Entrevista Exclusiva: “Tínhamos um ódio irracional pelo Nirvana” diz vocalista do Basement
Tendo como referências bandas como Hey Mercedes, Sunny Day Real Estate, Braid, Nirvana, Jets To Brazil, Pixies, The Promise Ring o Basement se consolidou na cena punk/alternativa da Inglaterra. Da pequena cidade de Ipswich, ao leste da Inglaterra, que também é a terra dos punkers 77 do The Adicts eles invadiram a América em pouco tempo de banda.
Tendo lançado discos pela Run For Cover (EUA) desde o primeiro EP. Algo que muitos esquecem é que a banda vem dos resquícios da In This for Fun, esta que tinha sua sonoridade mais cravada no pop punk. Talvez por isso mesmo o começo do som do Basement tenha sido pop punk “acelerado” como eles mesmos costumam rotular. A escolha do nome se deu da maneira mais “aleatória possível”, sem muita frescura escolheram Basement por ser um nome curto e que não significasse muita coisa.
Após o primeiro EP (Songs About the Weather – 2010) veio o primeiro álbum I wish I could stay here’ (2011) este que já mostrou que a banda poderia dar passos mais largos, inclusive naquela turnê viajando já para uma série de shows na Austrália. Claro que os Estados Unidos não ficariam fora da rota, agora com selo americano na área, e foi daí que eles fizeram sua primeira turnê pela terra do Tio Sam onde puderam estar acompanhados dos ótimos, Daylight.
2011 também foi um ano pesado para a banda. Após finalizar o disco que sairia no ano seguinte Colourmeinkindness (2012) a banda se separou por uma série de fatores de ordem pessoal. Alex (guitarra) por exemplo queria se tornar professor, Fisher queria voltar para faculdade por um ano e meio e o batera, James, que inclusive é irmão do Andrew estava se formando em artes plásticas. Já os outros estavam nos seus trabalhos formais do dia-a-dia, que vocês devem estar cansados de saber que viver da banda é para pouquíssimos sortudos.
Nesse período de tempo Alex trabalhou como videógrafo para a Run For Cover, então morou em Boston. Então podem ficar tranquilos que não foi treta e o clima da banda é ótimo como eles ressaltam e você perceberá na entrevista exclusiva feita pelo Hits Perdidos. Após a volta e como marco dela foi lançado o EP Further Sky (2014), este que contou com duas inéditas e uma bela versão de um clássico do SUEDE.
O que para mim já daria indícios que o álbum seguinte, Promise Everything (2016), teria dois pés cravados não só no punk/emo/hardcore mas como no rock alternativo. Aliás os indícios estão presentes na estética noventista dos três clipes lançados para promover o mais recente álbum do grupo.
Algo que mesmo sem querer convergiu no que estava rolando com outras bandas da mesma cena. No caso particular do Basement eles mesmo dizem algo como “quando éramos moleques amávamos tudo que girasse ao redor do pop punk, mas a gente começou a ficar entediado”. O mais legal do papo com os caras foi justamente uma frase marcante dizendo para os fãs que eles não escutam só bandas na linha deles ou que os influenciaram. Andrew por exemplo vai revelar um artista que gosta e se inspira que muitos vão cair de costas.
No ano passado eles participaram de um senhor tributo ao Nirvana, lançado no fim de março, Doused In Mud, Soaked In Bleach este que conta com ótimas bandas como Circa Survive, Defeater, Mean Jeans, Beach Slang e Daughters.
Para este eles escolheram “School” do icônico primeiro álbum do Nirvana, Bleach. Para eles a escolha como verão foi fácil. Afinal de contas uma potente canção que os impressiona. Segundo Andrew a versão ficou muito melhor que muitas faixas próprias, ele lamenta mas lembra que é a força de uma incrível composição.
Andrew comentará que odiava Nirvana quando garoto, talvez por eles serem muito famosos mas que após dar uma segunda chance se tornou uma das suas bandas favoritas. Quando questionado sobre o disco favorito ele cita In Utero que segundo ele já começa com a matadora “Serve The Servants”.
A vinda pela primera vez ao Brasil
Foram anos de espera e acreditem: era um sonho antigo. A mensagem que mais recebem DISPARADO através das redes sociais da banda é exatamente aquela clássica: PLEASE COME TO BRAZIL. Andrew até brinca que os fãs brasileiros são os mais persistentes do mundo inteiro e que estão animados para finalmente conhecerem o país.
A tão aguardada vinda para o Brasil contará com shows em três capitais brasileiras: São Paulo (22/07), Curitiba (23/07) e Porto Alegre (21/07). A série de shows faz parte da extensa turnê pela América Latina e está sendo produzida pela Powerline Music, a turnê ainda passa por México, Costa Rica, Colômbia, Peru, Chile e Argentina.
SETLIST
Ronan Crix, Andrew Fisher, James Fisher, Alex Henery e Duncan Stewart estão na banda desde o começo e prometem um set list especial para essa vinda. Contemplando com canções de todos os discos da carreira da banda. Assim agradando do mais fanático, a quem tenha conhecido eles no último álbum. A banda passa por uma transição de gravadora já que tem contrato assinado com a major, Fueled by Ramen.
SPOILER
Canções que com certeza figurarão o set nos shows tupiniquins: “Brother’s Keeper”, “Hanging Around”, “Promise Everything”, “Spoiled”, “Whole” , “Pine”. Do debut, não devem ficar de fora a noise “Fading” e “Crickets Throw Their Voice”.
Porto Alegre
Na sexta-feira (21/07) o show acontecerá no El Toro Pub em Porto Alegre com a abertura do Big Stone Crew que tem influências do hardcore melódico de bandas como Descendents, o emo do Jimmy Eat World – e The Get Up Kids – e a força de grupos como Dag Nasty. Com certeza não decepcionará os fãs de Basement. Um bom esquenta para a noite dos ingleses.
São Paulo
O show em São Paulo acontecerá no palco da Clash Club (Barra Funda) no dia 22/07 com direito a novas revelações do cenário nacional abrindo a casa. Teremos a ótima banda mineira Kill Moves que carrega influências muito compatíveis com o Basement como Sunny Day Real Estate, Mineral, Jawbreaker e prometem colocar a casa abaixo. Os goianos do Brvnks chegam para justificar o porque do Hype e ótimos shows. Ambas as bandas se apresentaram neste ano no Budweiser Basement juntas. Coincidência ou não Basement será a banda principal dessa vez.
Curitiba
O clássico palco do John Bull em CWB será a casa do show paranaense da turnê. Para aquecer a noite teremos apresentações das bandas Garden of the Eatingtapes e Othersame. O Garden of the Eatingtapes com influências noventistas do emo, grunge e do rock de garagem e o Othersame com uma levada Emo/Post-Rock. Com certeza uma noite nostálgica em pleno inverno curitibano.
[Hits Perdidos] Algo que sempre observei nos clipes de vocês diferentemente de outras bandas é a preocupação na estética dos clipes que parecem ter um ar de empoeirado. Que poderiam ter sido feitos em outra época. Quais as inspirações na hora de montar o roteiro? São vocês que fazem o conceito ou confiam em alguém para essa função?
Andrew Fisher: “Nós definitivamente nos importamos como nossos vídeos aparentam, ambos foram gravados com a câmera do Alex que possuí uma lente á moda antiga. Eu não sei como se chama, mas eu amo as imagens que ela produz. Eu não sou completamente contra a maneira como os vídeos são vistos hoje em dia, porque eu acho que um elemento do meu desdém em relação a eles é porque eles são de um tempo e eu sempre olho para as coisas de uma perspectiva nostálgica, querendo que as coisas parecem ou soem de uma certa maneira e eu acho que isso afeta minha atitude em relação a esse estilo.
Talvez algum dia nós faremos algo super polido e profissional, mas neste momento nos vídeos temos trabalhado para o estilo que estamos tentando retratar. Ambas ideias vieram da banda. Nós sempre tentamos e mantemos as ideias criativas em casa, porque eu acredito que somos possessivos, insulares e sempre orgulhosos das nossas habilidades para criar ideias criativas, musicalmente, artisticamente e visualmente.
Mais uma vez, nada contra captar ideias de terceiros, especialmente não agora que estamos entrando em outra gravadora, mas até este ponto eu me orgulho de como temos feito as coisas.”
[Hits Perdidos] Como foi a transição de vocês de um som mais “pop punk” para algo mais noventista? Foi algo natural? E como vocês observam essa tendência na cena? Quais bandas que os acompanham essa levada que mais admiram no momento?
Andrew Fisher: “Honestamente é realmente estranho como muitas bandas no mundo começaram a fazer isso. Eu penso que a idade e o tempo entram nisso – quando bandas como nós, Daylight, Title Fight todas começaram, fazendo um “pop” punk mais rápido era legal e todo mundo queria estar em bandas nessa linha. Então você fica entediado de fazer a mesma coisa e soar como as outras bandas, ao menos para nós rolou isso. Então nós começamos a escrever um material mais divertido para tocar. Claro que você sempre vai ser um produto do seu ambiente de convívio, mas nós definitivamente não fizemos um esforço em sã consciência para soar noventista, só existem muitas boas bandas daquela era, uma era em que o rock de guitarra era a coisa mais legal que estava acontecendo. Eu queria que este ainda fosse o cenário atual. Se você considerar o Title Fight nesta categoria, então eu escolheria eles. Sempre foram uma das minhas bandas favoritas.”
[Hits Perdidos] Na Versão Deluxe do novo álbum, Promise Everything, tivemos um inesperado cover de “My Favourite Game” dos Cardigans e anteriormente vocês já tinham gravado uma versão para o SUEDE. Como rolou isso e quais outras bandas que vocês curtem os fãs se surpreenderiam?
Andrew Fisher: “É realmente uma boa música. Eu penso que qualquer pessoa da nossa idade conhece esse som, por conta dos comerciais de TV e os jogos de computador. Tocava muito. Nós só pensamos que daria uma boa versão. Eu acho que saiu legal ao menos. Nós somos bastante ecléticos em relação a gosto musical. Eu gostaria que pessoas não assumissem que nós apenas ouvíssemos bandas que nos influenciaram ou que soem como nós, eu espero que as pessoas não achem que somos tão superficiais.
Eu só vou dar um exemplo de gostos musicais pois eu que estou respondendo (risos), mas acho que John Mayer é muito chato e fraco. Eu não me importo com esse pensamento, “Continuum” (álbum do artista) é impecável e eu sei que a maioria dos pais de meia idade – do mundo todo – vão concordar comigo.”
[Hits Perdidos] Em algumas entrevistas que pude ler vocês afirmam ter sido influenciados por bandas da primeira leva do Emo (Sunny Day Real Estate/The Promise Ring/Braid), rock alternativo dos anos 90 mas também pelo Noise Rock. Como veem o revival desta década?
Andrew Fisher: “Eu pessoalmente amo isso. As bandas que você citou realmente me ajudaram a crescer e “desenvolver” meu gosto musical. Assim como os músicos destas bandas, eu comecei a ouvir música independente na adolescência através do punk e do hardcore, onde musicalidade e construção da música geralmente são ignoradas a favor da energia e da emoção (o que não é, de modo algum, ruim), mas isso abriu meus olhos para o que a música pode ser. Isso abriu caminho para que eu pudesse apreciar música mais lenta, mais suave e mais “significativa”. Você deve incluir Hey Mercedes e Jets To Brasil naquela lista, porque eles eram e são duas bandas incalculavelmente importantes para mim.”
[Hits Perdidos] A capa do de Promise Everything de certa forma me lembra a capa de Nothing Feels Good (1997) do The Promise Ring que completa 20 anos este ano. Seria de certa forma uma homenagem?
Andrew Fisher: “Ótimo disco, mas isso nunca passou pela nossa cabeça quando se tratava da obra de arte do PE. Foi criado por um paciente em um hospital experimental de saúde mental nos anos 70.”
[Hits Perdidos] O álbum também conta com a faixa “Oversized” que segundo Andrew remete ao som do Jets To Brazil (1997-2003) e “Coffee And TV” do Blur (1999). Podemos dizer que o novo álbum faz uma merecida homenagem a esta época do rock?
Andrew Fisher: “Você pode dizer isso se quiser (risos), mas eu certamente não direi. Eu gosto das duas bandas, mas nós não estávamos tentando nada além de escrever músicas que achávamos que seriam boas.”
[Hits Perdidos] Para vocês o que é ser uma banda independente em 2017? E qual o maior perrengue que já passaram durante uma tour?
Andrew Fisher: “Nós sempre fomos EXTREMAMENTE sortudos no que diz respeito a turnês. Nunca fizemos uma turnê que não queríamos fazer e tivemos que lidar com isso. Sim, uma turnê pode ser difícil, estar longe de casa, às vezes ter que lidar com pessoas todos os dias que você talvez não teria escolhido gastar tempo no mundo real (na vida cotidiana), lidando mal humor ou bem-estar mental, enquanto está em um espaço confinado com quatro a seis outras pessoas, mas você passa por isso porque você está em uma posição extremamente privada, fazendo algo que você ama.”
[Hits Perdidos] É a primeira vez que a banda vem para o Brasil, e os fãs brasileiros estão esperando a vinda de vocês a anos. Como pretendem montar o set? Algo variado ou focado no último lançamento?
Andrew Fisher: “Come to Brazil” é sem a menor sombra de dúvidas o comentário que mais recebemos em todas nossas redes sociais (risos). Eu posso dizer tranquilamente que nossos fãs brasileiros são os fãs mais persistentes no mundo todo (risos). Por isto mesmo que estamos muito animados para ir e tocar no Brasil. Isso acontece a muito tempo e nós mal podemos esperar para chegar lá. Nós vamos tentar misturar e tocar uma boa mistura das nossas canções antigas e novas, como costumamos fazer. Espero que o Brasil fique satisfeito! (risos).”
[Hits Perdidos] Criem uma playlist com 15 sons de bandas que vocês tem conhecido e pirado. Claro que podem colocar influências de toda uma vida.
Andrew Fisher: “Oh HELL YES. Isso é um pedido irado. Eu vou tentar honrar todos os caras nesta missão.”
[Hits Perdidos] No ano passado vocês fizeram uma versão de “School” para um tributo ao Nirvana, “Doused In Mud, Soaked In Bleach”, que eu achei bem legal. Lá podemos encontrar ótimas versões feitas por artistas como Circa Survive, Beach Slang, Defeater. Porque optaram por “School”? Quão desafiadora foi esta experiência? Vocês lembram da primeira vez que ouviram Nirvana? E qual seria o álbum favorito deles na opinião de vocês?
Andrew Fisher: “Honestamente foi muito fácil, porque essa música foi tão bem escrita. Ela é incrivelmente poderosa. As dinâmicas e as repetições fazem dela tão pesada. Nós gravamos ela ao vivo e isso foi muito divertido. Saiu melhor que muito material nosso, o que para nós é algo decepcionante, mas é o que acontece quando se faz uma versão de uma banda tão boa.
Excepcionalmente, eu e meu amigo Tom, quando crescemos, tínhamos um ódio irracional pelo Nirvana…eu acho que por conta deles serem tão populares. Então a primeira vez que ouvi foi através dele e sob um contexto de negatividade. Mas então, nós dois chegamos a conclusão de maneira separada de que eles são incríveis, e agora eu tenho mais respeito por eles do que nunca. “Serve The Servants” é uma das minhas músicas favoritas de uma abertura de álbum da história, então vamos de “In Utero”.”
[Hits Perdidos] Obrigado pela entrevista. Mal posso esperar pelo show. Se você quiser enviar uma mensagem para os fãs brasileiros que estão aguardando pelos shows, agora é a hora.
Andrew Fisher: “Honestamente, obrigado por vocês pedirem para que viéssemos por tanto tempo. Obrigado pela paciência e eu realmente espero que vocês se divirtam nós vendo finalmente!”
SERVIÇO:
BASEMENT EM PORTO ALEGRE
Porto Alegre – 21 de Julho – Sexta
Local: El Toro Pub – Avenida Cristóvão Colombo, 545, Shopping Total, Porto Alegre/RS
Horário: Portas 21h
Banda de Abertura: Big Stone Crew
Preços: De R$75 à R$130
BASEMENT EM SÃO PAULO
São Paulo – 22 de Julho – Sábado
Local: Clash Club – Rua Barra Funda, 969, São Paulo/SP
Horário: Portas 18h
Bandas de Abertura: Kill Moves (MG) e Brvnks
Preços: De R$80 à R$160
Vendas Online
Evento no facebook
BASEMENT EM CURITIBA
Curitiba – 23 de Julho – Domingo
Local: John Bull – Rua Mateus Leme, 2204, Curitiba/PR
Horário: Portas 18h
Bandas de Abertura: Garden of the Eatingtapes e Othersame
Preços: De R$70 à R$80
Vendas Online
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