[Premiere] Melies viaja por galáxias desconhecidas a bordo de "Ephemeris"

 [Premiere] Melies viaja por galáxias desconhecidas a bordo de "Ephemeris"

O ano é 2117, o local é a órbita dos planetas de nossa inquieta mente. As transformações, quedas e emoções se deslocam a milhão dentro da nossa circulação que através de um frágil coração bombeia toda essa experiência astral.
É uma longa viagem através do campo das emoções, é como se Carl Sagan partisse em uma nave especial querendo fazer um estudo antropológico dos seres que habitam o cosmos. A busca por esse universo desconhecido faz com que o duo que iremos falar hoje abstraia e saia de um ponto comum, feito um exercício criativo.
A experiência ao ouvir Ephemeris primeiro lançamento do duo Melies como o próprio nome do EP diz é efêmera. É breve, é sensorial, depende muito em quão aberto e desconectado do mundo exterior o ouvinte esteja.
Consigo sentir uma sensação de paz em algumas canções que o Explosions In The Sky e bandas incríveis como o maquinas (CE) são capazes de nos passar. Já outros sons a sensação de ansiedade e desespero ganha corpo afinal de contas nessa viagem estamos prontos para enfrentar tudo que passar pela nossa frente.

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O duo Melies faz Premiere do seu EP de estreia, Ephemeris, nesta quarta (01/03) no Hits Perdidos.

O Duo é formado por Danna, 21 anos e Giovani Caracho de também 21 anos. Ele mora em São Paulo e ela em Panambi (RS). Eles se conheceram pela internet e depois de trocarem muita ideia sobre música, resolveram começar a parceria.
No começo só com o Giovani ajudando nas batidas eletrônicas para a música “seakalm” que entrou no disco justamente por ser o início da parceria entre os dois. Depois a coisa cresceu ao ponto de culminar no disco. De referências mais concretas eles citam bandas como: Explosions In The Sky, E a Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante, Maybeshewill, Moonlit Sailor, Kontakte. O EP está sendo lançado pelo selo paranaense NapNap Records.
Após ler sobre as referências, fui atrás das que não conhecia e sempre é bom renovar a playlist não é mesmo? Gostei bastante do trabalho dos suécos do Moonlit Sailor, confesso que não conhecia mas a música trouxe uma paz e um ar de esperança, de certa forma me lembrou um pouco aquela densa energia do American Football e de outros projetos dos irmãos Kinsella.
Já o Kontakte carrega elementos de programação somados a sintetizadores e beats um tanto quanto futuristas, ouça. Uma grata surpresa foi conhecer o trabalho do Maybeshewill com suas texturas que vão do ambient, passando pelo math rock e post-rock. Fui ler mais sobre o grupo de Leicester (UK) e descobri que eles encerraram suas atividades no ano passado. Uma pena.

“Moro no Rio grande do Sul, em uma cidadezinha pacata do interior, tenho 21 anos, estudo Publicidade e Propaganda e trabalho com criação gráfica e audiovisual. Sempre tive a música como um hobby, já faz algum tempo que venho compondo algumas musiquinhas apenas por diversão, diversão essa que foi se tornando uma válvula de escape pra mim, uma necessidade de tentar expressar algo através da melodia.
No final do ano passado, comecei a gravar o EP do projeto de música experimental Melies (duo formado por mim e o Giovanni Caracho) que ta pra ser lançado ainda esse mês pelo selo.” Danna em entrevista concedida para o selo NapNap Records (Confira a entrevista na íntegra)

Antes de ouvir o EP vamos ao significado de “Ephemeris”. Do latim, em português a tradução é Efeméride. Mas o que seria Efeméride? Uma efeméride é um fato relevante escrito para ser lembrado ou comemorado em um certo dia, ou ainda uma sucessão cronológica de datas e de seus respectivos acontecimentos.
Na forma plural, “efemérides”, nomeadamente, “efemérides astronômicas” ou “efemérides monárquicas”, é o termo usado por magos, astrônomos, astrólogos e monarcas para anunciar a tanto as ocorrências de alguns acontecimentos celestiais (eclipse, cometas) bem como escolher a posição dos astros para assinaturas e tratados imperiais tudo de acordo com a posição dos astros de cada dia, normalmente encontrados num conjunto de tabelas denominadas hoje efemérides astronômicas, que indicam a posição dos astros para cada dia do ano.
As tais das efemérides astronômicas são calculadas em algoritmos. Ou seja, simboliza um novo começo, um fato marcante feito um eclipse do nascimento da parceria entre Danna e Giovanni. Feito um cometa, o processo criativo foi registrado em uma velocidade que só um algoritmo conseguiria calcular, imortalizando assim aquele momento único.
Um fato interessante – e talvez coincidência – com o lance dos algoritmos, é a mistura do math rock com a engenharia da música eletrônica presentes neste primeiro lançamento do duo.
Isso se soma ainda se pensarmos que através de um computador, experiências e muita conversa: essa parceria foi possível. Ou seja, apesar de um nome aparentemente inocente, a nave Ephemeris comanda a aventura e experimentação do Melies através de uma viagem sensorial.


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Aquecendo as turbinas, a nave se posiciona para a decolagem. Feito um foguete, a explosão faz com que aos poucos Ephemeris saia do espaço terrestre. “Breathe” é a decolagem e o ponto de partida. O corpo se desconecta da mente por cerca de 50 segundos elevando nossa mente para outros níveis, feito uma sessão de meditação.
“Sea Of Stars” já traz elementos como agonia, desespero e falta de ar. É como se o ar que foi inspirado em “Breathe” começasse a se esgotar no fundo do oceano, entre pensamentos perturbadores e inseguranças do dia-a-dia. Aos poucos as guitarras começam a ganhar terreno e duelar com os sintetizadores criando uma atmosfera post-rocker. Tudo um tanto matemático não deixando nenhuma sensação “fora d’água”.
Lembram quando disse que o som de uma das influências do duo, Moonlit Sailor, me trouxe uma sensação de paz. Este mesmo conforto consigo captar na bela “Fireflies”, que tem várias camadas e capricha nos detalhes. É interessante ver como os pedais são utilizados nesta faixa.
“Far From You” me soou como se uma fita VHS fosse rebobinada ou uma transição de fase de algum jogo de Atari. O recurso de “brincar” com os samples e rotações faz com que a experimentação nos cause uma sensação de descompasso.
Como se nossa nave passasse por problemas técnicos durante o percurso. E a vida é justamente isso, depois da calmaria, a tempestade. Ad Infinitum. A engrenagem e a gangorra só param depois que desligamos as máquinas, não tem jeito.
Acredito que “Abyss” seja o hit perdido do EP de estreia do duo. A sensação que a canção nos transmite ao longo de seus 6 minutos é a de estar circulando um abismo a procura de respostas. O ato da reflexão em sí, num nível que é chamado de alguns como Overthinking.
Os teclados me remetem a trilha de Twin Peaks, série americana dirigida por David Lynch e Mark Frost que deve chegar a TV americana ainda este ano. Cerca de 25 anos depois de sua pausa. A luz no fim do túnel para tantos mistérios, também fazem o elo entre a faixa e a série. Aliás, eu recomendaria para que enviassem para o Lynch a faixa, vai que entra em alguma cena crítica das aventuras de Laura Palmer. Já em seu fim a ignição e os motores parecem voltar a funcionar!
“Waves Of Light” é também a retomada da controle da mente. Após aquele tapa na cara – necessário – começamos a ver a realidade através de outros novos pontos de vista. É como se pudéssemos ver o mundo pela primeira vez. Ela carrega esperança e a sensação de recomeço.
Após o choque da esperança, voltamos para a órbita e caímos na “real”. No disco eles simbolizaram isso através de uma faixa de transição de 15 segundos, “Return”. A nave Ephemeris retornando para “casa”.
Depois do choque de esperança é claro que em seguida levamos o famoso “choque de realidade”. A tal da turbulência e conflitos. Feito um maremoto de emoções e sentimentos desconexos.
Só depois desse vasto processo que poderíamos chegar a “Seakalm”. A música foi a primeira composição do de Danna e Giovanni. Esta que serviu de embrião para tudo, uma canção sobre o autoconhecimento, autopreservação e renovação. Deixando uma mensagem positiva ao fim deste ciclo (ou EP).
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Ephemeries, EP de estreia do Melies, consegue viajar por galáxias desconhecidas através das ondas magnéticas do inconsciente. Tudo isto claro em busca do autoconhecimento. Algo que se procura desde o inicio da humanidade. Um verdadeiro desafio afinal de contas nosso inconsciente é uma “caixa preta” que contém informações muito difíceis de serem contactadas.
O que se encontra pelo caminho são as emoções e os desequilíbrios, algo um tanto quanto humano e volátil. Acredito que isto o duo composto por Danna e Giovanni consegue explorar e explicitar através das 9 faixas entre guitarras, pedais, sintetizadores, samples, teclados e programação. Um EP que carrega uma carga energética cheia de sensibilidade por meio de uma viagem cósmica.


No Hits Perdidos o faixa-a-faixa ocorre de maneira interpretativa assim como cada um aonde quer que esteja lendo pode chegar a sua própria conclusão. Gostaria de deixar a versão da banda através de interessantes comentários para cada um dos nove sons:
“Ao ouvir o álbum, ele te proporciona a experiência de perceber todos os sons, e criar a partir dele uma paisagem sonora, você percebe que as coisas tem conexão, apesar do abstracionismo, as músicas se conectam bem, com seus altos e baixos e você consegue acompanhar o que está acontecendo.
“Breathe” – a “partida da nave”, é onde damos o impulso, a elevação do ser, o primeiro passo para o desconhecido, partindo dali para uma outra perspectiva das coisas. Um certo suspense percorre até a segunda faixa, até aí você ainda não está situado?
“Sea of Stars” – imaginamos um ecossistema do mar, como se fosse o céu assim. Ela vai crescendo até chegar ao seu ápice, construindo uma certa expectativa.
“Fireflies” – a mudança brusca do estado de espírito, agora você está mais perto das estrelas e enxerga elas como vagalumes dançantes. Tudo é muito lindo.
“Far from you” – é uma transição que remete à uma falha mecânica da “nave”. Algo inesperado até então. Quando você se distancia de todos e de tudo que ama, você perde o chão, você se perde.
“Abyss” – começa nos dando alguma expectativa, alguma esperança, uma luz que surge no abismo. Waves of light – é a estabilidade, passeamos através de ondas de luzes e já podemos enxergar com outros olhos.
“Return” – é a faixa de transição que remete a “volta pra casa”, para a nossa realidade.
“Submerse” – é onde mergulhamos de cabeça em um mar de águas turbulentas dentro de nós mesmos.
“Seakalm” – é sobre autoconhecimento, depois da queda, a sensação que todas as coisas ruins estão sendo levadas com a água, e que estas nunca voltarão. Te deixando renovado.”

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