandes metrópoles). Na entrevista, Ayuso nos conta o quão pessoal foi compor esta faixa.

A indignação com a sociedade em um plano geral é a raíz de “Me Drogar Até Morrer”. O massacre na cracolândia, as políticas públicas e o descaso com os cidadãos em situação de rua podem bem ter inspirado eles nesta faixa. Que é um punk rock com a pegada de grupos como Jawbox e Fugazi e viradas na pressão. Com destaque para a linha de baixo ecoando e as microfonias que equalizam o som em breves 2 minutos.


Arte da capa por: Paulo Jeca Schulz

Em uma geração de grandes produções e muitas bandas indo em direção ao som da moda ver o caminho escolhido pela banda é algo distinto.

O Monaural não nega suas origens, resiste entre idas e vindas a 14 anos e talvez ainda procure sua consolidação como banda. O que pode vir com o EP que deve sair nos próximos meses. Afinal de contas ter uma nova formação exige prática, maturação e muito trabalho. Que esses acordes rústicos, letras fortes e aquele pézinho no som de Seattle mostre que ainda há uma maneira de recomeçar. O som é cru e não há lugar para rasgar seda ou dar tapa nas costas. Com tantas indefinições e turbulências só o futuro dirá: o próximo passo a ser tomado.


[Hits Perdidos] O Monaural existe desde 2003, são quase 15 anos de banda, o que esperar desse novo lançamento e quão importante ele é para vocês?

Leandro Ayuso: “Bem, são 14 anos de atividade, porém não ininterruptas. Tivemos alguns hiatos no decorrer.

Esse lançamento, é um sinal de fumaça, tipo, hei, estamos vivos, estamos voltando e eis duas músicas gravadas com a nova formação em estúdio. É importante, pois marca um período de reciclagem, novos integrantes, novas ideias, é a banda agora, um quarteto, com mais vozes e sangue novo na parada. Enfim, é um oi, estamos voltando, nos aguardem.”

[Hits Perdidos] Como o som de Seattle impactou na vida de vocês?

Leandro Ayuso: “Creio que o som de Seattle tenha impactado cada um da banda de uma maneira diferente. Vitor e Gustavo são mais do punk rock, hardcore, mas conhecem uma coisa ou outra do grunge. O Erick, é grunjão tradicional, saca? Alice in Chains, Nirvana, Pear Jam, etc…

Eu já curto os TAD, Mudhoney, Nirvana (lado b), Soundgarden. uns Melvins também, Seaweed, Sunny Day Real Estates, etc… que são bandas do catálogo da Subpop, ou seja, eu ainda acabo sendo impactado fortemente. Sendo que você tem hoje o METZ, afetadíssimos.

Certamente se toco guitarra, foi graças a explosão do som de Seattle nos anos 90.”

[Hits Perdidos] Sobre as composições, quais as histórias por trás de “Andando Torto Po Aí” e “Me Drogar Até Morrer”?

Leandro Ayuso: “Bem, eu tinha comprado um Ipad e acabei baixando por acaso um programa chamado “take”, ele tem umas batidas programadas e você pode gravar três pistas de voz com ele, ou até um violão… numa noite, me veio o refrão e eu registrei ali, como que dê besteira, daí fui criei um violão de acompanhamento. Depois começamos a trabalhar ela no ensaio e tipo, “pô isso parece legal”, gostamos do refrão ébrio, que se repete, cada vez com mais intensidade, afirmando o estado da humanidade atual, o vazio existencial, a imprevisibilidade do amanhã, entre outras paradas, a letra também registra a minha peregrinação. Foram dois anos pensando em suicídio, sem crer mais em mim e nem em mais nada, foi um andar torto por aí sem direção, até retomar as atividades.

“Me drogar até morrer”, é ácida, e negativista ao extremo, é o ponto de vista do humano (viciado em crack) fraco e vil, despreparado para o mundo, abandonado na rua, sem perspectiva de melhora. E ao mesmo tempo, uma canção que critica esse cenário social, não só o descaso com os viciados, mas também com a condição humana em si como num todo.

Sabe esse vazio que faz com que muitas pessoas se percam definitivamente no vício, muitas vezes até a morte. A música havia saído apenas em uma versão ao vivo, chegando até receber um videoclipe na época, agora é a mesma canção, só que relapidada, com um instrumental mais conciso e vocais poderosos.”

[Hits Perdidos] Como enxergam as diferenças entre o cenário underground de quando estavam começando para agora? Para vocês quais as maiores dificuldades?

Leandro Ayuso: “Tudo melhorou, hoje o acesso é melhor, mais rápido, as casas são melhores, mais bem equipadas, a tecnologia e o acesso a bons instrumentos. Tudo se tornou “mais fácil”, e melhor, mas ainda existe todo um trabalho a ser feito. Boas bandas sem uma agência competente para alavancar seu trabalho, acabam passando despercebidas pelo público.

Ou seja, o público é o único obstáculo, conseguir que sua música, seja bem lapidada, composta e bem gravada, se torna mais fácil, o acesso a lugares também, mas o acesso ao público, esse é o X da questão. Fazer que sua música chegue na pessoa certa.”

[Hits Perdidos] Para vocês, o que é ser independente?

Leandro Ayuso: “É poder gravar, compor, tocar do nosso modo, sem ter que se mutilar em nada, apenas fazer ao nosso modo.”

[Hits Perdidos] Qual foi o show que vocês fizeram que foi inesquecível? E qual foi a maior “roubada” que já se meteram?

Leandro Ayuso: “Pô, com a nova formação? Creio que todos até agora foram bem legais, estamos subindo no palco para dar nosso melhor, em qualquer lugar ou situação.

A maior roubada, bem uma vez, fomos convidados para tocar num pico chamado Divina Comédia, no interior de SP, Mogi, e chegando lá, eu tava bem chapado, pois tinha misturado um tarja black com maconha e álcool, e na hora de afinar minha guitarra, dei conta que havia esquecido o pedal afinador….(risos).

Pô, fiquei ali tentando afinar minha guitarra, no palco, uma meia hora antes de ser a nossa vez de tocar, porém, o dono da casa ficou indignado com o ocorrido e veio me alfinetar, dizendo que nunca na sua vida de músico, tinha presenciado tal cena, etc, falei meu, para tudo, vamos embora. Pegamos as nossas coisas e voltamos, num clima tenso do caralho, quase apanhamos na saída do bar dos seguranças. Roubada!”


Playlist Exclusiva de lançamento no Spotify do Hits Perdidos


Pedi para que eles criassem uma playlist com sons que influenciaram e os inspiraram. A lista mostra muito da força do rock alternativo, punk rock e a magia de Seattle guiando os sons do Monaural com bandas como: Melvins, Fugazi, Jawbox, Helmet, Sonic Youth, Pixies e Slint.

Leandro Ayuso: “Vou criar uma playlist que representa o espírito do Monaural, tipo, suas maiores influências até então.”

This post was published on 14 de agosto de 2017 10:38 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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