[Premiere] Armada Pra Causar: Gomalakka solta o verbo em novo single "Ressaca Moral"
Mas principalmente foi um ano de alegrias e transformações para o grupo. Visto que após lançar na metade de 2015, seu primeiro single duplo, Pixe era hora de lançar um EP. E o resultado disto pode-se ver logo após a morte de uma das grandes inspirações/influências do mundo da música, David Bowie.
Ainda sofrendo com a perda do ídolo, resenhamos por aqui Lá Em Cima – que de fato me levou para a Berlim de Bowie. O EP conseguiu captar em 6 músicas um pouco do post-punk, do industrial, do rock’n’roll e do funk carioca. Cheio de ironias e críticas a sociedade do espetáculo.
Hoje em dia enxergo até um pouco mais da densidade de Depeche Mode e Kraftwerk nas entrelinhas. Mas algo que continua a empolgar – mesmo depois de ver a catarse da apresentação deles na Funhouse – é o poder dos beats casados com as linhas de bateria.
Ciça Bracale: “Ficamos sem palco desde março com a chegada de 2 bebês na banda. Era uma questão de não deixar a peteca cair. De retomar a concentração e fôlego.
Foi fundamental o tributo nesse sentido. De tomar gosto pelo estúdio e entrar em sintonia com Doin (Produtor), que sacou o som. Tá rolando um tesão pelo estúdio que não tínhamos tanto antes (risos).
E toda essa energia criativa – e porque não dizer tesão – não poderia deixar passar batido. Momentos criativos não vem a todo momento, precisam ser postos em prática. É algo natural, involuntário…que vem de dentro da alma. O mundo anda tão podre e cheio de questionamentos no ar que a única maneira de transformar o amanhã talvez venha da dor, da arte, da identidade e de querer colocar a cara para bater.
Já no lado do governo, outro caos. Vários países após a queda da Dilma nem consideram o governo como legítimo. Já o três poderes não conseguem concordar em muita coisa. A tal da caça a corrupção, se tornou um jogo de gato e rato. A cada denúncia ou delação premiada de bobos fomos feitos. Polícia para quem precisa, novamente citando os Titãs.
Tempos estranhos. Parece que a idade das trevas e da inquisição se instaurou em Brasília. Um disco que no meio daquela ~palhaçada~ de votação na câmera dos deputados foi lançado foi o pontual: Amor Só de Mãe do Giallos. Na época até divagamos mais sobre o momento político com mais profundidade.
Começaram a surgir boatos que estavam invadindo escolas e mantendo crianças e adolescentes de reféns. E eu sai correndo pelo parque do colégio para me esconder em algum lugar enquanto com meu radinho de pilha ouvia a CBN para saber como estavam as coisas.
Guerra é uma merda! Desculpe pelo palavreado, porém algo que tira vidas apenas para que uma “falsa supremacia” seja estabelecida, para mim não faz o menor sentido. Voltamos todos para a quarta série com argumentos como: meu carrinho azul é melhor que o seu vermelho.
Ciça Bracale: “Ambas são músicas geradas nos primórdios em 2005/2006. Mas que ganharam linha de guitarra, novo baixo e principalmente novas conotações.
Armada por exemplo, foi criada numa semana de ataques do PCC na cidade, que as pessoas tavam com.medo de sair na rua. Menos os trabalhadores da rua, que continuavam ali, mesmo com o cenário vazio. Foi pra essas pessoas que fizemos a música.
Hoje em dia a entendo como a resposta espiritual da banda a toda a ressaca moral generalizada. Espírito de não se render, de celebrar sempre o movimento e a ação pra liberdade.”
O single também está sendo lançado no dia do aniversário do baixista, Flavien. Baita presente, hein? Aliás, parabéns Flavien, muitas felicidades e que este ano de 2017 traga ainda mais conquistas para você. Que esta energia positiva contagie todos da banda.
https://www.youtube.com/watch?v=5xaAu1hPJHs
Vamos as canções:
“Ressaca Moral” nos traz arranjos do post-punk e não deixa a pista vazia. O lado combativo e político está presente com toda força. A canção condena todo o sistema que precisa ver o circo desabar para tentar “consertar” os problemas em sua estrutura. E eles são políticos, empresários, oligarquias, industrias entre outros.
Se a canção já encaixava como uma luva na época dos ataques do PCC, em 2016 ela ganha ainda mais contornos sem perder a atualidade. Visto que o caos instaurado está em todo “piche” das ruas do Brasil. Políticos e empresários consagrados vendo a casa cair e tentando fugir de “entrar em cana” a todo custo. 2016 foi mesmo destruidor. Teve até “louco” que veio bater panela pedindo “o retorno da ditadura”.
Ainda no campo da cidade de São Paulo vimos muita solidariedade nas escolas sendo ocupadas. O chorume foi despejado no ventilador, com o escândalo da Máfia da merenda escolar. A guerra foi nas ruas, e escândalo após escândalo: reelegemos o governador. Pouco mudou no velho mundo mas antigas feridas foram reabertas.
O lado mais linha de frente é perceptível na faixa que mostra a banda pronta para o combate. Algo meio Full Metal Jacket, capacete na cabeça e coração nas mãos. A faísca está na duplicidade de significância que a canção transparece. Pode ser interpretada como um campo de batalha pela luta por direitos mas também como o viés de alguém bem resolvido indo a noite para “causar”. Ambos significados tem tudo a ver com as composições da Gomalakka. Visto que o viés político e o empoderamento feminino são pilares do som.
Se 2016 é o ano dos fins de ciclo, eles logo já saíram na frente iniciando um novo. Feito um furacão, balançando tudo que ousar passar pela frente!
Aliás antes de fechar o texto gostaria de informar que “Pixe” da Gomalakka entrou na lista dos 100 Hits Perdidos do Indie Nacional 2016 em playlist feita pelo Hits Perdidos no Spotify!
Não deixe de conferir a lista, e porque não, seguir o perfil do Hits Perdidos por lá. Em breve teremos novidades.