[Premiere] Miêta dá um basta aos relacionamentos abusivos no clipe de "Pet"
Viver um relacionamento abusivo muitas vezes é um sofrimento silencioso. Milhares de pessoas em todo mundo vivem isso com seus parceirxs, com suas amizades, no ambiente familiar e no mercado de trabalho.
Talvez um dos casos midiáticos mais expressivos dentro do mundo da música que tenha sido escancarado recentemente foi o relacionamento entre Thurston Moore e Kim Gordon. Para saber mais sobre essa tóxica relação basta ler a biografia da artista, Girl In A Band lançado em fevereiro de 2015.
Tremendo ato de coragem de não só falar sobre a doente relação com seu marido mas com todo o mercado da música que o subestimava e a tratava como “apenas uma garota lá da banda”. Sabemos que não é fácil, vemos isso muito perto e muitas vezes cometemos o pecado de ficarmos calados.
Outras icônicas mulheres do universo da música também já lutaram para quebrar todas essas correntes como Patti Smith (que lançou seu segundo livro no ano passado), Joan Jett que quebrou milhares de barreiras e Kathleen Hanna que no documentário The Punk Singer abriu a boca para falar sobre o processo de transformação que seu marido Ad-Rock (Beastie Boys) enfrentou para evoluir como pessoa. Segunda a líder do Bikini Kill/Le Tigre e The Julie Ruin o marido no começo da relação tinha comportamentos machistas que a silenciavam.
Felizmente a maioria acaba conseguindo se livrar daquela corrente invisível – e dolorosa – que age como uma tornozeleira medieval. A pior parte são as marcas que esse processo deixa: não só na pele através de agressões físicas, mas na alma. Muitas passam anos indo a psiquiatras para conseguir voltar a enxergar brilho na vida. É foda, não é NADA fácil.
Outros casos acabo infelizmente sabendo através de outros amigxs, e de certa forma a gente acaba se envolvendo emocionalmente porque quer que aquilo acabe logo. O ideal a longo prazo é ir transformando a sociedade aos poucos mas enquanto não vivemos essa realidade temos que GRITAR e espalhar a mensagem.
E talvez a música seja uma das melhores armas. Tanto para as pessoas que sofrem quanto para os agressores que o fazem. A linguagem universal ajuda em todo processo que estamos vivendo de transformação. Se viemos para essa vida é para estar em constante evolução.
“Room” já tinha até rolado no programa do Hits Perdidos da Mutante Radio e eu ouvia meus amigos de MG falando: “Cara não perde esse show por nada que você não vai se arrepender”. Dito e feito, quando a Miêta subiu no palco em questão de duas músicas a noite já estava ganha. Fiquei boquiaberto com a atitude, postura e TALENTO musical de todas. Até no fim do show pude conversar com o Luiz Ramos (baterista) que também faz parte do ótimo Zonbizarro sobre a apresentação shoegaze killer.
O irado é que o primeiro álbum da Miêta sairá também pela PWR Records (Recife) que é um selo das minas para as minas, novíssimo e que já falamos na resenha sobre o “O Peso das Coisas” do Theuzitz que comentamos sobre a importância de selos como a Banana Records.
O disco nem foi lançado e nessa semana caiu como uma bomba nas redes sociais que a Miêta também estaria em um dos mais importantes festivais do cenário de rock independente nacional, o Bananada 2017.
Para coroar essa conquista e alertar sobre o problema dos relacionamentos abusivos elas chegam com a potente “Pet” já misturando toda a alma garageira, a vibração da psicodelia, o peso do fuzz e linhas do shoegazer. Após ver o show até brinquei com o Luiz dizendo que tinha umas viradas de baterias de stoner rock na bateria, ele concordou e disse: é inevitável.
O vídeo conta com a direção de Jonathan Tadeu – que não para de lançar ótimos discos – que registrou um live de uma das apresentações do quarteto interagindo com o público em Belo Horizonte. O clima é propício para o vídeo, entre amigos, fãs e carrega uma estética psicodélica.
Devido a um tema tão delicado e urgente pedi para a vocalista e baixista, Marcela Lopes, falar um pouco sobre a visceral letra:
“Então, a letra fala sobre como somos condicionadas a abaixar a cabeça e aceitar. Aceitar ser podadas, silenciadas, em prol de um falso equilíbrio, de uma paz muda. Acho que toda mulher já passou por um relacionamento tóxico, seja amoroso, familiar ou mesmo de amizade, que limou suas individualidades e desejos até o ponto de cegueira total.
Porque temos essa criação que nos ensina mesmo a abaixar nosso tom de voz, a considerar as necessidades alheias a despeito das nossas, a questionar nossas próprias ambições. Fomos bichinhos de estimação da sociedade por muito tempo.” – crava Marcela
A canção “Pet” já está disponível também no Bandcamp Oficial da Miêta para audição e download. Confira a letra:
So long my girl, yours truly forever
As long as you stay I’ll keep you on a leash
Fuck what you think, what you need and want
There will be blood if you talk to me like this
Break my legs to keep me close, that’s so sublime!
Glue me back, no sticks and stones, no, not this time
So long my girl I know you saw it coming I’m their pet, that’s it
Here we go, pets!